Passagens sobre InĂșteis

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Frases sobre inĂșteis, poemas sobre inĂșteis e outras passagens sobre inĂșteis para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

O Mesmo

O mesmo Teucro duce et auspice Teucro
É sempre cras — amanhã — que nos faremos ao mar.

Sossega, coração inĂștil, sossega!
Sossega, porque nada hĂĄ que esperar,
E por isso nada que desesperar tambĂ©m…
Sossega… Por cima do muro da quinta
Sobe longĂ­nquo o olival alheio.
Assim na infĂąncia vi outro que nĂŁo era este:
NĂŁo sei se foram os mesmos olhos da mesma alma que o viram.
Adiamos tudo, até que a morte chegue.
Adiamos tudo e o entendimento de tudo,
Com um cansaço antecipado de tudo,
Com uma saudade prognĂłstica e vazia.

Percam para Sempre

Percam para sempre as tuas mĂŁos o jeito de pedir.
Esqueça para sempre a tua boca
O que disse a rezar.
E os teus olhos nunca mais, nunca mais saibam chorar
Porque Ă© inĂștil.

Faz como os outros fizeram
Quando chegou o momento
De perder o medo Ă  morte
Por ter muito amor Ă  vida.

À Memória de Minha Mãe

MĂŁe! Morreste!
Agora Ă© tĂŁo tarde para te dizer as palavras necessĂĄrias.
O relógio bateu duas e meia. É noite escura
E a dor galopa surdamente no meu peito.
Teu corpo jaz ainda morno, jĂĄ sem interesse para ti.
Por tua causa, amanhĂŁ, movimentar-se-ĂŁo pessoas
Diversas
Que nĂŁo te conheceram.
Serão preenchidos papéis: requerimentos, boletins;
PĂĄs ou picaretas (nem eu sei) ferirĂŁo a terra
E sobre ela erguerĂŁo, depois, um nĂșmero qualquer
Que serĂĄ de futuro o teu bilhete de identidade.
Agora, porém, tudo ainda é quieto.
SĂł um galo canta, feliz, na sua inconsciĂȘncia de ser vivo.
As lĂĄgrimas rompem-me incontrolĂĄveis e inĂșteis.
É tarde!
JĂĄ sĂł existem saudades e fotografias.
As palavras que eu amaria ter-te dito
Sobem-me ao silĂȘncio dos lĂĄbios cerrados.
LĂĄ fora a chuva molha a madrugada
Enquanto os familiares se olham
Com o rosto congestionado de lĂĄgrimas
E sono interrompido,
Adorando-te em silĂȘncio,
Mais que nunca,
— Esmagados pelo prestígio da morte.

Ninguém é Feliz quando Treme pela sua Felicidade

NinguĂ©m Ă© feliz quando treme pela sua felicidade. NĂŁo se apoia em bases sĂłlidas quem tira a sua satisfação de bens exteriores, pois acabarĂĄ por perder o bem-estar que obteve. Pelo contrĂĄrio, um bem que nasce dentro de nĂłs Ă© permanente e constante, e vai sempre crescendo atĂ© ao nosso Ășltimo momento; todos os demais bens ante os quais se extasia o vulgo sĂŁo bens efĂ©meros. “E entĂŁo? Quer isso dizer que sĂŁo inĂșteis e nĂŁo podem dar satisfação?” É evidente que nĂŁo, mas apenas se tais bens estiverem na nossa dependĂȘncia, e nĂŁo nĂłs na dependĂȘncia deles. Tudo quanto cai sob a alçada da fortuna pode ser proveitoso e agradĂĄvel na condição de o seu beneficiĂĄrio ser senhor de si prĂłprio em vez de ser servo das suas propriedades. É um erro pensar-se, LucĂ­lio, que a fortuna nos concede o que quer que seja de bom ou de mau; ela apenas dĂĄ a matĂ©ria com que se faz o bom e o mau, dĂĄ-nos o material de coisas que, nas nossas mĂŁos, se transformam em boas ou mĂĄs.
O nosso espírito é mais poderoso do que toda a espécie de fortuna, ele é quem conduz a nossa vida no bom ou no mau sentido,

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A Imensa Imoralidade da ExistĂȘncia

Viver era como correr em cĂ­rculo num grande labirinto, esse gĂ©nero de labirinto para crianças que se vĂȘ em certos parques de jogos modernos; em cima de uma pedra no meio do labirinto hĂĄ uma pedra brilhante; os mĂ­udos chegam com as faces coradas, cheios de uma fĂ© inabalĂĄvel na honestidade do labirinto e começam a correr com a certeza de alcançarem dentro de pouco tempo o seu alvo. Corremos, corremos, e a vida passa, mas continuaremos a correr na convicção de que o mundo acabarĂĄ por se mostrar generoso para quem correr sem desĂŁnimo, e quando por fim descobrimos que o labirinto sĂł aparentemente tende para o ponto central, Ă© tarde demais – de facto, o construtor do labirinto esmerou-se a desenhar vĂĄrias pistas diferentes, das quais sĂł uma conduz Ă  pĂ©rola, de modo que Ă© o acaso cego e nĂŁo a justiça lĂșcida o que determina a sorte dos que correm.
Descobrimos que gastĂĄmos todas as nossas forças a realizar um trabalho perfeitamente inĂștil, mas Ă© muito tarde jĂĄ para recuarmos. Por isso nĂŁo Ă© de espantar que os mais lĂșcidos saiam da pista e suprimam algumas voltas inĂșteis para atingirem o centro cortando caminho. Se dissermos que se trata de uma acção imoral e maldosa,

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O cientista nĂŁo traz nada de novo. SĂł inventa o que tem utilidade. O artista descobre o que Ă© inĂștil. Traz o novo.

Embirração

(A Machado de Assis)

A balda alexandrina é poço imenso e fundo,
Onde poetas mil, flagelo deste mundo,
Patinham sem parar, chamando lĂĄ por mim.
NĂŁo morrerĂŁo, se um verso, estiradinho assim,
Da beira for do poço, extenso como ele é,
Levar-lhes grosso anzol; então eu tenho fé
Que volte um afogado, Ă  luz da mocidade,
A ver no mundo seco a seca realidade.

Por eles, e por mim, receio, caro amigo;
Permite o desabafo aqui, a sĂłs contigo,
Que Ă  moda fazer guerra, eu sei quanto Ă© fatal;
Nem vence o positivo o frĂ­volo ideal;
DespĂłtica em seu mando, Ă© sempre fĂĄtua e vĂŁ,
E até da vã loucura a moda é prima-irmã:
Mas quando venha o senso erguer-lhe os densos véus,
Do verso alexandrino hĂĄ de livrar-nos Deus.

Deus quando abre ao poeta as portas desta vida,

NĂŁo lhe depara o gozo e a glĂłria apetecida;
E o triste, se morreu, deixando mal escritas
Em verso alexandrino histĂłrias infinitas,
Vai ter lĂĄ noutra vida insĂ­pido desterro,
Se Deus, por compaixĂŁo, nĂŁo dĂĄ perdĂŁo ao erro;

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A Lamentação Ă© Completamente InĂștil

NĂŁo hĂĄ dĂșvida de que Ă© inĂștil e prejudicial lamentarmo-nos perante o mundo. Resta saber se nĂŁo Ă© igualmente inĂștil e prejudicial lamentarmo-nos perante nĂłs prĂłprios. Evidentemente. De facto, ninguĂ©m se lamentarĂĄ perante si prĂłprio, a fim de se incitar Ă  piedade, o que nada significaria, dado que a piedade Ă©, por definição, o voluptuso encontro de dois espĂ­ritos. Para quĂȘ, entĂŁo? NĂŁo para obter favores, porque o Ășnico favor que um espĂ­rito pode fazer a si prĂłprio Ă© conceder-se indulgĂȘncia, e toda a gente percebe quanto Ă© prejudicial que a vontade seja indulgente para com a sua prĂłpria e lamentĂĄvel fraqueza.
Resta a hipĂłtese de o fazermos para extrair verdades do nosso coração amolecido pela ternura. Mas a experiĂȘncia ensina que as verdades surgem apenas em virtude de uma pacata e severa busca, que surpreende a consciĂȘncia numa atitude inesperada e a vĂȘ, como de um filme que parasse de repente, estupefacta, mas nĂŁo emocionada.
Basta, portanto.

Eu perturbo a paz dos surdos com meus gritos inĂșteis…… vocĂȘ Ă© como a cotovia que ao romper do dia se levanta da terra sombria.

Poema Explicativo

InĂșteis sĂŁo os voos. InĂșteis sĂŁo os pĂĄssaros.
Silenciosas sombras tudo extinguem.
Como as vagas de um mar longĂ­nquo e frio,
sĂŁo de inĂșteis palavras estes versos,
pois o calado tempo esmaga tudo.

Moro num rio inĂștil que caminha
entre margens de musgo e subalternas
pontes e ĂĄguas que reflectem
estrelas, luminĂĄrias, desencanto.

Os peixes nĂŁo obstante jĂĄ nĂŁo dormem.
SĂŁo inĂșteis os sonhos e as amarras
que nos prendem ao cais.
E o sangue que nos leva
em artérias eléctricas de desejo.

JĂĄ somos todos poetas — e a poesia Ă© inĂștil —
antepassados simples de um futuro
remoto onde seremos sinais na rocha, apenas.

GerminarĂĄ o trevo entre os alexandrinos
e nenhum pĂĄssaro compreenderĂĄ o sentido
das pĂĄginas dispersas sobre a areia.

Estas palavras nuas se transformarĂŁo
em pó, em lodo, em traças e raízes.

Por que precisarĂ­amos de amigos, se nunca tivĂ©ssemos necessidade deles? Seriam as criaturas mais inĂșteis do mundo (…) e se assemelhariam a esses instrumentos agradĂĄveis que permanecem nos estojos, guardando consigo as suas harmonias.

O Significado da Vida

TerĂĄ a vida algum significado, algum sentido ou valor? A pergunta Ă©: a vida, viver, terĂĄ algum propĂłsito? SerĂĄ que viver nos farĂĄ chegar, um dia, a algum lado? Viver Ă© um meio. A meta, o objetivo, esse lugar muito distante situado algures, Ă© o fim. E Ă© esse fim que lhe confere sentido. Se nĂŁo houver um fim, a vida nĂŁo terĂĄ, certamente, sentido, e serĂĄ preciso criar um Deus para lhe dar sentido.
Primeiro, foi preciso separar os fins dos meios. Isto divide a nossa mente. A nossa mente estĂĄ sempre a perguntar porquĂȘ? Para quĂȘ? E tudo o que nĂŁo consegue dar uma resposta Ă  pergunta «Para quĂȘ?» vai perdendo lentamente valor para nĂłs. Foi assim que o amor se tornou algo sem valor. Que sentido faz o amor? Onde poderĂĄ levar-nos? Que alcançaremos com ele? Chegaremos a alguma utopia, a algum paraĂ­so? É evidente que, encarado dessa maneira, o amor nĂŁo faz nenhum sentido. É vĂŁo.

Que sentido tem a beleza? Contemplamos um pÎr do sol e ficamos deslumbrados com a sua grande beleza, mas qualquer idiota pode perguntar-nos, «Que significa um pÎr do sol?», e não teremos uma resposta para lhe dar.

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SĂ©culo XXI

Falam de tudo como se a razĂŁo
lhes ensinasse desesperadamente
a mentir, a lançar
sem remorso nem asco um novo isco
à espera que alguém morda
e acredite nessa liturgia
cujos deuses sĂŁo fĂĄceis de adorar
e obedecem Ă s leis do mercado.

Falam desse ludĂ­brio a que chamam
o futuro
como se ele existisse
e as suas palavras ecoam
em flatulentas frases
sempre a favor do vento que as agita
ao ritmo dos sorrisos ou das entrevistas
em que tudo se vende
por um preço acessível: emoçÔes
& sexo & fama & outros prometidos
paraĂ­sos terrestres em horĂĄrio nobre
– matĂ©ria reciclĂĄvel
alimentando o altar do esquecimento.

O poder nĂŁo existe, como sabes
demasiado bem – apenas uma
inĂștil recidiva biolĂłgica
de hormonas apressadas que procuram
ser fiéis aos comércio
dos sonhos sempre iguais, reproduzindo
sedutoras metĂĄstases do nada
nos cĂłdigos de barras ou nos cromossomas
de quem jĂĄ pouco espera dos seus genes.

O Futuro tem vĂĄrios nomes. Para os fracos e covardes, chama-se ImpossĂ­vel. Para os comodistas, InĂștil. Para os pensadores e os valentes, Ideal.

..a surdez foi de grande valia para mim. Poupou-me o trabalho de ficar ouvindo grande quantidade de conversas inĂșteis e me ensinou a ouvir a voz interior.

Coda

InĂștil escapar. A presença perdura.
Desde que sinto chĂŁo
ou de verde
ou de pedra

Ă© teu rastro que encontro e encontro em ti meu chĂŁo.

E quando te pressinto
o de verde Ă© mais terno
e o de mais dura pedra
um sensĂ­vel durĂąmen.

Tu que arrancas até da rocha viva o sangue,
tu que vens pela foz destes veios de eu te amo:
— Em que sĂ©culo, amor, nossas almas se fundem?
Em que terra?

Através de que mar? Ah que céu
velho cĂ©u jĂĄ chorou por nĂłs — perdidos cĂșmulos —
guaiando em nosso mundo impossĂ­veis azuis?
E desde quando o amor se abriu aos nossos olhos?
De que abrolhos e sal de amar nos marejou?

Em meu solo Ă©s madeiro
e nave
e asa que sonha.
Em todo canto te acho e onde Ă© teu canto eu sou.