Crença e Intolerância
A necessidade de fĂ© nĂŁo foi absolutamente provocada pelas religiões; foi ela, ao contrário, que as suscitou. As divindades nĂŁo fazem mais do que fornecer um objecto ao nosso desejo de crer. Desde que ele se desvia das divindades, o homem entrega-se a uma fĂ© qualquer, quimeras polĂticas, sortilĂ©gios ou feitiços. (…) Uma das mais constantes caracterĂsticas gerais das crenças Ă© a sua intolerância. Ela Ă© tanto mais intransigente quanto mais forte Ă© a crença. Os homens dominados por uma certeza nĂŁo podem tolerar aqueles que nĂŁo a aceitam.
Passagens sobre Quimera
85 resultadosA esperança não é nem realidade nem quimera. É como os caminhos da terra: na terra não havia caminhos; foram feitos pelo grande número de passantes.
Maria das Quimeras
Maria das Quimeras me chamou
Alguém.. Pelos castelos que eu ergui
P’las flores d’oiro e azul que a sol teci
Numa tela de sonho que estalou.Maria das Quimeras me ficou;
Com elas na minh’alma adormeci.
Mas, quando despertei, nem uma vi
Que da minh’alma, AlguĂ©m, tudo levou!Maria das Quimeras, que fim deste
Ă€s flores d’oiro e azul que a sol bordaste,
Aos sonhos tresloucados que fizeste?Pelo mundo, na vida, o que Ă© que esperas?…
Aonde estĂŁo os beijos que sonhaste,
Maria das Quimeras, sem quimeras?…
Repouso
A cabeça pendida docemente
Em sonhos, sonha o sonhador inquieto,
Repousa e nesse repousar discreto
É sempre o sonho o seu bordão clemente.Cego desta Prisão impenitente
Da Terra e cego do profundo Afeto,
O sonho Ă© sempre o seu bordĂŁo secreto
O seu guia divino e refulgente.Nem no repouso encontra a paz que espera,
Para lhe adormecer toda a quimera,
Os cĂrculos fatais do seu Inferno.Entre a calma aparente, a estranha calma,
O seu repouso Ă© sempre a febre d’alma,
O seu repouso Ă© sonho, e sonho eterno.
Progresso Aparente
O homem progride em todos os sentidos. Domina a matĂ©ria, Ă© incontestável, mas ainda nĂŁo se sabe dominar a si mesmo. Sim, façam-se caminhos de ferro e telĂ©grafos, atravessem-se num abrir e fechar de olhos terras e mares, mas dirijam-se tambĂ©m as paixões como se conduzem os aerĂłstatos: abulam-se sobretudo as paixões malignas que, apesar das máximas liberais e fraternas da nossa Ă©poca, ainda nĂŁo perderam o seu domĂnio detestável sobre os nossos corações. É nisso que reside o verdadeiro progresso, e atĂ© a verdadeira felicidade! Mas, pelo contrário, atĂ© parece que os nossos instintos de cobiça e de gozo egoĂsta foram infindamente ainda mais excitados por todas estas inovações materiais.
O desejo de uma felicidade impossĂvel, que seria obtida independentemente na satisfação que nos vem da paz da alma, Ă© indissociável já de qualquer nova descoberta e parece fazer retroceder no tempo a quimera desse paraĂso dos sentidos.