Passagens sobre Pés

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Frases sobre pés, poemas sobre pés e outras passagens sobre pés para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Toada Para Solo De Ocarina

Fio tĂȘnue do cĂ©u em claridade
tece esse manto gris meu agasalho
colhido pelos muros da cidade:
mucosa verde musgo que se espalha

como tapete denso em chĂŁo de jade
Meus pés de crivo cravam esse atalho
riscando seu grafite no mar que arde
o fogo-de-santelmo em céu talhado

Nesse caminho caio em minha sina
caio no mar que lava essa lavoura
num barco ébrio que sempre desafina

E colho o sal da noite a lua moura
crescente luz de foice me assassina
e me morro no haxixe com Rimbaud

Despede Teu Pudor

Despede teu pudor com a camisa
E deixa alada louca sem memĂłria
Uma nudez nascida para a glĂłria
Sofrer de meu olhar que te heroĂ­za

Tudo teu corpo tem, nĂŁo te humaniza
Uma cegueira fĂĄcil de vitĂłria
E como a perfeição não tem história
SĂŁo leves teus enredos como a brisa

Constante vagaroso combinado
Um anjo em ti se opÔe à luta e luto
E tombo como um sol abandonado

Enquanto amor se esvai a paz se eleva
Teus pés roçando nos meus pés escuto
O respirar da noite que te leva.

Da Nossa Semelhança com os Deuses

Da nossa semelhança com os deuses
Por nosso bem tiremos
Julgarmo-nos deidades exiladas
E possuindo a Vida
Por uma autoridade primitiva
E coeva de Jove.

Altivamente donos de nĂłs-mesmos,
Usemos a existĂȘncia
Como a vila que os deuses nos concedem
Para, esquecer o estio.
NĂŁo de outra forma mais apoquentada
Nos vale o esforço usarmos
A existĂȘncia indecisa e afluente
Fatal do rio escuro.

Como acima dos deuses o Destino
É calmo e inexorável,
Acima de nĂłs-mesmos construamos
Um fado voluntĂĄrio
Que quando nos oprima nĂłs sejamos
Esse que nos oprime,
E quando entremos pela noite dentro
Por nosso pé entremos

A InfluĂȘncia dos Livros

NĂŁo hĂĄ dĂșvida nenhuma: se um leitor nĂŁo se tem firme nos pĂ©s diante de certos livros e de certos autores, acontece-lhe como quando a gente se debruça a uma alta janela e olha com adesĂŁo exagerada para o fundo: atira-se dali abaixo. E coisa curiosa: tanto monta que o aceno venha dum clĂĄssico, como dum romĂąntico, como dum realista, como dum futurista. Desde que a mĂŁo feiticeira que o faz saiba da sua poda, um homem, que ainda ontem era enforcado de Villon, passa a satĂąnico de Baudelaire sem qualquer cerimĂłnia.

DistĂąncia

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Vem sentar-te
Aqui na chaise-longue, ao pĂ© de mim…
Tenho o desejo doido de contar-te
Estas saudades que nĂŁo tinham fim.

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe;
Quero ver
Se ainda sabes olhar-me como d’antes,
E se nas tuas mĂŁos acariciantes,
Inda existe o perfume de que eu gosto.

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Tenho medo
Do silĂȘncio pesado d’esta sala…
Como soluça o vento no arvoredo!
E a tua voz, amor, como se cala!

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Antigamente,
Era sempre demais o curto espaço
Que havia entre nĂłs dois…
Agora, um embaraço,
Hesitas e depois,
Com um gesto de tédio e de cansaço,
Achas inconveniente
O meu abraço.

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Fica. Inda Ă© tĂŁo cedo!
O vento continua a fustigar
Os ramos sofredores do arvoredo,
E eu ponho-me a pensar
E tenho medo!

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Na sombra impenetrada,
Como se agita e se debate o vento!…
Paira nas velhas ruĂ­nas do convento

Que além se avista,

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Se vocĂȘ tem cĂ©rebro e sapatos nos pĂ©s, e o caminho nĂŁo for agradĂĄvel, vĂĄ por outro que julgar melhor.

Ode Marcial

InĂșmero rio sem ĂĄgua — sĂł gente e coisa,
Pavorosamente sem ĂĄgua!

Soam tambores longĂ­nquos no meu ouvido
E eu não sei se vejo o rio se ouço os tambores,
Como se nĂŁo pudesse ouvir e ver ao mesmo tempo
Helahoho! Helahoho!

A mĂĄquina de costura da pobre viĂșva morta Ă  baioneta…
Ela cosia Ă  tarde indeterminadamente…
A mesa onde jogavam os velhos,

Tudo misturado, tudo misturtado com os corpos, com sangues,
Tudo um sĂł rio, uma sĂł onda, um sĂł arrastado horror

Helahoho! Helahoho!

Desenterrei o comboio de lata da criança calcado no meio da estrada,
E chorei como todas as mĂŁes do mundo sobre o horror da vida.
Os meus pĂ©s panteĂ­stas tropeçaram na mĂĄquina de costura da viĂșva que mataram Ă  baioneta
E esse pobre instrumento de paz meteu uma lança no meu coração

Sim, fui eu o culpado de tudo, fui eu o soldado todos eles
Que matou, violou, queimou e quebrou,
Fui eu e a minha vergonha e o meu remorso com uma sombra disforme
Passeiam por todo o mundo como Ashavero,

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O homem é um verme. Deus não tem nada com este grão de areia, que lançou no oceano, a turbilhÔes, com a ponta de um pé.

HĂĄ tempos estou vivendo uma estĂłria-de-amor-impossĂ­vel que rebenta a saĂșde: sei que nĂŁo dĂĄ pĂ© de jeito nenhum e nĂŁo consigo me libertar, esquecer.

Tu Ă  Noite

Tu Ă  noite havias de escutar
A trovoada e o ar ambulante.
Tu nessa margem hĂĄs-de virar
Para onde estão as intempéries dominantes.

Toda essa honrada esperança
RuirĂĄ na ardĂłsia,
E destroçarå o inverno
Que vocifera a teus pés.

Se bem que ardam os altares apaixonantes,
E que o sol deliberado
Faça ladrar a åguia,
Tu avançarås na corda bamba.

Saudade do Teu Corpo

Tenho saudades do teu corpo: ouviste
correr-te toda a carne e toda a alma
o meu desejo – como um anjo triste
que enlaça nuvens pela noite calma?…

Anda a saudade do teu corpo (sentes?…)
Sempre comigo: deita-se ao meu lado,
dizendo e redizendo que nĂŁo mentes
quando me escreves: «vem, meu todo amado…»

É o teu corpo em sombra esta saudade…
Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios-sombra:
a luz do seu olhar Ă© escuridade…

Fecho os olhos ao sol para estar contigo.
É de noite este corpo que me assombra…
VĂȘs?! A saudade Ă© um escultor antigo!

Maomé e a Montanha

Guardo o mais absoluto segredo
das pedras que rolam no fundo dos leitos
embora nada saiba,
nada ouse saber.
Vou pelo olhar até ao rio,
o rio vem a mim
e ambos caminhamos deslumbrados
para fora de nĂłs.

O cantar da ĂĄgua
corre nos meus olhos exactamente como corre
a manhĂŁ
até que o sol a prumo
faz de mim o desenho do rio
que vejo,
o mapa das veias
onde o corpo nasce de novo.

À vinda procuro a minha sombra.
O coração que me hå-de trazer de volta
demora-se no rio
como se nele corresse
uma sede de olhar.

Os pés colam-se à margem.
Do outro lado as casas vĂŁo mudando
de expressĂŁo
mais lentamente do que a ĂĄgua corre.
O sol abraça-me pelas costas
e deixa-se escorregar como crianças
que riem,
que nĂŁo distinguem a voz seca do tempo.

É noite à lareira da casa.
Os objectos acendem-se:
também eles mudam de rosto
como tudo o que Ă© iluminado por amor.

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A Dança Da PsiquĂȘ

A dança dos encéfalos acesos
Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços
As cabeças, as mãos, os pés e os braços
Tombara, cedendo à ação de ignotos pesos!

É então que a vaga dos instintos presos
– MĂŁe de esterilidades e cansaços –
Atira os pensamentos mais devassos
Contra os ossos cranianos indefesos.

Subitamente a cerebral coréa
Påra. O cosmos sintético da Idéa
Surge. EmoçÔes extraordinĂĄrias sinto…

Arranco do meu crĂąnio as nebulosas.
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!

Possuir-te Ă© Gozar de um Tesouro Infinito

Que suprema felicidade foi hoje a minha, querida desta alma! Como tu estavas, linda, terna, amante, encantadora! Nunca te vi assim, nunca me pareceste tĂŁo bela! Que deliciosa variedade hĂĄ em ti, minha Rosa adorada! Possuir-te Ă© gozar de um tesouro infinito, inesgotĂĄvel. Juro-te que jĂĄ nĂŁo tenho mĂ©rito em te ser fiel, em te protestar e guardar esta lealdade exclusiva que te hei-de consagrar atĂ© ao Ășltimo instante da minha vida: nĂŁo tenho mĂ©rito algum nisso. Depois de ti, toda a mulher Ă© impossĂ­vel para mim, que antes de ti nĂŁo conheci nenhuma que me pudesse fixar.

E o que eu te estimo e aprecio alĂ©m disso. A ternura de alma verdadeira que tenho por ti. Onde estavam no meu coração estes afectos que nunca senti, que sĂł tu despertaste e que dĂŁo Ă  minha alma um bem-estar tĂŁo suave? Realmente que te devo muito, que me fizeste melhor, outro do que nunca fui. O que sinto por ti Ă© inexplicĂĄvel. Bem me dizias tu que em te conhecendo te havia de adorar deveras. É certo, assim foi, e estou agora seguro deste amor, porque repousa em bases tĂŁo sĂłlidas que jĂĄ nada creio que o possa destruir.

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A Mulher de Negro

Os sons da floresta, as ĂĄrvores, a bicicleta e, ao longe, o silĂȘncio imĂłvel de um vulto negro. Aproximei-me e era uma mulher vestida de negro. Um xaile negro sobre os ombros. Um lenço negro sobre a cabeça. O som dos pneus da bicicleta a pararem, o som de amassarem folhas hĂșmidas e de fazerem estalar ramos. Os meus pĂ©s a pousarem no chĂŁo. Os olhos da mulher entre o negro. Os olhos pequenos da mulher. O seu rosto branco. Vimo-nos como se nos encontrĂĄssemos, como se nos tivĂ©ssemos perdido havia muito tempo e nos encontrĂĄssemos. O tempo deixou de existir. O silĂȘncio deixou de existir. Pousei a bicicleta no chĂŁo para caminhar na direcção da mulher. Era atraĂ­do por segredos. Durante os meus passos, a mulher estendeu-me a mĂŁo. A sua mĂŁo era muito velha. A palma da sua mĂŁo tinha linhas que eram o mapa de uma vida inteira, uma vida com todos os seus enganos, com todos os seus erros, com todas as suas tentativas. Os seus olhos de pedra. Senti os ossos da sua mĂŁo a envolverem os meus dedos. NĂŁo me puxou, mas eu aproximei o meu corpo do seu. Senti a sua respiração no meu pescoço.

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O Anjo De Pernas Tortas

A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.

Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rĂĄpido que o prĂłprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pĂ©s – um pĂ©-de-vento!

Num sĂł transporte a multidĂŁo contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.

Garrincha, o anjo, escuta e atende: – Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um 1. É pura dança!