A galinha Ă© o intermediĂĄrio entre dois ovos.
Passagens sobre Ovos
50 resultadosO leitĂŁo e os ovos, dos velhos fazem novos.
Galinha preta pÔe ovo branco.
Entre o capim seco uma surpresa rajada: ovos de codorna.
A ave sai do ovo. O ovo Ă© o mundo. Quem quiser nascer precisa destruir um mundo.
Mas por que datar um poema? Os poetas que pĂ”em datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos…
Quer-te Muito a Tua Mulherzinha
Recebi ontem à noite o telegrama que mandaste da Foz. Desejo que tivesses encontrado tudo bem na nossa casinha. Espero com ansiedade a primeira cartinha tua que jå cå devia estar. Estou a escrever-te sentada a uma janela com o papel em cima dum livro e o tinteiro no chão; é 1 hora e meia, a hora de ir até às galinhas a ver se jå havia algum ovo.
HĂĄ quanto tempo isso foi! Escreve para cĂĄ sĂł atĂ© ao dia 23 ou 24 porque dia 26 pela manhĂŁ partimos para Vila Viçosa. O carnaval Ă© dia 8 e jĂĄ vejo que para minha desgraça o vou passar no covil enjaulada como as feras perigosas. Pouca sorte a da pobre Bela! NĂŁo posso ainda hoje falar com o advogado nem amanhĂŁ que Ă© domingo, de forma que sĂł segunda-feira te poderei dizer qualquer coisa a esse respeito. HĂĄ sĂł um comboio dia sim dia nĂŁo para Lisboa de forma que nĂŁo estranhes nem te inquietes por alguma pequena demora na correspondĂȘncia.
AĂ vai um belo soneto que as saudades tuas me trouxeram ontem; sĂł quando estou triste sei fazer versos com jeito como esses. Provavelmente nĂŁo gostas…
Inverno
Amanheceu – no topo da colina
Um céu de madrepérola se arqueia
Limpo, lavado, reluzindo – ondeia
O perfume da selva esmeraldina.Uma luz virginal e cristalina,
Como de um rio a transbordante cheia,
Alaga as terras culturais e arreia
De pingos d’ouro os verdes da campina.Um sol pagĂŁo, de um louro gema d’ovo,
JĂĄ tĂŁo antigo e quase sempre novo
Surge na frĂgida estação do inverno.– Chilreiam muito em ĂĄrvores frondosas
PĂĄssaros – fulge o orvalho pelas rosas
Como o vigor no espĂrito moderno.
Peço a Paz
Peço a paz
e o silĂȘncioA paz dos frutos
e a mĂșsica
de suas sementes
abertas ao ventoPeço a paz
e meus pulsos traçam na chuva
um rosto e um pãoPeço a paz
silenciosamente
a paz a madrugada em cada ovo aberto
aos passos leves da morteA paz peço
a paz apenas
o repouso da luta no barro das mĂŁos
uma lĂngua sensĂvel ao sabor do vinho
a paz clara
a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e solPeço a paz e o
silĂȘncio
O amor? Påssaro que pÔe ovos de ferro.
Nunca de corvo bom ovo.
Voto de Natal
Acenda-se de novo o Presépio no Mundo!
Acenda-se Jesus nos olhos dos meninos!
Como quem na corrida entrega o testemunho,
passo agora o Natal para as mĂŁos dos meus filhos.E a corrida que siga, o facho nĂŁo se apague!
Eu aperto no peito uma rosa de cinza.
Dai-me o brando calor da vossa ingenuidade,
para sentir no peito a rosa reflorida!Filhos, as vossas mĂŁos! E a solidĂŁo estremece,
como a casca do ovo ao latejar-lhe vida…
Mas a noite infinita enfrenta a vida breve:
dentro de mim nĂŁo sei qual Ă© que se eterniza.Extinga-se o rumor, dissipem-se os fantasmas!
O calor destas mĂŁos nos meus dedos tĂŁo frios?
Acende-se de novo o Presépio nas almas.
Acende-se Jesus nos olhos dos meus filhos.
A Taça de Chå
O luar desmaiava mais ainda uma mĂĄscara caida nas esteiras bordadas. E os bambĂșs ao vento e os crysanthemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com elle a advinharem-lhe o fim. Em rĂłda tombĂĄvam-se adormecidos os idolos coloridos e os dragĂ”es alados. E a gueisha, procelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labyrinto que nem os dragĂ”es dos deuses em dias de lagrymas. E os seus olhos rasgados, perolas de Nankim a desmaiar-se em agua, confundiam-se scintillantes no luzidio das procelanas.
Elle, num gesto ultimo, fechou-lhe os labios co’as pontas dos dedos, e disse a finar-se:–Chorar nĂŁo Ă© remedio; sĂł te peço que nĂŁo me atraiçoes emquanto o meu corpo fĂŽr quente. Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ella, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Ceu para Elle, e a saltitar foi pelos jardĂns a sacudir as mĂŁos, que todos os que passavam olharam para Ella.
Pela manhĂŁ vinham os visinhos em bicos dos pĂ©s espreitar por entre os bambĂșs, e todos viram acocorada a gueisha abanando o morto com um leque de marfim.
A estampa do pires Ă© igual.
Soneto De Luz E Treva
Ela tem uma graça de pantera
no andar bem comportado de menina
no molejo em que vem sempre se espera
que de repente ela lhe salte em cimaMas sĂșbito renega a bela e a fera
prendeo cabelo, vai para a cozinha
e de um ovo estrelado na panela
ela com clara e gema faz o diaEla Ă© de CapricĂłrnio, eu sou de Libra
eu sou o OxalĂĄ velho, ela Ă© InhansĂŁ
a mim me enerva o ardor com que ela vibraE que a motiva desde de manhĂŁ.
— Como Ă© que pode, digo-me com espanto
a luz e a treva se quererem tanto…
Antes um ovo com paz que um boi com guerra.
Ă galinha, aparta-lhe o ninho, e pĂŽr-te-ĂĄ o ovo.
Amor Comparado
Queres ter uma ideia do amor, vĂȘ os pardais do teu jardim; vĂȘ os teus pombos; contempla o touro que se leva Ă tua vitela; olha esse orgulhoso cavalo que dois valetes teus conduzem Ă Ă©gua em paz que o espera, e que desvia a cauda para recebĂȘ-lo; vĂȘ como os seus olhos cintilam; ouve os seus relinchos; contempla os seus saltos, camabalhotas, orelhas eriçadas, boca que se abre com pequenas convulsĂ”es, narinas que se inflam, sopro inflamado que delas sai, crinas que se revolvem e flutuam, movimento imperioso com o qual o cavalo se lança para o objecto que a natureza lhe destinou; mas nĂŁo tenhas inveja, e pensa nas vantagens da espĂ©cie humana: elas compensam com amor todas as que a natureza deu aos animais, força, beleza, ligeireza, rapidez. HĂĄ atĂ© mesmo animais que nĂŁo sabem o que Ă© o gozo. Os peixes escamados sĂŁo privados dessa doçura: a fĂȘmea lança no lodo milhĂ”es de ovos; o macho que os encontra passa sobre eles e fecunda-os com a sua semente, sem saber a que fĂȘmea eles pertencem. A maior parte dos animais que copulam sĂł tĂȘm prazer por um sentido; e, assim que esse apetite Ă© satisfeito, tudo se extingue.
Subtilezas Enganadoras
HĂĄ subtilezas frĂvolas por meio das quais, algumas vezes, os homens procuram alcançar reputação: Ă© o caso dos poetas que fazem inteiras obras começando cada verso por uma letra. Similarmente vemos ovos, bolas, asas e machados formados por poetas gregos da Antiguidade com a medida dos seus versos, ora alongados ora encurtados de maneira a virem a representar esta ou aquela figura.
(…) Ă um maravilhoso testemunho da fraqueza do nosso juĂzo que ele dĂȘ preço Ă s coisas pela raridade ou pela novidade, ou ainda pela dificuldade, quando a estas nĂŁo se juntam a bondade e a utilidade.
NĂŁo contes tuas galinhas antes de chocarem os ovos.
– Amor? Um pĂĄssaro que pĂ”e ovos de ferro.