O Maestro Sacode a Batuta
O maestro sacode a batuta,
A lĂąnguida e triste a mĂșsica rompe …Lembra-me a minha infĂąncia, aquele dia
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal
Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cĂŁo verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo …Prossegue a mĂșsica, e eis na minha infĂąncia
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cĂŁo verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo…Todo o teatro Ă© o meu quintal, a minha infĂąncia
EstĂĄ em todos os lugares e a bola vem a tocar mĂșsica,
Uma mĂșsica triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cĂŁo verde tornando-se jockey amarelo…
(TĂŁo rĂĄpida gira a bola entre mim e os mĂșsicos…)Atiro-a de encontra Ă minha infĂąncia e ela
Atravessa o teatro todo que estå aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo e um cĂŁo verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal…
Poemas sobre Bolas de Fernando Pessoa
2 resultadosO Andaime
O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi sĂł a vida mentida
De um futuro imaginado!Aqui Ă beira do rio
Sossego sem ter razĂŁo.
Este seu correr vazio
Figura, anĂŽnimo e frio,
A vida vivida em vĂŁo.A âspârança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha âsâprança,
Rola mais que o meu desejo.Ondas do rio, tĂŁo leves
Que nĂŁo sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam â verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.Gastei tudo que nĂŁo tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusĂŁo, que me mantinha,
SĂł no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.Leve som das ĂĄguas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava jĂĄ perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.