Passagens sobre InĂșteis

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Frases sobre inĂșteis, poemas sobre inĂșteis e outras passagens sobre inĂșteis para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Poema Explicativo

InĂșteis sĂŁo os voos. InĂșteis sĂŁo os pĂĄssaros.
Silenciosas sombras tudo extinguem.
Como as vagas de um mar longĂ­nquo e frio,
sĂŁo de inĂșteis palavras estes versos,
pois o calado tempo esmaga tudo.

Moro num rio inĂștil que caminha
entre margens de musgo e subalternas
pontes e ĂĄguas que reflectem
estrelas, luminĂĄrias, desencanto.

Os peixes nĂŁo obstante jĂĄ nĂŁo dormem.
SĂŁo inĂșteis os sonhos e as amarras
que nos prendem ao cais.
E o sangue que nos leva
em artérias eléctricas de desejo.

JĂĄ somos todos poetas — e a poesia Ă© inĂștil —
antepassados simples de um futuro
remoto onde seremos sinais na rocha, apenas.

GerminarĂĄ o trevo entre os alexandrinos
e nenhum pĂĄssaro compreenderĂĄ o sentido
das pĂĄginas dispersas sobre a areia.

Estas palavras nuas se transformarĂŁo
em pó, em lodo, em traças e raízes.

Por que precisarĂ­amos de amigos, se nunca tivĂ©ssemos necessidade deles? Seriam as criaturas mais inĂșteis do mundo (…) e se assemelhariam a esses instrumentos agradĂĄveis que permanecem nos estojos, guardando consigo as suas harmonias.

O Significado da Vida

TerĂĄ a vida algum significado, algum sentido ou valor? A pergunta Ă©: a vida, viver, terĂĄ algum propĂłsito? SerĂĄ que viver nos farĂĄ chegar, um dia, a algum lado? Viver Ă© um meio. A meta, o objetivo, esse lugar muito distante situado algures, Ă© o fim. E Ă© esse fim que lhe confere sentido. Se nĂŁo houver um fim, a vida nĂŁo terĂĄ, certamente, sentido, e serĂĄ preciso criar um Deus para lhe dar sentido.
Primeiro, foi preciso separar os fins dos meios. Isto divide a nossa mente. A nossa mente estĂĄ sempre a perguntar porquĂȘ? Para quĂȘ? E tudo o que nĂŁo consegue dar uma resposta Ă  pergunta «Para quĂȘ?» vai perdendo lentamente valor para nĂłs. Foi assim que o amor se tornou algo sem valor. Que sentido faz o amor? Onde poderĂĄ levar-nos? Que alcançaremos com ele? Chegaremos a alguma utopia, a algum paraĂ­so? É evidente que, encarado dessa maneira, o amor nĂŁo faz nenhum sentido. É vĂŁo.

Que sentido tem a beleza? Contemplamos um pÎr do sol e ficamos deslumbrados com a sua grande beleza, mas qualquer idiota pode perguntar-nos, «Que significa um pÎr do sol?», e não teremos uma resposta para lhe dar.

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Século XXI

Falam de tudo como se a razĂŁo
lhes ensinasse desesperadamente
a mentir, a lançar
sem remorso nem asco um novo isco
à espera que alguém morda
e acredite nessa liturgia
cujos deuses sĂŁo fĂĄceis de adorar
e obedecem Ă s leis do mercado.

Falam desse ludĂ­brio a que chamam
o futuro
como se ele existisse
e as suas palavras ecoam
em flatulentas frases
sempre a favor do vento que as agita
ao ritmo dos sorrisos ou das entrevistas
em que tudo se vende
por um preço acessível: emoçÔes
& sexo & fama & outros prometidos
paraĂ­sos terrestres em horĂĄrio nobre
– matĂ©ria reciclĂĄvel
alimentando o altar do esquecimento.

O poder nĂŁo existe, como sabes
demasiado bem – apenas uma
inĂștil recidiva biolĂłgica
de hormonas apressadas que procuram
ser fiéis aos comércio
dos sonhos sempre iguais, reproduzindo
sedutoras metĂĄstases do nada
nos cĂłdigos de barras ou nos cromossomas
de quem jĂĄ pouco espera dos seus genes.

O Futuro tem vĂĄrios nomes. Para os fracos e covardes, chama-se ImpossĂ­vel. Para os comodistas, InĂștil. Para os pensadores e os valentes, Ideal.

..a surdez foi de grande valia para mim. Poupou-me o trabalho de ficar ouvindo grande quantidade de conversas inĂșteis e me ensinou a ouvir a voz interior.

Coda

InĂștil escapar. A presença perdura.
Desde que sinto chĂŁo
ou de verde
ou de pedra

Ă© teu rastro que encontro e encontro em ti meu chĂŁo.

E quando te pressinto
o de verde Ă© mais terno
e o de mais dura pedra
um sensĂ­vel durĂąmen.

Tu que arrancas até da rocha viva o sangue,
tu que vens pela foz destes veios de eu te amo:
— Em que sĂ©culo, amor, nossas almas se fundem?
Em que terra?

Através de que mar? Ah que céu
velho cĂ©u jĂĄ chorou por nĂłs — perdidos cĂșmulos —
guaiando em nosso mundo impossĂ­veis azuis?
E desde quando o amor se abriu aos nossos olhos?
De que abrolhos e sal de amar nos marejou?

Em meu solo és madeiro
e nave
e asa que sonha.
Em todo canto te acho e onde Ă© teu canto eu sou.

Se Fosse Alguma Coisa, NĂŁo Poderia Imaginar

Monotonizar a existĂȘncia, para que ela nĂŁo seja monĂłtona. Tornar anĂłdino o quotidiano, para que a mais pequena coisa seja uma distracção. No meio do meu trabalho de todos os dias, baço, igual e inĂștil, surgem-me visĂ”es de fuga, vestĂ­gios sonhados de ilhas longĂ­nquas, festas em ĂĄleas de parques de outras eras, outras paisagens, outros sentimentos, outro eu.
Mas reconheço, entre dois lançamentos, que se tivesse tudo isso, nada disso seria meu.

Mais vale, na verdade, o patrĂŁo Vasques que os Reis do Sonho; mais vale, na verdade, o escritĂłrio da Rua dos Douradores do que as grandes ĂĄleas dos parques impossĂ­veis. Tendo o patrĂŁo Vasques, posso gozar a visĂŁo interior das paisagens que nĂŁo existem. Mas se tivesse os Reis do Sonho, que me ficaria para sonhar? Se tivesse as paisagens impossĂ­veis, que me restaria de possĂ­vel ?
(…) Posso imaginar-me tudo, porque nĂŁo sou nada. Se fosse alguma coisa, nĂŁo poderia imaginar. O ajudante de guarda-livros pode sonhar-se imperador romano; o Rei de Inglaterra nĂŁo o pode fazer, porque o Rei de Inglaterra estĂĄ privado de o ser, em sonhos, outro rei que nĂŁo o rei que Ă©. A sua realidade nĂŁo o deixa sentir.

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Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas Ă© que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existĂȘncia o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inĂșteis e suntuĂĄrias noutros pontos do Rio de Janeiro.

Tem gente que passa a vida inteira travando a inĂștil luta com os galhos, sem saber que Ă© lĂĄ no tronco que estĂĄ o coringa do baralho.

A Racionalidade como Solução de Todos os Males do Mundo

A racionalidade pode ser definida como o hĂĄbito de considerar todos os nossos desejos relevantes, e nĂŁo apenas aquele que sucede ser o mais forte no momento. (…) A racionalidade completa Ă©, sem dĂșvida, ideal inatingĂ­vel; porĂ©m, enquanto continuarmos a classificar alguns homens como lunĂĄticos, Ă© claro que achamos uns mais racionais que outros. Acredito que todo o progresso sĂłlido no mundo consiste de um aumento de racionalidade, tanto prĂĄtica como teĂłrica. Pregar uma moralidade altruĂ­stica parece-me um tanto inĂștil, porque sĂł falarĂĄ aos que jĂĄ tĂȘm desejos altruĂ­sticos. Mas pregar racionalidade Ă© um tanto diferente, porque ela nos ajuda, de modo geral, a satisfazer os nossos prĂłprios desejos, quaisquer que sejam. O homem Ă© racional na proporção em que a sua inteligĂȘncia orienta e controla os seus desejos.
Acredito que o controle dos nossos actos pela inteligĂȘncia Ă©, afinal, o que mais importa e a Ășnica coisa capaz de preservar a possibilidade de vida social, enquanto a ciĂȘncia expande os meios de que dispomos para nos ferir e destruir. O ensino, a imprensa, a polĂ­tica, a religiĂŁo – numa palavra, todas as grandes forças do mundo – estĂŁo actualmente do lado da irracionalidade; estĂŁo nas mĂŁos dos homens que lisonjeiam Populus Rex com o fito de desencaminhĂĄ-lo.

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A ImportĂąncia da Arte

A arte Ă©, provavelmente, uma experiĂȘncia inĂștil; como a «paixĂŁo inĂștil» em que cristaliza o homem. Mas inĂștil apenas como tragĂ©dia de que a humanidade beneficie; porque a arte Ă© a menos trĂĄgica das ocupaçÔes, porque isso nĂŁo envolve uma moral objectiva. Mas se todos os artistas da terra parassem durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota de mĂșsica, fazia-se um deserto extraordinĂĄrio. Acreditem que os teares paravam, tambĂ©m, e as fĂĄbricas; as gares ficavam estranhamente vazias, as mulheres emudeciam. A arte Ă©, no entanto, uma coisa explosiva. Houve, e hĂĄ decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam Ă  experiĂȘncia inĂștil que Ă© a arte, pessoas como VirgĂ­lio, por exemplo, e que sabem que o seu silĂȘncio pode ser mortal. Se os poetas se calassem subitamente e sĂł ficasse no ar o ruĂ­do dos motores, porque atĂ© o vento se calava no fundo dos vales, penso que atĂ© as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem vitĂłria, com a mansidĂŁo das coisas estĂ©reis. O laço da ficção, que gera a expectativa, Ă© mais forte do que todas as realidades acumulĂĄveis. Se ele se quebra, o equilĂ­brio entre os seres sofre grave prejuĂ­zo.

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Assim Choram os Deuses

Os deuses desterrados.
Os irmĂŁos de Saturno,
Às vezes, no crepĂșsculo
VĂȘm espreitar a vida.

VĂȘm entĂŁo ter conosco
Remorsos e saudades
E sentimentos falsos.
É a presença deles,
Deuses que o destronĂĄ-los
Tornou espirituais,
De matéria vencida,
LongĂ­nqua e inativa.

VĂȘm, inĂșteis forças,
Solicitar em nĂłs
As dores e os cansaços,
Que nos tiram da mĂŁo,
Como a um bĂȘbedo mole,
A taça da alegria.

VĂȘm fazer-nos crer,
Despeitadas ruĂ­nas
De primitivas forças,
Que o mundo Ă© mais extenso
Que o que se vĂȘ e palpa,
Para que ofendamos
A JĂșpiter e a Apolo.

Assim até à beira
Terrena do horizonte
Hiperion no crepĂșsculo
Vem chorar pelo carro
Que Apolo lhe roubou.

E o poente tem cores
Da dor dum deus longĂ­nquo,
E ouve-se soluçar
Para alĂ©m das esferas…
Assim choram os deuses.

Existe uma classe de pessoas que dĂĄ provas e atribui-se o mĂ©rito de ser ilustre hĂĄ muitas geraçÔes, embora permaneça ociosa e inĂștil. Intitula-se nobreza; e, nĂŁo menos do que a classe dos sacerdotes, deve ser considerada como um dos maiores obstĂĄculos Ă  vida livre e um dos mais ferozes e permanentes pilares da tirania.

AtĂ© agora, nĂŁo houve um gesto de amor sequer que tenha sido inĂștil. O amor floresce neste mundo causando alegria a todos, e frutifica no mundo de Deus.

Pode-se nĂŁo recordar os insultos; mas guarda-se deles um amargo de experiĂȘncia, feia como uma cicatriz. E isso envelhece a alma, torna-a ruinosa e inĂștil.