A vida mal e mal me escapa embora me venha a certeza de que a vida é outra e tem um estilo oculto.
Passagens de Clarice Lispector
1250 resultadosA liberdade que às vezes sentia não vinha de reflexões nítidas, mas de um estado como feito de percepções por demais orgânicas para serem formuladas em pensamentos.
Então não apanhei no chão o que reluzia. Era ouro, meu Deus. Era ouro, talvez.
Mais que um instante, quero o seu fluxo.
Era malcriada demais, revoltada demais, embora depois caísse em si e pedisse desculpas.
Parece drama, parece idiotice. Porque não é você que está sentindo, sou eu.
Por que é que o cão é tão livre? Porque ele é o mistério vivo que não se indaga.
Valorize quem te ama, esses sim merecem seu respeito. Quanto ao resto, bom… ninguém nunca precisou de restos para ser feliz.
Só no Ato do Amor se Capta a Incógnita do Instante
Quero capturar o presente que pela sua própria natureza me é interdito: o presente me foge, a atualidade me escapa, a atualidade sou eu sempre no já. Só no ato do amor — pela límpida abstração de estrela do que se sente — capta-se a incógnita do instante que é duramente cristalina e vibrante no ar e a vida é esse instante incontável, maior que o acontecimento em si: no amor o instante de impessoal jóia refulge no ar, glória estranha de corpo, matéria sensibilizada pelo arrepio dos instantes — e o que se sente é ao mesmo tempo que imaterial tão objetivo que acontece como fora do corpo, faiscante no alto, alegria, alegria é matéria de tempo e é por excelência o instante. E no instante está o é dele mesmo. Quero captar o meu é. E canto aleluia para o ar assim como faz o pássaro. E meu canto é de ninguém. Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.
Minha maior mentira todos os dias: meu sorriso.
Depois que descobri em mim mesma como é que se pensa, fazendo comigo mesma negociatas, nunca mais pude acreditar no pensamento dos outros.
É quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
Agora ela era tristemente uma mulher feliz.
O divino para mim é o real.
Farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo por causa das pessoas…
Ela acreditava em anjos e, porque acreditava, eles existiam.
Não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever.
Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.
De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim.
Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre seria clandestina para mim.