O pudor dá Ă s mulheres um encanto irresistĂvel.
Passagens sobre Pudor
87 resultadosUm Homem Realizado
Ao indivĂduo acostumado ao Ăntimo das profundidades, o «mistĂ©rio» nĂŁo intimida; nĂŁo fala dele e nĂŁo sabe o que seja: vive-o… A realidade em que se move nĂŁo comporta outra: nĂŁo tem uma zona inferior nem um alĂ©m: está abaixo de tudo e para alĂ©m de tudo. Farto de transcendĂŞncia, superior Ă s operações do espĂrito e Ă s servidões que se lhe associam, repousa na sua curiosidade inexaurĂvel… Nem a religiĂŁo nem a metafĂsica o intrigam: o que poderia sondar ele que se encontra já em pleno insondável? Cumulado, está-o sem dĂşvida; mas ignora se continua a existir.
Afirmamo-nos na medida em que, por trás de uma realidade dada, perseguimos uma outra e em que, para alĂ©m do prĂłprio absoluto, continuamos Ă procura. A teologia detĂ©m-se em Deus? De maneira nenhuma. Quer remontar mais alto, tal como a metafĂsica que, ao mesmo tempo que investiga a essĂŞncia, nĂŁo se digna fixar-se nela. Uma e outra temem ancorar num princĂpio Ăşltimo; passam de segredo em segredo; incensam o inexplicável e abusam dele sem pudor. O mistĂ©rio, que oferenda! Mas que maldição pensar tĂŞ-lo atingido, imaginar que o conhecemos e que poderemos residir nele! Já nĂŁo há que procurar: aĂ está ele,
Eu sempre preferi o menos ao mais por medo tambĂ©m do ridĂculo: Ă© que há tambĂ©m o dilaceramento do pudor.
Anjo És
Anjo és tu, que esse poder
Jamais o teve mulher,
Jamais o há-de ter em mim.
Anjo és, que me domina
Teu ser o meu ser sem fim;
Minha razĂŁo insolente
Ao teu capricho se inclina,
E minha alma forte, ardente,
Que nenhum jugo respeita,
Covardemente sujeita
Anda humilde a teu poder.
Anjo és tu, não és mulher.Anjo és. Mas que anjo és tu?
Em tua fronte anuviada
NĂŁo vejo a c’roa nevada
Das alvas rosas do céu.
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sĂ´frego pudor
Vela os mistĂ©rios d’amor.
Teus olhos tĂŞm negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama Ă© vivaz e Ă© bela,
Mas luz nĂŁo tĂŞm. – Que anjo Ă©s tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?NĂŁo respondes – e em teus braços
Com frenéticos abraços
Me tens apertado, estreito!…
Isto que me cai no peito
Que foi?… – Lágrima? – Escaldou-me…
Queima,
Os Castrados
Há muitos tipos de castrados.
Há os da casta de cantores
que se afinam na voz mais fina
aleijões de seus dissabores.Há os de vida feminina
de tarefas vis sem pudores
aios de haréns de concubinas
os assexuados sem rumores.São todos eunucos forçados
vĂtimas do mando de autores:
os sultões de sanha assassina
que gozam no estertor das dores.Castrados morais tĂŞm escrotos,
mas gozam com sexo dos outros.
A delicadeza deve concluir-se, e nĂŁo ver-se. (…) A grosseria sĂł começa quando começa a delicadeza; e o impudor desde que o pudor exista.
Soneto Da Mulher E A Nuvem
A JoĂŁo Cabral de Melo Neto
Nuvem no céu do nunca, nem tão branca
– assim era o amor, Ă minha espreita,
e era a mulher, de nuvens sempre feita
e de véus e pudor que o amor arranca.Não pude amá-la, pois não era franca
a sua carne que o amor aceita,
nuvem que um céu de amor sempre atravanca
e entre praias e pântanos se deita.Bruma de carne, em vão céu de tormento,
parindo fogo aos meus dezesseis anos,
assim foi ela, sem deixar seu nome.Nunca foi minha, e sĂł em pensamento
eu pude dar-lhe o amor de desenganos
que me deixou no corpo espanto e fome.