A ImportĂąncia da Autoridade
Ă inĂștil alongar-me demoradamente sobre a importĂąncia da autoridade. SĂŁo muito poucas as pessoas civilizadas capazes de uma existĂȘncia perfeitamente autĂłnoma ou tĂŁo-sĂł de juĂzo independente. NĂŁo nos Ă© possĂvel representar em toda a sua amplitude a necessidade de autoridade e a fraqueza interior dos seres humanos.
Passagens sobre InĂșteis
383 resultadosAleluia
Era a mulher â a mulher nua e bela,
Sem a impostura inĂștil do vestido
Era a mulher, cantando ao meu ouvido,
Como se a luz se resumisse nela…
Mulher de seios duros e pequenos
Com uma flor a abrir em cada peito.
Era a mulher com bĂblicos acenos
E cada qual para os meus dedos feito.
Era o seu corpo â a sua carne toda.
Era o seu porte, o seu olhar, seus braços:
Luar de noite e manancial de boda,
Boca vermelha de sorrisos lassos.
Era a mulher â a fonte permitida
Por Deus, pelos Poetas, pelo mundo…
Era a mulher e o seu amor fecundo
Dando a nĂłs, homens, o direito Ă vida!
Condenar os capitalistas, considerando-os inĂșteis para a sociedade, Ă© revoltar-se irreflectidamente contra os prĂłprios instrumentos do trabalho.
Os Meus Sonhos SĂŁo Mais Belos que a Conversa Alheia
NĂŁo faço visitas, nem ando em sociedade alguma – nem de salas, nem de cafĂ©s. FazĂȘ-lo seria sacrificar a minha unidade interior, entregar-me a conversas inĂșteis, furtar tempo senĂŁo aos meus raciocĂnios e aos meus projectos, pelo menos aos meus sonhos, que sempre sĂŁo mais belos que a conversa alheia.
Devo-me a humanidade futura. Quanto me desperdiçar desperdiço do divino patrimĂłnio possĂvel dos homens de amanhĂŁ; diminuo-lhes a felicidade que lhes posso dar e diminuo-me a mim-prĂłprio, nĂŁo sĂł aos meus olhos reais, mas aos olhos possĂveis de Deus.
Isto pode nĂŁo ser assim, mas sinto que Ă© meu dever crĂȘ-lo.
NĂŁo hĂĄ nada mais inĂștil do que fazer eficientemente algo que nĂŁo deveria simplesmente ser feito.
Ă inĂștil enviar exĂ©rcito contra ideias.
Para um poeta nada pode ser inĂștil.
Branco e Vermelho
A dor, forte e imprevista,
Ferindo-me, imprevista,
De branca e de imprevista
Foi um deslumbramento,
Que me endoidou a vista,
Fez-me perder a vista,
Fez-me fugir a vista,
Num doce esvaimento.
Como um deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Fez-se em redor de mim.Todo o meu ser, suspenso,
NĂŁo sinto jĂĄ, nĂŁo penso,
Pairo na luz, suspenso…
Que delĂcia sem fim!
Na inundação da luz
Banhando os céus a flux,
No ĂȘxtase da luz,
Vejo passar, desfila
(Seus pobres corpos nus
Que a distancia reduz,
Amesquinha e reduz
No fundo da pupila)
Na areia imensa e plana
Ao longe a caravana
Sem fim, a caravana
Na linha do horizonte
Da enorme dor humana,
Da insigne dor humana…
A inĂștil dor humana!
Marcha, curvada a fronte.
Até o chão, curvados,
Exaustos e curvados,
VĂŁo um a um, curvados,
Escravos condenados,
No poente recortados,
Em negro recortados,
Magros, mesquinhos, vis.
A cada golpe tremem
Os que de medo tremem,
Estou atrĂĄs do que fica atrĂĄs do pensamento. InĂștil querer me classificar: eu simplesmente escapulo.
Se consegues viver uma tarde absolutamente inĂștil, de maneira absolutamente inĂștil, entĂŁo sabes viver.
Soneto De Agosto
Tu me levaste eu fui… Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estĂĄvamos unidos
NĂłs que andĂĄvamos sempre separados.Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.SĂł assim arrancara a linha inĂștil
Da tua eterna tĂșnica inconsĂștil…
E para a glĂłria do teu ser mais francoQuisera que te vissem como eu via
Depois, Ă luz da lĂąmpada macia
O pĂșbis negro sobre o corpo branco.
Aspiração
Sinto que hĂĄ na minha alma um vĂĄcuo imenso e fundo,
E desta meia morte o frio olhar do mundo
NĂŁo vĂȘ o que hĂĄ de triste e de real em mim;
Muita vez, Ăł poeta, a dor Ă© casta assim;
Refolha-se, nĂŁo diz no rosto o que ela Ă©,
E nem que o revelasse, o vulgo não pÔe fé
Nas tristes comoçÔes da verde mocidade,
E responde sorrindo à cruel realidade.Não assim tu, ó alma, ó coração amigo;
Nu, como a consciĂȘncia, abro-me aqui contigo;
Tu que corres, como eu, na vereda fatal
Em busca do mesmo alvo e do mesmo ideal.
Deixemos que ela ria, a turba ignara e vĂŁ;
Nossas almas a sĂłs, como irmĂŁ junto a irmĂŁ,
Em santa comunhão, sem cårcere, sem véus.
Conversarão no espaço e mais perto de Deus.Deus quando abre ao poeta as portas desta vida
NĂŁo lhe depara o gozo e a glĂłria apetecida;
Tarja de luto a folha em que lhe deixa escritas
A suprema saudade e as dores infinitas.
Alma errante e perdida em um fatal desterro,
Elementos de VitĂłria
EstĂŁo cheias as livrarias de todo o mundo de livros que ensinam a vencer. Muitos deles contĂȘm indicaçÔes interessantes, por vezes aproveitĂĄveis. Quase todos se reportam particularmente ao ĂȘxito material, o que Ă© explicĂĄvel, pois Ă© esse o que supremamente interessa a grande maioria dos homens.
A ciĂȘncia de vencer Ă©, contudo, facĂlima de expor; em aplicĂĄ-la, ou nĂŁo, Ă© que estĂĄ o segredo do ĂȘxito ou a explicação da falta dele. Para vencer – material ou imaterialmente – trĂȘs coisas definĂveis sĂŁo precisas: saber trabalhar, aproveitar oportunidades, e criar relaçÔes. O resto pertence ao elemento indefinĂvel, mas real, a que, Ă falta de melhor nome, se chama sorte.
NĂŁo Ă© o trabalho, mas o saber trabalhar, que Ă© o segredo do ĂȘxito no trabalho. Saber trabalhar quer dizer: nĂŁo fazer um esforço inĂștil, persistir no esforço atĂ© o fim, e saber reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou, errada.
Aproveitar oportunidades quer dizer nĂŁo sĂł nĂŁo as perder, mas tambĂ©m achĂĄ-las. Criar relaçÔes tem dois sentidos – um para a vida material, outro para a vida mental. Na vida material a expressĂŁo tem o seu sentido directo. Na vida mental significa criar cultura.
Escapar Ă s regras e dizer coisas inĂșteis resume bem a atitude essencialmente moderna….
Escreve!
NĂŁo sei o que supor
Do teu silĂȘncio. Escreve!
Quem Ă© amado deve
Ser grato ao menos, flor!Se eu fosse tĂŁo feliz
Que te falasse um dia,
De viva voz diria
Mais do que a carta diz.Mas olha, tal qual Ă©,
NĂŁo rias desse escrito,
Que pouco ou muito Ă© dito
Tudo de boa-fé.Hå nesse teu olhar
A doce luz da Lua,
Mas luz que se insinua
A ponto de abrasar…Pareça nele, sim,
Que hå só doçura, embora,
HĂĄ fogo que devora…
Que me devora a mim!Que mata, mas que dĂĄ
Uma suave morte;
Mata da mesma sorte
Que uma årvore que hå;Que ao pé se lhe ficou
Acaso alguém dormindo
Adormeceu sorrindo…
PorĂ©m nĂŁo acordou!Esse teu seio entĂŁo…
Que encantadora curva!
Como de o ver se turva
A vista e a razão!Como até mesmo o ar
Suspende a gente logo,
Pregando olhos de fogo
Em tĂŁo formoso par!
As AtracçÔes Inferiores
Faz pena. A gente elege entre trinta mil almas meia dĂșzia de indivĂduos para conviver, e, afinal, chega perto deles a defender uma pureza polĂtica, uma pureza profissional, uma pureza sexual, e caem sobre nĂłs mil argumentos dum pragmatismo dĂșbio, suspeito, que confrange. Longe de se receber estĂmulo para combater as tentaçÔes, encontra-se um escorregadoiro conivente para o abismo delas. â Ă o meio â repito de cada vez, a tentar iludir-me. Mas Ă© inĂștil vendar o olhos. AtĂ© o meio geogrĂĄfico se pode vencer, quanto mais o meio social. Na luta contra as atracçÔes inferiores do ambiente humano Ă© que estĂĄ precisamente a beleza duma vida. O meio! Eles Ă© que sĂŁo o meio, assim perdidos, duplos, comprometidos com a podridĂŁo atĂ© Ă raiz.
A velhice sĂł tira ao homem de espĂrito as qualidades inĂșteis Ă sabedoria.
As OscilaçÔes da Personalidade
Pretender que a nossa personalidade seja mĂłvel e susceptĂvel de grandes mudanças Ă©, por vezes, noção um pouco contrĂĄria Ă s idĂ©ias tradicionais atinentes Ă estabilidade do âeuâ. A sua unidade foi durante muito tempo um dogma indiscutĂvel. Factos numerosos vieram provar quanto esta ideia era fictĂcia.
O nosso âeuâ Ă© um total. CompĂ”e-se da adição de inumerĂĄveis âeuâ celulares. Cada cĂ©lula concorre para a unidade de um exĂ©rcito. A homogeneidade dos milhares de indivĂduos que o compĂ”em resulta somente de uma comunidade de acção que numerosas coisas podem destruir.
Ă inĂștil objectar que a personalidade dos seres parece, em geral, bastante estĂĄvel. Se ela nunca varia, com efeito, Ă© porque o meio social permanece mais ou menos constante. Se subitamente esse meio se modifica, como em tempo de revolução, a personalidade de um mesmo indivĂduo poderĂĄ transformar-se por completo. Foi assim que se viram, durante o Terror, bons burgueses reputados pela sua brandura tornarem-se fanĂĄticos sanguinĂĄrios. Passada a tormenta e, por conseguinte, representando o antigo meio e o seu impĂ©rio, eles readquiriram sua personalidade pacifica. Desenvolvi, hĂĄ muito tempo, essa teoria e mostrei que a vida dos personagens da Revolução era incompreensĂvel sem ela.
De que elementos se compĂ”e o âeuâ,
NĂłs nunca sabemos bem o que a nossa memĂłria vai reter – e nĂŁo raras vezes damos por nĂłs surpreendidos com uma recordação inĂștil, tirada de um filme sĂ©rie B ou apenas de um dia sem inspiração (mas que, apesar disso, nos repovoa sempre que determinada situação se repete).
Teus Olhos Entristecem
Teus olhos entristecem
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem…
NĂŁo me ouves, e prossigo.Digo o que jĂĄ, de triste,
Te disse tanta vez…
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estĂĄs a pensar,
Jå quase não sorrindo.Até que neste ocioso
Sumir da tarde fĂștil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inĂștil.