Passagens sobre Pés

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Frases sobre pés, poemas sobre pés e outras passagens sobre pés para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Últimas Vontades

Na branca praia, hoje deserta e fria,
De que se gosta mais do que de gente,
Na branca praia, onde te vi um dia
Para sonhar, jĂĄ tarde, eternamente,

Achei (ia jurĂĄ-lo!) Ă  nossa espera,
Intacto o rasto dos antigos passos,
Aquela praia, inamovĂ­vel, era
Espelho de pés leves, depois lassos!

E doravante, imploro, em testamento,
Que, nesta areia, a espuma seja a tiara
Do meu cadĂĄver, preso ao teu e ao vento…

— VaivĂ©m sexual, que o mar lega aos defuntos? —
Se em vida, agora, tudo nos separa
Ó meu amor, apodreçamos juntos!

Muito tempo hå que a mentira se tem posto em pés de verdade, ficando a verdade sem pés e com dobradas forças a mentira.

Soneto Para EugĂȘnia

O tempo que te alonga todo dia
é duração que colhes na paisagem,
tĂŁo distante e tĂŁo perto em ventania,
sitiando limites na viagem.

Desse mar que se afasta em maresia
o vago em teu olhar se faz aragem
nas vagas que se vĂŁo em vaga via
vigia de teus pés no vão das margens.

E o fio da teia vai fugindo fosco,
irreparåvel névoa pressentida
nos livros que nĂŁo leste, nesses poucos

momentos que sobravam da medida.
AngĂșstia de ponteiros, sol deposto,
no tédio das desoras foge a vida.

Vida que bem mereces por inteiro,
e Ă© pouca a que te dou de companheiro.

Soneto Da Ilha

Eu deitava na praia, a cabeça na areia
Abria as pernas aos alĂ­sios e ao luar
Tonto de maresia; e a mão da maré cheia
Vinha coçar meus pés com seus dedos de mar.

Longos ĂȘxtases tinha; amava a Deus em Ăąnsia
E a uma nudez qualquer ĂĄvida de abandono
Enquanto ao longe a clarineta da distĂąncia
Era tambĂȘm um mar que me molhava o sono.

E adormecia assim, sonhando, vendo e ouvindo
Pulos de peixes, gritos frouxos, vozes rindo
E a lua virginal arder no plexo

Estelar, e o marulho das ondas sucessivas
Da monção, até que alguma entre as mais vivas
Mansa, viesse desaguar pelo meu sexo.

Amo-te com Toda a Loucura dos Meus Primeiros Anos

Meu anjo, minha vida, que sei eu mais? Amo-te com toda a loucura dos meus primeiros anos. Volto a ser para ti o irmão da Amélie; esqueço tudo desde que tu consentiste que eu caísse a teus pés. Sim, espero-te à beira mar, onde tu quiseres, muito longe do Mundo. Enlacei finalmente esse sonho de felicidade que hå tanto tempo persigo. Foi a ti que eu adorei tanto tempo antes de te conhecer. Serås a minha vida; verås o que ninguém poderå saber senão após a minha morte; depositå-lo-ei nas mãos daquele que virå depois de nós. Acolhe tudo o que aqui ponho para ti. Amanhã às duas horas serei eu quem irå pedir-to.

Toada Para Solo De Ocarina

Fio tĂȘnue do cĂ©u em claridade
tece esse manto gris meu agasalho
colhido pelos muros da cidade:
mucosa verde musgo que se espalha

como tapete denso em chĂŁo de jade
Meus pés de crivo cravam esse atalho
riscando seu grafite no mar que arde
o fogo-de-santelmo em céu talhado

Nesse caminho caio em minha sina
caio no mar que lava essa lavoura
num barco ébrio que sempre desafina

E colho o sal da noite a lua moura
crescente luz de foice me assassina
e me morro no haxixe com Rimbaud

Despede Teu Pudor

Despede teu pudor com a camisa
E deixa alada louca sem memĂłria
Uma nudez nascida para a glĂłria
Sofrer de meu olhar que te heroĂ­za

Tudo teu corpo tem, nĂŁo te humaniza
Uma cegueira fĂĄcil de vitĂłria
E como a perfeição não tem história
SĂŁo leves teus enredos como a brisa

Constante vagaroso combinado
Um anjo em ti se opÔe à luta e luto
E tombo como um sol abandonado

Enquanto amor se esvai a paz se eleva
Teus pés roçando nos meus pés escuto
O respirar da noite que te leva.

Da Nossa Semelhança com os Deuses

Da nossa semelhança com os deuses
Por nosso bem tiremos
Julgarmo-nos deidades exiladas
E possuindo a Vida
Por uma autoridade primitiva
E coeva de Jove.

Altivamente donos de nĂłs-mesmos,
Usemos a existĂȘncia
Como a vila que os deuses nos concedem
Para, esquecer o estio.
NĂŁo de outra forma mais apoquentada
Nos vale o esforço usarmos
A existĂȘncia indecisa e afluente
Fatal do rio escuro.

Como acima dos deuses o Destino
É calmo e inexorável,
Acima de nĂłs-mesmos construamos
Um fado voluntĂĄrio
Que quando nos oprima nĂłs sejamos
Esse que nos oprime,
E quando entremos pela noite dentro
Por nosso pé entremos

A InfluĂȘncia dos Livros

NĂŁo hĂĄ dĂșvida nenhuma: se um leitor nĂŁo se tem firme nos pĂ©s diante de certos livros e de certos autores, acontece-lhe como quando a gente se debruça a uma alta janela e olha com adesĂŁo exagerada para o fundo: atira-se dali abaixo. E coisa curiosa: tanto monta que o aceno venha dum clĂĄssico, como dum romĂąntico, como dum realista, como dum futurista. Desde que a mĂŁo feiticeira que o faz saiba da sua poda, um homem, que ainda ontem era enforcado de Villon, passa a satĂąnico de Baudelaire sem qualquer cerimĂłnia.

DistĂąncia

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Vem sentar-te
Aqui na chaise-longue, ao pĂ© de mim…
Tenho o desejo doido de contar-te
Estas saudades que nĂŁo tinham fim.

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe;
Quero ver
Se ainda sabes olhar-me como d’antes,
E se nas tuas mĂŁos acariciantes,
Inda existe o perfume de que eu gosto.

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Tenho medo
Do silĂȘncio pesado d’esta sala…
Como soluça o vento no arvoredo!
E a tua voz, amor, como se cala!

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Antigamente,
Era sempre demais o curto espaço
Que havia entre nĂłs dois…
Agora, um embaraço,
Hesitas e depois,
Com um gesto de tédio e de cansaço,
Achas inconveniente
O meu abraço.

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Fica. Inda Ă© tĂŁo cedo!
O vento continua a fustigar
Os ramos sofredores do arvoredo,
E eu ponho-me a pensar
E tenho medo!

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Na sombra impenetrada,
Como se agita e se debate o vento!…
Paira nas velhas ruĂ­nas do convento

Que além se avista,

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Se vocĂȘ tem cĂ©rebro e sapatos nos pĂ©s, e o caminho nĂŁo for agradĂĄvel, vĂĄ por outro que julgar melhor.

Ode Marcial

InĂșmero rio sem ĂĄgua — sĂł gente e coisa,
Pavorosamente sem ĂĄgua!

Soam tambores longĂ­nquos no meu ouvido
E eu não sei se vejo o rio se ouço os tambores,
Como se nĂŁo pudesse ouvir e ver ao mesmo tempo
Helahoho! Helahoho!

A mĂĄquina de costura da pobre viĂșva morta Ă  baioneta…
Ela cosia Ă  tarde indeterminadamente…
A mesa onde jogavam os velhos,

Tudo misturado, tudo misturtado com os corpos, com sangues,
Tudo um sĂł rio, uma sĂł onda, um sĂł arrastado horror

Helahoho! Helahoho!

Desenterrei o comboio de lata da criança calcado no meio da estrada,
E chorei como todas as mĂŁes do mundo sobre o horror da vida.
Os meus pĂ©s panteĂ­stas tropeçaram na mĂĄquina de costura da viĂșva que mataram Ă  baioneta
E esse pobre instrumento de paz meteu uma lança no meu coração

Sim, fui eu o culpado de tudo, fui eu o soldado todos eles
Que matou, violou, queimou e quebrou,
Fui eu e a minha vergonha e o meu remorso com uma sombra disforme
Passeiam por todo o mundo como Ashavero,

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O homem é um verme. Deus não tem nada com este grão de areia, que lançou no oceano, a turbilhÔes, com a ponta de um pé.

HĂĄ tempos estou vivendo uma estĂłria-de-amor-impossĂ­vel que rebenta a saĂșde: sei que nĂŁo dĂĄ pĂ© de jeito nenhum e nĂŁo consigo me libertar, esquecer.

Tu Ă  Noite

Tu Ă  noite havias de escutar
A trovoada e o ar ambulante.
Tu nessa margem hĂĄs-de virar
Para onde estão as intempéries dominantes.

Toda essa honrada esperança
RuirĂĄ na ardĂłsia,
E destroçarå o inverno
Que vocifera a teus pés.

Se bem que ardam os altares apaixonantes,
E que o sol deliberado
Faça ladrar a åguia,
Tu avançarås na corda bamba.

Saudade do Teu Corpo

Tenho saudades do teu corpo: ouviste
correr-te toda a carne e toda a alma
o meu desejo – como um anjo triste
que enlaça nuvens pela noite calma?…

Anda a saudade do teu corpo (sentes?…)
Sempre comigo: deita-se ao meu lado,
dizendo e redizendo que nĂŁo mentes
quando me escreves: «vem, meu todo amado…»

É o teu corpo em sombra esta saudade…
Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios-sombra:
a luz do seu olhar Ă© escuridade…

Fecho os olhos ao sol para estar contigo.
É de noite este corpo que me assombra…
VĂȘs?! A saudade Ă© um escultor antigo!