Frases de António Ramalho Eanes

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Frases de António Ramalho Eanes. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.

Costuma dizer-se que o povo sabe o que quer e nunca se engana. Não é verdade. Mas um povo muito velho como o nosso acaba por ter, por razões de cultura e de subconsciente colectivo, uma grande sabedoria. Em alturas difíceis e complicadas, essa sabedoria manifesta-se.

Não posso admitir que se olhe para o desemprego como se fosse uma realidade abstracta. O desemprego são desempregados! E um desempregado, sobretudo de longa duração, é um homem que, pouco a pouco, perde a sua autodignidade, perde respeito por si e pelos outros. Num jovem é muito pior: sente que lhe estão a roubar o futuro. E daqui resulta ou a desistência, a passividade, ou a evasão perversa, ou a revolta. Em muitos países as grandes revoltas foram feitas pela juventude, que não aceita que lhe roubem o futuro!

Na política internacional, infelizmente, como diziam Rousseau e Kant, as relações ainda permanecem no estado de natureza – é a força que as rege.

Eu diria que a democracia, hoje, está mais normalizada. A democracia representativa só é democracia crescente quando procura implicar cada vez mais os cidadãos na acção política. E sabemos que a participação dos portugueses é muito pequena.

Sou, em absoluto, contra a pena de morte. Decide-se que um homem falhou definitivamente. Mas quem tem o direito de dizer que um homem falhou assim? Ninguém! A mais bela definição de Homem – a de Rousseau – é que ele é um ser perfectível, capaz, pela sua própria natureza, de se aperfeiçoar sempre, por mais nefasto que tenha sido o seu passado. Além disso, o homem tem direitos naturais que ninguém pode retirar. E o direito básico, primeiro, é o direito à vida. Digo mesmo que não há uma democracia real onde há pena de morte, onde o Estado assassina, legalmente, cidadãos.

A pátria não é a entidade pela qual valerá a pena morrer, mas pela qual vale a pena viver – pelos filhos, pelos netos, nossos e dos outros.

Com toda a sinceridade e distanciação que a vida me ensinou, devo dizer que nunca se está preparado para bem governar uma organização, seja ela a família, uma unidade, uma empresa, um país.

A democracia representativa está em crise, porque ela é só e pouco representativa. É muito fechada às elites que se cooptam e se reproduzem, não se abre convenientemente à sociedade civil e aos cidadãos, que devem ser obrigados a participar na decisão sobre as grandes questões.

Na prática, os partidos têm privilegiado as áreas de divergência, de combate e diferenciação, esquecendo as outras. Um país que carece de alterações profundas deve procurar, em determinadas questões essenciais, a concertação e o consenso.

A sociedade civil está menos participativa, e, portanto, menos capaz de defender as suas posições e interesses perante o poder, mais incapaz de fiscalizar o poder.

Responsabilizo inteiramente Salazar por não ter sido capaz de ler a situação geopolítica determinada pelo fim da II Guerra Mundial, em que as colónias não tinham cabimento. Salazar não percebeu isso e acabou por nos condenar à descolonização inglória que produzimos. É o primeiro e grande responsável por isso.

O direito à vida é fundamental. Isto não quer dizer que seja contra a despenalização do aborto – eu sou pela despenalização. Mas sendo o aborto um problema da consciência de cada um, que a sociedade não deve penalizar, a sociedade não pode deixar de dizer que reprova a sua prática, social e moralmente.

Logo que passei a exercer actividade partidária, vi que não tinha nem predisposição nem condições – ou, se quiser, qualidades – para dirigir um partido.

A guerra é, por força da sua natureza, uma situação de excessos, em que o homem revela aquilo que tem de melhor e de pior. Isso muitas vezes nem depende propriamente de um comando incorrecto, mas de um medo incontrolável. O homem quando tem medo e quer sobreviver é capaz de tudo. Incluindo actos que são perfeitamente inaceitáveis.

Nunca se faz uma reforma contra os indivíduos que vão dar-lhe realização E nunca se faz uma reforma contra o país. Só se faz uma reforma utilizando um método capaz. (…) Quando o estudo é feito por um grupo que a sociedade civil reconhece e que tem competência e isenção, criam-se condições imediatas de aceitação e de discussão.

Um povo que vive mal no presente e a quem não dizem que vai viver melhor no futuro não consegue manter a unidade nacional e a coesão. E um povo sem unidade não é um povo, não é uma comunidade de partida e destino comuns.