SĂł as crianças e os velhos conhecem a volĂșpia de viver dia-a-dia, hora a hora, e suas esperas e desejos nunca se estendem alĂ©m de cinco minutos…
Passagens sobre VolĂșpia
53 resultadosO Sexo é um Caso Sério
Pensai no casal mais belo, mais encantador, como ele se atrai e se repele, se deseja e foge um do outro com graça num belo jogo de amor. Chega o instante da volĂșpia, e toda a brincadeira, toda a alegria graciosa e doce de sĂșbito desapareceram. PorquĂȘ? Porque a volĂșpia Ă© bestial, e a bestialidade nĂŁo ri. As forças da natureza agem por toda a parte seriamente. A volĂșpia dos sentidos Ă© o oposto do entusiasmo que nos abre o mundo ideal. O entusiasmo e a volĂșpia sĂŁo graves e nĂŁo comportam a brincadeira.
O Futuro Ă© dos Virtuosos e dos Capazes
à preciso confessar, o presente é dos ricos, e o futuro é dos virtuosos e dos capazes. Homero ainda vive, e viverå sempre; os recebedores de direitos, os publicanos, não existem mais: existiram algum dia? A sua påtria, os seus nomes, são conhecidos? Houve arrecadores de impostos na Grécia? Que fim levaram essas personagens que desprezavam Homero, que só pensavam, na rua, em evitå-lo, não correspondiam à sua saudação, ou o saudavam pelo nome, desdenhavam associå-lo à sua mesa, olhavam-no como um home que não era rico e fazia um livro?
O mesmo orgulho que faz elevar-se altivamente acima dos seus inferiores, faz rastejar vilmente diante dos que estĂŁo acima de si. Ă prĂłprio deste vĂcio, que nĂŁo se funda sobre o mĂ©rito pessoal nem sobre a virtude, e sim sobre as riquezas, cargos, crĂ©dito, e sobre ciĂȘncias vĂŁs, levar-nos igualmente a desprezar os que tĂȘm menos essa espĂ©cie de bens do que nĂłs e a apreciar demais aqueles que tĂȘm uma medida que excede a nossa.HĂĄ almas sujas, amassadas com lama e sujidade, tomadas pelo desejo de ganho e interesse, como as belas almas o sĂŁo pelo da glĂłria e da virtude: capazes de uma Ășnica volĂșpia,
MĂșsica Da Morte
A musica da Morte, a nebulosa,
Estranha, imensa musica sombria,
Passa a tremer pela minh’alma e fria
Gela, fica a tremer, maravilhosa…Onda nervosa e atroz, onda nervosa,
Letes sinistro e torvo da agonia,
Recresce a lancinante sinfonia,
Sobe, numa volĂșpia dolorosa…Sobe, recresce, tumultuando e amarga,
Tremenda, absurda, imponderada e larga,
De pavores e trevas alucina…E alucinando e em trevas delirando,
Como um Ăpio letal, vertiginando,
Os meus nervos, letĂĄrgica, fascina…
A volĂșpia de castigar nos induz a lamentar o bom comportamento dos outros.
Amor Comparado
Queres ter uma ideia do amor, vĂȘ os pardais do teu jardim; vĂȘ os teus pombos; contempla o touro que se leva Ă tua vitela; olha esse orgulhoso cavalo que dois valetes teus conduzem Ă Ă©gua em paz que o espera, e que desvia a cauda para recebĂȘ-lo; vĂȘ como os seus olhos cintilam; ouve os seus relinchos; contempla os seus saltos, camabalhotas, orelhas eriçadas, boca que se abre com pequenas convulsĂ”es, narinas que se inflam, sopro inflamado que delas sai, crinas que se revolvem e flutuam, movimento imperioso com o qual o cavalo se lança para o objecto que a natureza lhe destinou; mas nĂŁo tenhas inveja, e pensa nas vantagens da espĂ©cie humana: elas compensam com amor todas as que a natureza deu aos animais, força, beleza, ligeireza, rapidez. HĂĄ atĂ© mesmo animais que nĂŁo sabem o que Ă© o gozo. Os peixes escamados sĂŁo privados dessa doçura: a fĂȘmea lança no lodo milhĂ”es de ovos; o macho que os encontra passa sobre eles e fecunda-os com a sua semente, sem saber a que fĂȘmea eles pertencem. A maior parte dos animais que copulam sĂł tĂȘm prazer por um sentido; e, assim que esse apetite Ă© satisfeito, tudo se extingue.
Na cama estĂĄ deitada a deusa, a soberana dos sonhos. Mas como Ă© que ela veio aqui? Quem a trouxe, que poder mĂĄgico a instalou neste trono de fantasia e de volĂșpia?
DemĂŽnios
A lĂngua vil, ignĂvoma, purpĂșrea
Dos pecados mortais bava e braveja,
Com os seres impoluĂdos mercadeja,
Mordendo-os fundo injĂșria por injĂșria.Ă um grito infernal de atroz luxĂșria,
Dor de danados, dor do Caos que almeja
A toda alma serena que viceja,
SĂł fĂșria, fĂșria, fĂșria, fĂșria, fĂșria!SĂŁo pecados mortais feitos hirsutos
DemĂŽnios maus que os venenosos frutos
Morderam com volĂșpia de quem ama…Vermes da Inveja, a lesma verde e oleosa,
AnÔes da Dor torcida e cancerosa,
Abortos de almas a sangrar na lama!
VolĂșpia
No divino impudor da mocidade,
Nesse ĂȘxtase pagĂŁo que vence a sorte,
Num frĂȘmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido Ă morte!A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
– Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volĂșpia e de maldade!Trago dĂĄlias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!E do meu corpo os leves arabescos
VĂŁo-te envolvendo em cĂrculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…
Alimentar o Ego
Para quem faz do sonho a vida, e da cultura em estufa das suas sensaçÔes uma religiĂŁo e uma polĂtica, para esse primeiro passo, o que acusa na alma que ele deu o primeiro passo, Ă© o sentir as coisas mĂnimas extraordinĂĄria â e desmedidamente. Este Ă© o primeiro passo, e o passo simplesmente primeiro nĂŁo Ă© mais do que isto. Saber pĂŽr no saborear duma chĂĄvena de chĂĄ a volĂșpia extrema que o homem normal sĂł pode encontrar nas grandes alegrias que vĂȘm da ambição subitamente satisfeita toda ou das saudades de repente desaparecidas, ou entĂŁo nos actos finais e carnais do amor; poder encontrar na visĂŁo dum poente ou na contemplação dum detalhe decorativo aquela exasperação de senti-los que geralmente sĂł pode dar, nĂŁo o que se vĂȘ ou o que se ouve, mas o que se cheira ou se gosta â essa proximidade do objecto da sensação que sĂł as sensaçÔes carnais â o tacto, o gosto, o olfacto – esculpem de encontro Ă consciĂȘncia; poder tornar a visĂŁo interior, o ouvido do sonho â todos os sentidos supostos e do suposto â recebedores e tangĂveis como sentidos virados para o externo: escolho estas, e as anĂĄlogas suponham-se,
Soneto da Nudez
HĂĄ um misto de azul e trevas agitadas
Nesse felino olhar de lĂșbrica bacante.
Quando lhe cai aos pés a roupa flutuante,
Contemplo, mudo e absorto, as formas recatadas.Nessa mulher esplende um poema deslumbrante
De volĂșpia e langor; em noites tresloucadas
Que suave nĂŁo Ă© nas rosas perfumadas
De seus lĂĄbios beber o aroma inebriante!Fascina, quando a vejo Ă noite seminua,
Postas as mĂŁos no seio, onde o desejo estua,
A boca descerrada, amortecido o olhar…Fascina, mas sua alma Ă© lodo, onde nĂŁo pousa
Um raio dessa aurora, o amor, sublime cousa!
Raio de luz perdido em tormentoso mar!
Ă preciso abraçar a volĂșpia, fartar-se de prazeres e nĂŁo ter medo da morte.
O Bem Supremo
Muito discutiu a antiguidade em torno do supremo bem. O que Ă© o supremo bem? Seria o mesmo que perguntar o que Ă© o supremo azul, o supremo acepipe, o supremo andar, o ler supremo, etc. Cada um pĂ”e a felicidade onde pode, e quanto pode ao seu gosto. (…) Sumo bem Ă© o bem que vos deleita a ponto de nos polarizar toda a sensibilidade, assim como mal supremo Ă© aquele que vos torna completamente insensĂvel. Eis os dois pĂłlos da natureza humana. Esses dois momentos sĂŁo curtos. NĂŁo existem deleites extremos nem extremos tormentos capazes de durar a vida inteira. Supremo bem e supremo mal sĂŁo quimeras.Conhecemos a bela fĂĄbula de CrĂąntor, que fez comparecer aos jogos olĂmpicos a Fortuna, a VolĂșpia, a SaĂșde e a Virtude.
Fortuna: – O sumo bem sou eu, pois comigo tudo se obtĂ©m.
VolĂșpia: – Meu Ă© o pomo, porquanto nĂŁo se aspira Ă riqueza senĂŁo para ter-me a mim.
SaĂșde: – Sem mim nĂŁo hĂĄ volĂșpia e a riqueza seria inĂștil.
Virtude: – Acima da riqueza, da volĂșpia e da saĂșde estou eu, que embora com ouro, prazeres e saĂșde pode haver infelicidade, se nĂŁo hĂĄ virtude.
Dança Do Ventre
Torva, febril, torcicolosamente,
Numa espiral de elétricos volteios,
Na cabeça, nos olhos e nos seios
FluĂam-lhe os venenos da serpente.Ah! que agonia tenebrosa e ardente!
Que convulsĂ”es, que lĂșbricos anseios,
Quanta volĂșpia e quantos bamboleios,
Que brusco e horrĂvel sensualismo quente.O ventre, em pinchos, empinava todo
Como reptil abjecto sobre o lodo,
Espolinhando e retorcido em fĂșria.Era a dança macabra e multiforme
De um verme estranho, colossal, enorme,
Do demĂŽnio sangrento da luxĂșria!
O Poema Ensina a Cair
O poema ensina a cair
sobre os vĂĄrios solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausĂȘncia excedeatĂ© Ă queda vinda
da lenta volĂșpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nĂłs uma homenagem
pĂłstuma.
SĂł as crianças e os bem velhinhos conhecem a volĂșpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças sĂŁo breves.
A razĂŁo por que os democratas nĂŁo gostam dos gatos, Ă© fĂĄcil adivinhĂĄ-la. O gato Ă© belo; revela idĂ©ias de luxo, de asseio, de volĂșpia, etc.
Sem dĂșvida OvĂdio: NĂŁo Ă© a arte que faz vogar os barcos rĂĄpidos com o auxĂlio da vela e do remo? que guia na carreira os carros ligeiros? A arte tambĂ©m deve governar o amor⊠NĂŁo abandona em meio caminho tua amante, desfraldando sozinho tuas velas. Ă lado a lado que se arriba ao porto, quando soa a hora da volĂșpia plena e,vencidos a um sĂł tempo, jazem a mulher e o homem lado a lado. Foge ao medo que apressa, Ă obra furtiva.
Vox VictiĂŠ
Morto! ConsciĂȘncia quieta haja o assassino
Que me acabou, dando-me ao corpo vĂŁo
Esta volĂșpia de ficar no chĂŁo
Fruindo na tabidez sabor divino!Espiando o meu cadĂĄver resupino,
No mar da humana proliferação,
outras cabeças aparecerão
Para compartilhar do meu destino!Na festa genetlĂaca do Nada,
Abraço-me com a terra atormentada
Em contubĂ©rnio convulsionador …E ai! Como Ă© boa esta volĂșpia obscura
Que une os ossos cansados da criatura
Ao corpo ubiqĂŒitĂĄrio do Criador!
Extrema, toco-te o rosto. De ti me vem
Ă ponta dos meus dedos, o ouro da volĂșpia
E o encanto glabro das avencas
De te me vem. […]