É necessário que nasçamos culpados – ou Deus seria injusto.
Passagens sobre Culpados
92 resultadosPessoa culpada, desconfia de todos.
A defesa não quer dizer o panegírico da culpa ou do culpado. Sua função consiste em ser, ao lado do acusado, inocente ou criminoso, a voz dos seus direitos legais.(O dever do advogado)
O indivíduo, na sua angústia de não ser culpado mas de passar por sê-lo, torna-se culpado.
Passei a minha vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar. Ao tentar corrigir um erro, eu cometia outro. Sou uma culpada inocente.
Ode Marcial
Inúmero rio sem água — só gente e coisa,
Pavorosamente sem água!Soam tambores longínquos no meu ouvido
E eu não sei se vejo o rio se ouço os tambores,
Como se não pudesse ouvir e ver ao mesmo tempo
Helahoho! Helahoho!A máquina de costura da pobre viúva morta à baioneta…
Ela cosia à tarde indeterminadamente…
A mesa onde jogavam os velhos,Tudo misturado, tudo misturtado com os corpos, com sangues,
Tudo um só rio, uma só onda, um só arrastado horrorHelahoho! Helahoho!
Desenterrei o comboio de lata da criança calcado no meio da estrada,
E chorei como todas as mães do mundo sobre o horror da vida.
Os meus pés panteístas tropeçaram na máquina de costura da viúva que mataram à baioneta
E esse pobre instrumento de paz meteu uma lança no meu coraçãoSim, fui eu o culpado de tudo, fui eu o soldado todos eles
Que matou, violou, queimou e quebrou,
Fui eu e a minha vergonha e o meu remorso com uma sombra disforme
Passeiam por todo o mundo como Ashavero,
Culpado: o outro indivíduo.
O culpado tem por acusador a sua consciência.
Pecadores
Ali – no canto escuro do jardim
não havia o menor sinal de gente…
Só nós dois… E eu então, sensualmente
beijei-te a boca… o seio… tudo enfim…Nem eu sei bem dizer o que se sente,
quando estreitei teu corpo junto a mim…
– Embriaguei-me talvez… completamente…
– naquele canto escuro do jardim…Fui ousado, bem sei… Dizias: – não!
– mas não pude te ouvir sentindo aquela
tão louca e indescritível sensaçãoE pequei. . . – Pecaria outro qualquer
– Foi mais culpado o Deus que te fez bela
e ele – o Demônio – que te fez mulher!
O Mundo dos Solteiros
Agora a sério: você conhece algum solteiro verdadeiramente satisfeito com a sua condição de solteiro? Eu não. Conheço vários solteiros que se dizem satisfeitos com a sua condição de solteiros, mas que de bom grado imediatamente se casariam. Não se casam por inércia, por cobardia, muitas vezes por falta de sorte – mas é por uma vida a dois que suspiram. É da natureza humana. Uma coisa é estar entre casamentos. Outra é ser solteiro. E o solteiro cool é uma construção tão artificial como o da gordinha «muito» simpática. Você conhece alguma gordinha «muito» simpática em que essa tão óbvia simpatia não seja excessiva, provavelmente fabricada – e mensageira sobretudo de uma profunda solidão? Eu não.
(…) É um mundo sombrio, o mundo dos solteiros – um mundo de ansiedades, de cinismo, de ressentimento, de egoísmo. Se os solteiros solitários são tristes, aliás, os solteiros gregários são-no ainda mais. Você já foi a algum jantar em que os presentes fossem maioritariamente solteiros? Eu já. E, sempre que fui, voltei deprimido. Ia deprimido – e deprimido voltei. Íamos deprimidos – e deprimidos voltámos. Todos. Fizemos o que pudemos, claro: trocámos palavras, trocámos solidariedades, trocámos mimos. No fim, nada.
Os culpados até fogem de quem não os persegue.
Todo o homem é culpado do bem que não fez.
O castigo deve ser adequado ao caráter do culpado e tal que frutifique.
O Amor não Existe sem Ciúme
Se o ciúme nasce do intenso amor, quem não sente ciúmes pela amada não é amante, ou ama de coração ligeiro, de modo que se sabe de amantes os quais, temendo que o seu amor se atenue, o alimentam procurando a todo o custo razões de ciúme.
Portanto o ciumento (que porém quer ou queria a amada casta e fiel) não quer nem pode pensá-la senão como digna de ciúme, e portanto culpada de traição, atiçando assim no sofrimento presente o prazer do amor ausente. Até porque pensar em nós que possuímos a amada longe – bem sabendo que não é verdade – não nos pode tornar tão vico o pensamento dela, do seu calor, dos seus rubores, do seu perfume, como o pensar que desses mesmos dons esteja afinal a gozar um Outro: enquanto da nossa ausência estamos seguros, da presença daquele inimigo estamos, se não certos, pelo menos não necessariamente inseguros. O contacto amoroso, que o ciumento imagina, é o único modo em que pode representar-se com verosimilhança um conúbio de outrem que, se não indubitável, é pelo menos possível, enquanto o seu próprio é impossível.
Assim o ciumento não é capaz, nem tem vontade, de imaginar o oposto do que teme,
Culpabilidade
O estado de pecado no homem não é um facto, senão apenas a interpretação de um facto, a saber: de um mal-estar fisiológico, considerado sob o ponto de vista moral e religioso. O sentir-se alguém «culpado» e «pecador», não prova que na realidade o esteja, como sentir-se alguém bem não prova que na realidade esteja bem. Recordem-se os famosos processos de bruxaria; naquela época os juízes mais humanos acreditavam que havia culpabilidade; as bruxas também acreditavam; contudo, a culpabilidade não existia.
A dispepsia é o remorso de um estômago culpado.
Sentindo Se Tomada A Bela Esposa
Sentindo se tomada a bela esposa
de Céfalo, no crime consentido,
para os montes fugia do marido;
e não sei se de astuta, ou vergonhosa.Porque ele, enfim, sofrendo a dor ciosa,
de amor cego e forçoso compelido,
após ela se vai como perdido,
já perdoando a culpa criminosa.Deita se aos pés da Ninfa endurecida,
que do cioso engano está agravada;
já lhe pede perdão, já pede a vida.Ó força de afeição desatinada!
Que da culpa contra ele cometida,
perdão pedia à parte que é culpada!
A calúnia é sem dúvida, o pior dos flagelos, visto que faz dois culpados e uma vítima.
A Irrelevância da Escrita Controversa
Suponhamos que amanhã, como consequência de terem lido Henri Miller, todas as pessoas começavam a usar uma linguagem livre, uma linguagem de sarjeta, se quiserem, e a agir de acordo com as suas crenças e convicções. E então ? A minha resposta é que, acontecesse o que acontecesse, seria como nada tivesse ocorrido, nada, insisto, se o compararmos com os efeitos da explosão de uma única bomba atómica. E isto é, confesso, a coisa mais triste que um indivíduo criador como eu pode admitir. É minha convicção que estamos hoje a atravessar um período a que se poderia chamar de «insensibilidade cósmica», um período em que Deus parece, mais do que nunca, ausente do mundo, e o homem se vê condenado a enfrentar o destino que para si próprio criou. Num momento como este, a questão de saber se um homem é ou não culpado de usar de uma linguagem obscena em livros impressos parece-me perfeitamente inconsequente. É quase como se eu, ao atravessar um prado, descobrisse uma erva coberta de esterco e, curvando-me para a ervilha obscura, lhe dissesse em tom de admoestação: «
Os homens tornan-se maus e culpados porque falam e agem sem antever os resultados de suas palavras e atos.