Passagens de Mário Quintana

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ObsessĂŁo do Mar Oceano

Vou andando feliz pelas ruas sem nome…
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se Ă© muito longe o Mar Oceano…
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas… e moças na janelas
Com brincos e pulseiras de coral…
BĂşzios calçando portas… caravelas
Sonhando imĂłveis sobre velhos pianos…
Nisto,
Na vitrina do bric o teu sorriso, AntĂ­nous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su’alma perdida e vaga na neblina…
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhĂŁ, sĂł deixaria, sĂł,
Uma caixa de mĂşsica
Uma bĂşssola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza Ăşnica
De estarem inconclusos…
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas…
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome.

Das ilusões Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o. Com ele ia subindo a ladeira da vida. E, no entretanto, apĂłs cada ilusĂŁo perdida… Que extraordinária sensação de alĂ­vio!

A Rua Dos Cataventos – I

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta Ă© cor das venezianas:
Verde!… E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

NĂŁo sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons… acerta… desacerta…
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas…

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever atĂ© me esqueço…
Pra que pensar? TambĂ©m sou da paisagem…

Vago, solĂşvel no ar, fico sonhando…
E me transmuto… iriso-me… estremeço…
Nos leves dedos que me vĂŁo pintando!

Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto…

Há ilusões perdidas mas tão lindas que a gente as vê partir como esses balõezinhos de cor que nos escapam das mãos e desaparecem no céu.

Dos Mundos

Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo…
Decerto nĂŁo gostou lá muito do que via…
E foi logo inventando o outro mundo.

Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado. Morri? Não. Ressuscitei.

Com o tempo, você vai percebendo que, para ser feliz, você precisa aprender a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.