Não será que deveríamos cuidar melhor da vida das massas? Porque a verdade é que o caracol nunca deita fora a sua concha. O povo é a concha que nos abriga. Mas pode, repentemente, tornar-se no fogo que nos vai queimar.
Frases de Mia Couto
354 resultadosÁfrica vive numa situação quase única: as gerações vivas são contemporâneas da construção dos alicerces das nações. O que é o mesmo que dizer os alicerces das suas próprias identidades. É como se tudo se passasse no presente, como se todas as nações se entrecruzassem no mesmo texto. Cada nação é assunto de todos, uma inadiável urgência a que ninguém se pode alhear. Todos são cúmplices dessa infância, todos deixam marcas num retrato que está em gestação.
Se temos voz é para vazar sentimento. Contudo, sentimento demasiado nos rouba a voz.
Só se escreve com intensidade se vivemos intensamente. Não se trata apenas de viver sentimentos mas de ser vivido por sentimentos.
O serviço dos dias é apenas este: trazer dias, levar dias. O Tempo existe para apagar o Tempo.
Quando se faz amor assim, de paixão total, fica-se longe das palavras. O encantamento é uma casa que tem o silêncio por tecto.
Quem se lembra tanto de tudo é porque não espera mais nada da vida.
A cidade não é apenas um espaço físico mas uma foija de relações. É o centro de um tempo onde se fabricam e refabricam as identidades próprias.
Em velho o que mais tememos é a queda. Não é a queda no escuro da cova. Mas o cair no próprio passo, como se o osso já obedecesse à convocatória do chão.
Atrás é onde melhor se vê e menos se é visto. Certo é o ditado: se a agulha cai no poço muitos espreitam, mas poucos descem a buscá-la.
Quem mais sofre na guerra é quem não tem serviço de matar. As crianças e as mulheres: essas são quem carrega mais desgraça.
Uns não vivem por temer morrer; eu não morro por temer viver.
Não é a paz que lhe interessa. Eles se preocupam é com a ordem, o regime desse mundo. (…) O problema deles é manter a ordem que lhes faz serem patrões. Essa ordem é uma doença em nossa história.
Somos todos parecidos: santos para viver, demónios para sobreviver.
Os seus olhos ganharam brilho num silencioso agradecimento: só é olhado pelo céu quem olha para as estrelas.
A vida, meu filho, é uma desilusionista.
A saudade é uma tatuagem na alma: só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós.
Eu somos tristes. Não me engano, digo bem. Ou talvez: nós sou triste? Porque dentro de mim não sou sozinho. Sou muitos. E esses todos disputam minha única vida.
O jornalista atribui a si mesmo uma missão, e essa missão tem notáveis semelhanças com uma operação de guerra: trata-se de conquistar audiências, bombardear com notícias num tempo precioso e milimetricamente calculado. O jornalista está em cima do acontecimento como se o evento fosse um alvo preciso. O acontecimento é a presa dessa aranha que é o repórter, nessa teia noticiosa que dá a volta ao planeta.
Quem voa depois da morte? É a folha da árvore.