Sonetos sobre Sentidos de Fernando Pessoa

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Sonetos de sentidos de Fernando Pessoa. Leia este e outros sonetos de Fernando Pessoa em Poetris.

Como Te Amo

Como te amo? Não sei de quantos modos vários
Eu te adoro, mulher de olhos azuis e castos;
Amo-te com o fervor dos meus sentidos gastos;
Amo-te com o fervor dos meus preitos diários.

É puro o meu amor, como os puros sacrários;
É nobre o meu amor, como os mais nobres fastos;
É grande como os mares altisonos e vastos;
É suave como o odor de lírios solitários.

Amor que rompe enfim os laços crus do Ser;
Um tĂŁo singelo amor, que aumenta na ventura;
Um amor tĂŁo leal que aumenta no sofrer;

Amor de tal feição que se na vida escura
É tão grande e nas mais vis ânsias do viver,
Muito maior será na paz da sepultura!

Aconteceu-Me Do Alto Do Infinito

Aconteceu-me do alto do infinito
Esta vida. Através de nevoeiros,
Do meu prĂłprio ermo ser fumos primeiros,
Vim ganhando, e través estranhos ritos

De sombra e luz ocasional, e gritos
Vagos ao longe, e assomos passageiros
De saudade incĂłgnita, luzeiros
De divino, este ser fosco e proscrito…

Caiu chuva em passados que fui eu.
Houve planícies de céu baixo e neve
Nalguma cousa de alma do que Ă© meu.

Narrei-me Ă  sombra e nĂŁo me achei sentido.
Hoje sei-me o deserto onde Deus teve
Outrora a sua capital de olvido…

Emissário de um Rei Desconhecido

Emissário de um rei desconhecido,
Eu cumpro informes instruções de além,
E as bruscas frases que aos meus lábios vêm
Soam-me a um outro e anĂ´malo sentido…

Inconscientemente me divido
Entre mim e a missĂŁo que o meu ser tem,
E a glória do meu Rei dá-me desdém
Por este humano povo entre quem lido…

NĂŁo sei se existe o Rei que me mandou.
Minha missão será eu a esquecer,
Meu orgulho o deserto em que em mim estou…

Mas há! Eu sinto-me altas tradições
De antes de tempo e espaço e vida e ser…
Já viram Deus as minhas sensações…