Passagens sobre Ociosos

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Frases sobre ociosos, poemas sobre ociosos e outras passagens sobre ociosos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Quem não Trabuca, não Manduca

Olhai que quem quer comer
trabalha, lida, e trabuca;
que quem trabuca manduca
mil vezes ouvi dizer;
mas ociosos viver
e vir comer pão alheio
é um caso muito feio;
coma quem sua e trabalha,
beba quem na eira malha,
ao sol e calma, o centeio.

Insiste no Benefício

Queixas-te de teres dado com um ingrato! Se é a primeira vez que isso te sucede bem podes agradecer à tua sorte… ou à tua prudência. Mas esta é uma questão em que a prudência apenas fará de ti um homem azedo, pois se pretenderes evitar o perigo da ingratidão nunca mais farás benefícios a ninguém. Quer dizer, para que os teus benefícios não sejam em vão, privas-te de fazê-los. A verdade é que é preferível proporcionar benefícios mesmo sem contrapartida do que renunciar a beneficiar os outros: há que voltar a semear, mesmo depois de uma má colheita! As sementeiras perdidas por uma prolongada estirilidade de um terreno pouco fértil podem ser compensadas pela abundância de uma única messe. Para encontrarmos um só homem grato vale bem a pena sujeitarmo-nos à ingratidão de muitos.
Ao distribuir benefícios ninguém tem a mão tão certeira que não se possa com frequência enganar: pois sejam em vão esses benefícios, desde que uma ou outra vez sejam bem aplicados! Não é um naufrágio que põe termo à navegação, como não é a presença de um falido que impede o usurário de montar banca no foro. Em breve a nossa vida se transformará num torpor inutilmente ocioso se pretendermos eximir-nos à mínima contrariedade.

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Escrevi a coleção A Verdade da Vida e outras obras em meio a afazeres, justamente quando eu não tinha tempo ocioso; e quem os lê encontra serenidade. Isto prova que o homem pode se manter sereno em meio a muitos afazeres.

As Esperas

Uma

Esperamos na paz que a si mesma se anula
aquilo que nos possa doar o tempo,
além da passividade a que nos habituámos
e a confusão de sentimentos que move,
incautos, nossos passos pelas ruas.

A angústia de saber que não se volta a casa
e para sempre deixamos as fronteiras do país
visita-nos com a sua invalidez irreparável
no instante compassivo em que prenderíamos
as mãos ao pouco que displicentemente amámos.

Pois nada nos poderia assombrar sob a coberta,
na intimidade de nossas casas, ao deitarmos
a cabeça na almofada. Não há liturgia da palavra
nem ofertório aos santos que permita a uma existência
ociosa achar no meio do terror área reservada.

Assim esperamos, mantendo o porte de cabeça
que nos distingue, sem cartas de despedida,
sem apologia e afixação de editais penitentes,
sem aquinhoar por quem fica os bens de raiz,
o tiro certeiro que nos redima em obra póstuma.

Teus Olhos Entristecem

Teus olhos entristecem
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem…
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez…
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.

A Asfixia do Artista pela Sociedade

Eu tenho medo das «teses» quando se apoderam de um artista jovem, sobretudo nos começos da sua carreira. E sabem o que eu temo? Muito simplesmente que não consiga os objectos da tese. Pensará um simpático crítico, a quem li há pouco e cujo nome agora não vou citar, que toda a obra artística isenta de tese prévia, realizada exclusivamente com um objectivo artístico, e até de assunto inteiramente secundário e não correspondendo a nada de «tendencioso» possa resultar nuns proveitos para o seu objectivo ainda que à primeira vista dê a impressão de satisfazer apenas «uma ociosa curiosidade»? Porventura as nossas pessoas cultas ainda não se deram conta do que pode passar-se no coração e na inteligência dos nossos escritores e artistas jovens? Que confusão de ideias e de sentimentos preconcebidos!

Sob a pressão da sociedade, o jovem poeta sufoca na alma o seu natural anelo de espraiar-se em formas singulares; receia que condenem a sua «ociosa curiosidade»; reprime essas formas que lhe brotam do fundo da alma; nega-lhes vida e atenção e arranca de dentro, entre espamos, o tema que à sociedade agrada, que é grato à opinião liberal e social. Mas que erro tão horrivelmente cândido e ingénuo,

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