Passagens sobre InĂșteis

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Se Fosse Alguma Coisa, NĂŁo Poderia Imaginar

Monotonizar a existĂȘncia, para que ela nĂŁo seja monĂłtona. Tornar anĂłdino o quotidiano, para que a mais pequena coisa seja uma distracção. No meio do meu trabalho de todos os dias, baço, igual e inĂștil, surgem-me visĂ”es de fuga, vestĂ­gios sonhados de ilhas longĂ­nquas, festas em ĂĄleas de parques de outras eras, outras paisagens, outros sentimentos, outro eu.
Mas reconheço, entre dois lançamentos, que se tivesse tudo isso, nada disso seria meu.

Mais vale, na verdade, o patrĂŁo Vasques que os Reis do Sonho; mais vale, na verdade, o escritĂłrio da Rua dos Douradores do que as grandes ĂĄleas dos parques impossĂ­veis. Tendo o patrĂŁo Vasques, posso gozar a visĂŁo interior das paisagens que nĂŁo existem. Mas se tivesse os Reis do Sonho, que me ficaria para sonhar? Se tivesse as paisagens impossĂ­veis, que me restaria de possĂ­vel ?
(…) Posso imaginar-me tudo, porque nĂŁo sou nada. Se fosse alguma coisa, nĂŁo poderia imaginar. O ajudante de guarda-livros pode sonhar-se imperador romano; o Rei de Inglaterra nĂŁo o pode fazer, porque o Rei de Inglaterra estĂĄ privado de o ser, em sonhos, outro rei que nĂŁo o rei que Ă©. A sua realidade nĂŁo o deixa sentir.

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Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas Ă© que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existĂȘncia o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inĂșteis e suntuĂĄrias noutros pontos do Rio de Janeiro.

Tem gente que passa a vida inteira travando a inĂștil luta com os galhos, sem saber que Ă© lĂĄ no tronco que estĂĄ o coringa do baralho.

A Racionalidade como Solução de Todos os Males do Mundo

A racionalidade pode ser definida como o hĂĄbito de considerar todos os nossos desejos relevantes, e nĂŁo apenas aquele que sucede ser o mais forte no momento. (…) A racionalidade completa Ă©, sem dĂșvida, ideal inatingĂ­vel; porĂ©m, enquanto continuarmos a classificar alguns homens como lunĂĄticos, Ă© claro que achamos uns mais racionais que outros. Acredito que todo o progresso sĂłlido no mundo consiste de um aumento de racionalidade, tanto prĂĄtica como teĂłrica. Pregar uma moralidade altruĂ­stica parece-me um tanto inĂștil, porque sĂł falarĂĄ aos que jĂĄ tĂȘm desejos altruĂ­sticos. Mas pregar racionalidade Ă© um tanto diferente, porque ela nos ajuda, de modo geral, a satisfazer os nossos prĂłprios desejos, quaisquer que sejam. O homem Ă© racional na proporção em que a sua inteligĂȘncia orienta e controla os seus desejos.
Acredito que o controle dos nossos actos pela inteligĂȘncia Ă©, afinal, o que mais importa e a Ășnica coisa capaz de preservar a possibilidade de vida social, enquanto a ciĂȘncia expande os meios de que dispomos para nos ferir e destruir. O ensino, a imprensa, a polĂ­tica, a religiĂŁo – numa palavra, todas as grandes forças do mundo – estĂŁo actualmente do lado da irracionalidade; estĂŁo nas mĂŁos dos homens que lisonjeiam Populus Rex com o fito de desencaminhĂĄ-lo.

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A ImportĂąncia da Arte

A arte Ă©, provavelmente, uma experiĂȘncia inĂștil; como a «paixĂŁo inĂștil» em que cristaliza o homem. Mas inĂștil apenas como tragĂ©dia de que a humanidade beneficie; porque a arte Ă© a menos trĂĄgica das ocupaçÔes, porque isso nĂŁo envolve uma moral objectiva. Mas se todos os artistas da terra parassem durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota de mĂșsica, fazia-se um deserto extraordinĂĄrio. Acreditem que os teares paravam, tambĂ©m, e as fĂĄbricas; as gares ficavam estranhamente vazias, as mulheres emudeciam. A arte Ă©, no entanto, uma coisa explosiva. Houve, e hĂĄ decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam Ă  experiĂȘncia inĂștil que Ă© a arte, pessoas como VirgĂ­lio, por exemplo, e que sabem que o seu silĂȘncio pode ser mortal. Se os poetas se calassem subitamente e sĂł ficasse no ar o ruĂ­do dos motores, porque atĂ© o vento se calava no fundo dos vales, penso que atĂ© as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem vitĂłria, com a mansidĂŁo das coisas estĂ©reis. O laço da ficção, que gera a expectativa, Ă© mais forte do que todas as realidades acumulĂĄveis. Se ele se quebra, o equilĂ­brio entre os seres sofre grave prejuĂ­zo.

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Assim Choram os Deuses

Os deuses desterrados.
Os irmĂŁos de Saturno,
Às vezes, no crepĂșsculo
VĂȘm espreitar a vida.

VĂȘm entĂŁo ter conosco
Remorsos e saudades
E sentimentos falsos.
É a presença deles,
Deuses que o destronĂĄ-los
Tornou espirituais,
De matéria vencida,
LongĂ­nqua e inativa.

VĂȘm, inĂșteis forças,
Solicitar em nĂłs
As dores e os cansaços,
Que nos tiram da mĂŁo,
Como a um bĂȘbedo mole,
A taça da alegria.

VĂȘm fazer-nos crer,
Despeitadas ruĂ­nas
De primitivas forças,
Que o mundo Ă© mais extenso
Que o que se vĂȘ e palpa,
Para que ofendamos
A JĂșpiter e a Apolo.

Assim até à beira
Terrena do horizonte
Hiperion no crepĂșsculo
Vem chorar pelo carro
Que Apolo lhe roubou.

E o poente tem cores
Da dor dum deus longĂ­nquo,
E ouve-se soluçar
Para alĂ©m das esferas…
Assim choram os deuses.

Existe uma classe de pessoas que dĂĄ provas e atribui-se o mĂ©rito de ser ilustre hĂĄ muitas geraçÔes, embora permaneça ociosa e inĂștil. Intitula-se nobreza; e, nĂŁo menos do que a classe dos sacerdotes, deve ser considerada como um dos maiores obstĂĄculos Ă  vida livre e um dos mais ferozes e permanentes pilares da tirania.

AtĂ© agora, nĂŁo houve um gesto de amor sequer que tenha sido inĂștil. O amor floresce neste mundo causando alegria a todos, e frutifica no mundo de Deus.

Pode-se nĂŁo recordar os insultos; mas guarda-se deles um amargo de experiĂȘncia, feia como uma cicatriz. E isso envelhece a alma, torna-a ruinosa e inĂștil.

Pequenos Poemas Mentais

Mental: nada, ou quase nada sentimental.

I

Quem nĂŁo sai de sua casa,
nĂŁo atravessa montes nem vales,
nĂŁo vĂȘ eiras
nem mulheres de infusa,
nem homens de mangual em riste, suados,
quem vive como a aranha no seu redondel
cria mil olhos para nada.
Mil olhos!
ImplacĂĄveis.
E hoje diz: odeio.
Ontem diria: amo.
Mas odeia, odeia com indĂŽmitos Ăłdios.
E se se aplaca, como acha o tempo pobre!
E a liberdade inĂștil,
inĂștil e vĂŁ,
riqueza de miserĂĄveis.

II

Como sempres, hĂĄ-de-chegar, desde os tempos!
Vozes, cumprimentos, ofegantes entradas.
Mas que vos reunirĂĄ, pensamentos?
Chegais a existir, pensamentos?
É provável, mas desconfiados e inválidos,
Rosnando estĂșpidos, com cĂŁes.

Ó inĂșteis, aquietai-vos!
Voltai como os cĂŁes das quintas
ao ponto da partida, decepcionados.
E enrolai-vos tristonhos, rabugentos, desinteressados.

III

Esse gesto…
Esse desĂąnimo e essa vaidade…
A vaidade ferida comove-me,
comove-me o ser ferido!

A vaidade nĂŁo Ă© generosa, Ă© egoĂ­sta,
Mas chega a ser bela,

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A MĂĄ ConsciĂȘncia

– Levanta-se sempre muito cedo, sr. Spinell – disse a mulher do sr. Kloterjahn. Por acaso, jĂĄ o vi sair duas ou trĂȘs vezes de casa Ă s sete e meia da manhĂŁ.
– Muito cedo? Oh, Ă© preciso distinguir! Se me levanto cedo Ă© porque, no fundo, gosto de dormir atĂ© tarde.
– Explique-nos como Ă© isso, sr. Spinell
A senhora conselheira Spatz também desejava ser elucidada.
– Ora… se alguĂ©m tem o costume de se levantar cedo, parece-me, em todo o caso, que nĂŁo precisa de ser tĂŁo matinal. A consicĂȘncia, minha senhora, que coisa pĂ©ssima que Ă© a consciĂȘncia! Eu e os meus semelhantes andamos toda a vida Ă s turras com ela, e temos um trabalhĂŁo para a enganarmos de vez em quando e procurar-lhe umas satisfaçÔezinhas estultas. Somos criaturas inĂșteis, eu e os meus semelhantes; fora algumas breves horas satisfatĂłrias, arrastamo-nos na certeza da nossa inutilidade, atĂ© ficarmos a sangrar e doentes. Odiamos o que Ă© Ăștil, sabendo-o vulgar e feio, e defendemos esta verdade como se defendem as verdades absolutamente necessĂĄrias. E, contudo, estamos tĂŁo corroĂ­dos pela nossa mĂĄ consciĂȘncia que nĂŁo achamos em nĂłs um ponto sĂŁo.
Além disso, a maneira como vivemos interiormente,

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É verdade que lĂĄ em casa hĂĄ toda sorte de coisas inĂșteis. SĂł lhe falta o necessĂĄrio, um grande pedaço de cĂ©u como aqui. Trate de conservar um pedaço de cĂ©u acima de sua vida, meu menino — acrescentava, voltando-se para mim. — Tem uma bela alma, de qualidade rara, uma natureza de artista, nĂŁo a deixe em falta do que lhe Ă© preciso.

Mascarados

Mascarados os dois. Eu, mascarado
na hipocrisia com que levo a vida,
tu, na aparĂȘncia inĂștil e fingida
que usas na rua com o maior cuidado …

Passas por mim e segues ao meu lado
como outra qualquer desconhecida,
– quem hĂĄ de imaginar nosso passado
e a intimidade entre nĂłs dois perdida ?…

NinguĂ©m… Certo ninguĂ©m pensa e adivinha
porque eu nĂŁo digo e porque tu nĂŁo dizes
Que eu jĂĄ fui teu… e que tu foste minha…

Mas, quantas vezes, amargurado penso
em como nos sentimos infelizes
no Carnaval do nosso orgulho imenso!

O pensamento Ă© estĂ©ril, o sentimento inĂștil; sĂł do esforço e da vontade alguma coisa obscuramente fica.

Aos Mesmos

De insĂ­pida sessĂŁo no inĂștil dia
Juntou-se do Parnaso a galegage;
Em frase hirsuta, em gĂłtica linguage,
Belmiro um ditirambo principia.

Taful que o portuguĂȘs nĂŁo lhe entendia,
Nem ao resto da cĂŽmica salsage,
Saca o soneto que lhe fez Bocage,
E conheceu-se nele a Academia.

Dos sĂłcios o pior silvou qual cobra,
Desatou-se em trovÔes, desfez-se em raios,
Dando ao triste Bocage o que lhe sobra.

Fez na calĂșnia vil cruĂ©is ensaios,
E jaz com grandes créditos a obra
Entre mĂŁos de marujos e lacaios.

Poema da Hora Escoada

Minhas mĂŁos
– duas chamas dĂ©beis de vela
unidas no mesmo destino.

Minhas mĂŁos
derretidas em cera
que vai escorrendo,
gota a gota,
ao longo do corpo hirto
da vela moribunda.
Que vai escorrendo,
lenta,
na calmaria falsa e densa
da luz delida e mortuĂĄria do meu quarto.

E o livro de Anatomia,
grave e inĂștil,
aberto em frente.

E todo o mundo,
que me espera
e desespera,
nas pĂĄginas inĂșteis e graves
do livro de Anatomia.

E as horas
morrendo, morrendo,
como uma vela que se vai derretendo
no quarto frio de um morto.

Ai! minhas mĂŁos, minhas mĂŁos
– duas chamas dĂ©beis de vela
unidas no mesmo destino!

– Que horas serĂŁo?

A vida
Ă© uma vela de corpo hirto
que se vai derretendo, derretendo,
na calmaria falsa e densa
de um quarto de morto.

Onde o Homem nĂŁo Chega

Onde o Homem nĂŁo chega tudo Ă© puro,
dessa pureza da primeira infĂąncia.
Tudo Ă© medida, ritmo, concordĂąncia,
tudo Ă© claro e auroral: a noite, o escuro.

E nem o vendaval Ă© dissonĂąncia
mas promessa de sol e de futuro.
Quem levantou esse primeiro Muro
que do perto fez longe, ergueu distĂąncia?

Foi o Homem, com suas mĂŁos de barro,
com suas mĂŁos perjuras, fel e sarro
de inĂștil sofrimento e vil prazer.

Não é tarde, porém: sacode a lama,
ergue o facho, levanta a Deus a chama
e recomeça: acabas de nascer.

Não Deixes Transparecer o Teu Ódio e a Tua Ira

Deixar transparecer a ira ou o Ăłdio em palavras ou expressĂ”es faciais Ă© inĂștil, perigoso, pouco inteligente, ridĂ­culo e vulgar. Sendo assim, a ira ou o Ăłdio devem ser demonstrados unicamente nas acçÔes, e isso poderĂĄ ser feito tĂŁo mais perfeitamente quanto mais perfeitamente forem evitadas as atitudes anteriores.