Passagens sobre InĂșteis

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Frases sobre inĂșteis, poemas sobre inĂșteis e outras passagens sobre inĂșteis para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Quando se trata de pessoas comuns, Ă© inĂștil atribuir-lhes qualquer sabedoria. Basta que lhes atribuamos cegueira, apenas cegueira.

Soneto Da Perdida Esperança

Perdi o bonde e a esperança
Volto pĂĄlido para casa.
A rua Ă© inĂștil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princĂ­pio do drama e da flora.

NĂŁo sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
porque nĂŁo? na noite escassa

com um insolĂșvel flautim.
Entretanto hĂĄ muito tempo
nĂłs gritamos: sim! ao eterno.

A Liberdade Nunca Ă© Real

Se examinarmos um indivĂ­duo isolado sem o relacionarmos com o que o rodeia, todos os seus actos nos parecem livres. Mas se virmos a mĂ­nima relação entre esse homem e quanto o rodeia, as suas relaçÔes com o homem que lhe fala, com o livro que lĂȘ, com o trabalho que estĂĄ fazendo, inclusivamente com o ar que respira ou com a luz que banha os objectos Ă  sua roda, verificamos que cada uma dessas circunstĂąncias exerce influĂȘncia sobre ele e guia, pelo menos, uma parte da sua actividade. E quantas mais influĂȘncias destas observamos mais diminui a ideia que fazemos da sua liberdade, aumentando a ideia que fazemos da necessidade a que estĂĄ submetido.
(…) A gradação da liberdade e da necessidade maiores ou menores depende do lapso de tempo maior ou menor desde a realização do acto atĂ© Ă  apreciação desse mesmo acto. Se examino um acto que pratiquei hĂĄ um minuto em condiçÔes quase as mesmas em que me encontro actualmente, esse acto parece-me absolutamente livre. Mas se aprecio um acto realizado hĂĄ um mĂȘs, ao encontrar-me em circunstĂąncias diferentes, a meu pesar, se nĂŁo tivesse realizado esse acto, nĂŁo existiriam muitas coisas inĂșteis, agradĂĄveis e necessĂĄrias que derivam dele.

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Adormecer

Vai vida na madrugada fria.

O teu amante fica,
na posse deste momento que foi teu,
amorfo e sem limites como um anjo;
a cabeça cheia de estrelas…
Fica abraçado a esta poeira que teu pé levantou.
Fica inĂștil e hirto como um deus,
desfalecendo na raiva de nĂŁo poder seguir-te!

ConfissĂŁo

É certo que me repito,
Ă© certo que me refuto
e que, decidido, hesito
no entra-e-sai de um minuto.

É certo que irresoluto
entre o velho e o novo rito
atiro Ă  cesta o absoluto
como inĂștil papelito.

É tão certo que me aperto
numa tenaz de mosquito
como Ă© trinta vezes certo
que me oculto no meu grito.

Certo, certo, certo, certo
que mais sinto que reflicto
as fĂĄbulas do deserto
do raciocĂ­nio infinito.

É tudo certo e prescrito
em nebuloso estatuto.
O homem, chamar-lhe mito
nĂŁo passa de anacoluto.

Eu

Sou louco e tenho por memĂłria
Uma longínqua e infiel lembrança
De qualquer dita transitĂłria
Que sonhei ter quando criança.

Depois, malograda trajetĂłria
Do meu destino sem esperança,
Perdi, na névoa da noite inglória,
O saber e o ousar da aliança.

SĂł guardo como um anel pobre
Que a todo herdeiro sĂł faz rico
Um frio perdido que me cobre

Como um céu dossel de mendigo,
Na curva inĂștil em que fico
Da estrada certa que nĂŁo sigo.

A Lenta Idéia Voa

Solene passa sobre a fértil terra
A branca, inĂștil nuvem fugidia,
Que um negro instante de entre os campos ergue
Um sopro arrefecido.

Tal me alta na alma a lenta idéia voa
E me enegrece a mente, mas jĂĄ torno,
Como a si mesmo o mesmo campo, ao dia
Da imperfeita vida.

SilĂȘncio, Nostalgia…

SilĂȘncio, nostalgia…
Hora morta, desfolhada,
sem dor, sem alegria,
pelo tempo abandonada.

Luz de Outono, fria, fria…
Hora inĂștil e sombria
de abandono.
Não sei se é tédio, sono,
silĂȘncio ou nostalgia.

InterminĂĄvel dia
de indizíveis cansaços,
de funda melancolia.
Sem rumo para os meus passos,
para que servem meus braços,
nesta hora fria, fria?

Sabedoria de Vida Ă© Usufruir o Presente

NĂŁo permitir a manifestação de grande jĂșbilo ou grande lamento em relação a qualquer acontecimento, uma vez que a mutabilidade de todas as coisas pode transformĂĄ-lo completamente de um instante para o outro; em vez disso, usufruir sempre o presente da maneira mais serena possĂ­vel: isso Ă© sabedoria de vida. Em geral, porĂ©m, fazemos o contrĂĄrio: planos e preocupaçÔes com o futuro ou tambĂ©m a saudade do passado ocupam-nos de modo tĂŁo contĂ­nuo e duradouro, que o presente quase sempre perde a sua importĂąncia e Ă© negligenciado; no entanto, somento o presente Ă© seguro, enquanto o futuro e mesmo o passado quase sempre sĂŁo diferentes daquilo que pensamos. Sendo assim, iludimo-nos uma vida inteira.
Ora, para o eudemonismo, tudo isso Ă© bastante positivo, mas uma filosofia mais sĂ©ria faz com que justamente a busca do passado seja sempre inĂștil, e a preocupação com o futuro o seja com frequĂȘncia, de modo que somente o presente constitui o cenĂĄrio da nossa felicidade, mesmo se a qualquer momento se vier a transformar-se em passado e, entĂŁo, tornar-se tĂŁo indiferente como se nunca tivesse existido.

Abdicação

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho.
Eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mĂŁo viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa — eu os deixei
Na antecùmara, feitos em pedaços

Minha cota de malha, tĂŁo inĂștil,
Minhas esporas de um tinir tĂŁo fĂștil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei Ă  noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.

É o Que a Gente Leva Desta Vida…

A persistĂȘncia instintiva da vida atravĂ©s da aparĂȘncia da inteligĂȘncia Ă© para mim uma das contemplaçÔes mais Ă­ntimas e mais constantes. O disfarce irreal da consciĂȘncia serve somente para me destacar aquela inconsciĂȘncia que nĂŁo disfarça.
Da nascença Ă  morte, o homem vive servo da mesma exterioridade de si mesmo que tĂȘm os animais. Toda a vida nĂŁo vive, mas vegeta em maior grau e com mais complexidade. Guia-se por normas que nĂŁo sabe que existem, nem que por elas se guia, e as suas ideias, os seus sentimentos, os seus actos, sĂŁo todos inconscientes – nĂŁo porque neles falte a consciĂȘncia, mas porque neles nĂŁo hĂĄ duas consciĂȘncias.
Vislumbres de ter a ilusĂŁo – tanto, e nĂŁo mais, tem o maior dos homens.
Sigo, num pensamento de divagação, a história vulgar das vidas vulgares. Vejo como em tudo são servos do temperamento subconsciente, das circunstùncias externas alheias, dos impulsos de convívio e desconvívio que nele, por ele e com ele se chocam como pouca coisa.
Quantas vezes os tenho ouvido dizer a mesma frase que simboliza todo o absurdo, todo o nada, toda a insciĂȘncia falada das suas vidas. É aquela frase que usam de qualquer prazer material: «é o que a gente leva desta vida»…

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O Mesmo

O mesmo Teucro duce et auspice Teucro
É sempre cras — amanhã — que nos faremos ao mar.

Sossega, coração inĂștil, sossega!
Sossega, porque nada hĂĄ que esperar,
E por isso nada que desesperar tambĂ©m…
Sossega… Por cima do muro da quinta
Sobe longĂ­nquo o olival alheio.
Assim na infĂąncia vi outro que nĂŁo era este:
NĂŁo sei se foram os mesmos olhos da mesma alma que o viram.
Adiamos tudo, até que a morte chegue.
Adiamos tudo e o entendimento de tudo,
Com um cansaço antecipado de tudo,
Com uma saudade prognĂłstica e vazia.

Percam para Sempre

Percam para sempre as tuas mĂŁos o jeito de pedir.
Esqueça para sempre a tua boca
O que disse a rezar.
E os teus olhos nunca mais, nunca mais saibam chorar
Porque Ă© inĂștil.

Faz como os outros fizeram
Quando chegou o momento
De perder o medo Ă  morte
Por ter muito amor Ă  vida.

À Memória de Minha Mãe

MĂŁe! Morreste!
Agora Ă© tĂŁo tarde para te dizer as palavras necessĂĄrias.
O relógio bateu duas e meia. É noite escura
E a dor galopa surdamente no meu peito.
Teu corpo jaz ainda morno, jĂĄ sem interesse para ti.
Por tua causa, amanhĂŁ, movimentar-se-ĂŁo pessoas
Diversas
Que nĂŁo te conheceram.
Serão preenchidos papéis: requerimentos, boletins;
PĂĄs ou picaretas (nem eu sei) ferirĂŁo a terra
E sobre ela erguerĂŁo, depois, um nĂșmero qualquer
Que serĂĄ de futuro o teu bilhete de identidade.
Agora, porém, tudo ainda é quieto.
SĂł um galo canta, feliz, na sua inconsciĂȘncia de ser vivo.
As lĂĄgrimas rompem-me incontrolĂĄveis e inĂșteis.
É tarde!
JĂĄ sĂł existem saudades e fotografias.
As palavras que eu amaria ter-te dito
Sobem-me ao silĂȘncio dos lĂĄbios cerrados.
LĂĄ fora a chuva molha a madrugada
Enquanto os familiares se olham
Com o rosto congestionado de lĂĄgrimas
E sono interrompido,
Adorando-te em silĂȘncio,
Mais que nunca,
— Esmagados pelo prestígio da morte.

Ninguém é Feliz quando Treme pela sua Felicidade

NinguĂ©m Ă© feliz quando treme pela sua felicidade. NĂŁo se apoia em bases sĂłlidas quem tira a sua satisfação de bens exteriores, pois acabarĂĄ por perder o bem-estar que obteve. Pelo contrĂĄrio, um bem que nasce dentro de nĂłs Ă© permanente e constante, e vai sempre crescendo atĂ© ao nosso Ășltimo momento; todos os demais bens ante os quais se extasia o vulgo sĂŁo bens efĂ©meros. “E entĂŁo? Quer isso dizer que sĂŁo inĂșteis e nĂŁo podem dar satisfação?” É evidente que nĂŁo, mas apenas se tais bens estiverem na nossa dependĂȘncia, e nĂŁo nĂłs na dependĂȘncia deles. Tudo quanto cai sob a alçada da fortuna pode ser proveitoso e agradĂĄvel na condição de o seu beneficiĂĄrio ser senhor de si prĂłprio em vez de ser servo das suas propriedades. É um erro pensar-se, LucĂ­lio, que a fortuna nos concede o que quer que seja de bom ou de mau; ela apenas dĂĄ a matĂ©ria com que se faz o bom e o mau, dĂĄ-nos o material de coisas que, nas nossas mĂŁos, se transformam em boas ou mĂĄs.
O nosso espírito é mais poderoso do que toda a espécie de fortuna, ele é quem conduz a nossa vida no bom ou no mau sentido,

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A Imensa Imoralidade da ExistĂȘncia

Viver era como correr em cĂ­rculo num grande labirinto, esse gĂ©nero de labirinto para crianças que se vĂȘ em certos parques de jogos modernos; em cima de uma pedra no meio do labirinto hĂĄ uma pedra brilhante; os mĂ­udos chegam com as faces coradas, cheios de uma fĂ© inabalĂĄvel na honestidade do labirinto e começam a correr com a certeza de alcançarem dentro de pouco tempo o seu alvo. Corremos, corremos, e a vida passa, mas continuaremos a correr na convicção de que o mundo acabarĂĄ por se mostrar generoso para quem correr sem desĂŁnimo, e quando por fim descobrimos que o labirinto sĂł aparentemente tende para o ponto central, Ă© tarde demais – de facto, o construtor do labirinto esmerou-se a desenhar vĂĄrias pistas diferentes, das quais sĂł uma conduz Ă  pĂ©rola, de modo que Ă© o acaso cego e nĂŁo a justiça lĂșcida o que determina a sorte dos que correm.
Descobrimos que gastĂĄmos todas as nossas forças a realizar um trabalho perfeitamente inĂștil, mas Ă© muito tarde jĂĄ para recuarmos. Por isso nĂŁo Ă© de espantar que os mais lĂșcidos saiam da pista e suprimam algumas voltas inĂșteis para atingirem o centro cortando caminho. Se dissermos que se trata de uma acção imoral e maldosa,

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O cientista nĂŁo traz nada de novo. SĂł inventa o que tem utilidade. O artista descobre o que Ă© inĂștil. Traz o novo.

Embirração

(A Machado de Assis)

A balda alexandrina é poço imenso e fundo,
Onde poetas mil, flagelo deste mundo,
Patinham sem parar, chamando lĂĄ por mim.
NĂŁo morrerĂŁo, se um verso, estiradinho assim,
Da beira for do poço, extenso como ele é,
Levar-lhes grosso anzol; então eu tenho fé
Que volte um afogado, Ă  luz da mocidade,
A ver no mundo seco a seca realidade.

Por eles, e por mim, receio, caro amigo;
Permite o desabafo aqui, a sĂłs contigo,
Que Ă  moda fazer guerra, eu sei quanto Ă© fatal;
Nem vence o positivo o frĂ­volo ideal;
DespĂłtica em seu mando, Ă© sempre fĂĄtua e vĂŁ,
E até da vã loucura a moda é prima-irmã:
Mas quando venha o senso erguer-lhe os densos véus,
Do verso alexandrino hĂĄ de livrar-nos Deus.

Deus quando abre ao poeta as portas desta vida,

NĂŁo lhe depara o gozo e a glĂłria apetecida;
E o triste, se morreu, deixando mal escritas
Em verso alexandrino histĂłrias infinitas,
Vai ter lĂĄ noutra vida insĂ­pido desterro,
Se Deus, por compaixĂŁo, nĂŁo dĂĄ perdĂŁo ao erro;

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