Textos sobre Pequenez

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Textos de pequenez escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

O Progresso Real não se Deve aos Génios

É opinião, pode dizer-se, universal, que o conhecimento humano deve a maior parte do seu progresso àqueles génios supremos que surgem de quando em quando, um agora, outro depois, que são quase milagres da natureza. Eu, pelo contrário, penso que ele deva a sua maior parte aos génios comuns, e muito pouco aos extraordinários. Um destes, suponhamos, depois de ter preenchido com a erudição a área do conhecimento dos seus contemporâneos, avança no saber, digamos, dez passos em frente. Os outros homens, porém, não só não se aprestam a segui-lo como, a maior parte das vezes, isto para não dizer pior, se riem do seu progresso.
Entretanto muitos génios medíocres, valendo-se em parte, talvez, dos pensamentos e das descobertas daquele extraordinário, mas principalmente através de estudos deles próprios, dão um passo em conjunto; e, nesse passo, dada a pequenez do espaço, isto é, a reduzida novidade das suas opiniões, e também devido ao elevado número daqueles que são os seus autores, ao fim de alguns anos são universalmente seguidos. Assim, avançando, como é seu hábito, a pouco e pouco, e por obra e a exemplo de outros intelectos medíocres, os homens completam, finalmente, o décimo passo; e as opiniões daquele génio extraordinário são geralmente aceites como verdadeiras em todos os países civilizados.

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Muita Cagança

Todos nós damos vontade de rir. Somos uns pobres diabos. Usando um termo grosseiro: muita cagança, muita cagança e para quê? Somos pequeníssimos. Não é que uma pessoa tenha que aceitar a sua pequenez, mas parece-me bastante triste a vaidade, a presunção, o orgulho, tudo isso com que pretendemos ou queremos mostrar que somos mais do que efectivamente somos. Não será caricato ou ridículo, mas bastante triste.

Uma Apreciação Correcta do Nosso Valor

Uma apreciação correcta do valor daquilo que se é em si e para si mesmo, comparado àquilo que se é apenas aos olhos de outrém, contribuirá em muito para a nossa felicidade. À primeira rubrica pertence tudo o que preenche o tempo da nossa própria existência, o conteúdo íntimo desta. (…) Pelo contrário, o lugar daquilo que somos para outrém é a consciência alheia, é a representação sob a qual nela aparecemos, junto com os conceitos que lhe são aplicados. Ora, isso é algo que não existe imediatamente para nós, mas apenas de modo mediato, vale dizer, na medida em que determina a conduta dos outros para connosco. E mesmo isso só é levado em conta caso tenha influência sobre alguma coisa que possa modificar aquilo que somos em nós e para nós mesmos. Ademais, aquilo que se passa, como tal, na consciência alheia, é-nos indiferente.
E também nos tornaremos cada vez mais indiferentes quando alcançarmos um conhecimento suficiente da superficialidade e da futilidade dos pensamentos, da limitação dos conceitos, da pequenez dos sentimentos, da absurdez das opiniões e do número de erros na maioria das cabeças. E, ainda, à medida que aprendermos pela própria experiência o desdém com que,

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O Oportunismo

O oportunismo é, porventura, a mais poderosa de todas as tentações; quem reflectiu sobre um problema e lhe encontrou solução é levado a querer realizá-la, mesmo que para isso se tenha de afastar um pouco de mais rígidas regras de moral; e a gravidade do perigo é tanto maior quanto é certo que se não é movido por um lado inferior do espírito, mas quase sempre pelo amor das grandes ideias, pela generosidade, pelo desejo de um grupo humano mais culto e mais feliz.
Por outra parte, é muito difícil lutar contra uma tendência que anda inerente ao homem, à sua pequenez, à sua fragilidade ante o universo e que rompe através dos raciocínios mais fortes e das almas mais bem apetrechadas: não damos ao futuro toda a extensão que ele realmente comporta, supomos que o progresso se detém amanhã e que é neste mesmo momento, embora transigindo, embora feridos de incoerência, que temos de lançar o grão à terra e de puxar o caule verde para que a planta se erga mais depressa.
Seria bom, no entanto, que pensássemos no reduzido valor que têm leis e reformas quando não respondem a uma necessidade íntima, quando não exprimem o que já andava,

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Cada Homem Só se Pode Salvar ou Perder Sozinho

Também eu acredito que a existência precede a essência. Que tudo começa quando o coração pulsa pela primeira vez, e tudo acaba quando ele desiste de lutar. Que todas as paisagens são cenários do nosso drama pessoal, comentários decorativos da nossa aventura íntima e profunda. E que, por isso, cada homem só se pode salvar ou perder sozinho, e que só ele é o responsável pelos seus passos, que só as suas próprias raízes são raízes, e que está nas suas mãos a grandeza ou a pequenez do seu destino. Companheiro doutros homens, será belo tudo quanto de acordo com o semelhante fizer, todas as suas fraternidades necessárias e louváveis. Mas que será do tamanho e da qualidade da sua realização singular, da força da sua unidade, da posição que escolheu e da obra que realizou, que a consciência lhe perguntará dia a dia, minuto a minuto.

A Vida não Cabe numa Teoria

A vida… e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós.
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar.

Vivemos numa Paz de Animais Domésticos

Uma cobra de água numa poça do choupal, a gozar o resto destes calores, e umas meninas histéricas aos gritinhos, cheias de saber que o bicho era tão inofensivo como uma folha.
Por fidelidade a um mandato profundo, o nosso instinto, diante de certos factos, ainda quer reagir. Mas logo a razão acode, e o uivo do plasma acaba num cacarejo convencional. Todos os tratados e todos os preceptores nos explicaram já quantas espécies de ofídios existem e o soro que neutraliza a mordedura de cada um. Herdamos um mundo já quase decifrado, e sabemos de cor as ervas que não devemos comer e as feras que nos não podem devorar. Vivemos numa paz de animais domésticos, vacinados, com os dentes caninos a trincar pastéis de nata, tendo aos pés, submissos, os antigos pesadelos da nossa ignorância. Passamos pela terra como espectros, indo aos jardins zoológicos e botânicos ver, pacata e sàbiamente, em jaulas e canteiros, o que já foi perigo e mistério. E, por mais que nos custe, não conseguimos captar a alma do brinquedo esventrado. O homem selvagem, que teve de escolher tudo, de separar o trigo do joio, de mondar dos seus reflexos o que era manso e o que era bravo,

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