A Esterilidade do Quotidiano

Rara serĂĄ a existĂȘncia que actualmente se nĂŁo deixe balouçar ao sabor das correntes, cada hora impelida a um rumo diferente pela Ășltima notĂ­cia que se leu ou pela Ășltima conversa que se teve. Sem fim a que aponte, a alma da maioria dos homens flutua na vida com a fraca vontade e a gelatinosa consistĂȘncia das medusas; um dia se sucede a outro dia sem que o viver represente uma conquista, sem que a manhĂŁ que renasce seja uma criação do nosso prĂłprio espĂ­rito e nĂŁo o fenĂłmeno exterior que passivamente se aceita e que por hĂĄbito nos impele a um determinado nĂșmero de acçÔes; desfez-se a crença em que o mundo Ă© formado pelo homem, em que o reino de Deus terĂĄ de ser obtido, nĂŁo como uma dĂĄdiva dependente do arbĂ­trio de um ente superior, mas como a paciente, firme, contĂ­nua construção dos seus futuros habitantes. DaĂ­ a facilidade das entregas aos que ainda aparecem com dedos de escultor, daĂ­ os desĂąnimos e as indiferenças, daĂ­ o supor-se que apenas surgimos no mundo para nos garantirmos, diariamente, um almoço, um jantar e uma casa; perdem-se as almas nas tarefas inferiores do existir, nenhuma grande aspiração de beleza,

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