Sonetos sobre Alegria

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Sonetos de alegria escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Nervos D’Oiro

Meus nervos, guizos de oiro a tilintar
Cantam-me n’alma a estranha sinfonia
Da volúpia, da mágoa e da alegria,
Que me faz rir e que me faz chorar!

Em meu corpo fremente, sem cessar,
Agito os guizos de oiro da folia!
A Quimera, a Loucura, a Fantasia,
Num rubro turbilhĂŁo sinto-As passar!

O coração, numa imperial oferta.
Ergo-o ao alto! E, sobre a minha mĂŁo,
É uma rosa de púrpura, entreaberta!

E em mim, dentro de mim, vibram dispersos,
Meus nervos de oiro, esplĂŞndidos, que sĂŁo
Toda a Arte suprema dos meus versos!

A Fermosura Fresca Serra

A fermosura fresca serra,
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos ofrece,
me está (se não te vejo) magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas mores alegrias, mor tristeza.

És Música e a Música Ouves Triste?

És música e a música ouves triste?
Doçura atrai doçura e alegria:
porque amas o que a teu prazer resiste,
ou tens prazer sĂł na melancolia?

se a concĂłrdia dos sons bem afinados,
por casados, ofende o teu ouvido,
sĂŁo-te branda censura, em ti calcados,
porque de ti deviam ter nascido.

VĂŞ que uma corda a outra casa bem
e ambas se fazem mĂştuo ordenamento,
como marido e filho e feliz mĂŁe

que, todos num, cantam de encantamento:
É canção sem palavras, vária e em
unĂ­ssono: “sĂł nĂŁo serás ninguĂ©m”.

A Vida

“A Vida”
IV
“…A vida Ă© assim, uma ânsia… feito a vaga
que se ergue e rola a espumejar na areia,
– apor esse bem que a tua mĂŁo semeia
espera o mal que ainda terás por paga!

A essa hora boa que te agrada e enleia
sucede uma outra torturante e aziaga,
– a vida Ă© assim… um canto de sereia
que Ă  morte nos convida, e nos afaga…

O teu sonho melhor bem pouco dura,
e há sempre”um amanhĂŁ”cheio de dor
para”um hoje”nem sempre de ventura…

Toma entre as mĂŁos o bĂşzio da alegria
e surpreso verás que no interior
canta profunda e imensa nostalgia!…”

Tristeza De Momo

Pela primeira vez, Ă­mpias risadas
Susta em pranto o deus da zombaria;
Chora; e vingam-se dele, nesse dia,
Os silvanos e as ninfas ultrajadas;

Trovejam bocas mil escancaradas,
Rindo; arrombam-se os diques da alegria;
E estoira descomposta vozeria
Por toda a selva, e apupos e pedradas…

Fauno, indigita; a Náiade o caçoa;
Sátiros vis, da mais indigna laia,
Zombam. Não há quem dele se condoa!

E Eco propaga a formidável vaia,
Que além por fundos boqueirões reboa
E, como um largo mar, rola e se espraia…

Douto, Prudente, Nobre, Humano, Afável

Ao desembargador Belchior da Cunha Brochado, casado com uma filha de Sebastião Barbosa, Capitão de infantaria do III da Praça da Bahia.

Douto, prudente, nobre, humano, afável.
Reto, ciente, benigno e aprazĂ­vel.
Ăšnico, singular, raro, inflexĂ­vel.
Magnífico, preclaro, incomparável.

Do mundo grave juiz. Inimitável.
Admirado, gozais aplauso incrĂ­vel,
Pois a trabalho tanto e tĂŁo terrĂ­vel,
Dais pronto execução sempre incansável.

Vossa fama, senhor, seja notĂłria
Lá no clima onde nunca chega o dia.
Onde do Erebo sĂł se tem memĂłria

Para que garbo tal, tanta energia!
Pois de toda esta terra Ă© gentil glĂłria,
Da mais remota seja uma alegria.

as meninas

as minhas filhas nadam. a mais nova
leva nos braços bóias pequeninas,
a outra dá um salto e põe à prova
o corpo esguio, as longas pernas finas:

entre risadas como serpentinas,
vai como a formosinha numa trova,
salta a pés juntos, dedos nas narinas,
e emerge ao sol que o seu cabelo escova.

a água tem a pele azul-turquesa
e brilhos e salpicos, e mergulham
feitas pura alegria incandescente.

e ficam, de ternura e de surpresa,
nas toalhas de cor em que se embrulham,
ninfinhas sobre a relva, de repente.

Minha Vida!

Tu estás doente meu amor, porquê?
Falta-te o sol, a luz, o meu sabor?
Ou queres tu, que ainda eu te dĂŞ,
nos meus braços, mais ânsia, mais calor?

Se és tu o sol, a graça, essa mercê
divina que Deus trouxe Ă  minha dor,
exige tudo, a minha vida e crĂŞ
que ta darei com alegria, amor!

Se perdes a alegria, minha vida,
perco-me eu a procurar a causa:
minha alegria é também perdida!

Beijemo-nos, meu bem, ardentemente…
que venha a morte numa doce pausa
e que nos leve se nĂŁo Ă©s contente!

Sensibilidade

Como os audazes, ruivos argonautas,
Intrépidos, viris e corajosos
Que voltam dos orientes fantasiosos,
Dos paĂ­ses de NĂşbios e Aranautas.

Como esses bravos, que por naus incautas,
Regressam dos oceanos borrascosos,
Indo encontrar nos lares harmoniosos
De luz, vinho e alegria as mesas lautas.

Tal o meu coração, quando aparece
A tua imagem, canta e resplandece,
Sem lutas, sem paixões, livre de abrolhos.

A meu pesar, louco de ver-te, louco,
As lágrimas me correm pouco a pouco,
Como o champanhe virginal dos olhos…

Vanda

Vanda! Vanda do amor, formosa Vanda,
Makuâma gentil, de aspecto triste,
Deixe que o coração que tu poluíste
Um dia, se abra e revivesça e expanda.

Nesse teu lábio sem calor onde anda
A sombra vĂŁ de amores que sentiste
Outrora, acende risos que nĂŁo viste
Nunca e as tristezas para longe manda.

Esquece a dor, a lĂşbrica serpente
Que, embora esmaguem-lhe a cabeça ardente,
Agita sempre a cauda venenosa.

Deixa pousar na seara dos teus dias
A caravana irial das alegrias
Como as abelhas pousam numa rosa.

A Uma Senhora Que Me Pediu Versos

Pensa em ti mesma, acharás
Melhor poesia,
Viveza, graça, alegria,
Doçura e paz.

Se já dei flores um dia,
Quando rapaz,
As que ora dou tĂŞm assaz
Melancolia.

Uma sĂł das horas tuas
Valem um mĂŞs
Das alma já ressequidas.

Os sĂłis e as luas
Creio bem que Deus os fez
Para outras vidas.

XVII

Deixa, que por um pouco aquele monte
Escute a glĂłria, que a meu peito assiste:
Porque nem sempre lastimoso, e triste
Hei de chorar Ă  margem desta fonte.

Agora, que nem sombra há no horizonte,
Nem o álamo ao zéfiro resiste,
Aquela hora ditosa, em que me viste
Na posse de meu bem, deixa, que conte.

Mas que modo, que acento, que harmonia
Bastante pode ser, gentil pastora,
Para explicar afetos de alegria!

Que hei de dizer, se esta alma, que te adora,
SĂł costumada Ă s vozes da agonia,
A frase do prazer ainda ignora!

Que me quereis, perpétuas saudades?

Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança inda me enganais?
Que o tempo que se vai nĂŁo torna mais,
E se torna, nĂŁo tornam as idades.

Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tĂŁo ligeiros que passais,
Nem todos pera um gosto sĂŁo iguais,
Nem sempre sĂŁo conformes as vontades.

Aquilo a que já quis é tão mudado,
Que quase Ă© outra cousa, porque os dias
Têm o primeiro gosto já danado.

Esperanças de novas alegrias
NĂŁo mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
Que do contentamento sĂŁo espias.

Soneto IV – A Uma Senhora

Dos meus lares, dos meus que choro ausente,
Me vieste acordar saudade Ă­mpia,
Tu, amada do Anjo d’Harmonia,
Que te fazes ouvir tĂŁo docemente.

Do piano o teclado obediente
Ao teu tocar encheu-se de magia,
E lá dos mortos na soidão sombria
Operou-se um milagre de repente.

A morte sobre a fouce, entristecida,
Amarguradas lágrimas verteu,
Talvez do fero ofĂ­cio arrependida!

Bellini do sepulcro a pedra ergueu;
E, cheio de alegria desmedida,
C’um sorriso de glĂłria um — bravo — deu.

LXXII

Já rompe, Nise, a matutina aurora
O negro manto, com que a noite escura,
Sufocando do Sol a face pura,
Tinha escondido a chama brilhadora.

Que alegre, que suave, que sonora,
Aquela fontezinha aqui murmura!
E nestes campos cheios de verdura
Que avultado o prazer tanto melhora!

SĂł minha alma em fatal melancolia,
Por te nĂŁo poder ver, Nise adorada,
NĂŁo sabe inda, que coisa Ă© alegria;

E a suavidade do prazer trocada,
Tanto mais aborrece a luz do dia,
Quanto a sombra da noite lhe agrada.

Depois Que O Som Da Terra, Que É Não Tê-Lo

Depois que o som da terra, que Ă© nĂŁo tĂŞ-lo,
Passou, nuvem obscura, sobre o vale
E uma brisa afastando meu cabelo
Me diz que fale, ou me diz que cale,

A nova claridade veio, e o sol
Depois, ele mesmo , e tudo era verdade,
Mas quem me deu sentir e a sua prole?
Quem me vendeu nas hastas da vontade?

Nada. Uma nova obliquação da luz,
Interregno factĂ­cio onde a erva esfria.
E o pensamento inĂştil se conduz

Até saber que nada vale ou pesa.
E nĂŁo sei se isto me ensimesma ou alheia,
Nem sei se Ă© alegria ou se Ă© tristeza.

Alvorecer

A noite empalidece. Alvorecer…
Ouve-se mais o gargalhar da fonte…
Sobre a cidade muda, o horizonte
É uma orquídea estranha a florescer.

Há andorinhas prontas a dizer
A missa d’alva, mal o sol desponte.
Gritos de galos soam monte em monte
Numa intensa alegria de viver.

Passos ao longe… um vulto que se esvai…
Em cada sombra Colombina trai…
Anda o silĂŞncio em volta a q’rer falar…

E o luar que desmaia, macerado,
Lembra, pálido, tonto, esfarrapado,
Um Pierrot, todo branco, a soluçar…

Ă€ Alma De Minha MĂŁe

Partiu-se o fio branco e delicado
Dos sonhos de minh’alma desditosa…
E as contas do rosário assim quebrado
CaĂ­ram como folhas de uma rosa.

Debalde eu as procuro lacrimosa,
Estas doces relĂ­quias do Passado,
Para guardá-las na urna perfumosa,
Do meu seio no cofre imaculado.

AĂ­! se eu ao menos uma sĂł pudesse
D’estas contas achar que me fizesse
Lembrar um mundo de alegrias doidas…

Feliz seria… Mas minh’alma atenta
Em vĂŁo procura uma continha benta:
Quando partiste m’as levaste todas!

Rir!

Rir! Não parece ao século presente
Que o rir traduza, sempre, uma alegria…
Rir! Mas nĂŁo rir como essa pobre gente
Que ri sem arte e sem filosofia.

Rir! Mas com o rir atroz, o rir tremente,
Com que André Gil eternamente ria.
Rir! Mas com o rir demolidor e quente
Duma profunda e trágica ironia.

Antes chorar! Mais fácil nos parece.
Porque o chorar nos ilumina e nos aquece
Nesta noite gelada do existir.

Antes chorar que rir de modo triste…
Pois que o difĂ­cil do rir bem consiste
SĂł em saber como Henri Heine rir!…

Junto Dele

Que terrivel tragedia ver a gente,
No seu exiguo e doloroso leito,
Uma creança morta, um Inocente,
Um pequenino AmĂ´r inda perfeito!

Oh que mimosa palidĂŞs tremente
A do gélido rôsto contrafeito!
A as mĂŁosinhas de cĂŞra, docemente,
Ă“ dĂ´r, Ăł dĂ´r, cruzadas sobre o peito!

Ó Deus cruel que matas as Creanças!
Auroras para o nosso coração,
Alegrias, alivios, esperanças!

NĂŁo sei quem Ă©s; eu nĂŁo te entendo, Deus!
E penso, com terror, na escuridĂŁo
Desse teu Reino tragico dos CĂ©us…