Pobre como rato de igreja.
Passagens sobre Ratos
46 resultadosSĂŁo Mais as Vozes que as Nozes
Mais sĂŁo as vozes que as nozes
pâra mim nesta ocasiĂŁo,
e para vós nesta acção
mais as nozes que as vozes:
vĂłs jogais os arriozes
com elas muito contentes;
e, sendo as nozes tĂŁo quentes,
eu fico dâelas mui frio;
vĂłs com calor e com brio,
com elas ficais valentes.Assim que a guerra serĂĄ
nĂŁo guerra de cĂŁo com gato,
senĂŁo de gato com rato
que Ă© para vĂłs guerra mĂĄ:
que eu nĂŁo posso sofrer jĂĄ
tanta perda, nem tal dano,
nem que um ratinho tirano
me dĂȘ uma e outra vez
mĂĄs horas em portuguĂȘs,
maus «ratos» em castelhano.
De um rato nĂŁo pode nascer senĂŁo outro rato.
Odiar as pessoas Ă© como atear foto na casa para se livrar de um rato.
O boi come a palha e, o rato, o trigo.
Casa: um edifĂcio oco, construĂdo para ser habitado pelo homem, pela ratazana, pelo rato, pelo escaravelho, pela barata, pela mosca, pelo mosquito, pela pulga, pelo bacilo e pelo micrĂłbio.
Filho de gata, ratos mata.
VariaçÔes sobre
O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
de Alexandre O’NeillOs ratos invadiram a cidade
povoaram as casas os ratos roeram
o coração das gentes.
Cada homem traz um rato na alma.
Na rua os ratos roeram a vida.
Ă proibido nĂŁo ser rato.Canto na toca. E sou um homem.
Os ratos nĂŁo tiveram tempo de roer-me
os ratos nĂŁo podem roer um homem
que grita nĂŁo aos ratos.
Encho a toca de sol.
(CĂĄ fora os ratos roeram o sol).
Encho a toca de luar.
(CĂĄ fora os ratos roeram a lua).
Encho a toca de amor.
(CĂĄ fora os ratos roeram o amor).Na toca que jĂĄ foi dos ratos cantam
os homens que nĂŁo chiam. E cantando
a toca enche-se de sol.
(O pouco sol que os ratos nĂŁo roeram).
Queima a ponte que acabaste de atravessar. Para quem não pode recuar só resta avançar. Até o rato quando encurralado ataca o gato.
Frequentemente a mulher tem medo de um rato, mas sobe ao patĂbulo heroicamente; grita ao ver uma cobra, mas lança-se nas chamas para salvar um filho.
O barato tem rato.
Quando se quer entrar num buraco de rato, de rato vocĂȘ tem que transar.
Na Arca Aberta, o Justo Peca
Na arca aberta o justo peca,
nĂŁo em canastra fechada;
mas vĂłs da minha coitada
fechada a fazeis caneca:
vindes lĂĄ de seca e meca
com tal pressa e furor tal,
que fazeis, para meu mal,
com mau termo e ruim modo,
do meu queijo lama e lodo,
e do meu pĂŁo cinza e sal.Quando as peras me levais,
entĂŁo para peras levo,
pois vos pago o que nĂŁo devo,
e vĂłs rindo vos ficais:
se pĂȘra flamenga achais
a comeis em portuguĂȘs,
e me fazeis d’essa vez,
com estrondo e com arenga,
os narizes ĂĄ flamenga
muito mal em que me pez.Não vos escapam por pés
minhas cerejas bicais,
nem as ginjas garrafais,
se as tenho alguma vez:
porque mal, em que me pez,
como cerejas se vĂŁo
pelos pés å vossa mão
e da vossa mĂŁo ĂĄ minha,
a cereja Ă© marouvinha
as ginjas galegas sĂŁo.Passa hoje por lebre o gato,
por perdiz passa o francelho
por capĂŁo o galo velho,
O Mundo EstĂĄ Prestes a Rebentar
NĂŁo olhes.
O mundo estĂĄ prestes a rebentar.NĂŁo olhes.
O mundo estĂĄ prestes a despejar a sua luz
E a lançar-nos no abismo das suas trevas,
Aquele lugar negro, gordo e sem ar
Onde nós iremos matar ou morrer ou dançar ou chorar
Ou gritar ou gemer ou chiar que nem ratos
A ver se conseguimos de novo um posto de partida.
O amor dĂĄ-se mal nas casas ameaçadas de pobreza. Ă como os ratos que pressentem as ruĂnas dos pardieiros em que moram, e retiram-se.
Odiar as pessoas Ă© como atear fogo na casa a fim de se livrar de um rato.
O tempo Ă© um rato roedor das coisas, que as diminui ou altera no sentido de lhes dar outro aspecto.
Uma Toupeira na Calçada
Vi uma toupeira na calçada.
As toupeiras não se dão bem em calçadas
â elas que tĂȘm no solo arĂĄvel o seu habitat â
mas aquelas estava ali inexplicavelmente.Uma aventura que acabou mal,
pensei para comigo.A toupeira extraviada na calçada
esbracejava (se assim se pode dizer)
como um nĂĄufrago que nĂŁo tem bĂłia nem tĂĄbua.Tentava refugiar-se na terra
a que pertencia. Mas, desfavorĂĄvel,
a pedra nĂŁo se deixava fender das suas unhas,
tal como a ĂĄgua se nĂŁo deixa nadar
do desespero do nĂĄufrago
que nĂŁo tem tĂĄbua nem bĂłia.Estava-se mesmo a ver como a coisa ia acabar.
Enquanto tivesse forças, a toupeira,
embora perplexa daquele lugar hostil,
continuaria sempre a esbracejar,
arranhando em vão a pedra da calçada.
Depois, algum gato havia de passar por ali
(hĂĄ sempre um gato que passa âpor aliâ)
e daria o remate apropriado
a esta histĂłria sem histĂłria.
No fim de contas, uma toupeira Ă© um rato,
nĂŁo Ă© verdade? (Pergunta o gato.)Meditando na sorte da toupeira,
A bom gato, bom rato.
O Desporto Ă© a InteligĂȘncia InĂștil
O sport Ă© a inteligĂȘncia inĂștil manifestada nos movimentos do corpo. O que o paradoxo alegra no contĂĄgio das almas, o sport aligeira na demonstração dos bonecos delas. A beleza existe, verdadeiramente, sĂł nos altos pensamentos, nas grandes emoçÔes, nas vontades conseguidas. No sport – ludo, jogo, brincadeira – o que existe Ă© supĂ©rfluo, como o que o gato faz antes de comer o rato que lhe hĂĄ-de escapar. NinguĂ©m pensa a sĂ©rio no resultado, e, enquanto dura o que desaparece, existe o que nĂŁo dura. HĂĄ uma certa beleza nisso, como no dominĂł, e, quando o acaso proporciona o jogo acertado, a maravilha entesoura o corpo encostado do vencedor. Fica, no fim, e sempre virado para o inĂștil, o inconseguido do jogo. Pueri ludunt, como no primĂĄrio do latim…
Ao sol brilham, no seu breve movimento de glĂłria espĂșria, os corpos juvenis que envelhecerĂŁo, os trajectos que, com o existirem, deixaram jĂĄ de existir. Entardece no que vemos, como no que vimos. A GrĂ©cia antiga nĂŁo nos afaga senĂŁo intelectualmente. Ditosos os que naufragam no sacrifĂcio da posse. SĂŁo comuns e verdadeiros. O sol das arenas faz suar os gestos dos outros. Os poetas cantam-nos antes que desça todo o sol.