Textos sobre Fortes de Agustina Bessa-LuĂ­s

3 resultados
Textos de fortes de Agustina Bessa-LuĂ­s. Leia este e outros textos de Agustina Bessa-LuĂ­s em Poetris.

A ImportĂąncia da Arte

A arte Ă©, provavelmente, uma experiĂȘncia inĂștil; como a «paixĂŁo inĂștil» em que cristaliza o homem. Mas inĂștil apenas como tragĂ©dia de que a humanidade beneficie; porque a arte Ă© a menos trĂĄgica das ocupaçÔes, porque isso nĂŁo envolve uma moral objectiva. Mas se todos os artistas da terra parassem durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota de mĂșsica, fazia-se um deserto extraordinĂĄrio. Acreditem que os teares paravam, tambĂ©m, e as fĂĄbricas; as gares ficavam estranhamente vazias, as mulheres emudeciam. A arte Ă©, no entanto, uma coisa explosiva. Houve, e hĂĄ decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam Ă  experiĂȘncia inĂștil que Ă© a arte, pessoas como VirgĂ­lio, por exemplo, e que sabem que o seu silĂȘncio pode ser mortal. Se os poetas se calassem subitamente e sĂł ficasse no ar o ruĂ­do dos motores, porque atĂ© o vento se calava no fundo dos vales, penso que atĂ© as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem vitĂłria, com a mansidĂŁo das coisas estĂ©reis. O laço da ficção, que gera a expectativa, Ă© mais forte do que todas as realidades acumulĂĄveis. Se ele se quebra, o equilĂ­brio entre os seres sofre grave prejuĂ­zo.

Continue lendo…

Novo Ano

Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse no ventre morte, peste e guerra. Morte à senilidade idealista e à retórica embalsamada; peste para um certo código cultural que age sobre os grupos e os transforma em colectividades emocionais; guerra à recuperação da personalidade duma cultura extinta que nada tem a ver com a cultura em si mesma.

Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse nos braços a vida, a energia e a paz. Vida o suficientemente despersonalizada no caudal urbano para que os desvios individuais não sejam convite ao eterno controlo e expressão das pessoas; energia para desmascarar o sectarismo da sociedade secularizada em que o estado afectivo é mais forte do que a acção; paz para os homens de boa e de må vontade.

(31 de

A Educação da Fé

Sendo a fĂ© um dom, como pode ser motivo de educação? NĂŁo pode realmente ser ensinada, mas sim irradiada. Os que a possuem podem significar a estrela-guia, a perseverança num encontro difĂ­cil de suceder, mas cuja esperança comove todo o nosso ser. É possĂ­vel que a Igreja se volte para esse apostolado da fĂ© que foi extremamente importante no seu começo. NĂŁo o velho sistema de grupos sectĂĄrios que sĂŁo o modelo dos processos polĂ­ticos e que, quando se afirma um movimento e este toma amplitude, se eliminam. NĂŁo Ă© isso. Trata-se de focos de comunicação que dispensam a organização premeditada e atĂ© a linguagem elaborada, o discurso piedoso e a erudição duma exegese. Um interessar a alma na fĂ© sem recorrer ao preconceito da santidade. Descobrir a imensa novidade da fĂ© num mundo em que o prĂłprio cristĂŁo vive de maneira pagĂŁ e singularmente a coberto dos antigos textos que esqueceu ou que desconhece completamente.

A prova de que o cristão vive como um bårbaro é o sentido que tomou a arte religiosa. Não é raro encontrar nas salas de convívio burguesas, juntamente com a televisão, ou a mesa de jogo, ou a instalação estereofónica para o gira-disco,

Continue lendo…