Passagens sobre Nomes

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Frases sobre nomes, poemas sobre nomes e outras passagens sobre nomes para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Poema XVIII

Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.

Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.

Cá nesta Babilónia

Cá nesta Babilónia, donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá, onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá, onde o mal se afina, o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;

Cá, neste labirinto, onde a Nobreza,
O Valor e o Saber pedindo vão
Às portas da Cobiça e da Vileza;

Cá, neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

Era a Memória Ardente a Inclinar-se

Era a memória ardente a inclinar-se
à giesta do tempo por frescura
mas o que em seu espelho se figura
vê que está só e a mesma dor foi dar-se

noite e dia e silente de amargura
uma saudade em febre o viu queimar-se
até vir por um “sim” a consolar-se
e do perdão mudo hino lhe assegura

levando imagens e sinais de vez
O olhar liberto penetrou no assento
do alto luto onde da palidez

dos invernos se erguia outro rebento
de cálices que embalam as sementes
dando ao nome louvado descendentes.

Tradução de Vasco Graça Moura

A guerra e a paz, nomes tão respeitáveis, são para os homens as duas espécies de moeda, de que usam segundo os seus interesses, e poucas vezes de harmonia com a justiça. Contudo, mais para louvar são os políticos quando fazem uma guerra aberta, e não quando disfarçam e mascaram com os nomes sagrados da justiça, da amizade e da paz o que na realidade é apenas uma trégua de inquietações e de crimes.

Divórcio

Cidade muda, rente a meu lado,
Como um fantasma sob a neblina…
Há cem mil rostos. Tanto soldado
E tanto abraço desesperado
Nesta cidade tão masculina!

Cidade muda como um soldado.

Cidade cega. Todos os dias,
A nossa vida fica mais breve,
As nossas mãos ficam mais frias…
Todos os dias, todos os dias,
A morte paga, paga a quem deve.

Cidade cega todos os dias.

Cidade oblíqua. Sexo pesado.
Rio de cinza, lúgubre e lento…
Bandeira negra, barco parado,
Nunca o teu nome foi baptizado
Nem o teu beijo foi casamento!

Cidade minha, do meu pecado…

Cidade estranha, sabes que existo?
Os homens passam… Para onde vão?
Só tem amores quem não for visto.
Por isso canto, só porque insisto
Em dar combates à tentação.

Oh! a volúpia de não ser visto!

O Poder das Palavras

A humanidade entrará no terceiro milénio sob o império das palavras. Não é verdade que a imagem esteja a suplantá-las nem que possa extingui-las. Pelo contrário, está a potenciá-las: nunca houve no mundo tantas palavras com tanto alcance, autoridade e arbítrio como na imensa Babel da vida atual. Palavras inventadas, maltratadas ou sacralizadas pela imprensa, pelos livros descartáveis, pelos cartazes de publicidade; faladas e cantadas pela rádio, pela televisão, pelo cinema, pelo telefone, pelos altifalantes públicos: gritadas à brocha nas paredes da rua ou sussurradas ao ouvido nas penumbras do amor. Não: o grande derrotado é o silêncio. As coisas têm agora tantos nomes em tantas línguas que já não é fácil saber como se chamam em nenhuma. Os idiomas dispersam-se à rédea solta, misturam-se e confundem-se, desembestados rumo ao destino inelutável de uma língua global.

Aquilo que eu não Posso Conceber não é uma Ilusão

Estou certa de que não existe Deus no sentido em que estou certa de que nada de real se assemelha àquilo que eu concebo quando pronuncio esse nome. Mas aquilo que eu não posso conceber não é uma ilusão.

A Exacta Glória é a Póstuma

A exacta glória é a póstuma, a que nenhum dente rói, e que só desce sobre um nome depois da ressurreição intemporal do seu possuidor. Todos sabemos que a imortalidade do poeta lhe nasce das cinzas. Mas o artista enquanto vive é homem. Rege-o tanto uma lei de cima como uma lei de baixo. E por isso, pela transitória fama entre meia dúzia de condicionados contemporâneos, é capaz de matar um irmão. Velhos e novos aprestam nesta triste luta as mesmas armas e as mesmas unhas. Os velhos querem guardar os loiros; os novos querem tirar-lhos das mãos. E sem haver a mais pequena esperança de paz entre as duas forças. É da própria natureza dos contendores que nenhum ceda. A sofreguidão é tanto da fisiologia senil, como da infantil…

II

Celeste… É assim, divina, que te chamas.
Belo nome tu tens, Dona Celeste…
Que outro terias entre humanas damas,
Tu que embora na terra do céu vieste?

Celeste… E como tu és do céu não amas:
Forma imortal que o espírito reveste
De luz, não temes sol, não temes chamas,
Porque és sol, porque és luar, sendo celeste.

Incoercível como a melancolia,
Andas em tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a mágoa do findar do dia.

E a lua, em meio à noite constelada,
Pede-te o luar indefinido e casto
Da tua palidez de hóstia sagrada.

Besta Célere

Há quem lhe chame, por brincadeira, besta célere para caracterizar a qualidade mediana (tomada por média) desse produto cultural (agora é tudo cultural!) e, ao mesmo tempo, a rapidez com que ele se esgota em sucessivas edições. O best-seller é um produto perfeita (ou eficazmente) projectado em termos de «marketing» editorial e livreiro. É para se vender – muito e depressa – que o best-seller é construído com os olhos postos num leitor-tipo que vai encontrar nele aquilo que exactamente esperava. Nem mais, nem menos. Os exemplos, abundantíssimos, nem vale a pena enumerá-los. Convém não confundir, pelo menos em todos os casos, best-seller com «topes» de venda. Embora seja cabeça de lista, o best-seller tem, em relação aos livros «normais», uma característica que logo o diferencia: foi feito propositadamente para ser um campeão de vendas. A sua razão de ser é essa e só essa. E aqui poderia dizer-se, recuperando o lugar-comum para um sentido sério, que «o resto é literatura».
Estou a pensar em bestas céleres como Love Story ou O Aeroporto. Não estou a pensar em «topes» de venda como O Nome da Rosa ou Memórias de Adriano. estes últimos são boa, excelente literatura que, por razões pontuais e,

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Não Transformes as Tuas Convicções em Pedras

Quando as verdades são evidentes e absolutamente contraditórias, o que tens a fazer é mudar de linguagem. A lógica não serve para te ajudar a passares de um andar para o outro. Tu não prevês o recolhimento a partir das pedras. E, se falares do recolhimento com a linguagem das pedras, vais-te abaixo. Precisas de inventar essa palavra nova para dares conta de uma certa arquitectura das tuas pedras. Porque nasceu um ser novo, não divisível, nem explicável; porque explicar é demonstrar. E tu baptiza-lo então com um nome.
Como é que tu havias de raciocinar sobre o recolhimento? Como é que havias de raciocinar sobre o amor? Como é que havias de raciocinar sobre a propriedade? Não se trata de objectos, mas de deuses.

A Difícil Escada do Mérito

Que terrível trabalho tem um homem, sem padrinhos e sem cabala, sem estar escrito em nenhuma corporação, sendo sozinho e só tendo por recomendação um grande mérito, para fazer luz sobre a obscuridade em que se encontra, e chegar ao nível de um tolo bem cotado! Quase ninguém percebe por si mesmo o mérito dos outros. Os homens esão demasiado ocupado consigo mesmos para ter tempo de compreender e discernir os outros: daí o facto de que com grande mérito e modéstia ainda maior poder-se ficar muito tempo ignorado.
O génio e os grandes talentos muitas vezes faltam, às vezes também faltam apenas as ocasiões: alguns podem ser louvado pelo que fizeram, outros pelo que teriam feito. É menos raro encontrar espírito, do que pessoas que se sirvam do seu, ou façam valer o dos outros e o utilizem em alguma coisa.
Há mais ferramentas do que operários, e entre estes, há mais maus que excelentes: que pensar de quem queira serrar com uma plaina e tome o serrote para aplainar?
Não há no mundo trabalho mais penoso que o de fazer nome ilustre: a vida acaba quando apenas se esboçou a obra.

Ex-Voto

Anda a tua saudade ao pé de mim,
E porque a tenho já por companheira,
Eu começo a pensar, e penso, enfim,
Que te hei-de ver um dia à minha beira.

Posso lá acreditar que toda a tua esperança,
O teu grande desejo de viver,
Hão-de caber num berço de criança!
Eu posso lá pensar em nunca mais te ver!

Posso lá acreditar que no ingrato caminho
Da minha vida que esta dor consome,
Nunca mais te hei-de ouvir, mesmo baixinho,
Pronunciar o meu nome!

Posso lá acreditar que a infinita poesia,
Que descia, ao falares, da tua voz,
Não seja agora mais do que uma sinfonia,
A pairar, a vibrar, longe de nós!

Posso lá acreditar! Então a vida,
O que era para mim, assim, o que era?
Ah! Não valia a pena ser vivida,
E não chegava mesmo a ser uma quimera!

A Segurança Destas Paralelas

A segurança destas paralelas
— a beira da varanda e o horizonte;
assim me pacifico, e é por elas
que subo lentamente cada monte.

O tempo arrefecido, e só soprado
por uma brisa tarda que do mar
torna este minuto leve aconchegado,
traz mansas as certezas de se estar.

E vêm novos nomes: são as fadas,
gigantes e anões, que são assim
alegres de o serem — parcos nadas

que enchendo de silêncios este sim
dele fazem brinquedos, madrugadas…
Agora eu estou em ti e tu em mim.

Vosso Nome de Amor

Quando entoar começo com voz branda
Vosso nome de amor, doce, e suave,
A terra, o mar, vento, água, flor, folha, ave
Ao brando som se alegra, move, e abranda.

Nem nuvem cobre o céu, nem na gente anda
Trabalhoso cuidado, ou peso grave,
Nova cor toma o Sul, ou se erga, ou lave
No claro Tejo, e nova luz nos manda.

Tudo se ri, se alegra, e reverdece.
Todo mundo parece que renova.
Nem há triste planeta, ou dura sorte.

A minh’alma só chora, e se entristece,
Maravilha de Amor cruel, e nova!
O que a todos traz vida, a mim traz morte.

Pergunta

Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar
e levou o caminho das conchas em mar
e dos olhos em rio
— quem vem de longe chorar por mim?

Quem sabe que eu findo de dureza
e condensa ternura em suas mãos
para a derramar em afagos
por mim?

Quem ouviu a angústia do meu brado,
sirene de um navio a vadiar no largo,
e me traz seus beijos e sua cor,
perdendo-se na bruma das madrugadas
por mim?

Quem soube das asperezas da viagem
e pediu o pão negado
e o suor ao corpo torturado,
por mim? por mim?

Quem gerou o mundo e lhe deu seu nome
e seu tamanho — imenso, imenso,
e em mim cabe?

Os Truques do Discurso Político

Parecemos estupefactos ao ver a multidão ser conduzida por meros sons, mas devemos lembrar-nos que, se os sons operam milagres, é sempre graças à ignorância. A influência dos nomes está na proporção exacta da falta de conhecimento. De facto, até onde tenho observado, na política, mais que em qualquer outra área, quando os homens carecem de alguns princípios fundamentais e científicos aos quais recorrer, eles tornam-se aptos a ter o seu entendimento manipulado por frases hipócritas e termos desprovidos de sentido, dos quais todos os partidos em qualquer nação têm um vocabulário.

O Livro dos Amantes

I

Glorifiquei-te no eterno.
Eterno dentro de mim
fora de mim perecível.
Para que desses um sentido
a uma sede indefinível.

Para que desses um nome
à exactidão do instante
do fruto que cai na terra
sempre perpendicular
à humidade onde fica.

E o que acontece durante
na rapidez da descida
é a explicação da vida.

II

Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema
e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.

III

Príncipe secreto da aventura
em meus olhos um dia começada e finita.
Onda de amargura numa água tranquila.
Flor insegura enlaçada no vento que a suporta.
Pássaro esquivo em meus ombros de aragem
reacendendo em cadência e em passagem
a lua que trazia e que apagou.

IV

Dá-me a tua mão por cima das horas.
Quero-te conciso.
Adão depois do paraíso
errando mais nítido à distância
onde te exalto porque te demoras.

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Supremo Orgulho

Nunca soube pedir…Nunca soube implorar…
Nasci, tendo este orgulho em minha lama irriquieta,
– há um brilho que incendeia o meu altivo olhar
de crente superior… de indiferente asceta…

Minha fronte, jamais, eu soube curvar
na atitude servil de uma existência abjeta…
Ninguém é mais que eu!… Ninguém… e este meu ar
de orgulho, vem da glória imensa de ser poeta…

Sou pobre – mas riqueza alguma há igul à minha,
– a mulher que eu amar terá a glória suprema
de um dia se sentir maior que uma rainha….

Terá a glória de saber o seu nome
perpetuado por mim nas estrofes de um poema,
desses que a História guarda e o Tempo não consome!