Sonetos sobre Melhoras

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Sonetos de melhoras escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Deixa, Moreira, o Mundo

(Ao seu Amigo)

Deixa, Moreira, o mundo; Ă© tempo agora
De ver da praia firme o golfo insano,
As velas colhe, e o tarde desengano
Com levantadas mĂŁos devoto adora.

Repousa pois: o mundo hoje devora
Com enganos cruéis o peito humano;
E rindo-te de ver o antigo engano,
As antigas paixÔes såbio melhora.

Deixa Amor, deixa as Musas, e somente
Do Ilustre Baco o copo Ă  boca arrima;
Pois alegra a quem vive descontente:

Louva o homem discreto, o SĂĄbio estima;
Ama a virtude; mostra-te prudente;
Toma tabaco, fala Ă  tua Prima.

Soneto XXXXVI

Tanto que sente enfraquecer o alento,
Quebrado o brio e jĂĄ menos ligeira
Co’ a longa idade e vida derradeira,
[A] Águia a presa siguir cortar o vento.

Levanta o mais que pode o vĂŽo isento
E, firida do Sol desta maneira
Då no mar, recobrando a força inteira
E, com novo vigor, novo ornamento.

Quem nĂŁo vĂȘ figurada a grande glĂłria
De ua alma, cuja vida mal gastada
Com nova penitĂȘncia se melhora.

Ao alto se levanta co’a memĂłria,
E no divino amor toda abrasada
Cai no mar das lĂĄgrimas que chora.

LXXII

JĂĄ rompe, Nise, a matutina aurora
O negro manto, com que a noite escura,
Sufocando do Sol a face pura,
Tinha escondido a chama brilhadora.

Que alegre, que suave, que sonora,
Aquela fontezinha aqui murmura!
E nestes campos cheios de verdura
Que avultado o prazer tanto melhora!

SĂł minha alma em fatal melancolia,
Por te nĂŁo poder ver, Nise adorada,
NĂŁo sabe inda, que coisa Ă© alegria;

E a suavidade do prazer trocada,
Tanto mais aborrece a luz do dia,
Quanto a sombra da noite lhe agrada.

LXVIII

Apenas rebentava no oriente
A clara luz da aurora, quando Fido,
O repouso deixando aborrecido,
Se punha a contemplar no mal, que sente.

VĂȘ a nuvem, que foge ao transparente
AnĂșncio do crepĂșsculo luzido;
E vĂȘ de todo em riso convertido
O horror, que dissipara o raio ardente.

Por que (diz) esta sorte, que se alcança
Entre a sombra, e a luz, nĂŁo sinto agora
No mal, que me atormenta, e que me cansa?

Aqui toda a tristeza se melhora:
Mas eu sem o prazer de uma esperança
Passo o ano, e o mĂȘs, o dia, a hora.

Eu nĂŁo Sou de Ferro

Nize, eu nĂŁo sou de ferro, e atenuado,
Ainda que o fora, o uso me teria;
Porque enfim do trabalho na porfia
Se consome o metal mais obstinado.

Instrumento não hå tão reforçado,
Que resista do tempo Ă  bataria:
Gasta o martelo a safra, e a terra fria
Pouco a pouco consome o curvo arado.

Tudo assim Ă©: o amor o mais ardente,
No contĂ­nuo incĂȘndio se evapora;
E o mesmo me acontece ultimamente.

Outro procura pois; e te melhora
De amante, ou mais afouto, ou mais valente;
Que eu jĂĄ nĂŁo posso mais; fica-te embora.

Paz!

E a Vida foi, e Ă© assim, e nĂŁo melhora.
Esforço inutil, crĂȘ! Tudo Ă© illuzĂŁo…
Quantos nĂŁo scismam n’isso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!

Mas a Arte, o Lar, um filho, Antonio? Embora!
Chymeras, sonhos, bolas de sabĂŁo.
E a tortura do além e quem lå mora!
Isso Ă©, talvez, minha unica afflicção…

Toda a dor pode suspportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva… essa que traz…

Mas uma nĂŁo: Ă© a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar n’esse convento
Que ha além da Morte e que se chama A Paz!

LXIII

JĂĄ me enfado de ouvir este alarido,
Com que se engana o mundo em seu cuidado;
Quero ver entre as peles, e o cajado,
Se melhora a fortuna de partido.

Canse embora a lisonja ao que ferido
Da enganosa esperança anda magoado;
Que eu tenho de acolher-me sempre ao lado
Do velho desengano apercebido.

Aquele adore as roupas de alto preço,
Um siga a ostentação, outro a vaidade;
Todos se enganam com igual excesso.

Eu nĂŁo chamo a isto jĂĄ felicidade:

Ao campo me recolho, e reconheço,
Que nĂŁo hĂĄ maior bem, que a soledade.