Todas as paixões passam e se apagam, excepto as mais antigas, aquelas da infância.
Passagens de Cesare Pavese
132 resultadosA dificuldade de praticar o suicídio está nisto: é um acto de ambição que só pode ser realizado depois de superada toda a espécie de ambição.
As desgraças não bastam para fazer de um cretino uma pessoa inteligente.
Em geral, quem não sabe dar um sentido à própria vida dispõe-se por profissão a sacrificar-se.
Não se deseja gozar. Deseja-se experimentar a vaidade de um prazer, para não se continuar obcecado por ele.
Fazer poesia é como fazer amor: nunca se saberá se a própria alegria é compartilhada.
Para agradar aos homens é preciso professar o que cada um desses homens repudia e odeia na sua vida secreta.
Uma coisa desagradável, se formos nós que a escolhemos, pode ser até um conforto, ao passo que, se for imposta por outrem, é toda sofrimento.
O fascínio subtil das convalescenças consiste no seguinte: regressar aos velhos hábitos com a ilusão de os descobrir.
Para se desprezar o dinheiro é preciso justamente tê-lo, e muito.
A política é a arte do possível. Toda a vida é política.
Não conseguimos livrar-nos de uma coisa evitando-a, mas apenas atravessando-a.
Toda a arte é um problema de equilíbrio entre dois opostos.
O Paradoxo da Sociedade totalmente Livre
A pessoa ou instituição que encarregamos de nos tornar felizes têm o direito de se queixarem se lhes recordarmos que, apesar de tudo, continuamos livres e senhores de recalcitrar. Tudo o que não conseguimos realizar sós, diminui a nossa liberdade. O doente nas mãos do médico é como a sociedade nas mãos do salvador – herói ou partido.
Como? Encarregamo-nos de organizar a sociedade – isto é, vós próprios, e depois, pretendeis continuar livres.
Precisamente porque não existe sociedade económica pura, toda a organização científica da economia contém em si a afirmação de uma mística – quer dizer, um credo estatal que atinge também a vida interior, e, assim como o organizador deve eliminar toda a heterodoxia económica, terá igualmente de eliminar as heterodoxias interiores.
Uma sociedade inteiramente orientada do ponto de vista económico e totalmente livre espiritualmente é uma contradição.
Todos os Prazeres Terminam pelo Enfartamento
Como o que o homem procura nos prazeres é um infinito, e como ninguém será jamais capaz de renunciar à esperança de atingir esse infinito, sucede, portanto, que todos os prazeres terminam pelo enfartamento. É um achado da Natureza para se arrancar violentamente a eles.
Deixa-se de ser jovem quando se compreende que de nada serve contar uma dor.
Dar Significado ao Tempo
Um dos prazeres humanos menos observados é o de preparar acontecimentos à distância, de organizar um grupo de acontecimentos que tenham uma construção, uma lógica, um começo e um fim. Este é quase sempre apercebido como um acme sentimental, uma alegre ou lisonjeira crise de conhecimento de si próprio. Isto aplica-se tanto à construção de uma resposta pronta como à de uma vida. E o que é isto, senão a premissa da arte de narrar? A arte narrativa apazigua precisamente esse gosto profundo.
O prazer de narrar e de escutar é o de ver os factos serem dispostos segundo aquele gráfico. A meio de uma narrativa volta-se às premissas e tem-se o prazer de encontrar razões, chaves, motivações causais. Que outra coisa fazemos quando pensamos no nosso próprio passado e nos comprazemos em reconhecer os sinais do presente ou do futuro? Esta construção dá, em substância, um significado ao tempo. E o narrar é, em suma, apenas um meio de o transformar em mito, de lhe fugir.
Perdoamos aos outros quando nos convém.
Há algo mais triste que falharmos os nossos ideais: é termos conseguido realizá-los.
O Sentido do Destino
O que verdadeiramente se passa não é que as coisas aconteçam a cada um segundo determinado destino, mas que cada um interpreta as coisas que lhe aconteceram, se tem capacidade para tal, dispondo-as em determinado sentido – o que significa, segundo determinado destino.