Se queres ser cego, sê-lo-ás.
Passagens de José Saramago
397 resultados– Responsabilidade de quê? – A responsabilidade de ter olhos quando os outros perderam.
A história da humanidade é um processo contínuo de transformação de valores. É verdade que o tempo que vivemos se caracteriza pelo desaparecimento de valores tradicionais, sem que apareçam, de uma forma clara, valores novos capazes de informar eticamente as sociedades.
Portugal Vive em Total Dependência
Um país como Portugal, e não é o único nesta situação, que não tem uma ideia própria de futuro para toda a colectividade, vive numa situação de total dependência. Não temos mais ideias do que aquelas que nos dizem que devemos ter. A União Europeia dita-nos o que devemos fazer em todos os campos da vida. Encaminhamo-nos para a pior das mortes: a morte por falta de vontade, por abdicação. Esta renúncia é também a morte da cultura. Por isso creio que um país morto, como Portugal, não pode fazer uma cultura viva.
Temos que nos convencer de uma coisa, que o mais importante no mundo, pela negativa, e o que mais prejudica as relações humanas e as torna difíceis e complicadas é a inveja.
O Cidadão Lúcido em Vez do Consumidor Irracional
Já se sabe que não somos um povo alegre (um francês aproveitador de rimas fáceis é que inventou aquela de que «les portugais sont toujours gais»), mas a tristeza de agora, a que o Camões, para não ter de procurar novas palavras, talvez chamasse simplesmente «apagada e vil», é a de quem se vê sem horizontes, de quem vai suspeitando que a prosperidade prometida foi um logro e que as aparências dela serão pagas bem caras num futuro que não vem longe. E as alternativas, onde estão, em que consistem? Olhando a cara fingidamente satisfeita dos europeus, julgo não serem previsíveis, tão cedo, alternativas nacionais próprias (torno a dizer: nacionais, não nacionalistas), e que da crise profunda, crise económica, mas também crise ética, em que patinhamos, é que poderão, talvez — contentemo-nos com um talvez —, vir a nascer as necessárias ideias novas, capazes de retomar e integrar a parte melhor de algumas das antigas, principiando, sem prévia definição condicional de antiguidade ou modernidade, por recolocar o cidadão, um cidadão enfim lúcido e responsável, no lugar que hoje está ocupado pelo animal irracional que responde ao nome de consumidor.
Abençoem-se um ao outro, é quanto basta, pudessem todas as bênçãos como essa ser
Sem futuro, o presente não serve para nada, é como se não existisse, Pode ser que a humanidade venha a conseguir viver sem olhos mas então deixará de ser humanidade.
Quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou quando nela estiver.
O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.
Como também vai sendo costume, foi muito louvada a minha sinceridade, mas, creio que pela primeira vez, esta insistência e esta unanimidade fizeram-me pensar se realmente existirá isso a que damos o nome de sinceridade, se a sinceridade não será apenas a última das máscaras que usamos, e, justamente por última ser, aquela que afinal mais esconde.
Nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida.
A felicidade é só uma invenção para tornar a vida mais suportável.
A doença mortal do homem, como homem, é o egoísmo.
Se não me interessar pelo mundo, este baterá à minha porta pedindo-me contas.
O outro é uma complementaridade que nos torna a nós maiores, mais inteiros, mais autênticos. Essa é a minha própria vivência.
Tentei não fazer nada na vida que envergonhasse a criança que fui
Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo
A Fatalidade do Não
A palavra de que eu gosto mais é não. Chega sempre um momento na nossa vida em que é necessário dizer não. O não é a única coisa efectivamente transformadora, que nega o status quo. Aquilo que é tende sempre a instalar-se, a beneficiar injustamente de um estatuto de autoridade. É o momento em que é necessário dizer não. A fatalidade do não – ou a nossa própria fatalidade – é que não há nenhum não que não se converta em sim. Ele é absorvido e temos que viver mais um tempo com o sim.
. Paulo (1991)’
Nós, os seres humanos, matamos mais que a morte.