A caridade começa em casa e a justiça na porta ao lado.
Passagens sobre Casas
877 resultadosLá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa.
Se a Sua Vida Acabasse AmanhĂŁ
Quando foi a última vez que se riu com um amigo ao ponto de lhe doer a cara ou deixou as crianças com uma baby-sitter e foi passar todo o fim de semana fora? Vamos diretos ao assunto: se a sua vida acabasse amanhã, o que é que lamentaria não ter feito? Se este fosse o último dia da sua vida, passava-o da forma como o está a passar hoje? Uma vez passei por um outdoor que me chamou a atenção. Dizia: «Quem morrer com mais brinquedos morre na mesma.»
Qualquer pessoa que já tenha estado perto da morte lhe dirá que no fim da vida o mais provável é não se lembrar das diretas que fez a trabalhar no escritório ou quanto vale a sua conta-poupança. Os pensamentos que surgem são questões do tipo «e se», como por exemplo: Onde teria chegado se tivesse realmente feito as coisas que sempre quis fazer?
O dom de decidir encarar a mortalidade sem fugir nem virar a cara é o dom de reconhecer que, pelo facto de morrermos um dia, temos de viver agora. Se vai estagnar ou se vai crescer, isso depende sempre de si — você é quem mais influencia a sua vida.
A casa de amigo rico não vás sem ser requerido, mas à casa do necessitado vai sem ser chamado.
Uma das desgraças de nossa vida moderna é o fato de recebermos em casa tudo pronto e acabado para o consumo, obra de odiosos aparelhos mágicos.
ConfissĂŁo
Trinta e nove anos. Meia vida passada, se isto se for aguentando, tomba daqui, tomba dali. E tudo por fazer! Comecei tarde, sem nenhuma preparação, e com defeitos horrĂveis, que tenho ido limando pouco a pouco, mas que resistem como fortalezas. Nasci afirmativo demais, puritano demais, uno demais, apesar duma timidez confrangedora, duma aceitação natural da volĂşpia e duma dispersĂŁo aflitiva a cada instante. Tenho medo dum polĂcia e sou capaz de enfrentar um exĂ©rcito; passo a vida a praticar virtudes que proĂbo terminantemente aos outros; escrevo um poema, a dar uma consulta. De maneira que nunca consegui encontrar aquele equilĂbrio criador onde julgo existir o pomar das grandes obras. Debato-me entre forças contraditĂłrias, e ao cabo de cada livro sinto-me insatisfeito e culpado como um pecador que nĂŁo cumpriu bem a sua penitĂŞncia. NĂŁo tenho ambições fora da arte, e, dentro dela, sĂł desejo conquistar a glĂłria de a ter servido humilde e totalmente; mas nĂŁo consegui ainda dar-lhe tudo, jogar a vida e a morte por ela. Para isso era preciso calcar aos pĂ©s o homem civil que sou, e nĂŁo posso. Necessito de ter as minhas contas em dia como qualquer mortal honrado, e afligem-me os assuntos do mundo como casos pessoais.
A Mulher Virgem e o Amor
A mulher virgem, em geral, nĂŁo ama o homem com quem casa, embora frequentemente de tal se persuada: gosta dele, e esse gostar, que Ă© uma amizade, provocada em geral pelo amor do homem por ela, somando-se ao instinto sexual insatisfeito, ou seja Ă atracção sexual abstracta, forma um composto semi-emotivo que dá a ilusĂŁo do amor, (…) as suas emoções — aquela parte da sexualidade que nĂŁo Ă© sĂł sexual — ficam insatisfeitas. Nuns casos o instinto maternal, exercendo-se no aparecimento dos filhos, ou satisfaz essas emoções ou as esbate e acalma; noutros casos, a vida imaginativa consegue, em maior ou menor grau, satisfazĂŞ-las. Há casos, porĂ©m, em que ficam insatisfeitas e entĂŁo sĂł o fundo moral seguro e a […] moral forte, ou o senso […] e medroso da respeitabilidade social, podem — quando podem, e isso depende muito do temperamento que está por trás d’essas emoções — resistir ao aparecimento, quando e se ele se der, do homem em quem essas emoções se possam concentrar. Em todo o caso, e para bem moral dos resultados, o melhor Ă© o homem nĂŁo aparecer.
SĂł o maior dos sensos morais e da honestidade do dever pode evitar um desastre.
Primeira Casa
Muitas vezes, por outras casas
e noutros paĂses sonhava
com o soalho antigo e a varanda
onde um entardecer de plátanos
enchia o peito de uma secreta
ansiedade, sem motivo. O quarto
da Mãe, esse lugar de mistérios
fixara-se na sua memĂłria, como
um quadro de autor irremediavelmente
perdido. Sempre que regressava
minguava-lhe a coragem adiada
para pedir aos ocasionais locatários,
a permissĂŁo provavelmente estranha de
uma visita. Um dia a velha casa
debruçada sobre os telhados,
apareceu-lhe quase demolida e agora
avultava como um dente postiço, com
uma loja de lingerie barata no
rés-do-chão e um par de janelas
com alumĂnio e sem mistĂ©rio
onde os plátanos, há muito ceifados
pelo asfalto, recusariam entardecer.
A Casa Da Rua AbĂlio
A casa que foi minha, hoje Ă© casa de Deus.
Traz no topo uma cruz. Ali vivi com os meus,
Ali nasceu meu filho; ali, sĂł, na orfandade
Fiquei de um grande amor. Às vezes a cidadeDeixo e vou vê-la em meio aos altos muros seus.
Sai de lá uma prece, elevando-se aos céus;
SĂŁo as freiras rezando. Entre os ferros da grade,
Espreitando o interior, olha a minha saudade.Um sussurro também, como esse, em sons dispersos,
Ouvia não há muito a casa. Eram meus versos.
De alguns talvez ainda os ecos falaram,E em seu surto, a buscar o eternamente belo,
Misturados Ă voz das monjas do Carmelo,
Subirão até Deus nas asas da oração.
Como se Faz uma Declaração de Amor?
Mas entĂŁo como se faz uma declaração de amor? Em papel selado, na presença de um advogado. Por que nĂŁo? As piores declarações sĂŁo as pĂfias e clandestinas, do gĂ©nero «Acho-te uma pessoa muito interessante». As melhores sĂŁo aquelas que comprometem quem as faz, que se baseiam em provas capazes de serem apresentadas em tribunal, que fazem corar as testemunhas. As declarações do tipo «Experimentar-a-ver-se-dá» nunca dĂŁo. É melhor mandar imprimir 2000 folhetos e distribuĂ-los por avioneta Ă população, devidamente identificados, do que um bilhetinho anĂłnimo de «um admirador». As declarações de amor tĂŞm de cortar a respiração de quem as recebe, tĂŞm de rebentar na cara de quem as lĂŞ. O amor e o terrorismo sĂŁo questões de objectivo, e nĂŁo de grau.
Como estamos todos a zero, ninguém pode dar conselhos a ninguém. Há séculos que as maiores cabeças do mundo procuram a frase perfeita de apresentação. Há as deixas rascas, do género «Deixe-me adivinhar o seu signo» ou «Não costuma cá estar às terças-feiras, pois não?». Há as deixas pirosas, do género «Importa-se que eu lhe diga que você é muito bonita?» ou «Posso só dizer-lhe uma coisa? O seu namorado tem muita sorte!». Depois,
Estamos sempre dentro de uma casa totalmente segura, que Ă© a nossa Imagem Verdadeira indestrutĂvel. Se nĂŁo nos preocuparmos com a chuva (fenĂ´meno) que cai lá fora, nĂŁo seremos por ela atingidos.
Na casa onde Aureliano JosĂ© dormia a sesta, as moças da vizinhança recebiam os seus amantes casuais. “VocĂŞ me empresta o quarto, Pilar”, diziam simplesmente, quando já estavam dentro dele. “Claro”, dizia Pilar. E se alguĂ©m estivesse presente, explicava:
— Fico feliz sabendo que as pessoas estão felizes na cama. Jamais cobrava o serviço. Jamais negava o favor, como não o negara aos inumeráveis homens que a procuraram até o crepúsculo da sua maturidade, sem lhe proporcionar nem dinheiro nem amor, apenas, algumas vezes, prazer.
Vendo-a Sorrir
(A minha filha)
Filha, quando sorris, iluminas a casa
Dum celeste esplendor.
A alegria é na infância o que na ave é asa
E perfume na flor.Ă“ doirada alegria, Ăł virgindade santa
Do sorriso infantil!
Quando o teu lábio ri, filha, a minha alma canta
Todo o poema de Abril.Ao ver esse sorriso, Ăł filha, se concentro
Em ti o meu olhar,
Engolfa-se-me o céu azul pela alma dentro
Com pombas a voar.Sou o Sol que agoniza, e tu, meu anjo loiro,
És o Sol que se eleva.
Inunda-me de luz, sorri, polvilha de oiro
O meu manto de treva!
Nem sempre casa quem desposa.
Nas Trevas
Como estou sĂł no mundo! Como tudo
É lagrima e silencio!Ó tristêsa das Cousas, quando é noite
Na terra e em nosso espirito!… TristĂŞsa
Que se anuncia em vultos de arvoredos,
Em rochas diluidas na penumbra
E soluços de vento perpassando
Na tenebrosa lividez do cĂ©u…Ă“ tristĂŞsa das Cousas! Noite morta!
Pavor! Desolação! Escura noite!
Phantastica Paisagem,
Desde o soturno espaço á fria terra
Toda vestida em sombra de amargura!ĂŠrma noite fechada! Nem um leve
Riso vago de estrela se adivinha…
SĂłmente as grossas lagrimas da chuva
Escorrem pela face do Silencio…Piedade, noite negra! NĂŁo me beijes
Com esses labios mortos de Phantasma!Ă“ Sol, vem alumiar a minha dĂ´r
Que, perdida na sombra, se dilata
E mais profundamente se enraiza
Nesta carne a sangrar que é a minha alma!Ilumina-te, ó Noite! Ó Vento, cála-te!
Negras nuvens do sul, limpae os olhos,
Desanuviae a bronzea face morta!Oh, mas que noite amarga, toda cheia
Do teu Phantasma angelico e divino;
Espirito que,
Se tens siso, casa com mulher de juĂzo.
O amor, como as andorinhas, dá felicidade às casas.
Tem que se sair de casa para melhor querê-la e apreciá-la; os que se encerram em casa é mais para molestar aos seus e por falta de valor para lutar com os de fora.
As Canseiras Destinam-se a Satisfazer os Luxos
Nos dias de hoje, quem consideras tu como sábio? O tĂ©cnico que sabe montar repuxos de água perfumada atravĂ©s de canalizações invisĂveis, o que Ă© capaz de encher ou esvaziar num instante os canais artificiais, o que sabe dar diversas disposições aos caixotões mĂłveis do tecto de modo a que o salĂŁo de banquetes vá mudando de decoração Ă medida que vĂŁo surgindo os vários pratos? Ou antes aquele que demonstra, a si mesmo e aos outros, que a natureza nos nĂŁo impõe nada que seja duro e difĂcil, que para termos uma casa nĂŁo carecemos de marmoristas ou de marceneiros, que para nos vestirmos nĂŁo dependemos do comĂ©rcio da seda, em suma, que para dispormos do essencial Ă vida quotidiana nos basta aquilo que a terra nos apresenta Ă superfĂcie? Se a humanidade se dispusesse a seguir os conselhos de um tal homem imediatamente perceberia que tĂŁo inĂştil Ă© o cozinheiro como o soldado!
Os antigos, esses homens que satisfaziam sem quaisquer excessos as suas necessidades fĂsicas, eram de facto sábios, ou pelo menos muito prĂłximo de o serem. Para se obter o indispensável nĂŁo Ă© preciso muito esforço; as canseiras destinam-se a satisfazer os luxos. Tu podes dispensar todos os tĂ©cnicos: basta que sigas a natureza!
Vá frequentemente à casa de um amigo, pois as ervas daninhas obstruem o caminho não usado.