Textos sobre Guerreiros

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Textos de guerreiros escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Um Único Poema

Quando olho para esse livro («Poesia Toda»), vejo que não fabriquei ou instruí ou afeiçoei objectos — estas palavras não supõem o mesmo modo de fazer—, vejo que escrevi apenas um poema, um poema em poemas; durante a vida inteira brandi em todas as direcções o mesmo aparelho, a mesma arma furiosa. Fui um inocente, porque só se consegue isso com inocência. E se a inocência é uma condição insubstituível de escândalo, uma transparente e mobilizadora familiaridade com a terra, constitui também um revés: pois há uma altura em que se sabe: as coisas ludibriaram-nos, ludibriámo-nos nas coisas; a inocência deveria ter-nos oferecido uma vida estupenda, um tumulto: o ar em torno proporcionado como pura levitação; ver, tocar; os mais simples actos e factos próximos como instantâneo e completo conhecimento. Era assim, foi assim, mas a dor, as vozes demoníacas, o abismo junto à dança, a noite que se vai insinuando a toda a altura e largura da luz, tudo Isso invade a inocência — e então já não sabemos nada, por exemplo: será inocente a nossa inocência? A inocência é um estado clandestino na ditadura do mundo; tem se der astuta, tem de recorrer a todas as torpezas para lutar e escapar,

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Os Deuses Reclinados

… Por todos os lados as estátuas de Buda, de Lorde Buda… As severas, verticais, carcomidas estátuas, com um dourado de resplendor animal, com uma dissolução como se o ar as desgastasse… Crescem-lhes nas faces, nas pregas das túnicas, nos cotovelos, nos umbigos, na boca e no sorriso pequenas máculas: fungos, porosidades, vestígios excrementícios da selva… Ou então as jacentes, as imensas jacentes, as estátuas de quarenta metros de pedra, de granito areento, pálidas, estendidas entre as sussurrantes frondes, inesperadas, surgindo de qualquer canto da selva, de qualquer plataforma circundante… Adormecidas ou não adormecidas, estão ali há cem anos, mil anos, mil vezes mil anos… Mas são suaves, com uma conhecida ambiguidade ultraterrena, aspirando a ficar e a ir-se embora… E aquele sorriso de suavíssima pedra, aquela majestade imponderável, mas feita de pedra dura, perpétua, para quem sorriem, para quem, sobre a terra sangrenta?… Passaram as camponesas que fugiam, os homens do incêndio, os guerreiros mascarados, os falsos sacerdotes, os turistas devoradores…

E manteve-se no seu lugar a estátua, a imensa pedra com joelhos, com pregas na túnica de pedra, com o olhar perdido e não obstante existente, inteiramente inumana e de alguma forma também humana, de alguma forma ou de alguma contradição estatuária,

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Os Feitos Simples são os Mais Elogiados e Lembrados

Duas pátrias produziram dois heróis: de Tebas saiu Hércules; de Roma saiu Catão. Foi Hércules aplauso da orbe, foi Catão enfado de Roma. A um admiraram todos, ao outro esquivaram-se os romanos. Não admite controvérsia a vantagem que levou Catão a Hércules, pois o excedeu em prudência; mas ganhou Hércules a Catão em fama. Mais de árduo e primoroso teve o assunto de Catão, pois se empenhou em sujeitar os monstros dos costumes, e Hércules os da natureza; mas teve mais de famoso o do tebano. A diferença consistiu em que Hércules empreendeu façanhas plausíveis e Catão odiosas. A plausibilidade do cargo levou a glória de Alcides (nome anterior de Hércules) aos confins do mundo, e passará ainda além deles caso se alarguem. O desaprezível do cargo circunscreveu Catão ao interior das muralhas de Roma.
Com tudo isto, preferem alguns, e não os menos judiciosos, o assunto primoroso ao mais plausível, e pode mais com eles a admiração de poucos que o aplauso de muitos, sendo vulgares. Os milagres de ignorantes apelam aos empenhos plausíveis. O árduo, o primoroso de um superior assunto poucos o percebem, embora eminentes, sendo assim raros os que nele acreditam. A facilidade do plausível permite-se a todos,

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As Desvantagens do Ateísmo

Parece-nos que o homem feliz não colhe vantagem alguma em ser ateu. É-lhe tão agradável cismar que os seus dias se prolongarão além da vida! Com que desespero não deixaria ele este mundo, se acreditasse separar-se para sempre da felicidade! Debalde sobre a sua cabeça se acumulariam todos os bens do século, que serviriam apenas para lhe tornar mais tormentoso o nada.
O rico pode também contar com que a religião lhe amplie os prazeres, mesclando-os com inexplicável ternura; não se lhe endurecerá o coração, o gozo, escolho inevitável das grandes prosperidades, não o infastiará; que a religião refrigera as sequidões da alma: é o que representa esse óleo santo com que o cristianismo consagrava a realeza, a infância, e a morte, para as salvar da esterilidade.
O guerreiro arremessa-se ao combate: será ateu esse filho da glória? O que busca uma vida infinita consentirá em terminá-la? Aparecei sobre as vossas nuvens fulminantes, soldados inumeráveis, antigas legiões da pátria! Famosas milícias de França, e agora milícias do céu, aparecei! Dizei aos heróis da nossa idade, do alto da cidade santa, que o bravo não cai inteiro no tumulo, e que, após ele, permanece alguma coisa mais que um vão renome.

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Caminhamos Todos para a Eternidade

Influência da brevidade do tempo sobre os trabalhos dos homens: suponde que um astrónomo demonstrasse geometricamente que daqui a mil anos um planeta no seu percurso cortará a órbita terrestre precisamente no momento e no ponto em que a terra ali se encontrar e que a destruição da terra será a consequência dessa enorme colisão; o langor irá então apoderar-se de todas as actividades; não haverá mais ambição, monumentos, poetas, historiadores e talvez tampouco guerreiros ou guerras. Cada um cultivará o seu jardim e plantará as suas couves. Sem desconfiarmos, caminhamos todos para a eternidade.

A Necessidade do Desarmamento

A realização do plano de desarmamento tem sido prejudicada principalmente por ninguém se dar verdadeiramente conta da enorme dificuldade do problema em geral. A maior parte dos objectivos só são atingidos a passos lentos. Basta pensar na substituição da Monarquia absoluta pela Democracia! É um objectivo que convém atingir depressa.
Com efeito, enquanto não for excluída a possibilidade de guerra, as nações não prescindirão de se prepararem militarmente o melhor possível, para poderem enfrentar vitoriosamente a próxima guerra. Nem tão-pouco se prescindirá de educar a juventude nas tradições guerreiras, de alimentar a comezinha vaidade nacional aliada à glorificação do espírito guerreiro, enquanto for preciso contar com a possibilidade de vir a fazer uso desse espírito dos cidadãos na resolução dos conflitos pelas armas. Armar-se significa precisamente afirmar e preparar a guerra e não a paz! Portanto, não interessa proceder ao desarmamento gradual mas radicalmente, de uma só vez, ou nunca.
A realização de tão profunda modificação na vida dos povos tem como condição um enorme esforço moral e o abandono de tradições profundamente enraizadas. Quem não estiver preparado para, em caso de conflito, fazer depender o destino da sua pátria incondicionalmente das decisões dum tribunal internacional de arbitragem,

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A Cobardia como Pilar da Civilização

Costuma-se jogar na cara dos marxistas, com a sua concepção materialista da História, que eles subestimam certas qualidades espirituais do homem que não dependem de quanto ele ganhe ou deixe de ganhar. O argumento é o de que essas qualidades colorem as aspirações e actividades do homem civilizado tanto quanto são coloridas pela sua condição material, tornando assim impossível simplesmente
reduzir o homem a uma máquina económica. Como exemplos, os antimarxistas citam o patriotismo, a piedade, o senso estético e a vontade de conhecer Deus. Infelizmente, os exemplos são mal escolhidos. Milhões de homens não ligam para o patriotismo, a piedade ou o senso estético, não têm o menor interesse activo em conhecer Deus. Por que é que os antimarxistas não citam uma qualidade espiritual que seja verdadeiramente universal? Pois aqui vai uma. Refiro-me à cobardia. De uma forma ou de outra, ela é visível em todo o ser humano; serve também para separar o homem de todos os outros animais superiores. A cobardia, acredito, está na base de todo o sistema de castas e na formação de todas as sociedades organizadas, inclusive as mais democráticas. Para escapar de ir à guerra ele próprio, o camponês deva de mão beijada certos privilégios aos guerreiros – e destes privilégios brotou toda a estrutura da civilização.

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Só Dependes de Ti para Ser Feliz

Só dependes de ti para ser feliz.

A felicidade encontra-se dentro de ti. Este é o teu princípio. O fim será aquele que tu quiseres.

Aprendi isto enquanto escrevia o meu primeiro livro, “Carta Branca”. Um relato muito pessoal acerca da minha primeira grande viagem interior em busca dessa específica descoberta. Iniciei-o numa fase muito conturbada da minha vida, em que a relação comigo era praticamente inexistente e quando existia não passava de agressões a mim mesmo, baseadas, naturalmente, em muito daquilo que ouvira, aprendera e modelara na minha infância e adolescência. Como costumo dizer, tinha muita dificuldade em estar ao meu lado. Não me conhecia, apenas sabia o que representava para os outros. Não sabia o que queria, apenas sabia o que os outros queriam de mim. E não sabia para onde queria ir, apenas para onde todos queriam que eu fosse. Naturalmente que esta ausência total de conhecimento não podia germinar coisa boa. E assim era. Eu era revolta, angústia, insegurança, permissividade e medo. E lembro-me, lembro-me perfeitamente, quando disse a mim mesmo que se a minha vida não passasse disto não valeria a pena estar vivo. Recordo-me da dor que vivia comigo. Mas recordo-me também que foi ela que me incentivou a escrever.

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A Ocupação Militar

Não há ocupação tão agradável como a militar; ocupação tanto nobre na execução (pois a mais forte, generosa e magnífica de todas as virtudes é a valentia) quanto nobre na sua causa: não há utilidade mais legítima nem mais geral do que a protecção da tranquilidade e da grandeza do seu país. Agrada-vos a companhia de tantos homens, nobres, jovens, activos, a visão frequente de tantos espectáculos trágicos, a liberdade desse convívio sem artifícios e uma forma de vida viril e sem cerimónia, a variedade de mil actividades diversas, essa fogosa harmonia da música guerreira que vos alimenta e aquece os ouvidos e a alma, a honra desse exercício, mesmo a sua rudeza e dificuldade, que Platão considera tão pouca que na sua república a reparte com as mulheres e as crianças.
Oferecei-vos para os papéis e os riscos pessoais de acordo com o que julgais sobre o seu brilho e a sua importância, soldado voluntário, e vedes quando mesmo a vida é justificadamente empregue neles, penso que é belo morrer combatendo (Virgílio). Temer os perigos gerais que envolvem uma multidão em que tantas pessoas incorrem, não ousar o que tantas espécies de indivíduos ousam é próprio de um ânimo desmedidamente frouxo e inferior.

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A Grandeza Humana Tem Raízes no Irracional

A política, a honra, a guerra, a arte, tudo o que há de mais decisivo na vida acontece para lá do entendimento. A grandeza humana tem raízes no irracional. Nem nós, os homens de negócios, agimos por cálculo, como talvez o senhor imagine. Nós – falo, naturalmente, daqueles poucos que se distinguem; os pequenos, esses continuarão a contar os seus tostões – aprendemos a ver as nossas ideias realmente bem sucedidas como um mistério que troça de qualquer cálculo. Quem não amar o sentimento, a moral, a religião, a música, a poesia, a forma, a disciplina, o código cavalheiresco, a liberalidade, a franqueza, a tolerância – acredite, nunca chegará a ser um grande homem de negócios. Por isso, sempre admirei a profissão do guerreiro; (…) todas as grandes coisas dependem das mesmas qualidades.

Contágio Mental

O contágio mental representa o elemento essencial da propagação das opiniões e das crenças. A sua força é, muitas vezes, bastante considerável para fazer agir o indivíduo contra os seus interesses mais evidentes. As inumeráveis narrações de martírios, de suicídios, de mutilações, etc., determinados por contágio mental fornecem uma prova disso.
Todas as manifestações da vida psíquica podem ser contagiosas, mas são, especialmente, as emoções que se propagam desse modo. As ideias contagiosas são sínteses de elementos afectivos.
Na vida comum, o contágio pode ser limitado pela acção inibidora da vontade, mas, se uma causa qualquer – violenta mudança de meio em tempo de revolução, excitações populares, etc. – vêm paralisá-la, o contágio exercerá facilmente a sua influência e poderá transformar seres pacíficos em ousados guerreiros, plácidos burgueses em terríveis sectários. Sob a sua influência, os mesmos indivíduos passarão de um partido para outro e empregarão tanta energia em reprimir uma revolução quanto em fomentá-la.
O contágio mental não se exerce somente pelo contacto direto dos indivíduos. Os livros, os jornais, as notícias telegráficas, mesmo simples rumores, podem produzi-lo.
Quanto mais se multiplicam os meios de comunicação tanto mais se penetram e se contagiam. A cada dia estamos mais ligados àqueles que nos cercam.

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Prazer e Dor São as Únicas Certezas da Vida

Os filósofos têm tentado abalar todas as nossas certezas e mostrar que do mundo conhecemos apenas aparências. Possuiremos sempre, porém, duas grandes certezas, que nada poderia destruir: o prazer e a dor. Toda a nossa actividade deriva delas. As recompensas sociais, os paraísos e os infernos criados pelos códigos religiosos ou civis baseiam-se na acção dessas certezas, cuja evidente realidade não pode ser contestada.
Desde que a vida se manifesta, surgem o prazer e a dor. Não é o pensamento, mas a sensibilidade, que nos revela o nosso “eu”. Se dissesse: “Sinto, logo existo” ao invés de: “Penso, logo existo”, Descartes estaria muito perto da verdade. Assim modificada, a sua fórmula aplica-se a todos os seres e não a uma fração apenas da humanidade. Dessas duas certezas poder-se-ia deduzir a completa filosofia prática da vida. Fornecem uma resposta segura à eterna pergunta tão repetida desde o Eclesiastes: por que tanto trabalho e tantos esforços, já que a morte nos espera e o nosso planeta se extingará um dia?
Porquê? Porque o presente ignora o futuro e no presente a Natureza condena-nos a procurar o prazer e a evitar a dor.
O operário, curvado sob o peso do trabalho,

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Uma Nação só Vive porque Pensa

Uma nação só vive porque pensa. Cogitat ergo est. A força e a riqueza não bastam para provar que uma nação vive duma vida que mereça ser glorificada na História – como rijos músculos num corpo e ouro farto numa bolsa não bastam para que um homem honre em si a Humanidade. Um reino de África, com guerreiros incontáveis nas suas aringas e incontáveis diamantes nas suas colinas, será sempre uma terra bravia e morta, que, para lucro da Civilização, os civilizados pisam e retalham tão desassombradamente como se sangra e se corta a rês bruta para nutrir o animal pensante. E por outro lado se o Egipto ou Tunis formassem resplandescentes centros de ciências, de literaturas e de artes, e, através de uma serena legião de homens geniais, incessantemente educassem o mundo – nenhuma nação mesmo nesta idade do ferro e de força, ousaria ocupar como um campo maninho e sem dono esses solos augustos donde se elevasse, para tornar as almas melhores, o enxame sublime das ideias e das formas.
Só na verdade o pensamento e a sua criação suprema, a ciência, a literatura, as artes, dão grandeza aos Povos, atraem para eles universal reverência e carinho,

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