Canção Grata
Por tudo o que me deste:
— Inquietação, cuidado,
(Um pouco de ternura? É certo, mas tão pouco!)
Noites de insónia, pelas ruas, como um louco…
— Obrigado, obrigado!Por aquela tão doce e tão breve ilusão.
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,
Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita
A minha gratidão!Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!
— Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado…
Sem ironia, amor: — Obrigado, obrigado
Por tudo o que me deste!
Passagens sobre Bem
3255 resultadosA felicidade é a posse perpétua da condição de estar bem enganado, o estado pacífico e sereno de ser um tolo entre canalhas.
Se me vem tanta glória só de olhar-te
Se me vem tanta glória só de olhar-te,
É pena desigual deixar de ver-te;
Se presumo com obras merecer-te,
Grão paga de um engano é desejar-te.Se aspiro por quem és a celebrar-te,
Sei certo por quem sou que hei-de ofender-te;
Se mal me quero a mim por bem querer-te,
Que prémio querer posso mais que amar-te?Porque um tão raro amor não me socorre?
Ó humano tesouro! Ó doce glória!
Ditoso quem à morte por ti corre!Sempre escrita estarás nesta memória;
E esta alma viverá, pois por ti morre,
Porque ao fim da batalha é a vitória.
Botafogo é bem mais que um clube. É uma predestinação celestial.
O Meio de Sedução deste Mundo
O meio de sedução deste mundo, bem como o signo de garantia de que ele é apenas uma transição, é uma e a mesma coisa. Com razão, pois só assim este mundo nos pode seduzir de uma forma que corresponda à verdade. O pior, no entanto, é que, depois da sedução bem-sucedida, nós esquecemo-nos da garantia; foi dessa maneira, na realidade, que o bem nos atraiu para o mal, e o olhar da mulher, para a sua cama.
Soneto
Agora é tarde para novo rumo
Dar ao sequioso espírito; outra via
Não terei de mostrar-lhe e à fantasia
Além desta em que peno e me consumo.Aí, de sol nascente a sol a prumo,
Deste ao declínio e ao desmaiar do dia,
Tenho ido empós do ideal que me alumia,
A lidar com o que é vão, é sonho, é fumo.Aí me hei de ficar até cansado
Cair, inda abençoando o doce e amigo
Instrumento em que canto e a alma me encerra;Abençoando-o por sempre andar comigo
E bem ou mal, aos versos me haver dado
Um raio do esplendor de minha terra.
Desde que os consiga fazer rir, não importa como, eu ficarei bem. Se tiver sucesso nisso, os seres humanos provavelmente não se importarão muito que eu continue fora das suas vidas. A única coisa que eu preciso de evitar é tornar-me ofensivo aos seus olhos: não serei nada, o vento, o céu.
A sabedoria consiste em ordenar bem a nossa própria alma.
A liberdade, esse bem que nos permite desfrutar dos outros bens.
Quem tenta convencer uma multidão de que ela não está a ser tão bem governada como deveria ser, nunca deixará de ter ouvintes atentos e favoráveis.
Se os proxenetas e os ladrões fossem sempre condenados em toda parte, as pessoas de bem, julgar-se-iam todas e incessantemente inocentes.
Sonetinho
Não tenho jeito pra trova
apesar das que já fiz
a quadra lembra uma cova
com a cruz dos versos em X…Ainda estou vivo e feliz
e do que digo dou prova:
– tentei cantar, numa trova,
e o meu amor pediu bis.Bem sei que é meu o defeito.
mas uma trova é tão pouco
que ao meu cantar não dá jeito…Só mesmo um poema é capaz
de conter o amor demais
que trago dentro do peito
Dotado de Verdadeira Virtude
O que é dotado de verdadeira virtude tem os seus males por fora, os seus bens por dentro. Pelo contrário o amigo de glória vã, o hipócrita, o mundano, os seus males estão por dentro, porque são verdadeiros; e os seus bens por fora, porque são imaginados, e aparentes.
Entre todas as virtudes somente a humildade se ignora a si mesma: como traz os olhos baixos, e fitos no abismo do seu nada, não reflecte sobre o seu conhecimento, porque o verdadeiro humilde não presume que o seja.
Faço o que gosto, rigorosamente o que gosto, quando gosto, como gosto, no meu espaço e ainda me pagam bem. Não tenho ninguém em quem mandar, ninguém manda em mim. Agora parece fácil, mas na altura em que escolhi ficar em casa, sem nada de certo, arriquei.
Sociedade de Indivíduos Normalizados
O apagamento da personalidade acompanha as condições da existência concretamente submetida às normas espectaculares da sociedade de consumo, e também cada vez mais separada das possibilidades de conhecer experiências que sejam autênticas e, através delas, descobrir as suas preferências individuais.
O indivíduo, paradoxalmente, deverá negar-se permanentemente se pretende ser um pouco considerado nesta sociedade. Esta existência postula com efeito uma fidelidade sempre variável, uma série de adesões constantemente enganosas a produtos falaciosos. Trata-se de correr rapidamente atrás da inflacção dos sinais depreciados da vida.
Em todas as espécies de assuntos desta sociedade, onde a distribuição dos bens está de tal maneira centralizada que se tornou proprietária, de uma forma simultaneamente notória e secreta, da própria definição do que poderá ser o bem, acontece atribuir-se a certas pessoas qualidades, ou conhecimentos ou, por vezes, mesmo vícios, perfeitamente imaginários, para explicar através de tais causas o desenvolvimento satisfatório de certas empresas; e isto com o único fim de esconder, ou pelo menos dissimular tanto quanto possível, a função de diversos acordos que decidem sobre tudo.
A clérigo mudo, todo o bem lhe foge.
Quem lê, deve cuidar de duas coisas: seleccionar os livros e lê-los bem.
É mais importante bem viajar que chegar.
Litania do Natal
A noite fora longa, escura, fria.
Ai noites de Natal que dáveis luz,
Que sombra dessa luz nos alumia?
Vim a mim dum mau sono, e disse: «Meu Jesus…»
Sem bem saber, sequer, porque o dizia.E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
Na cama em que jazia,
De joelhos me pus
E as mãos erguia.
Comigo repetia: «Meu Jesus…»
Que então me recordei do santo dia.E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
Ai dias de Natal a transbordar de luz,
Onde a vossa alegria?
Todo o dia eu gemia: «Meu Jesus…»
E a tarde descaiu, lenta e sombria.E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
De novo a noite, longa, escura, fria,
Sobre a terra caiu, como um capuz
Que a engolia.
Deitando-me de novo, eu disse: «Meu Jesus…»E assim, mais uma vez, Jesus nascia.
A Vida
“A Vida”
V
Isso tudo nos dizem, – entretanto
nós dois seguimos braços dados,
creio que se tu sabes que te adore tanto
do que ouviste talvez não tens receio…A vida, – é o nosso amor, o nosso encanto!
Nem a podemos mais parar no meio…
Chorar? – bem sei que choras, mas teu pranto
é a alegria que canta no teu seio…O mundo é bom e nós o cremos, basta!
E se um amor tão grande nos enleva
e pela vida unidos nos arrasta,– que eu te abrace e te apoies sempre em mim,
e desafiando o mundo envolto em treva
sigamos juntos para um mesmo fim!