Sonetos sobre Estrelas

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Sonetos de estrelas escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Musica Misteriosa

Tenda de Estrelas nĂ­veas, refulgentes,
Que abris a doce luz de alampadários,
As harmonias dos Estradivarius
Erram da Lua nos clarões dormentes…

Pelos raios fluĂ­dicos, diluentes
Dos Astros, pelos trêmulos velários,
Cantam Sonhos de místicos templários,
De ermitões e de ascetas reverentes…

Cânticos vagos, infinitos, aéreos
Fluir parecem dos Azuis etéreos,
Dentre os nevoeiros do luar fluindo…

E vai, de Estrela a Estrela, a luz da Lua,
Na láctea claridade que flutua,
A surdina das lágrimas subindo…

VĂłs Outros! que Dizeis que o Amor Ă© um SuplĂ­cio

VĂłs outros! que dizeis que o Amor Ă© um suplĂ­cio,
Que a flor da Decepção se abre em todo o Prazer,
Que aconselhais Ă  Alma o mosteiro, e o cilĂ­cio,
Pois nada pode consolar-nos de viver:

Ponde os olhos em mim, neste celeste Amor
Que me vai desdobrando e alumiando o caminho,
Mesmo quando o alto Céu, sem frescura e sem cor,
Tem as engelhas de algum velho pergaminho…

Vede como eu quero viver, por merecĂŞ-la,
Eu que sou pecador, a ela longĂ­nqua Estrela!
No esforço de ser bom, branco como um altar:

De modo que a minha Alma, enfim, fique tĂŁo crente,
Que se possa casar Ă  sua estreitamente,
Como um floco de neve a um raio de luar!

Afrodite I

Móvel, festivo, trépido, arrolando,
Ă€ clara voz, talvez da turba iriada
De sereias de cauda prateada,
Que vĂŁo com o vento os carmes concertando,

O mar, – turquesa enorme, iluminada,
Era, ao clamor das águas, murmurando,
Como um bosque pagĂŁo de deuses, quando
Rompeu no Oriente o pálio da alvorada.

As estrelas clarearam repentinas,
E logo as vagas sĂŁo no verde plano
Tocadas de ouro e irradiações divinas;

O oceano estremece, abrem-se as brumas,
E ela aparece nua, Ă  flor de oceano,
Coroada de um cĂ­rculo de espumas.

Amor

Por teu ventre começa a minha vida,
Por teus olhos a estrela que me guia.
Amor, que Deus te salve! — Ave-Maria
Cheia de Graça ó Bem-Aparecida.

Por meu e por teu verbo de harmonia
Se fará eterna origem comovida
De outros frutos de Amor! — Ave-Maria,
Senhora da minh’alma apetecida.

E meu sangue amoroso e produtivo
Se fará carne e espírito fecundo
Ă€ tua imagem noutro corpo vivo.

E assim ambos, Amor, iremos ser
Seio da vida originando o mundo
Por teu ventre bendito de Mulher.

Aspiração

Deve ser bom morrer numa noite como essa!
Beber a luz do luar e sentir-lhe a embriaguez.
Quando se sofre assim, a morte Ă© uma promessa…
Vou tentar ser feliz pela Ăşltima vez.

Foi diferente a minha vida. Andou depressa.
O que fiz, o destino inclemente desfez.
Quando o amor se dilui e a saudade começa,
Talvez a morte seja um consolo… talvez.

Serei no cĂ©u pastor de estrelas… Entre os dedos
Prenderei um punhado delas, uma a uma,
E ao som da avena que um pastor-poeta me deu,

A lua se desmanchará sobre os rochedos,
Para que eu veja nela, em seu vulto de espuma,
A mulher que foi sombra e … desapareceu.

Soneto XVI

Já tramontado o Sol do assento puro,
Debuxadas se vĂŞem no claro rio
As seis filhas de Atlante pelo estio,
Cobre-se Electra, sĂł, de um manto escuro.

Já que com tanto risco me aventuro,
E sou tachado por escuro e frio,
Mostrem-se todos, que eu num sĂł desvio
De vergonha escondido estar procuro.

Mas bem sabeis, engenho ilustre e nobre,
Que inda que o lavrador bárbaro veja
Que nĂŁo sĂŁo mais que seis estas estrelas,

O Astrólogo sábio, que descobre
Mais avante e co’a vista alĂ©m peleja,
Diz que sĂŁo sete, esconde-se ua delas.

Soneto Da Enseada

Sou sempre o que está além de mim
como a ponte de Brooklyn ao pĂ´r-do-sol.
Sou o peixe buscado pelo anzol
e o caracol imĂłvel no jardim.

De mim mesmo me parto, qual navio,
e sou tudo o que vive além de mim:
o barulho da noite e o cheiro de jasmim
que corre entre as estrelas como um rio.

Quem atravessa a ponte logo aprende
que a vida Ă© simplesmente a travessia
entre um aquém e um além que são dois nadas.

Na madrugada escura a luz se acende.
Que luz? De que vigĂ­lia ou de que dia?
De que barco ancorado na enseada?

Lição Quotidiana

Cada manhĂŁ ressuscito
Do sono, esse irmĂŁo da Morte,
Que Ă© minha estrela do norte,
Meu professor de infinito.

Hora por hora medito
Sua lição clara e forte;
Mas nem assim minha sorte
Encaro menos aflito.

E, se acordo com o dia,
Cheio de fé e alegria,
Julgando-me imorredoiro,

Ă€ noite estou moribundo…
E em meu vazio tesoiro
Vejo o meu fim, e o do mundo!

Quinze Anos

Eu amo a vasta sombra das montanhas,
Que estendem sobre os largos continentes
Os seus braços de rocha negra, ingentes,
Bem como braços colossais aranhas.

D’ali o nosso olhar vĂŞ tĂŁo estranhas
Coisas, por esse céu! e tão ardentes
Visões, lá n’esse mar de ondas trementes!
E Ă s estrelas, d’ali, vĂŞ-as tamanhas!

Amo a grandeza misteriosa e vasta…
A grande ideia, como a flor e o viço
Da árvore colossal que nos domina…

Mas tu, criança, sĂŞ tu boa… e basta:
Sabe amar e sorrir… Ă© pouco isso?
Mas a ti sĂł te quero pequenina!

ImpassĂ­vel

Teu coração de mármore não ama
Nem um dia sequer, nem um sĂł dia.
Essa inclemente natureza fria
Jamais na luz dos astros se derrama.

Mares e céus, a imensidade clama
Por esse olhar d’estrelas e harmonia,
Sem uma névoa de melancolia,
Do amor nas pompas e na vida chama.

A Imensidade nunca mais quer vĂŞ-lo,
Indiferente às comoções, de gelo
Ao mar, ao sol, aos roseirais de aromas.

Ama com o teu olhar, que a tudo encantas,
Ou se antes de pedra, como as santas,
Mudas e tristes dentro das redomas.

Mil Anos Há que Busco a Minha Estrela

Mil anos há que busco a minha estrela
E os Fados dizem que ma tĂŞm guardada;
Levantei-me de noite e madrugada,
Por mais que madruguei, nĂŁo pude vĂŞ-la.

Já não espero haver alcance dela
SenĂŁo depois da vida rematada,
Que deve estar nos céus tão remontada
Que só lá poderei gozá-la e tê-la.

Pensamentos, desejos, esperança,
NĂŁo vos canseis em vĂŁo, nĂŁo movais guerra,
Façamos entre os mais uma mudança:

Para me procurar vida segura
Deixemos tudo aquilo que há na terra,
Vamos para onde temos a ventura.

Exaltação Ao Amor

Sofro, bem sei…Mas se preciso for
sofrer mais, mal maior, extraordinário,
sofrerei tudo o quanto necessário
para a estrela alcançar…colher a flor…

Que seja imenso o sofrimento, e vário!
Que eu tenha que lutar com força e ardor!
Como um louco, talvez, ou um visionário
hei de alcançar o amor…com o meu Amor!

Nada me impedirá que seja meu,
se Ă© fogo que em meu peito se acendeu,
e lavra, e cresce, e me consome o Ser…

Deus o pĂ´s…NinguĂ©m mais há de dispor…
Se esse amor nĂŁo puder ser meu viver,
há de ser meu para eu morrer de Amor!

TristĂŞza

O sol do outomno, as folhas a cair,
A minha voz baixinho soluçando,
Os meus olhos, em lagrimas, beijando
A terra, e o meu espirito a sorrir…

Eis como a minha vida vae passando
Em frente ao seu Phantasma… E fico a ouvir
Silencios da minh’alma e o resurgir
De mortos que me fĂ´ram sepultando…

E fico mudo, extatico, parado
E quasi sem sentidos, mergulhando
Na minha viva e funda intimidade…

SĂł a longinqua estrela em mim actua…
Sou rocha harmoniosa á luz da lua,
Petreficada esphinge de saudade…

Clarisse

“NĂŁo sei o que Ă© tristeza,” ela me disse…
E a sua boca virginal sorria:
Ninho de estrelas, concha de ambrosia
Cheia de rosas que do Céu caísse!

E eu docemente murmurei: Clarisse,
Será possĂ­vel que tu’alma fria
Ouvindo o choro da Melancolia
O ressábio do fel nunca sentisse?

Será possível que o teu seio, rosa,
Nunca embalasse a lágrima formosa?
Ah! não és rosa, pois não tens espinho!

E os olhos teus, dois templos de esperança,
Nunca viram sofrer uma criança,
Nunca viram morrer um passarinho!

A Grande Sede

Se tens sede de Paz e d’Esperança,
Se estás cego de Dor e de Pecado,
Valha-te o Amor, Ăł grande abandonado,
Sacia a sede com amor, descansa.

Ah! volta-te a esta zona fresca e mansa
Do Amor e ficarás desafogado,
Hás de ver tudo claro, iluminado
Da luz que uma alma que tem fé alcança.

O coração que é puro e que é contrito,
Se sabe ter doçura e ter dolência
Revive nas estrelas do Infinito.

Revive, sim, fica imortal, na essĂŞncia
Dos Anjos paira, nĂŁo desprende um grito
E fica, como os Anjos, na ExistĂŞncia.

Grande Amor

Grande amor, grande amor, grande mistério
Que as nossas almas trĂŞmulas enlaça…
Céu que nos beija, céu que nos abraça
Num abismo de luz profundo e sério.

Eterno espasmo de um desejo etéreo
E bálsamo dos bálsamos da graça,
Chama secreta que nas almas passa
E deixa nelas um clarão sidéreo.

Cântico de anjos e de arcanjos vagos
Junto às águas sonâmbulas de lagos,
Sob as claras estrelas desprendido…

Selo perpétuo, puro e peregrino
Que prende as almas num igual destino,
Num beijo fecundado num gemido.

TrĂŞs Rosas

Sempre, mas sobretudo nas brumosas
Horas da tarde, quando acaba o dia,
Quando se estrela o céu, tenho a mania
De descobrir, de ver almas nas cousas.

Pendem deste gomil trĂŞs lindas rosas;
Uma Ă© rosada, a outra branca e fria,
Rubra a terceira; e a minha fantasia
Torna-as humanas, vivas, amorosas.

Sei que sĂŁo rosas, rosas sĂł! mas nada
Impede, enquanto cai lá fora a chuva,
Que a minha mente a fantasiar se ponha:

Por ser noiva a primeira, Ă© que Ă© rosada;
Branca a segunda está, por ser viúva;
A vermelha pecou … e tem vergonha!

Doce Contentamento Já Passado

Doce contentamento já passado,
em que todo meu bem já consistia,
quem vos levou de minha companhia
e me deixou de vĂłs tĂŁo apartado?

Quem cuidou que se visse neste estado
naquelas breves horas de alegria,
quando minha ventura consentia
que de enganos vivesse meu cuidado?

Fortuna minha foi, cruel e dura,
aquela que causou meu perdimento,
com a qual ninguém pode ter cautela.

Nem se engane nenhĂĽa criatura,
que nĂŁo pode nenhum impedimento
fugir do que [lhe] ordena sua estrela.

Irradiações

Às crianças

Qual da amplidão fantástica e serena
Ă€ luz vermelha e rĂştila da aurora
Cai, gota a gota, o orvalho que avigora
A imaculada e cândida açucena.

Como na cruz, da triste Madalena
Aos pés de Cristo, a lágrima sonora
Caia, rolou, qual bálsamo que irrora
A negra mágoa, a indefinida pena…

Caia por vós, esplêndidas crianças
Bando feliz de castas esperanças,
Sonhos da estrela no infinito imersas;

Caia por vĂłs, as mĂşsicas formosas,
Como um dilĂşvio matinal de rosas,
Todo o luar benéfico dos versos!

Quando o Sol Torna donde vos Deixou

Quando o Sol torna donde vos deixou,
Tanto com os vossos olhos se parece,
Que quando a alma o vĂŞ, mais reconhece
Que por retrato vosso lhe ficou.

Assim, no prĂłprio Sol amor achou
Com que sempre presente vos tivesse,
Por que apartar um dia nĂŁo pudesse
O que ele em tantos dias ajuntou.

Depois que o Sol me esconde a terra avara,
Quantas estrelas abre a noite rica,
Com tantos olhos cuido que vos vejo.

Mas nem a sorte assim com o Céu trocara,
Que inda que com vos ver tĂŁo belo fica,
A beleza nĂŁo tem de meu desejo.