Ruínas
Se é sempre Outono o rir das Primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair…
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!E deixa sobre as ruínas crescer heras,
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino das Quimeras!Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais alto do que as águias pelo ar!Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!… Deixa-os tombar… Deixa-os tombar.
Passagens sobre Primavera
190 resultadosSou contra a moda que não dure. É o meu lado masculino. Não consigo imaginar que se jogue uma roupa fora, só porque é primavera.
O segredo destas flores fechadas é que exatamente no primeiro dia de primavera elas se abrem se dão ao mundo.
Campesinas IV
Através das romãzeiras
E dos pomares floridos
Ouvem-se as vezes ruídos
E bater d’asas ligeiras.São as aves forasteiras
Que dos seus ninhos queridos
Vêm dar ali os gemidos
Das ilusões passageiras.Vêm sonhar leves quimeras,
Idílios de primaveras,
Contar os risos e os males.Vêm chorar um seio de ave
Perdida pela suave
Carícia verde dos vales.
Os poderosos podem matar uma, duas, três flores, mas jamais deterão a primavera!
É sempre assim com as coisas que os homens começam; há uma geada na primavera, ou uma praga no verão, e suas promessas fracassam.
Deus ama-mos em primeiro lugar. Os profetas tinham-no compreendido e tinham usado como símbolo a flor de amendoeira; é a que floresce primeiro, na primavera. Deus espera-nos em primeiro lugar, ama-nos em primeiro lugar, ajuda-nos em primeiro lugar.
Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.
Presídio
Nem todo o corpo é carne… Não, nem todo
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco…?E o ventre, inconsistente como o lodo?…
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor… Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo…É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidiovulto da Primavera em pleno Outono…
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!
Assi, despois, a descorada rosa,
Se reverdece, fica mais fermosa;
Assi, despois do Inverno e seus rigores,
Se mostra a Primavera com mais flores.
Para Todo o Sempre
O Poeta morre,
mas não cessa de escrever.Enquanto escreve,
vive
ressuscitando fugidias horas
mudadas em auroras…Uma pequenina flor,
pisada por quem passa,
é agora
um milagre de cor,
uma negaça
de mil desejos…E os beijos
que nunca foram dados,
tornados tão reais…Aquela borboleta
arrasta
infindas primaveras
no seu voo fremente…– Uma palavra mais,
Poeta!
Uma palavra quente!
Uma palavra para todo o sempre!
Na primavera, a imaginação de um jovem volta-se, ligeira, para pensamentos de amor.
Uma história triste agrada sempre. No seu sentido mais profundo, a vida é bela e alegre. Todos nós tivemos já a experiência disso milhares de vezes. Provas sobre provas de que não há primavera sem flores, nem outono sem frutos. Mas, apegados como estamos à aparência de tudo, esquecemos a voz do profundo, e ouvimos deliciados o som da superfície. Temos o vício da tristeza.
Hoje é o primeiro dia de primavera. Boa primavera!
Desejo-vos uma primavera florida de boas obras.
Os poderosos podem destruir uma, duas, até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera.
O Que Tu És…
És Aquela que tudo te entristece
Irrita e amargura, tudo humilha;
Aquela a quem a Mágoa chamou filha;
A que aos homens e a Deus nada merece.Aquela que o sol claro entenebrece
A que nem sabe a estrada que ora trilha,
Que nem um lindo amor de maravilha
Sequer deslumbra, e ilumina e aquece!Mar-Morto sem marés nem ondas largas,
A rastejar no chão como as mendigas,
Todo feito de lágrimas amargas!És ano que não teve Primavera…
Ah! Não seres como as outras raparigas
Ó Princesa Encantada da Quimera!…
O dia abre os olhos e penetra em uma primavera antecipada. Tudo o que minhas mãos tocam voa. O mundo está cheio de pássaros.
Canto
… e o vento,
o vento dos altos a que me dei,
a ti me trouxe
a ti me entregou.
Se em mim já estavas!
Pela boca, pelos olhos e pelas mãos,
arreigado e voraz,
meu invasor enternecido.Cinco vidas, nada menos,
cinco vidas querias ter.
Cinco vidas…
Mas uma, apenas, ardente, violenta e dissipada,
uma só não te bastaria?
Uma,
quintuplicada, centuplicada na hora inefável,
no momento embriagado…
Uma, para me dares, para eu de ti receber,
vergada, sucumbida?
É primavera! saíu-me da boca.
E tu sorriste.
Sorriste, creio.
Primavera e todas as estações…
Chuva e sol, tempo sem idade.Aqueles suaves, langues verdes, tão cariciosos;
os redondos troncos
e os musgos fofos;
os melros agrestes
e as campainhas roxas daquelas flores da minha infância,
de que me ensinaste o nome tão doce, tão estranho…
E as loucas nuvens corredias
e as pedras hieráticas
e as veredas amáveis,
como se os ofereciam!
Amavam-nos,
Não o viste?
No passo certo em que ambos íamos
tudo,
Ode à Esperança
1
Vem, vem, doce Esperança, único alívio
Desta alma lastimada;
Mostra, na c’roa, a flor da Amendoeira,
Que ao Lavrador previsto,
Da Primavera próxima dá novas.2
Vem, vem, doce Esperança, tu que animas
Na escravidão pesada
O aflito prisioneiro: por ti canta,
Condenado ao trabalho,
Ao som da braga, que nos pés lhe soa,3
Por ti veleja o pano da tormenta
O marcante afouto:
No mar largo, ao saudoso passageiro,
(Da sposa e dos filhinhos)
Tu lhe pintas a terra pelas nuvens.4
Tu consolas no leito o lasso enfermo,
C’os ares da melhora,
Tu dás vivos clarões ao moribundo,
Nos já vidrados olhos,
Dos horizontes da Celeste Pátria.5
Eu já fui de teus dons também mimoso;
A vida largos anos
Rebatida entre acerbos infortúnios
A sustentei robusta
Com os pomos de teus vergéis viçosos.6
Mas agora, que Márcia vive ausente;
Que não me alenta esquiva
C’o brando mimo dum de seus agrados,