Passagens sobre Ratos

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Frases sobre ratos, poemas sobre ratos e outras passagens sobre ratos para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

SĂŁo Mais as Vozes que as Nozes

Mais sĂŁo as vozes que as nozes
p’ra mim nesta ocasião,
e para vós nesta acção
mais as nozes que as vozes:
vĂłs jogais os arriozes
com elas muito contentes;
e, sendo as nozes tĂŁo quentes,
eu fico d’elas mui frio;
vĂłs com calor e com brio,
com elas ficais valentes.

Assim que a guerra serĂĄ
nĂŁo guerra de cĂŁo com gato,
senĂŁo de gato com rato
que Ă© para vĂłs guerra mĂĄ:
que eu nĂŁo posso sofrer jĂĄ
tanta perda, nem tal dano,
nem que um ratinho tirano
me dĂȘ uma e outra vez
mĂĄs horas em portuguĂȘs,
maus «ratos» em castelhano.

Casa: um edifĂ­cio oco, construĂ­do para ser habitado pelo homem, pela ratazana, pelo rato, pelo escaravelho, pela barata, pela mosca, pelo mosquito, pela pulga, pelo bacilo e pelo micrĂłbio.

VariaçÔes sobre

O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
de Alexandre O’Neill

Os ratos invadiram a cidade
povoaram as casas os ratos roeram
o coração das gentes.
Cada homem traz um rato na alma.
Na rua os ratos roeram a vida.
É proibido não ser rato.

Canto na toca. E sou um homem.
Os ratos nĂŁo tiveram tempo de roer-me
os ratos nĂŁo podem roer um homem
que grita nĂŁo aos ratos.
Encho a toca de sol.
(CĂĄ fora os ratos roeram o sol).
Encho a toca de luar.
(CĂĄ fora os ratos roeram a lua).
Encho a toca de amor.
(CĂĄ fora os ratos roeram o amor).

Na toca que jĂĄ foi dos ratos cantam
os homens que nĂŁo chiam. E cantando
a toca enche-se de sol.
(O pouco sol que os ratos nĂŁo roeram).

Queima a ponte que acabaste de atravessar. Para quem não pode recuar só resta avançar. Até o rato quando encurralado ataca o gato.

Frequentemente a mulher tem medo de um rato, mas sobe ao patíbulo heroicamente; grita ao ver uma cobra, mas lança-se nas chamas para salvar um filho.

Na Arca Aberta, o Justo Peca

Na arca aberta o justo peca,
nĂŁo em canastra fechada;
mas vĂłs da minha coitada
fechada a fazeis caneca:
vindes lĂĄ de seca e meca
com tal pressa e furor tal,
que fazeis, para meu mal,
com mau termo e ruim modo,
do meu queijo lama e lodo,
e do meu pĂŁo cinza e sal.

Quando as peras me levais,
entĂŁo para peras levo,
pois vos pago o que nĂŁo devo,
e vĂłs rindo vos ficais:
se pĂȘra flamenga achais
a comeis em portuguĂȘs,
e me fazeis d’essa vez,
com estrondo e com arenga,
os narizes ĂĄ flamenga
muito mal em que me pez.

Não vos escapam por pés
minhas cerejas bicais,
nem as ginjas garrafais,
se as tenho alguma vez:
porque mal, em que me pez,
como cerejas se vĂŁo
pelos pés å vossa mão
e da vossa mĂŁo ĂĄ minha,
a cereja Ă© marouvinha
as ginjas galegas sĂŁo.

Passa hoje por lebre o gato,
por perdiz passa o francelho
por capĂŁo o galo velho,

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O Mundo EstĂĄ Prestes a Rebentar

NĂŁo olhes.
O mundo estĂĄ prestes a rebentar.

NĂŁo olhes.
O mundo estĂĄ prestes a despejar a sua luz
E a lançar-nos no abismo das suas trevas,
Aquele lugar negro, gordo e sem ar
Onde nós iremos matar ou morrer ou dançar ou chorar
Ou gritar ou gemer ou chiar que nem ratos
A ver se conseguimos de novo um posto de partida.

O amor dá-se mal nas casas ameaçadas de pobreza. É como os ratos que pressentem as ruínas dos pardieiros em que moram, e retiram-se.

Uma Toupeira na Calçada

Vi uma toupeira na calçada.

As toupeiras não se dão bem em calçadas
– elas que tĂȘm no solo arĂĄvel o seu habitat –
mas aquelas estava ali inexplicavelmente.

Uma aventura que acabou mal,
pensei para comigo.

A toupeira extraviada na calçada
esbracejava (se assim se pode dizer)
como um nĂĄufrago que nĂŁo tem bĂłia nem tĂĄbua.

Tentava refugiar-se na terra
a que pertencia. Mas, desfavorĂĄvel,
a pedra nĂŁo se deixava fender das suas unhas,
tal como a ĂĄgua se nĂŁo deixa nadar
do desespero do nĂĄufrago
que nĂŁo tem tĂĄbua nem bĂłia.

Estava-se mesmo a ver como a coisa ia acabar.

Enquanto tivesse forças, a toupeira,
embora perplexa daquele lugar hostil,
continuaria sempre a esbracejar,
arranhando em vão a pedra da calçada.
Depois, algum gato havia de passar por ali
(há sempre um gato que passa ‘por ali’)
e daria o remate apropriado
a esta histĂłria sem histĂłria.
No fim de contas, uma toupeira Ă© um rato,
nĂŁo Ă© verdade? (Pergunta o gato.)

Meditando na sorte da toupeira,

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O Desporto Ă© a InteligĂȘncia InĂștil

O sport Ă© a inteligĂȘncia inĂștil manifestada nos movimentos do corpo. O que o paradoxo alegra no contĂĄgio das almas, o sport aligeira na demonstração dos bonecos delas. A beleza existe, verdadeiramente, sĂł nos altos pensamentos, nas grandes emoçÔes, nas vontades conseguidas. No sport – ludo, jogo, brincadeira – o que existe Ă© supĂ©rfluo, como o que o gato faz antes de comer o rato que lhe hĂĄ-de escapar. NinguĂ©m pensa a sĂ©rio no resultado, e, enquanto dura o que desaparece, existe o que nĂŁo dura. HĂĄ uma certa beleza nisso, como no dominĂł, e, quando o acaso proporciona o jogo acertado, a maravilha entesoura o corpo encostado do vencedor. Fica, no fim, e sempre virado para o inĂștil, o inconseguido do jogo. Pueri ludunt, como no primĂĄrio do latim…

Ao sol brilham, no seu breve movimento de glĂłria espĂșria, os corpos juvenis que envelhecerĂŁo, os trajectos que, com o existirem, deixaram jĂĄ de existir. Entardece no que vemos, como no que vimos. A GrĂ©cia antiga nĂŁo nos afaga senĂŁo intelectualmente. Ditosos os que naufragam no sacrifĂ­cio da posse. SĂŁo comuns e verdadeiros. O sol das arenas faz suar os gestos dos outros. Os poetas cantam-nos antes que desça todo o sol.

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