Passagens sobre Crianças

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Poema Quase Apostólico

Está sereno o poeta
Desprende-se-lhe dos ombros e cai
depois em pregas por ele abaixo a manhã
Não pertencem ao dia os gestos que ele tem
não morrerão na noite seus assombrosos passos
Dizem que ele volta a pôr em movimento a roda
de crianças de atitudes desmedidas
que o vento varreu e parque algum queria
E abre os braços para deixar cair na cidade
um ano favorável ao senhor
E põe o rosto do senhor por trás das suas palavras
Elas decerto o hão-de dar a quem as demandar

De que Valem a Experiência e o Conhecimento na Velhice?

«Envelheço aprendendo sempre» – Sólon, na sua velhice, repetia muitas vezes este verso. O sentido que esse verso possui permitir-me-ia dizê-lo também na minha; mas é bem triste o conhecimento que, desde há vinte anos, a experiência me fez adquirir: a ignorância ainda é preferível. A adversidade é, sem dúvida, um grande mestre, mas faz pagar caro as suas lições e muitas vezes o proveito que delas se tira não vale o preço que custaram. Aliás, a oportunidade de nos servirmos desse saber tardio passa antes de o termos adquirido.
A juventude é o tempo próprio para se aprender a sabedoria; a velhice é o tempo próprio para a praticar. A experiência instrui sempre, confesso, mas não é útil senão durante o espaço de tempo que temos à nossa frente. É no momento em que se vai morrer que se deve aprender como se deveria ter vivido?
De que me servem os conhecimentos que tão tarde e tão dolorosamente adquiri sobre o meu destino e sobre as paixões alheias de que ele é o fruto? Não aprendi a conhecer os homens senão para melhor sentir a desgraça em que me mergulharam e esse conhecimento, embora me revelasse todas as suas armadilhas,

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Eu penso muito sobre tudo, não posso evitar, vou de uma ideia para outra. E todos esses planos viram um sonho, que vejo crescer, progredir, vejo pessoas felizes através deles. Principalmente crianças.

Só um gênio conseguiria inventar um vidro de aspirinas impossível de ser aberto por uma criança que consegue fazer funcionar um gravador de vídeo.

A Velha Angra

Olhou sobre a velha Angra, aninhada aos pés do Monte Brasil, as araucárias erguendo-se contra o céu cinzento. Esquadrinhou com o olhar as suas ruas, os seus solares e palácios, as suas igrejas. Imaginou marinheiros e mercadores, saltimbancos e aventureiros a caminho das sete partidas do mundo. Charlatães bebiam vinho com missionários, soldados negociavam serviços com prostitutas, piratas persuadiam navegadores ao serviço do rei sobre novas e mais rentáveis rotas, de encontro ao Vento Carpinteiro. Havia escravos e bêbedos, burocratas e crianças furtivas, freiras e casais de condenados com destino ao Brasil, e toda essa gente circulava pela cidade como se fosse o seu sangue, incerto e veloz, bombeado por um coração descompassado que era o próprio movimento do mar, furioso, naufragando naus e galeões como numa tela de Vernet.

Tenho um Corpo a Sentir o que é de Todos

Tenho um corpo a sentir o que é de todos,
um espelho aonde não aparece tudo; nem a mão que
vai ao sonho tornando menor o ultraje da criança
dividida com fantasmas de adultos. Ali, só permanece
a soma dos noivos deitados sobre a própria imagem.

E subentende-se o espanto da alma que não imita
nada do homem. Ficam as medidas do corte por baixo
dos pontos, pois em cada parte do mundo te junto,
crio o que sou na morte adiantando
esse modelo inútil que está no berço.

E ele embalança por nada. Não sente o que está
dentro e não começa nunca antes da saudade: esse nó
que damos em nós mesmos depois de passado o tempo.

É Inútil Querer Parar o Homem

É inútil querer parar o Homem,
o que transforma a pedra em piso,
o piso em casa e a casa em fonte
de novas músicas da carne
sob as velocidades da luz e da sombra.
É inútil querer parar o Homem
acolher sempre um pouco de si próprio
no mistério da vida a cavalgar
os cavalos aéreos da semântica
sob uma indeferida eternidade.
É inútil querer parar o Homem
e o impulso que o transforma sempre
na pátria sem fim do ato livre
que arranca a vida e o tempo e as coisas
do espelho imóvel dos conceitos.
Ah, que mistério maior é este
que liga a liberdade e o homem
e une o homem a outros homens
como o curso de um rio ao mar!
(quando a noite é una e indivisível,
nos olhos da mulher que eu amo
acende-se o deus deste segredo
-e uma sombra só nos transporta
ao fundo sem nome da vida.)

É inútil querer parar o Homem.
Do que morre fica o gesto alto
a ser o germe de outro gesto
que ainda nem vemos no tempo.

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Amo-te nesta Ideia Nocturna da Luz nas Mãos

Amo-te nesta ideia nocturna da luz nas mãos
E quero cair em desuso
Fundir-me completamente.
Esperar o clarão da tua vinda, a estrela, o teu anjo
Os focos celestes que a candeia humana não iguala
Que os olhos da pessoa amada não fazem esquecer.
Amo tão grandemente a ideia do teu rosto que penso ver-te
Voltado para mim
Inclinado como a criança que quer voltar ao chão.

A Maior Necessidade do Homem

A maior necessidade do homem é sentir que é necessário. Se no mundo não existir ninguém que precise de nós, cometeremos suicídio, não conseguiremos viver. É estranho – talvez nunca tenham pensado nisto, que estamos continuamente à procura de quem precise de nós. Isto faz de nós seres preciosos, dá-nos valor, um certo significado. Talvez as mulheres se casem com os homens apenas para preencher a necessidade de se sentir necessária. E a razão poderá ser igualmente válida para os homens, talvez desejem sentir que uma determinada mulher precisa deles.

Os homens tentaram impedir as mulheres de ganharem dinheiro, de trabalharem, de se instruírem e educarem. As explicações para isso são de ordem política, económica, entre outras, mas a razão psicológica reside no facto de os homens desejarem a dependência das mulheres para que elas nunca deixem de precisar deles e os façam sentirem-se bem por haver alguém que precisa deles. Juntos terão filhos e ambos se sentirão bem pelo facto de essas crianças precisarem deles: é um motivo para viver. Temos de viver pelo bem dessas crianças, temos de viver pelo bem da nossa mulher, temos de viver pelo bem do nosso marido: a vida deixa de ser algo desprovido de sentido.

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Eu tenho o cérebro de uma criança de quatro anos. Aposto em como ele está contente por se ter visto livre dele.

Aquele que sabe muito e que não é capaz de conter a língua é como uma criança armada com uma faca.

Os putos

Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.

Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.

Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.

As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo

Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.

A Inutilidade do Viajar

Que utilidade pode ter, para quem quer que seja, o simples facto de viajar? Não é isso que modera os prazeres, que refreia os desejos, que reprime a ira, que quebra os excessos das paixões eróticas, que, em suma, arranca os males que povoam a alma. Não faculta o discernimento nem dissipa o erro, apenas detém a atenção momentaneamente pelo atractivo da novidade, como a uma criança que pasma perante algo que nunca viu! Além disso, o contínuo movimento de um lado para o outro acentua a instabilidade (já de si considerável!) do espírito, tornando-o ainda mais inconstante e incapaz de se fixar. Os viajantes abandonam ainda com mais vontade os lugares que tanto desejavam visitar; atravessam-nos voando como aves, vão-se ainda mais depressa do que vieram. Viajar dá-nos a conhecer novas gentes, mostra-nos formações montanhosas desconhecidas, planícies habitualmente não visitadas, ou vales irrigados por nascentes inesgotáveis; proporciona-nos a observação de algum rio de características invulgares, como o Nilo extravasando com as cheias de Verão, o Tigre, que desaparece à nossa vista e faz debaixo de terra parte do seu curso, retomando mais longe o seu abundante caudal, ou ainda o Meandro, tema favorito das lucubrações dos poetas, contorcendo-se em incontáveis sinuosidades,

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No momento em que uma criança nasce, a mãe também nasce. Ela nunca existiu antes. A mulher existia, mas a mãe, nunca. Uma mãe é algo absolutamente novo.

Quando eram crianças, tinham, certamente, ideias diferentes. Na adolescência, as vossas ideias mudavam a toda a hora, quando se tornaram jovens, as vossas ideias mudaram novamente, e quando envelhecerem, jamais poderão ter ideias iguais às da vossa juventude. A experiência altera tudo. É, simplesmente, impossível manter a mesma ideia ao logo de toda a vida, só um formidável idiota consegue fazê-lo. Se forem pessoas dotadas de um mínimo de inteligência, as vossas ideias mudarão ao longo da vida.

Encostei-me

Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos,
E o meu destino apareceu-me na alma como um precipício.
A minha vida passada misturou-se com a futura,
E houve no meio um ruído do salão de fumo,
Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez.

Ah, balouçado
Na sensação das ondas,
Ah, embalado
Na idéia tão confortável de hoje ainda não ser amanhã,
De pelo menos neste momento não ter responsabilidades nenhumas,
De não ter personalidade propriamente, mas sentir-me ali,
Em cima da cadeira como um livro que a sueca ali deixasse.

Ah, afundado
Num torpor da imaginação, sem dúvida um pouco sono,
Irrequieto tão sossegadamente,
Tão análogo de repente à criança que fui outrora
Quando brincava na quinta e não sabia álgebra,
Nem as outras álgebras com x e y’s de sentimento.

Ah, todo eu anseio
Por esse momento sem importância nenhuma
Na minha vida,
Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos —
Aqueles momentos em que não tive importância nenhuma,
Aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem inteligência para o
compreender
E havia luar e mar e a solidão,

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