XIV
Viver nĂŁo pude sem que o fel provasse
Desse outro amor que nos perverte e engana:
Porque homem sou, e homem não há que passe
Virgem de todo pela vida humana.Por que tanta serpente atra e profana
Dentro d’alma deixei que se aninhasse?
Por que, abrasado de uma sede insana,
A impuros lábios entreguei a face?Depois dos lábios sôfregos e ardentes,
Senti duro castigo aos meus desejos
O gume fino de perversos dentes…E nĂŁo posso das faces poluĂdas
Apagar os vestĂgios desses beijos
E os sangrentos sinais dessas feridas!
Sonetos sobre Ferida de Olavo Bilac
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SĂł
Este, que um deus cruel arremessou Ă vida,
Marcando-o com o sinal da sua maldição,
– Este desabrochou como a erva má, nascida
Apenas para aos pĂ©s ser calcada no chĂŁo.De motejo em motejo arrasta a alma ferida…
Sem constância no amor, dentro do coração
Sente, crespa, crescer a selva retorcida
Dos pensamentos maus, filhos da solidĂŁo.Longos dias sem sol! noites de eterno luto!
Alma cega, perdida Ă toa no caminho!
Roto casco de nau, desprezado no mar!E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto;
E, homem, há de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!