Passagens sobre VolĂşpia

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Frases sobre volúpia, poemas sobre volúpia e outras passagens sobre volúpia para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Boca

III

Boca viçosa, de perfume a lírio,
Da lĂ­mpida frescura da nevada,
Boca de pompa grega, purpureada,
Da majestade de um damasco assĂ­rio.

Boca para deleites e delĂ­rio
Da volĂşpia carnal e alucinada,
Boca de Arcanjo, tentadora e arqueada,
Tentando Arcanjos na amplidĂŁo do EmpĂ­rio,

Boca de Ofélia morta sobre o lago,
Dentre a auréola de luz do sonho vago
E os faunos leves do luar inquietos…

Estranha boca virginal, cheirosa,
Boca de mirra e incensos, milagrosa
Nos filtros e nos tĂłxicos secretos…

II Bacio

O Beijo! malva-rosa em jardim de carĂ­cias!
Vivo acompanhamento no piano dos dentes
Dos refrĂŁos que Amor canta nas almas ardentes
Com a sua voz de arcanjo em lânguidas delícias!

Divino e gracioso Beijo, tĂŁo sonoro!
Volúpia singular, álcool inenarrável!
O homem, debruçado na taça adorável,
Deleita-se em venturas que nunca se esgotam.

Como o vinho do Reno e a mĂşsica, embalas
E consolas a mágoa, que expira em conjunto
Com os lábios amuados na prega purpĂşrea…
Que um maior, Goethe ou Will, te erga um verso clássico.

Quanto a mim, trovador franzino de Paris,
Só te ofereço um bouquet de estrofes infantis:
Sê benévolo e desce aos lábios insubmissos
De Uma que eu bem conheço, Beijo, e neles ri.

Tradução de Fernando Pinto do Amaral

Horas Rubras

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volĂşpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…

Oiço olaias em flor Ă s gargalhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
SĂŁo pedaços de prata p’las estradas…

Os meus lábios sĂŁo brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…

Sou chama e neve e branca e mist’riosa…
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ă“ meu Poeta, o beijo que procuras!

DivĂłrcio

Cidade muda, rente a meu lado,
Como um fantasma sob a neblina…
Há cem mil rostos. Tanto soldado
E tanto abraço desesperado
Nesta cidade tĂŁo masculina!

Cidade muda como um soldado.

Cidade cega. Todos os dias,
A nossa vida fica mais breve,
As nossas mĂŁos ficam mais frias…
Todos os dias, todos os dias,
A morte paga, paga a quem deve.

Cidade cega todos os dias.

Cidade oblĂ­qua. Sexo pesado.
Rio de cinza, lĂşgubre e lento…
Bandeira negra, barco parado,
Nunca o teu nome foi baptizado
Nem o teu beijo foi casamento!

Cidade minha, do meu pecado…

Cidade estranha, sabes que existo?
Os homens passam… Para onde vĂŁo?
SĂł tem amores quem nĂŁo for visto.
Por isso canto, sĂł porque insisto
Em dar combates à tentação.

Oh! a volĂşpia de nĂŁo ser visto!

A Ilusão da Distância e do Futuro

Dá-se com os longes o que se dá com o futuro. Todo um mundo vago se abre Ă  nossa alma, a nossa sensibilidade perde-se nele como o nosso olhar, e nĂłs aspiramos, ah, a entregar todo o nosso ser, para que a volĂşpia de um sentimento grande, Ăşnico, majestoso o encha completamente . – E, ai de nĂłs, quando para lá corremos e o ali se torna aqui, tudo continua como dantes, e nĂłs ficamos com a nossa pobreza e as nossas limitações, e a nossa alma suspira pelo conforto que lhe escapou.

Nossa MemĂłria

Nossa memĂłria sempre foi a memĂłria
dos monstros nosso enigmático testamento
de altas labaredas sempre foi
o caminho
devastado pelo sangue pela circuncisa memĂłria
dos mortos pelo perfil
dos astros — nossa colorida volúpia
sempre foi dos monstros
a mais crua linguagem hĂşmida fuga
desolada
através do tempo através do medo
de nĂŁo sermos belos de nĂŁo sabermos
esculpir na cinza o sopro
de tanta luz tão prostituída —

No fundo, nĂŁo há bons nem maus. Há apenas os que sentem prazer em fazer o bem e os que sentem prazer em fazer o mal. Tudo Ă© volĂşpia…

VolĂşpia Imortal

Cuidas que o genesĂ­aco prazer,
Fome do átomo e eurítmico transporte
De todas as moléculas, aborte
Na hora em que a nossa carne apodrecer?!

NĂŁo! Essa luz radial, em que arde o Ser,
Para a perpetuação da Espécie forte,
Tragicamente, ainda depois da morte,
Dentro dos ossos, continua a arder!

Surdos destarte a apĂłstrofes e brados,
Os nossos esqueletos descamados,
Em convulsivas contorções sensuais,

Haurindo o gás sulfídrico das covas,
Com essa volĂşpia das ossadas novas
HĂŁo de ainda se apertar cada vez mais!

Visio

Eras pálida. E os cabelos,
Aéreos, soltos novelos,
Sobre as espáduas caĂ­am…
Os olhos meio cerrados
De volĂşpia e de ternura
Entre lágrimas luziam…
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiam…

Depois, naquele delĂ­rio,
Suave, doce martĂ­rio
De pouquĂ­ssimos instantes,
Os teus lábios sequiosos,
Frios, trĂŞmulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se casavam
Nossas almas palpitantes…

Depois… depois a verdade,
A fria realidade,
A solidĂŁo, a tristeza;
Daquele sonho desperto,
Olhei… silĂŞncio de morte
Respirava a natureza —
Era a terra, era o deserto,
Fora-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.

Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
Lábios trêmulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e veemente;
Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a fantasia doente.

E agora te vejo. E fria
Tão outra estás da que eu via
Naquele sonho encantado!

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Rosa, ó pura contradição, volúpia
de ser o sono de ninguém sob tantas
pálpebras.

Não Tenho Rancores nem Ódios

Pertenço a uma geração que ainda está por vir, cuja alma nĂŁo conhece já, realmente, a sinceridade e os sentimentos sociais. Por isso nĂŁo compreendo como Ă© que uma criatura fica desqualificada, nem como Ă© que ela o sente. É oca de sentido, para mim, toda essa (…) das conveniĂŞncias sociais. NĂŁo sinto o que Ă© honra, vergonha, dignidade. SĂŁo para mim, como para os do meu alto nĂ­vel nervoso, palavras de uma lĂ­ngua estrangeira, como um som anĂłnimo apenas.
Ao dizerem que me desqualificaram, eu não percebo senão que se fala de mim, mas o sentido da frase escapa-me. Assisto ao que me acontece, de longe, desprendidamente, sorrindo ligeiramente das coisas que acontecem na vida. Hoje, ainda ninguém sente isto; mas um dia virá quem o possa perceber.
Procurei sempre ser espectador da vida, sem me misturar nela. Assim, a isto que se passa comigo, eu assisto como um estranho; salvo que tiro dos pobres acontecimentos que me cercam a volĂşpia suave de (…).

NĂŁo tenho rancor nenhum a quem provocou isto. Eu nĂŁo tenho rancores nem Ăłdios. Esses sentimentos pertencem Ă queles que tĂŞm uma opiniĂŁo, ou uma profissĂŁo ou um objectivo na vida. Eu nĂŁo tenho nada dessas coisas.

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Alegria

De passadas tristezas, desenganos
amarguras colhidas em trinta anos,
de velhas ilusões,
de pequenas traições
que achei no meu caminho…,
de cada injusto mal, de cada espinho
que me deixou no peito a nĂłdoa escura

duma nova amargura…
De cada crueldade
que pĂ´s de luto a minha mocidade…
De cada injusta pena
que um dia envenenou e ainda envenena
a minha alma que foi tranquila e forte…
De cada morte
que anda a viver comigo, a minha vida,
de cada cicatriz,
eu fiz
nem tristeza, nem dor, nem nostalgia
mas herĂłica alegria.

Alegria sem causa, alegria animal
que nenhum mal
pode vencer.
Doido prazer
de respirar!
VolĂşpia de encontrar
a terra honesta sob os pés descalços.

Prazer de abandonar os gestos falsos,
prazer de regressar,
de respirar
honestamente e sem caprichos,
como as ervas e os bichos.
Alegria voluptuosa de trincar
frutos e de cheirar rosas.

Alegria brutal e primitiva
de estar viva,
feliz ou infeliz
mas bem presa Ă  raĂ­z.

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Dilacerações

Ă“ carnes que eu amei sangrentamente,
Ă“ volĂşpias letais e dolorosas,
EssĂŞncias de heliĂłtropos e de rosas
De essĂŞncia morna, tropical, dolente…

Carnes virgens e tépidas do Oriente
Do Sonho e das Estrelas fabulosas,
Carnes acerbas e maravilhosas,
Tentadoras do sol intensamente…

Passai, dilaceradas pelos zeros,
Através dos profundos pesadelos
Que me apunhalam de mortais horrores…

Passai, passai, desfeitas em tormentos,
Em lágrimas, em prantos, em lamentos,
Em ais, em luto, em convulsões, em cores…