Passagens sobre Piscina

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Frases sobre piscina, poemas sobre piscina e outras passagens sobre piscina para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A Arte de Ser Amada

Eu sou lĂ­quida mas recolhida
no Ă­ntimo estanho de uma jarra
e em tua boca um clavicĂłrdio
quer recordar-me que sou ária

aérea vária porém sentada
perfil que os flamingos voaram.
Pelos canteiros eu conto os gerânios
de uns tantos anos que nos separam.

Teu amor de planta submarina
procura um hĂşmido lugar.
Sabiamente preencho a piscina
que te dê o hábito de afogar.

Do que nĂŁo viste a minha idade
te inquieta como a ciĂŞncia
do mundo ser muito velho
trĂŞs vezes por mim rodeado
sem saber da tua existĂŞncia.

Pensas-me a ilha e me sitias
de violinos por todos os lados
e em tua pele o que eu respiro
Ă© um ar de frutos sossegados.

O infortúnio é um degrau para o génio, uma piscina para o cristão, um tesouro para o homem hábil e um abismo para o fraco.

A Amiga Deixada

Antiga
cantiga
da amiga
deixada.

Musgo da piscina,
de uma água tão fina,
sobre a qual se inclina
a lua exilada.

Antiga
cantiga
da amiga
chamada.

Chegara tĂŁo perto!
Mas tinha, decerto,
seu rosto encoberto…
Cantava — mais nada.

Antiga
cantiga
da amiga
chegada.

PĂ©rola caĂ­da
na praia da vida:
primeiro, perdida
e depois — quebrada.

Antiga
cantiga
da amiga
calada.

Partiu como vinha,
leve, alta, sozinha,
— giro de andorinha
na mĂŁo da alvorada.

Antiga
cantiga
da amiga
deixada.

E chamam a isso uma piscina – queixou-se Pelusa.
– Estique um pouco essa porcaria, parece que Ă© para dar banho em porcos. Que acha o senhor, Dom Persio?
– Detesto banho ao ar livre – disse Persio -, sobretudo quando há possibilidade de apanhar a caspa alheia.

Um Campo Batido pela Brisa

A tua nudez inquieta-me.

Há dias em que a tua nudez
Ă© como um barco subitamente entrado pela barra.
Como um temporal. Ou como
certas palavras ainda nĂŁo inventadas,
certas posições na guitarra
que o tocador nĂŁo conhecia.

A tua nudez inquieta-me. Abre o meu corpo
para um lado misterioso e frágil.
Distende o meu corpo. Depois encurta-o e tira-lhe
contorno, peso. DestrĂłi o meu corpo.
A tua nudez Ă© uma violĂŞncia
suave, um campo batido pela brisa
no mĂŞs de Janeiro quando sobem as flores
pelo ventre da terra fecundada.

Eu desgraço-me, escrevo, faço coisas
com o vocabulário da tua nudez.
Tenho «um pensamento despido»;
maturação; altas combustões.
De mĂŁo dada contigo entro por mim dentro
como em outros tempos na piscina
os leprosos cheios de esperança.
E Ă s vezes sucede que a tua nudez Ă© um foguete
que lanço com mão tremente desastrada
para rebentar e encher a minha carne
de transparĂŞncia.

Sete dias ao longo da semana,
trinta dias enquanto dura um mĂŞs
eu ando corajoso e sem disfarce,

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Cantiga de Banheiro

A moça vai tomar banho,
banho domiciliar.
A moça não se dispersa
na piscina nem no mar.
A moça entra no banheiro
e torce a chave e o ferrolho
da porta. (Há na fechadura
um olho que chama outro olho.)
A moça vai tomar banho.
Deixa os chinelos no canto.
Perdeu os itinerários.
Solta os cabelos castanhos.
Fica nua. Dela saltam
peitos agressivos de
bicos rubros, insinuantes,
de leite e amor para as bocas
dos babies e dos amantes.
A moça morena espia
dentro do espelho da pia
a exclusivamente sua
liberta beleza nua.

Comprime-se o espelho quando
a moça se distancia.
Na solidĂŁo do banheiro,
vĂŞ-se emparedada viva
nas paredes de azulejo
e nua fica debaixo
do chuveiro de onde a água
humaniza-se e, acrobata,
dá um pulo da cascata
doméstica com a intenção
de levar a moça longe,
de fazer um filho plástico
no ventre virgem lambido
de esponja e de sabonete.

Quando a branca toalha asséptica
abriu-se na fĂşria ambiente,

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O Anel de Corina

Enquanto espera a hora combinada
De o remeter com flores a Corina,
OvĂ­dio oscĂşla o anel que lhe destina
E em que uma gema fulge bem gravada.

— « Como eu te invejo, ó prenda afortunada !
« Com ela vais dormir, mimosa e fina,
« Com ela has-de banhar-te na piscina
« Donde sairá, qual Venus, orvalhada,

« O dorso e o seio lhe verás de rosas,
« E selarás as cartas deliciosas
« Com que em minh’alma alento e esp’rança verte…

« E temendo (suprema f’licidade!)
« Que a cera adira á pedra, ai! então ha-de
« Com a ponta da língua humedecer-te! »