Passagens sobre Proveito

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Frases sobre proveito, poemas sobre proveito e outras passagens sobre proveito para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Toda amizade, por mais desejável que seja por si mesma, é, no fim das contas, construída sobre o proveito próprio.

A Inutilidade do Viajar

Que utilidade pode ter, para quem quer que seja, o simples facto de viajar? Não é isso que modera os prazeres, que refreia os desejos, que reprime a ira, que quebra os excessos das paixões eróticas, que, em suma, arranca os males que povoam a alma. Não faculta o discernimento nem dissipa o erro, apenas detém a atenção momentaneamente pelo atractivo da novidade, como a uma criança que pasma perante algo que nunca viu! Além disso, o contínuo movimento de um lado para o outro acentua a instabilidade (já de si considerável!) do espírito, tornando-o ainda mais inconstante e incapaz de se fixar. Os viajantes abandonam ainda com mais vontade os lugares que tanto desejavam visitar; atravessam-nos voando como aves, vão-se ainda mais depressa do que vieram. Viajar dá-nos a conhecer novas gentes, mostra-nos formações montanhosas desconhecidas, planícies habitualmente não visitadas, ou vales irrigados por nascentes inesgotáveis; proporciona-nos a observação de algum rio de características invulgares, como o Nilo extravasando com as cheias de Verão, o Tigre, que desaparece à nossa vista e faz debaixo de terra parte do seu curso, retomando mais longe o seu abundante caudal, ou ainda o Meandro, tema favorito das lucubrações dos poetas, contorcendo-se em incontáveis sinuosidades,

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Mesquinho é o caso de amor que pode ser amavelmente resolvido com proveito para ambas as partes. Quando homem e mulher «ficam amigos» é porque nunca foram outra coisa. O amor verdadeiro é um desespero constante. Os problemas mais espectaculares só se resolvem com mortes. Não há conselhos que lhes valham.

Fazer Depender

Não faz o nome quem o doura, mas quem o adora. O sagaz mais quer necessitados de si que agradecidos. É furtar-se à esperança cortês o fiar-se no agradecimento do vulgo, pois o que aquela tem de memoriosa este tem de esquecidiço. Mais se extrai da dependência que da cortesia; quem está satisfeito dá as costas à fonte, e a laranja espremida cai do ouro ao lodo.
Acabada a dependência, acaba a correspondência, e com ela a estima. Seja lição, e sobretudo de experiência, mantê-la, não a satisfazer, conservando sempre em necessidade de si até o coroado senhor; mas não se há-de chegar ao excesso de calar para que errem, nem de deixar sem remédio o dano alheio para proveito próprio.

A Vida em Pleno

Diariamente criticamos o destino: “Porque foi este homem arrebatado a meio da carreira? E aquele, porque não morre, em vez de prolongar uma velhice tão penosa para ele como para os outros?” Diz-me cá, por favor: o que achas tu mais justo, seres tu a obedecer à natureza ou a natureza a ti? Que diferença faz sair mais ou menos depressa de um sítio de onde temos mesmo de sair? Não nos devemos preocupar em viver muito, mas sim em viver plenamente; viver muito depende do destino, viver plenamente, da nossa própria alma. Uma vida plena é longa quanto basta; e será plena se a alma se apropria do bem que lhe é próprio e se apenas a si reconhece poder sobre si mesma. Que interessa os oitenta anos daquele homem passados na inacção? Ele não viveu, demorou-se nesta vida; não morreu tarde, levou foi muito tempo a morrer! “Viveu oitenta anos!”. O que importa é ver a partir de que data ele começou a morrer. “Mas aquele outro morreu na força da vida”. É certo, mas cumpriu os deveres de um bom cidadão, de um bom amigo, de um bom filho, sem descurar o mínimo pormenor; embora o seu tempo de vida ficasse incompleto,

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A Vida

Ó grandes olhos outomnaes! mysticas luzes!
Mais tristes do que o amor, solemnes como as cruzes!
Ó olhos pretos! olhos pretos! olhos cor
Da capa d’Hamlet, das gangrenas do Senhor!
Ó olhos negros como noites, como poços!
Ó fontes de luar, n’um corpo todo ossos!
Ó puros como o céu! ó tristes como levas
De degredados!

Ó Quarta-feira de Trevas!

Vossa luz é maior, que a de trez luas-cheias:
Sois vós que allumiaes os prezos, nas cadeias,
Ó velas do perdão! candeias da desgraça!
Ó grandes olhos outomnaes, cheios de Graça!
Olhos accezos como altares de novena!
Olhos de genio, aonde o Bardo molha a penna!
Ó carvões que accendeis o lume das velhinhas,
Lume dos que no mar andam botando as linhas…
Ó pharolim da barra a guiar os navegantes!
Ó pyrilampos a allumiar os caminhantes,
Mais os que vão na diligencia pela serra!
Ó Extrema-Uncção final dos que se vão da Terra!
Ó janellas de treva, abertas no teu rosto!
Thuribulos de luar! Luas-cheias d’Agosto!
Luas d’Estio! Luas negras de velludo!
Ó luas negras,

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Ignoro o que sejam princípios, a não ser que se tratem de regras que se prescrevem aos outros para nosso proveito.

Amizade Verdadeira

Sê tardio no fazer amigos e constante no conservar a amizade. Os íntimos que escolheres sejam, não os que te podem dar maior prazer, mas maior proveito; não pessoas que falem o que é agradável, mas o que é devido; não que lisonjeiem, mas que digam a verdade. Se te acostumares a abrir os ouvidos à lisonja e a nela te compazeres, jamais ouvirás a verdade.

A Boa Vontade

De todas as coisas que podemos conceber neste mundo ou mesmo, de uma maneira geral, fora dele, não há nenhuma que possa ser considerada como boa sem restrição, salvo uma boa vontade. O entendimento, o espírito, o juízo e os outros talentos do espírito, seja qual for o nome que lhes dermos, a coragem, a decisão, a perseverança nos propósitos, como qualidades do temperamento, são, indubitávelmente, sob muitos aspectos, coisas boas e desejáveis; contudo, também podem chegar a ser extrordináriamente más e daninhas se a vontade que há-de usar destes bens naturais, e cuja constituição se chama por isso carácter, não é uma boa vontade. O mesmo se pode dizer dos dons da fortuna. O poder, a riqueza, a consideração, a própria saúde e tudo o que constitui o bem-estar e contentamento com a própria sorte, numa palavra, tudo o que se denomina felicidade, geram uma confiança que muitas vezes se torna arrogância, se não existir uma boa vontade que modere a influência que a felicidade pode exercer sobre a sensibilidade e que corrija o princípio da nossa actividade, tornando-o útil ao bem geral; acrescentemos que num espectador imparcial e dotado de razão, testemunha da felicidade ininterrupta de uma pessoa que não ostente o menor traço de uma vontade pura e boa,

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O Autofagismo do Meio Urbano

O momento presente é o momento do autofagismo do meio urbano. O rebentar das cidades sobre campos recobertos de «massas informes de resíduos urbanos» (Lewis Mumford) é, de um modo imediato, presidido pelos imperativos do consumo. A ditadura do automóvel, produto-piloto da primeira fase da abundância mercantil, estabeleceu-se na terra com a prevalescência da auto-estrada, que desloca os antigos centos e exige uma dispersão cada vez maior. Ao passo que os momentos de reorganização incompleta do tecido urbano polarizam-se passageiramente em torno das «fábricas de distribuição» que são os gigantescos supermercados, geralmente edificados em terreno aberto e cercados por um estacionamento; e estes templos de consumo precipitado estão, eles próprios, em fuga num movimento centrífugo, que os repele à medida que eles se tornam, por sua vez, centros secundários sobrecarregados, porque trouxeram consigo uma recimposição parcial da aglomeração. Mas a organização técnica do consumo não é outra coisa senão o arquétipo da dissolução geral que conduziu a cidade a consumir-se a si própria.
A história económica, que se desenvolveu intensamente em torno da oposição cidade-campo, chegou a um tal grau de sucesso que anula ao mesmo tempo os dois termos. A paralisia actual do desenvolvimento histórico total, em proveito da exclusiva continuação do movimento independente da economia,

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A carne, sendo o ‘eu ilusório’, não pode viver sem explorar o próximo. Somente o ‘Eu verdadeiro’ consegue viver sem tirar proveito dos outros.

O Estudo da Sabedoria Nunca Termina

Ao estudo da sabedoria jamais havereis de pôr termo; não acabe ele antes de acabada a vossa vida. Em três coisas cumpre ao homem pensar e exercitar-se enquanto viva: em saber bem, em bem falar e em bem obrar.
Desterra dos teus estudos a arrogância; não fiques presumido pelo que sabes, porque tudo quando sabe o mais sábio homem do mundo nada é em comparação com o muito que lhe falta saber. Mui escasso é, e muito obscuro e incerto, tudo quanto os homens alcançam nesta vida; e os nossos entendimentos, detidos e presos neste cárcere do corpo, estão oprimidos por grandíssima escuridão, trevas e ignorância, e o corte ou fio do engenho é tão cego que não pode cortar, nem passar-lhe de raspão sequer, coisa alguma.
Afora isto, a arrogância faz com que não possas tirar proveito do estudo; creio que terá havido muitos que não chegaram a sábios e que poderiam tê-lo sido se não dessem a entender que já o eram.
Deveis guardar-vos, também, de porfias, de competências, de menosprezar ou amesquinhar o que os outros sabem ou não sabem, de desejar vanglórias. Para isto, principalmente, servem os estudos: para nos ensinarem a fugir de tais vícios e de outros semelhantes.

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A Felicidade de uma Razão Perfeita

Creio que estaremos de acordo em que é para proveito do corpo que procuramos os bens exteriores; em que apenas cuidamos do corpo para benefício da alma, e em que na alma há uma parte meramente auxiliar – a que nos assegura a locomoção e a alimentação – da qual dispomos tão somente para serviço do elemento essencial. No elemento essencial da alma há uma parte irracional e outra racional; a primeira está ao serviço da segunda; esta não tem qualquer ponto de referência além de si própria, pelo contrário, serve ela de ponto de referência a tudo. Também a razão divina governa tudo quanto existe sem a nada estar sujeita; o mesmo se passa com a nossa razão, que, aliás, provém daquela.
Se estamos de acordo nesse ponto, estaremos necessariamente também de acordo em que a nossa felicidade depende exclusivamente de termos em nós uma razão perfeita, pois apenas esta impede em nós o abatimento e resiste à fortuna; seja qual for a sua situação, ela manter-se-á imperturbável. O único bem autêntico é aquele que nunca se deteriora.
O homem feliz, insisto, é aquele que nenhuma circunstância inferioriza; que permanece no cume sem outro apoio além de si mesmo,

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A Ociosidade

Assim como vemos as terras em repouso, se nédias e férteis, dar origem à proliferação de cem mil espécies de ervas selvagens e inúteis, sendo necessário, para as manter cultiváveis, domá-las e destiná-las a certas sementes por forma a que delas tiremos proveito; e assim como vemos as mulheres, que por si sós produzem informes amontoados e pedaços de carne, terem, para proporcionar uma boa e natural geração, de ser fecundadas por outra semente, assim vemos que se passa o mesmo com os nossos espíritos. Se não os ocuparmos com algum objecto que os freie e constranja, lançar-se-ão eles, desregrados, a percorrer à toa os campos bravios da imaginação:

Tal como a água que tremula em vasilhas de bronze reflecte a luz do sol ou a imagem radiante da lua, cintilações voando pelos ares e atingindo os artesoados tectos – Virgílio, Eneida

E não há loucura ou desvario que eles não produzam em tal agitação:

Inventam irreais aparições como nos sonhos dos doentes – Horácio, Ars Poetica

A alma que não tem um ponto de mira perde-se, pois, como sói dizer-se, é não estar em parte nenhuma em todo o lado estar.

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O Preço da Elevada Conduta

Conduta e carácter do homem vulgar: nunca em si próprio busca proveito ou pena, antes se atém às coisas exteriores. Conduta e carácter do filósofo: todo o proveito e pena surtem do íntimo de si próprio.
Sinais daquele que evolui: não insulta ninguém, não louva ninguém, não se queixa de ninguém, não acusa ninguém, nada diz de si próprio como coisa importante – e nunca afirma saber o que quer que seja. Quando embaraçado e contrariado, só a si próprio se responsabiliza. Se o louvam, ri-se discretamente de quem o louva – e se o insultam, de nada se justifica. Comporta-se como os convalescentes, e teme enfraquecer o que se consolida antes de recuperar toda a sua firmeza.
Suprimiu em si qualquer espécie de vontade, e animosidades também: só faz pairar uma e outras sobre as únicas coisas que, contrárias à natureza, dependem de nós. Os seus arrebatamentos quase nunca o são. E caso o tenham na conta de estúpido ou ignorante – nenhuma inquietação o toma. Numa palavra: desafia-se a si próprio como se fora um inimigo de quem temesse várias armadilhas.