A Disputa das Ideias
Temos cada vez mais tipos de ordem e cada vez menos ordem. (…) Depois de todos os esforços do passado, entrámos num perĂodo de retrocesso. VĂŞ bem como as coisas se passam hoje: quando um homem importante lança uma nova ideia no mundo, ela Ă© imediatamente apanhada por um mecanismo de divisĂŁo, constituĂdo por simpatia e repulsa. Primeiro vĂŞm os admiradores e arrancam grandes bocados, os que lhes convĂŞm, a essa ideia, e despedaçam o mestre como as raposas a presa; a seguir, os adversários destroem as partes fracas, e em pouco tempo o que resta de um grande feito mais nĂŁo Ă© do que uma reserva de aforismos de que amigos e inimigos se servem a seu bel-prazer. O resultado Ă© uma ambiguidade generalizada. NĂŁo há Sim a que se nĂŁo junte um NĂŁo. Podes fazer o que quiseres, que encontras sempre vinte das mais belas ideias a favor e, se quiseres, vinte que sĂŁo contra. Quase somos levados a acreditar que Ă© como no amor e no Ăłdio, ou na fome, em que os gostos tĂŞm de ser diferentes, para que cada um fique com o seu bocado.
Textos sobre Raposas
2 resultadosO Homem Congrega Todas as Espécies de Animais
Há tĂŁo diversas espĂ©cies de homens como há diversas espĂ©cies de animais, e os homens sĂŁo, em relação aos outros homens, o que as diferentes espĂ©cies de animais sĂŁo entre si e em relação umas Ă s outras. Quantos homens nĂŁo vivem do sangue e da vida dos inocentes, uns como tigres, sempre ferozes e sempre cruĂ©is, outros como leões, mantendo alguma aparĂŞncia de generosidade, outros como ursos grosseiros e ávidos, outros como lobos arrebatadores e impiedosos, outros ainda como raposas, que vivem de habilidades e cujo ofĂcio Ă© enganar!
Quantos homens nĂŁo se parecem com os cĂŁes! Destroem a sua espĂ©cie; caçam para o prazer de quem os alimenta; uns andam sempre atrás do dono; outros guardam-lhes a casa. Há lebrĂ©us de trela que vivem do seu mĂ©rito, que se destinam Ă guerra e possuem uma coragem cheia de nobreza, mas há tambĂ©m dogues irascĂveis, cuja Ăşnica qualidade Ă© a fĂşria; há cĂŁes mais ou menos inĂşteis, que ladram frequentemente e por vezes mordem, e há atĂ© cĂŁes de jardineiro. Há macacos e macacas que agradam pelas suas maneiras, que tĂŞm espĂrito e que fazem sempre mal. Há pavões que sĂł tĂŞm beleza, que desagradam pelo seu canto e que destroem os lugares que habitam.