Passagens sobre Ovos

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Frases sobre ovos, poemas sobre ovos e outras passagens sobre ovos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Voto de Natal

Acenda-se de novo o Presépio no Mundo!
Acenda-se Jesus nos olhos dos meninos!
Como quem na corrida entrega o testemunho,
passo agora o Natal para as mĂŁos dos meus filhos.

E a corrida que siga, o facho nĂŁo se apague!
Eu aperto no peito uma rosa de cinza.
Dai-me o brando calor da vossa ingenuidade,
para sentir no peito a rosa reflorida!

Filhos, as vossas mĂŁos! E a solidĂŁo estremece,
como a casca do ovo ao latejar-lhe vida…
Mas a noite infinita enfrenta a vida breve:
dentro de mim nĂŁo sei qual Ă© que se eterniza.

Extinga-se o rumor, dissipem-se os fantasmas!
O calor destas mĂŁos nos meus dedos tĂŁo frios?
Acende-se de novo o Presépio nas almas.
Acende-se Jesus nos olhos dos meus filhos.

A Taça de Chá

O luar desmaiava mais ainda uma máscara caida nas esteiras bordadas. E os bambús ao vento e os crysanthemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com elle a advinharem-lhe o fim. Em róda tombávam-se adormecidos os idolos coloridos e os dragões alados. E a gueisha, procelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labyrinto que nem os dragões dos deuses em dias de lagrymas. E os seus olhos rasgados, perolas de Nankim a desmaiar-se em agua, confundiam-se scintillantes no luzidio das procelanas.

Elle, num gesto ultimo, fechou-lhe os labios co’as pontas dos dedos, e disse a finar-se:–Chorar nĂŁo Ă© remedio; sĂł te peço que nĂŁo me atraiçoes emquanto o meu corpo fĂ´r quente. Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ella, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Ceu para Elle, e a saltitar foi pelos jardĂ­ns a sacudir as mĂŁos, que todos os que passavam olharam para Ella.

Pela manhã vinham os visinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambús, e todos viram acocorada a gueisha abanando o morto com um leque de marfim.

A estampa do pires Ă© igual.

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Soneto De Luz E Treva

Ela tem uma graça de pantera
no andar bem comportado de menina
no molejo em que vem sempre se espera
que de repente ela lhe salte em cima

Mas sĂşbito renega a bela e a fera
prendeo cabelo, vai para a cozinha
e de um ovo estrelado na panela
ela com clara e gema faz o dia

Ela Ă© de CapricĂłrnio, eu sou de Libra
eu sou o Oxalá velho, ela é Inhansã
a mim me enerva o ardor com que ela vibra

E que a motiva desde de manhĂŁ.
— Como Ă© que pode, digo-me com espanto
a luz e a treva se quererem tanto…

Amor Comparado

Queres ter uma ideia do amor, vê os pardais do teu jardim; vê os teus pombos; contempla o touro que se leva à tua vitela; olha esse orgulhoso cavalo que dois valetes teus conduzem à égua em paz que o espera, e que desvia a cauda para recebê-lo; vê como os seus olhos cintilam; ouve os seus relinchos; contempla os seus saltos, camabalhotas, orelhas eriçadas, boca que se abre com pequenas convulsões, narinas que se inflam, sopro inflamado que delas sai, crinas que se revolvem e flutuam, movimento imperioso com o qual o cavalo se lança para o objecto que a natureza lhe destinou; mas não tenhas inveja, e pensa nas vantagens da espécie humana: elas compensam com amor todas as que a natureza deu aos animais, força, beleza, ligeireza, rapidez. Há até mesmo animais que não sabem o que é o gozo. Os peixes escamados são privados dessa doçura: a fêmea lança no lodo milhões de ovos; o macho que os encontra passa sobre eles e fecunda-os com a sua semente, sem saber a que fêmea eles pertencem. A maior parte dos animais que copulam só têm prazer por um sentido; e, assim que esse apetite é satisfeito, tudo se extingue.

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Subtilezas Enganadoras

Há subtilezas frívolas por meio das quais, algumas vezes, os homens procuram alcançar reputação: é o caso dos poetas que fazem inteiras obras começando cada verso por uma letra. Similarmente vemos ovos, bolas, asas e machados formados por poetas gregos da Antiguidade com a medida dos seus versos, ora alongados ora encurtados de maneira a virem a representar esta ou aquela figura.
(…) É um maravilhoso testemunho da fraqueza do nosso juĂ­zo que ele dĂŞ preço Ă s coisas pela raridade ou pela novidade, ou ainda pela dificuldade, quando a estas nĂŁo se juntam a bondade e a utilidade.

A Procura nos Outros

SĂł nĂŁo se basta a si prĂłprio o que nĂŁo tem com que se bastar. Assim se explica que ele busque nos outros o que lhe falta em si mesmo. Isto deve estar certo. E todavia pode nĂŁo estar. O que falta no que encontramos pode nĂŁo ter que ver com o que lá está, mas com o que lá se procura. O erro está pois no que se nĂŁo deve procurar. Posso procurar um sistema de ideias onde sĂł encontro uma dose de senso comum. Posso encontrar uma cĂ´dea de pĂŁo onde procurei um bife com ovo a cavalo. Assim há que ir procurar no fornecimento alheio o que nos falta no prĂłprio – em contentamento, em pacificação, em reconhecimento da glĂłria de que duvido ou nĂŁo tenho. E no entanto, a ambição puramente individual Ă© Ă  nossa medida que deveria talhar-se. Excepto talvez para o que sustenta essa ambição, ou seja para o que nos sustenta. Mas nesse caso a ambição chama-se justiça e já nĂŁo Ă© individual. E nesse caso fazem-se revoluções.

Os hóspedes são como os ovos, que frescos constituem comida proveitosa e delicada, e velhos não há quem os possa tragar.

Poeira (Para José Felix)

Do pĂł ao pĂłlen posta-se o poema
na penumbra do parto antecipado.
Abre-se uma janela sem algema
presa somente do seu prĂłprio fado.

Areia e barro, sol com sua gema,
a gala clara do ovo, visgo dado
ao solo só de vértebras, seu tema
variado na avena: chĂŁo arado.

O tropo, o trapo, as vestes: eis aĂ­
a massa que caldeia essa bigorna
ensolando alimárias ao se de si.

Nada Ă© constante e tudo se transforma.
Eppur si muove em ánima no giz
escrito no vaivém se vai e torna.

Barulho nĂŁo prova nada. Uma galinha bota um ovo e cacareja como se estivesse botado um asterĂłide.