Textos sobre Mente

169 resultados
Textos de mente escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

O Lucro de Um é Prejuízo de Outro

O ateniense Dêmades condenou um homem da sua cidade que tinha por ofício vender as coisas necessárias para os enterros, sob a alegação de que exigia um lucro excessivo e esse lucro não lhe podia vir sem a morte de muitas pessoas. Tal julgamento parece estar mal pronunciado, na medida em que não se obtém benefício algum a não ser com prejuízo de outrem, e que dessa maneira seria preciso condenar toda a espécie de ganho.
O mercador só faz bem os seus negócios por causa da devassidão dos jovens; o lavrador, pela carestia dos cereais; o arquitecto, pela ruína das casas; os oficiais de justiça, pelos processos e contendas dos homens; mesmo as honras e a actividade dos ministros da religião provêm da nossa morte e dos nossos vícios. Nenhum médico se alegra com a saúde mesmo dos seus amigos, diz o antigo cómico grego, nem o soldado com a paz da sua cidade; e assim sucessivamente. E o que é pior: cada um sonde dentro de si mesmo, e descobrirá que a maioria dos nossos desejos íntimos nascem e alimentam-se às expensas de outrem.
Considerando isso, veio-me à mente que nisso a natureza não contradiz a sua organização geral,

Continue lendo…

Mente ou Pedra

Esta cidade é conhecida em todos os arredores por possuir as maiores estrebarias para bois, vacas e cavalos, construções que não ficam a dever nada nem sequer aos edifícios públicos; por outro lado contam-se aqui pelos dedos os locais onde se pode rezar ou discursar com total liberdade.
Em vez de se autocelebrarem por meio da arquitectura, não deveriam as nações fazê-lo pelo poder do seu pensamento abstracto? O Bagavad-Gita é muito mais admirável do que todas as ruínas do oriente. Torres e templos são luxo de príncipes. A mente simples e livre não moureja sob as ordens de nenhum príncipe. O espírito não é privilégio de nenhum imperador, nem são exclusivos deste, a não ser em insignificante medida, a prata, o ouro e o mármore. Com que finalidade, digam-me lá, se talha tanta pedra?
Quando estive na Arcádia, não vi pedras a serem lavradas. As nações são possuídas pela louca ambição de perpetuarem a sua memória com a soma das esculturas que deixam. Que tal se esforços semelhantes fossem despendidos no sentido de aperfeiçoar e polir a sua conduta? Uma obra de bom senso seria mais memorável que um momumento da altura da Lua. Prefiro contemplar as pedras no seu local de origem.

Continue lendo…

Tornamo-nos Mais Objectivos Depois de Reconhecermos a Nossa Subjectividade

Toda a arte da psicologia ou da ciência da psicologia, se lhe quisermos chamar assim, é baseada numa inversão do processo de objectividade. Não que não possamos tornar-nos objectivos, mas que apenas possamos tornar-nos objectivos depois de termos confrontado as nossas atitudes não objectivas, as nossas atitudes não racionais. Atingir uma objectividade honesta significa termos de saber quais os pontos da nossa natureza que são propensos a determinado preconceito, que parte de nós é defensiva, que parte de nós distorce o que ouvimos. E é necessária uma tremenda auto-honestidade para começar a remover essas distorções e a clarificar a nossa visão. De modo que só podemos atingir a objectividade depois de termos descoberto quais as áreas da nossa psique que não são objectivas.
Além disso, o reconhecimento básico da psicologia é que, lá bem no íntimo, a maior parte da nossa vida é desconhecida da mente consciente e que, quanto mais nos tornamos consciente dela, mais honestos e mais objectivos nos podemos tornar. Nós não vemos os outros com clareza, e o que obscurece a nossa visão são os preconceitos que a pessoa supostamente objectiva se recusa a reconhecer. Uma pessoa objectiva diria que não é responsável pela guerra,

Continue lendo…

A Fonte da Harmonia

A boa disposição e a alegria de um cão, o seu amor incondicional pela vida e a prontidão dele para a celebrar a todo o momento contrasta muito com o estado de espírito do dono – deprimido, ansioso, sobrecarregado de problemas, perdido em pensamentos, ausente do único lugar e do único tempo que existe: o Aqui e o Agora. E uma pessoa interroga-se: vivendo com alguém assim, como consegue o cão manter-se tão equilibrado e são, tão cheio de alegria?

Quando apreendemos a Natureza apenas através da mente, do pensamento, não somos capazes de sentir a sua força de viver e de existir. Vemos somente a parte física, a matéria, e não nos apercebemos da vida interior – o mistério sagrado. O pensamento reduz a Natureza a uma mercadoria que se usa na busca de benefícios ou de conhecimento ou de qualquer outro fim utilitário. A floresta ancestral passa a ser vista apenas como madeira, o pássaro como um objecto de investigação, a montanha como alguma coisa para se explorar ou conquistar.

Quando se apreende a Natureza, deve-se permitir que hajam momentos sem pensamento, sem a intervenção da mente. Ao aproximarmo-nos da Natureza desta maneira, ela responde-nos e,

Continue lendo…

Os Portugueses São Profundamente Vaidosos

Os Portugueses são profundamente vaidosos. Quando me dizem que eu sou muito vaidosa, eu, nisso, sinto-me muito portuguesa. Quando, por exemplo, os Franceses me dizem, com uma linguagem muito catedrática, «eu conheço muito bem os Portugueses através de toda essa onda de emigração, eles são muito humildes e dizem que o lugar onde gostariam de morrer seria em França», eu digo «tenha cuidado, o português mente sempre. É como o japonês, mente sempre.» Porque tem receio de mostrar o seu complexo de superioridade. Ele acha que é imprudente e que é até disparatado, mas que faz parte da sua natureza. Portanto, apresenta uma espécie de capa e de fisionomia de humildade, modéstia, submissão. Mas não é nada disso, é justamente o contrário. Houve épocas da nossa História em que a sua verdadeira natureza pôde expandir-se sem cair no ridículo, mas há outras em que não. E então, para se defender desse ridículo, o português parece essa pessoa modesta, cordata, que não levanta demasiados problemas, seja aos regimes seja na sua vida particular.

A Verdade Está à Frente do Nosso Nariz

Nós já esquecemos completamente o axioma de que que a verdade é a coisa mais poética no mundo, especialmente no seu estado puro. Mais do que isso: é ainda mais fantástica que aquilo que a mente humana é capaz de fabricar ou conceber… de facto, os homens conseguiram finalmente ser bem sucedidos em converter tudo o que a mente humana é capaz de mentir e acreditar em algo mais compreensível que a verdade, e é isso que prevalece por todo o mundo. Durante séculos a verdade irá continuar à frente do nariz das pessoas mas estas não a tomarão: irão persegui-la através da fabricação, precisamente porque procuram algo fantástico e utópico.

Ama e Ama-te

Sempre que nos dedicamos com a melhor das intenções, e incondicionalmente, a algo ou alguém fazemo-lo e dizemo-lo com amor. Esta palavra, assim como outras bem semelhantes como «amo-me» ou «amo-te», deviam andar nas bocas de todo o mundo. Mas não, muitos consideram-na demasiado valiosa, pesada e própria para poucas ocasiões e, então, raramente a dizem e, creio eu, um dia deixarão de dizê-la. 0 amor é o tesouro mais importante do mundo, é a mais alta dimensão do homem e a maior equação entre alma, o corpo e a mente, no entanto, é tão simples encontra-lo como ver sair água cristalina de uma torneira aberta. É de todos e para todos, como tal, não se compreende tamanha resistência à sua utilização. Tudo o que amamos e todos os que amamos, onde devemos estar incluídos, devem estar ao corrente do nosso amor, não uma, não duas nem três vezes, mas sempre que o sentirmos. Quanto mais verbalizarmos o amor, mais espaço encontramos em nós para amar. Ama e ama-te. Dá voz ao que sentes.

O Que Nos Impede de Agir

Muitas vezes já sabemos o que queremos, quais são os próximos passos a dar rumo à concretização do nosso desejo e, ainda assim, não passamos à ação. Onde é que estamos ancorados, afinal? O que é que nos prende? O maior inimigo da ação é o medo e é precisamente ele que nos impede de agir e, por consequência, de atingir os nossos objetivos. O medo amarra-nos a mente e ainda que o corpo esteja solto que nem uma mola e fresco como uma alface, nada conseguirá fazer. A única arma capaz de deter este monstro é a coragem, pois só munidos dela o conseguiremos encarar de frente e acredita, uma vez olhos nos olhos, o medo desiste sempre primeiro. E desiste porquê? Porque o medo é uma criação da nossa cabeça. Nós inventámo-lo dando razão aos nossos educadores, acreditando que os medos deles eram também os nossos, ou aquando de uma experiência pessoal menos feliz que tivemos com algo ou alguém, ficando com medo de sofrer de novo, de ser novamente enganado ou incapaz outra vez. Independentemente do que sintas e qual a razão para o sentires, uma verdade é absoluta, apenas tu o conseguirás derrotar, mas para isso precisas da composição emocional da coragem,

Continue lendo…

O Conflito entre o Conhecimento e a Fé

Durante o último século, e parte do século anterior, era largamente aceite a existência de um conflito irreconciliável entre o conhecimento e a fé. Entre as mentes mais avançadas prevaleceu a opinião de que estava na altura de a fé ser substituída gradualmente pelo conhecimento; a fé que não assentasse no conhecimento era superstição e como tal deveria ser reprimida (…)
O ponto fraco desta concepção é, contudo, o de que aquelas convicções que são necessárias e determinantes para a nossa conduta e julgamentos não se encontram unicamente ao longo deste sólido percurso científico. Porque o método científico apenas pode ensinar-nos como os factos se relacionam, e são condicionados, uns com os outros. A aspiração a semelhante conhecimento objectivo pertence ao que de mais elevado o homem é capaz, e ninguém suspeitará certamente de que desejo minimizar os resultados e os esforços heróicos do homem nesta esfera. Porém, é igualmente claro que o conhecimento do que é não abre directamente a porta para o que deveria ser. Podemos ter o mais claro e mais completo conhecimento do que é e, contudo, não ser capazes de deduzir daí qual deveria ser o objectivo das nossas aspirações humanas. O conhecimento objectivo fornece-nos instrumentos poderosos para a realização de determinados fins,

Continue lendo…

Os Escritores Medíocres

Essas mentes medíocres simplesmente não se conseguem decidir a escrever como pensam, pois acham que depois o resultado poderia adquirir uma aparência muito simplória. […] Desse modo, apresentam o que têm a dizer com construções forçadas e difíceis, neologismos e períodos extensos, que circundam o pensamento e acabam por o ocultar. Oscilam entre o esforço de o comunicar e o esforço de o esconder. Querem guarnecer o texto de modo que ele adquira uma aparência erudita ou profunda, para que as pessoas pensem que ele contém mais do que se consegue perceber no momento da leitura. Sendo assim, esboçam partes do seu pensamento em expressões curtas, ambíguas e paradoxais, que parecem significar muito mais do que dizem; logo voltam a apresentar os seus pensamentos com uma torrente de palavras e uma verbosidade insuportável, como se fossem necessárias sabe-se lá que medidas para tornar compreensível o seu sentido profundo, enquanto, na verdade, se trata de uma ideia bastante simples, para não dizer até trivial.

Não é da abundância de bens que brotam riquezas, mas, sim, de uma mente contente

Não é da abundância de bens que brotam riquezas, mas, sim, de uma mente contente.

A Diferença Entre o Génio e a Inteligência Normal

A diferença entre o génio e a inteligência normal é, na verdade, apenas quantitativa, na medida em que é apenas uma diferença de grau: no entanto, as pessoas têm tendência para a considerar qualitativa, quando se observa como os homens normais, apesar da sua diversidade individual, pensam todos segundo certas linhas comuns, de modo que estão frequentemente em acordo unânime acerca de julgamentos que, na realidade, são falsos. Isto chega ao ponto de terem certas opiniões básicas que são mantidas em todas as eras e continuamente reiteradas, embora as grandes mentes de todas as eras tenham, aberta ou secretamente, oposto a essas opiniões.

Ser ou não Ser

Hamlet: Ser ou não ser, essa é a questão: será mais nobre suportar na mente as flechadas da trágica fortuna, ou tomar armas contra um mar de obstáculos e, enfrentando-os, vencer? Morrer — dormir, nada mais; e dizer que pelo sono se findam as dores, como os mil abalos inerentes à carne — é a conclusão que devemos buscar. Morrer — dormir; dormir, talvez sonhar — eis o problema: pois os sonhos que vierem nesse sono de morte, uma vez livres deste invólucro mortal, fazem cismar. Esse é o motivo que prolonga a desdita desta vida.

A Mentira

Porque é que, na maior parte das vezes, os homens na vida quotidiana dizem a verdade? Certamente, não porque um deus proibiu mentir. Mas sim, em primeiro lugar, porque é mais cómodo, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória. Por isso Swift diz: «Quem conta uma mentira raramente se apercebe do pesado fardo que toma sobre si; é que, para manter uma mentira, tem de inventar outras vinte». Em seguida, porque, em circunstâncias simples, é vantajoso dizer directamente: quero isto, fiz aquilo, e outras coisas parecidas; portanto, porque a via da obrigação e da autoridade é mais segura que a do ardil. Se uma criança, porém, tiver sido educada em circunstâncias domésticas complicadas, então maneja a mentira com a mesma naturalidade e diz, involuntariamente, sempre aquilo que corresponde ao seu interesse; um sentido da verdade, uma repugnância ante a mentira em si, são-lhe completamente estranhos e inacessíveis, e, portanto, ela mente com toda a inocência.

A Necessidade da Mentira

A imoralidade da mentira não consiste na violação da sacrossanta verdade. Ao fim e ao cabo, tem direito a invocá-la uma sociedade que induz os seus membros compulsivos a falar com franqueza para, logo a seguir, tanto mais seguramente os poder surpreender. À universal verdade não convém permanecer na verdade particular, que imediatamente transforma na sua contrária. Apesar de tudo, à mentira é inerente algo repugnante cuja consciência submete alguém ao açoite do antigo látego, mas que ao mesmo tempo diz algo acerca do carcereiro. O erro reside na excessiva sinceridade. Quem mente envergonha-se, porque em cada mentira deve experimentar o indigno da organização do mundo, que o obriga a mentir, se ele quiser viver, e ainda lhe canta: “Age sempre com lealdade e rectidão”.
Tal vergonha rouba a força às mentiras dos mais subtilmente organizados. Elas confundem; por isso, a mentira só no outro se torna imoralidade como tal. Toma este por estúpido e serve de expressão à irresponsabilidade. Entre os insidiosos práticos de hoje, a mentira já há muito perdeu a sua honrosa função de enganar acerca do real. Ninguém acredita em ninguém, todos sabem a resposta. Mente-se só para dar a entender ao outro que a alguém nada nele importa,

Continue lendo…

Educação para a Independência do Pensamento

Não basta preparar o homem para o domínio de uma especialidade qualquer. Passará a ser então uma espécie de máquina utilizável, mas não uma personalidade perfeita. O que importa é que venha a ter um sentido atento para o que for digno de esforço, e que for belo e moralmente bom. De contrário, virá a parecer-se mais com um cão amestrado do que com um ser harmonicamente desenvolvido, pois só tem os conhecimentos da sua especialização. Deve aprender a compreender os motivos dos homens, as suas ilusões e as suas paixões, para tomar uma atitude perante cada um dos seus semelhantes e perante a comunidade.
Estes valores são transmitidos à jovem geração pelo contacto pessoal com os professores, e não — ou pelos menos não primordialmente — pelos livros de ensino. São os professores, antes de mais nada, que desenvolvem e conservam a cultura. São ainda esses valores que tenho em mente, quando recomendo, como algo de importante, as «humanidades» e não o mero tecnicismo árido, no campo histórico e filosófico.
A importância dada ao sistema de competição e a especialização precoce, sob pretexto da utilidade imediata, é o que mata o espírito de que depende toda a actividade cultural e até mesmo o próprio florescimento das ciências de especialização.

Continue lendo…

O Tipo de Homem que Eu Sou

Agora é necessário que eu deva dizer que tipo de homem sou. O meu nome não importa, nem qualquer outro pormenor exterior particular acerca de mim. Do meu carácter alguma coisa deve ser dita.

Toda a constituição do meu espírito é de hesitação e dúvida. Nada é ou pode ser positivo para mim, todas as coisas oscilam em torno de mim, e eu com elas, uma incerteza para mim próprio. Tudo para mim é incoerência e mudança. Tudo é mistério e tudo é significado. Todas as coisas são «desconhecidos» simbólicos do Desconhecido. Consequentemente horror, mistério, medo supra-inteligente.

Pelas minhas próprias tendências naturais, pelo enquadramento da minha juventude, pela influência dos estudos realizados sob o impulso delas (dessas mesmas tendências), por tudo isso eu sou das espécies internas de caráter, auto-centrado, mudo, não auto-suficiente mas auto-perdido. Toda a minha vida tem sido de passividade e sonho. Todo o meu carácter consiste no ódio, no horror de, na incapacidade que permeia tudo o que me é, fisicamente e mentalmente, por actos decisivos, por pensamentos definidos. Eu nunca tive uma resolução nascida de uma auto-determinação, nunca uma traição externa de uma vontade consciente. Nenhum dos meus escritos foi terminado;

Continue lendo…

Posse Cega

Afligir-se com o que se perdeu e não se rejubilar com o que foi salvo é necedade; só uma criança faria berreiro e atiraria fora o restante dos seus brinquedos se um lhe fosse tomado. Assim procedemos nós, quando a Fortuna nos é adversa num particular: tomamos o resto improfícuo com chorar e lamentarmo-nos.
– Que é que possuímos? – pode-se perguntar.
Que é que não possuímos? Este homem uma reputação, esse uma família, aquele uma esposa, aquele outro um amigo. No seu leito de morte, Antipater de Tarso fez um inventário das boas coisas que lhe haviam sucedido na vida e nele incluiu, mesmo, uma viagem feliz, que fizera de Cilícia a Atenas. As coisas simples não devem ser negligenciadas, mas levadas em conta. Devemo-nos sentir gratos por estarmos vivos, bem, e por nos ser dado ver o sol; por não haver guerra nem revolução; por a terra e o mar estarem ao dispor de quem deseje plantar ou velejar; por nos ser consentido escolher entre falar e agir ou ficar quietos, em paz, gozando do nosso repouso.
A presença destas bençãos aumentará ainda mais o nosso contentamento se imaginarmos como seria se não estivessem presentes;

Continue lendo…

A Vida é uma Busca

A vida é uma busca — uma busca constante, uma busca desesperada, uma busca sem esperança, uma busca de algo que não se sabe o que é. Há um forte impulso para procurar, mas não se sabe o que se procura. E há um certo estado de espírito em que nada daquilo que consegue lhe dará qualquer satisfação. A frustração parece ser o destino da humanidade, porque tudo aquilo que se obtém perde o sentido no momento exacto em que se consegue. Começa-se novamente a procurar.
A busca continua, quer se consiga alguma coisa ou não. Parece ser irrelevante o que se tem e o que não se tem, pois a busca continua de qualquer maneira. Os pobres andam à procura, os ricos andam à procura, os doentes andam à procura, os que estão bem andam à procura, os poderosos andam à procura, os estúpidos andam à procura, os sensatos andam à procura – e ninguém sabe exactamente de quê.

Essa mesma procura — o que é e porque existe — tem de ser compreendida. Parece haver um hiato no ser humano, na mente humana. Na própria estrutura da consciência humana parece haver um buraco, um buraco negro.

Continue lendo…

A mente jungida aos sentidos vê romper-se o seu leme da sabedoria, tal qual uma nau na tormenta deriva para o naufrágio e morte.