Textos sobre Ditados

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Textos de ditados escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Por um Mundo Escutador

Não existe alternativa: a globalização começou com o primeiro homem. O primeiro homem (se é que alguma vez existiu «um primeiro» homem) era já a humanidade inteira. Essa humanidade produziu infinitas respostas adaptativas. O que podemos fazer, nos dias de hoje, é responder à globalização desumanizante com uma outra globalização, feita à nossa maneira e com os nossos propósitos. Não tanto para contrapor. Mas para criar um mundo plural em que todos possam mundializar e ser mundializados. Sem hegemonia, sem dominação. Um mundo que escuta as vozes diversas, em que todos são, em simultâneo, centro e periferia.

Só há um caminho. Que não é o da imposição. Mas o da sedução. Os outros necessitam conhecer-nos. Porque até aqui «eles» conhecem uma miragem. O nosso retrato – o retrato feito pelos «outros» – foi produzido pela sedimentação de estereótipos. Pior do que a ignorância é essa presunção de saber. O que se globalizou foi, antes de mais, essa ignorância disfarçada de arrogância. Não é o rosto mas a máscara que se veicula como retrato.
A questão é, portanto, a de um outro conhecimento. Se os outros nos conhecerem, se escutarem a nossa voz e, sobretudo, se encontrarem nessa descoberta um motivo de prazer,

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A Amizade e o Amor Segundo uma Lógica de Bazar

Desconfia-se do que é dado e pesa-se o que se recebe. A amizade e o amor parecem gerir-se, por vezes, segundo uma lógica de bazar. Já nem é considerado má-educação perguntar quanto é que uma prenda custou. Se esse preço é excessivo chega-se a dizer que não se pode aceitar. Recusar uma dádiva é como chamar interesseiro ao dador. É desconfiar que existe uma segunda intenção. De qualquer forma, só quem tem medo (ou corre o risco) de se vender pode pensar que alguém está a tentar comprá-lo. Quem dá de bom coração merece ser aceite de bom coração. A essência sentimental da dádiva é ultrajada pela frieza da avaliação.
A mania da equitatividade contamina os espíritos justos. É o caso das pessoas que, não desconfiando de uma dádiva, recusam-se a aceitar uma prenda que, pelo seu valor, não sejam capazes de retribuir. Esta atitude, apesar de ser nobre, acaba por ser igualmente destrutiva, pois supõe que existe, ou poderá vir a existir, uma expectativa de retribuição da parte de quem dá. Mas quem dá não dá para ser pago. Dá para ser recebido. Não dá como quem faz um depósito ou investimento. O valor de uma prenda não está na prenda –

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Um Homem de Sucesso

Uma pessoa não é exatamente o que come, como diz o ditado e como eu próprio dei por garantido; uma pessoa é sobretudo o lugar onde come, e com quem come, e a correção com que nomeia o que come e a segurança com que escolhe, da ementa, os pratos certos, perante testemunhas. Um homem de sucesso é, muito especialmente, aquele que depois diz onde comeu e com quem. São essas coisas que definem o seu estatuto e a altitude a que voa, e que determinam se vaie a pena perder um quarto de hora com ele, pagar-lhe um copo e até tentar marcar um jantar para outro dia, estabelecer uma relação. Ou se, pelo contrário, deves responder-lhe que estás atrasado para uma reunião e consultar duas ou três vezes o relógio antes de te afastares rapidamente, mesmo que ele esteja disposto a pagar–te o jantar.

Ser Sensível

Não se é obrigado a fazer do homem um filósofo, em lugar de fazer dele um homem; os seus deveres para com outrem não lhe são ditados unicamente pelas tardias lições da sabedoria; e, enquanto não resistir ao impulso interior da comiseração, jamais fará mal a outro homem, nem mesmo a nenhum ser sensível, excepto no caso legítimo em que, achando-se a conservação interessada, é obrigado a dar preferência a si mesmo. Por esse meio, terminam também as antigas disputas sobre a participação dos animais na lei natural; porque é claro que, desprovidos de luz e de liberdade, não podem reconhecer essa lei; mas, unidos de algum modo à nossa natureza pela sensibilidade de que são dotados, julgar-se-á que devem também participar do direito natural e que o homem está obrigado, para com eles a certa espécie de deveres. Parece, com efeito, que, se sou obrigado a não fazer nenhum mal ao meu semelhante, é menos porque ele é um ser racional do que porque é um ser sensível, qualidade que, sendo comum ao animal e ao homem, deve ao menos dar a um o direito de não ser maltratado inutilmente pelo outro.

Regras Essenciais para uma Boa Amizade

Os homens assemelham-se às crianças, que adquirem maus costumes quando mimadas; por isso, não se deve ser muito condescendente e amável com ninguém. Do mesmo modo como, via de regra, não se perderá um amigo por lhe negar um empréstimo, mas muito facilmente por lhe conceder, também não se perderá nenhum amigo por conta de um tratamento orgulhoso e um pouco negligente, mas amiúde em virtude de excessiva amabilidade e solicitude, que fazem com que ele se torne insuportável, o que então produz a ruptura. Mas é sobretudo o pensamento de que precisamos das pessoas que lhes é absolutamente insuportável: petulância e presunção são as consequências inevitáveis.
Em algumas, tal pensamento origina-se em certo grau já pelo facto de nos relacionarmos ou conversarmos frequentemente com elas de uma maneira confidencial; de imediato, pensarão que nós também devemos ter paciência com eles e tentarão ampliar os limites da polidez. Eis porque tão poucos indivíduos se prestam a uma convivência íntima; desse modo, temos de evitar qualquer familiaridade com naturezas de nível inferior.

Contudo, se esse indivíduo imaginar que é mais necessário a nós do que nós a ele, terá como sensação imediata a impressão de que lhe roubamos algo.

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