Cantiga de Banheiro
A moça vai tomar banho,
banho domiciliar.
A moça não se dispersa
na piscina nem no mar.
A moça entra no banheiro
e torce a chave e o ferrolho
da porta. (HĂĄ na fechadura
um olho que chama outro olho.)
A moça vai tomar banho.
Deixa os chinelos no canto.
Perdeu os itinerĂĄrios.
Solta os cabelos castanhos.
Fica nua. Dela saltam
peitos agressivos de
bicos rubros, insinuantes,
de leite e amor para as bocas
dos babies e dos amantes.
A moça morena espia
dentro do espelho da pia
a exclusivamente sua
liberta beleza nua.Comprime-se o espelho quando
a moça se distancia.
Na solidĂŁo do banheiro,
vĂȘ-se emparedada viva
nas paredes de azulejo
e nua fica debaixo
do chuveiro de onde a ĂĄgua
humaniza-se e, acrobata,
dĂĄ um pulo da cascata
doméstica com a intenção
de levar a moça longe,
de fazer um filho plĂĄstico
no ventre virgem lambido
de esponja e de sabonete.Quando a branca toalha asséptica
abriu-se na fĂșria ambiente,
Passagens sobre Piscina
9 resultadosO Anel de Corina
Enquanto espera a hora combinada
De o remeter com flores a Corina,
OvĂdio oscĂșla o anel que lhe destina
E em que uma gema fulge bem gravada.â « Como eu te invejo, Ăł prenda afortunada !
« Com ela vais dormir, mimosa e fina,
« Com ela has-de banhar-te na piscina
« Donde sairå, qual Venus, orvalhada,« O dorso e o seio lhe verås de rosas,
« E selarås as cartas deliciosas
« Com que em minh’alma alento e esp’rança verte…« E temendo (suprema f’licidade!)
« Que a cera adira å pedra, ai! então ha-de
« Com a ponta da lĂngua humedecer-te! »
A Alemanha declarou guerra Ă RĂșssia. Ă tarde, piscina.
A Arte de Ser Amada
Eu sou lĂquida mas recolhida
no Ăntimo estanho de uma jarra
e em tua boca um clavicĂłrdio
quer recordar-me que sou åriaaérea våria porém sentada
perfil que os flamingos voaram.
Pelos canteiros eu conto os gerĂąnios
de uns tantos anos que nos separam.Teu amor de planta submarina
procura um hĂșmido lugar.
Sabiamente preencho a piscina
que te dĂȘ o hĂĄbito de afogar.Do que nĂŁo viste a minha idade
te inquieta como a ciĂȘncia
do mundo ser muito velho
trĂȘs vezes por mim rodeado
sem saber da tua existĂȘncia.Pensas-me a ilha e me sitias
de violinos por todos os lados
e em tua pele o que eu respiro
Ă© um ar de frutos sossegados.
A piscina é uma extensão da banheira ou uma redução do mar, para fins de status.
O infortĂșnio Ă© um degrau para o gĂ©nio, uma piscina para o cristĂŁo, um tesouro para o homem hĂĄbil e um abismo para o fraco.
A Amiga Deixada
Antiga
cantiga
da amiga
deixada.Musgo da piscina,
de uma ĂĄgua tĂŁo fina,
sobre a qual se inclina
a lua exilada.Antiga
cantiga
da amiga
chamada.Chegara tĂŁo perto!
Mas tinha, decerto,
seu rosto encoberto…
Cantava â mais nada.Antiga
cantiga
da amiga
chegada.PĂ©rola caĂda
na praia da vida:
primeiro, perdida
e depois â quebrada.Antiga
cantiga
da amiga
calada.Partiu como vinha,
leve, alta, sozinha,
â giro de andorinha
na mĂŁo da alvorada.Antiga
cantiga
da amiga
deixada.
E chamam a isso uma piscina – queixou-se Pelusa.
– Estique um pouco essa porcaria, parece que Ă© para dar banho em porcos. Que acha o senhor, Dom Persio?
– Detesto banho ao ar livre – disse Persio -, sobretudo quando hĂĄ possibilidade de apanhar a caspa alheia.
Um Campo Batido pela Brisa
A tua nudez inquieta-me.
HĂĄ dias em que a tua nudez
Ă© como um barco subitamente entrado pela barra.
Como um temporal. Ou como
certas palavras ainda nĂŁo inventadas,
certas posiçÔes na guitarra
que o tocador nĂŁo conhecia.A tua nudez inquieta-me. Abre o meu corpo
para um lado misterioso e frĂĄgil.
Distende o meu corpo. Depois encurta-o e tira-lhe
contorno, peso. DestrĂłi o meu corpo.
A tua nudez Ă© uma violĂȘncia
suave, um campo batido pela brisa
no mĂȘs de Janeiro quando sobem as flores
pelo ventre da terra fecundada.Eu desgraço-me, escrevo, faço coisas
com o vocabulĂĄrio da tua nudez.
Tenho «um pensamento despido»;
maturação; altas combustÔes.
De mĂŁo dada contigo entro por mim dentro
como em outros tempos na piscina
os leprosos cheios de esperança.
E Ă s vezes sucede que a tua nudez Ă© um foguete
que lanço com mão tremente desastrada
para rebentar e encher a minha carne
de transparĂȘncia.Sete dias ao longo da semana,
trinta dias enquanto dura um mĂȘs
eu ando corajoso e sem disfarce,