VĂŁo Arrebatamento
Partes um dia das Curiosidades
Do teu ser singular, partes em busca
De alamas irmĂŁs, cujo esplendor ofusca
As celestes, divinas claridades.Rasgas terras e céus, imensidades,
Dos perigos da Vida a vaga brusca,
Queima-te o sol que na AmplidĂŁo corusca
E consola-te a lua das saudades.Andas por toda a parte, em toda a parte
A sedução das almas a falar-te,
Como da Terra luminosos marcos.E a sorrir e a gemer e soluçando
Ah! Sempre em busca de almas vais andando
Mas em vez delas encontrando charcos!
Passagens sobre Sedução
44 resultadosA Poesia nĂŁo se Inventou para Cantar o Amor
A poesia nĂŁo se inventou para cantar o amor — que de resto nĂŁo existia ainda quando os primeiros homens cantaram. Ela nasceu com a necessidade de celebrar magnificamente os deuses, e de conservar na memĂłria, pela sedução do ritmo, as leis da tribo. A adoração ou captação da divindade e a estabilidade social, eram entĂŁo os dois altos e Ăşnicos cuidados humanos: — e a poesia tendeu sempre, e tenderá constantemente a resumir, nos conceitos mais puros, mais belos e mais concisos, as ideias que estĂŁo interessando e conduzindo os homens. Se a grande preocupação do nosso tempo fosse o amor — ainda admitirĂamos que se arquivasse, por meio das artes da imprensa, cada suspiro de cada Francesca. Mas o amor Ă© um sentimento extremamente raro entre as raças velhas e enfraquecidas. Os Romeus, as Julietas (para citar sĂł este casal clássico) já nĂŁo se repetem nem sĂŁo quase possĂveis nas nossas democracias, saturadas de cultura, torturadas pela ansia do bem-estar, cĂ©pticas, portanto egoĂstas, e movidas pelo vapor e pela electricidade. Mesmo nos crimes de amor, em que parece reviver, com a sua força primitiva e dominante, a paixĂŁo das raças novas, se descobrem logo factores lamentavelmente alheios ao amor,
Em Louvor das Crianças
Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino Ă© o da infância. A esse paĂs inocente, donde se Ă© expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, Ă s vezes, poesia. Essa espĂ©cie de terra mĂtica Ă© habitada por seres de uma tĂŁo grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi Ă s crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o ParaĂso.
A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que,
Os homens gostam da guerra. Ela exerce uma eterna sedução sobre eles, pela intensidade da experiência, pela oportunidade de fugir ao marasmo da vida familiar.