Textos sobre Sofrimento de José Luís Nunes Martins

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Textos de sofrimento de José Luís Nunes Martins. Leia este e outros textos de José Luís Nunes Martins em Poetris.

A Morte que Trazemos no Coração

É no coração que morremos. É aí que a morte habita.

Nem sempre nos damos conta que a carregamos connosco, mas, desde que somos vida, ela segue-nos de perto. Enquanto não somos tomados pela nossa, vamos assistindo e sentindo, em ritmo crescente ao longo da vida, às mortes de quem nos é querido. A morte de um amigo é como uma amputação: perdemos uma parte de nós; uma fonte de amor; alguém que dava sentido à nossa existência… porque despertava o amor em nós.

Mas não há sabedoria alguma, cultura ou religião, que não parta do princípio de que a realidade é composta por dois mundos: um, a que temos acesso direto e, outro, que não passa pelos sentidos, a ele se chega através do coração. Contudo, o visível e o invisível misturam-se de forma misteriosa, ao ponto de se confundirem e, como alguns chegam a compreender, não serem já dois mundos, mas um só.
Só as pessoas que amamos morrem. Só a sua morte é absoluta separação. Os estranhos, com vidas com as quais não nos cruzamos, não morrem, porque, para nós, de facto, não chegam sequer a ser.

Só as pessoas que amamos não morrem.

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Lutar Contra as Adversidades

Depois dos bons momentos… vêm sempre os piores. O encontro com o mais belo da existência não anula a nossa fragilidade. Mais uma vez, caímos. Mais uma vez, experimentamos a derrota, sentimos que não somos tão importantes quanto julgávamos, nem, tão-pouco, nada de extraordinário. Estamos, mais uma vez, no chão. Encolhidos. Como no ventre da nossa mãe.

A fraqueza acumulada é uma adversidade brutal. Não é apenas necessário lutar contra o que temos por diante, temos de combater também as derrotas das lutas anteriores, todas as dores, cicatrizes e feridas abertas… todas as perdas.

O que faz à vontade o sofrimento recorrente? Aumenta a tentação de ceder ao mal. Como se fosse natural habituarmo-nos mais aos vícios do que às virtudes.

A cada passo o caminho se torna mais longo…

Sofremos o que não merecemos. Mas a tristeza só é absurda quando não se sabe por que se luta… enquanto não se consegue ver sentido algum na dor…

Há homens e mulheres que, longe dos olhares alheios, lutam contra adversidades enormes, que alguns imaginam impossíveis. Lutam, sofrem e erguem-se, apesar de tudo.

A sua vontade de viver e sorrir é maior do que a de desistir e chorar.

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Depois de Chorar

Não é a tristeza que nos faz chorar, mas o amor que enfrenta os vazios. As angústias e desesperos são expressões de falta.

As lágrimas que de nós brotam e caem longe do olhar dos outros são as que mais força trazem em si, as que fazem concreto e objetivo o sentir mais íntimo.

Por vezes, o coração cai nas armadilhas das tristezas antigas… outras, sentimos os espinhos das novas adversidades cravarem-se-nos na carne. Há sempre tristezas, há sempre sofrimento, haverá sempre dor enquanto houver amor.
As lágrimas não choradas não deixam de ser amargas, mas essas, ao contrário das que nascem, corroem o interior de quem com elas não chega a regar a terra que lhe segura os pés.

A vida faz-se também com as nossas lágrimas e vence-se, muitas vezes, de olhos carregados de mar. O esforço que nos é exigido chega quase a ser impossível sem lágrimas. Chorar não é sinal de derrota, antes sim de um amor que busca a paz merecida.

O sentido da vida cabe dentro de uma gota de água salgada… a verdadeira paixão é a dor máxima do amor mais profundo. Aquele que faz germinar em nós o melhor…

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A Razão da Minha Esperança

Meu bom amigo,

Sei que tens sofrido bastante.

Não posso esquecer que um dia me ensinaste: que leal é quem não abandona; que devemos procurar ser pessoas dignas de confiança, mais do que tentar encontrar alguém assim; e, que a vontade de amar já é, em si mesma, amor.

Permite-me que partilhe contigo, hoje, algumas ideias a respeito dos momentos difíceis…

São muitas as provas que na vida servem para testar quem somos, a força que temos em nós e o nosso valor. Algumas vezes uma pedra gigante vem cair mesmo diante de nós… outras vezes são séries infindáveis de pequenos obstáculos no caminho… longas etapas que nos obrigam a seguir adiante sem descansar, em percursos onde quase nunca se vê o horizonte.
A agitação permanente em que vivemos leva muitos a desistir de encontrar referências mais adiante, mas é preciso que nos afastemos do tempo para assim encontrarmos a posição mais segura, elevando-nos acima dos momentos passageiros para os compreender melhor. No meio da confusão é preciso ver para além do que se pode olhar… estabelecer os alicerces sobre o que é sólido, ainda que seja preciso escavar muito mais fundo do que o normal…

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O Amor não Acontece. Decide-se.

Há quem julgue que o amor é alheio à vontade humana, algo superior que elege, embala e conduz… e que quase nada se pode fazer perante tamanha força. Isso é uma mera paixão no seu sentido menos nobre. E, nesse caso, sim, o amor acontece… Ao contrário, amar é estar acima das paixões e dos apetites. Mesmo quando o amor nasce de uma espontaneidade, resulta de um claro discernimento.

O amor decorre de uma decisão. De um compromisso. Constrói-se de forma consciente. Através do heroísmo de alguém livre que decide ser o que poucos ousam. Escolhe para fim de si mesmo ser o meio para a felicidade daquele a quem ama. Sim, decide-se amar e, sim, decide-se a quem amar.

O amor autêntico é raro e extraordinário, embora o seu nome sirva para quase tudo… a maior parte das vezes designa egoísmos entrelaçados, cada vez mais comuns. São poucos os que se aventuram, os que arriscam tudo, os que se dispõem a amar mesmo quando sabem que poucos sequer perceberão o que fazem, o seu porquê e o para quê.
O amor não supõe reciprocidade. Amar é dar-se por completo e aceitar tudo… não se contabilizam ganhos e perdas,

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Somos a Resposta que Damos ao que Nos Acontece

Somos frágeis. A vida é dura. Não somos o que nos acontece.

Há pesos que não podemos rejeitar. Toda a revolta seria tão ilusória quanto inútil. Mas não devemos ficar pela simples resignação, é preciso que assumamos esses pesos e os queiramos levar de vencidos. Que escolhamos ser quem somos, apesar deles. Com eles. Neles.

Somos a resposta que damos ao que nos acontece.

Temos de aceitar a indiferença e a incompreensão dos outros. As dúvidas e as contradições do mundo são um peso acrescido, que devemos carregar junto às nossas próprias dores, falhas e fraquezas.

Depois, há ainda os pesos que os outros não podem, ou não querem, levar…

Os males pesam, sempre. Sejam os meus, os do mundo ou os dos que amo… há que aceitá-los primeiro, para lhes fazer frente depois.

É essencial aceitar a fraqueza das nossas forças. A impermanência de tudo o que temos. A fragilidade do que somos.

Por vezes, a cruz é o caminho.

É na dor que o verdadeiro amor se manifesta.

Tenho de me negar a mim mesmo se quero amar o outro.

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Próxima Estação

Querida amiga,

Já terás partido para longe quando estiveres a ler estas linhas… permite-me que partilhe contigo o que sinto a respeito desta tua grande mudança…

Nunca é bom colocarmos qualquer tipo de âncora na saudade ou nos sonhos. A nossa casa, o nosso país, é o lugar onde nós estamos. É aí que temos de ser quem somos. É aí que temos de descobrir a felicidade de cada dia. Tudo o resto é estrangeiro.

Cada homem pertence tanto ao sítio de onde vem como àquele para onde vai. A ideia de que as nossas raízes nos prendem e condenam segue na linha errada da outra, também comum, de que os sonhos nos fazem perder… não, a vida é esta forma de ir sendo sempre mais, o que se foi, tanto quanto o que ainda não se é… uma viagem, não uma estação.
Sei que partes com dor porque temes perder quem aqui fica e não ter ninguém por lá, onde chegarás… sabes, em pouco tempo, terás de aceitar que muitos dos que agora lamentam muito a tua partida, se preocuparão tão pouco em saber como estás…

Já fizeste muita gente feliz aqui…

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Náufragos que Navegam Tempestades

As tempestades são sempre períodos longos. Poucas pessoas gostam de falar destes momentos em que a vida se faz fria e anoitece, preferem histórias de praias divertidas às das profundas tragédias de tantos naufrágios que são, afinal, os verdadeiros pilares da nossa existência.

Gente vazia tende a pensar em quem sofre como fraco… quando fracos são os que evitam a qualquer custo mares revoltos, tempestades em que qualquer um se sente minúsculo, mas só os que não prestam o são verdadeiramente. Para a gente de coração pequeno, qualquer dor é grande. Os homens e mulheres que assumem o seu destino sabem que, mais cedo ou mais tarde, morrerão, mas há ainda uma decisão que lhes cabe: desviver a fugir ou morrer sofrendo para diante.
Da morte saímos, para a morte caminhamos. O que por aqui sofremos pode bem ser a forma que temos de nos aproximarmos do coração da verdade.

Haverá sempre quem seja mestre de conversas e valente piloto de naus alheias, os que sabem sempre tudo, principalmente o que é (d)a vida do outro, e mais especificamente se estiver a passar um mau bocado. Logo se apressam a dizer que depois da tempestade vem a bonança,

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O Vento que Decidirmos Ser

Uma das mais importantes escolhas que cada um de nós deve fazer é a de escolhermos qual o foco prin-cipal da nossa atenção e cuidado. Se o mundo à nossa volta, a fim de o mudar, ou se o interior de nós mesmos.

Quase todos os bens e males da nossa existência partem do nosso interior, pelo que será aí que importa aperfeiçoar, de forma profunda, tudo o que existe no nosso íntimo.

Um dos trabalhos mais importantes de cada um de nós será o de saber bem o que queremos. O segredo da felicidade pode estar aí: alterar em nós o que nos possa estar a causar desnecessárias ansiedades. Quantas vezes desejamos algo que está fora da nosso controlo?
Existem três tipos de coisas: as que dependem apenas de nós; as que escapam por completo à nossa decisão; e, aquelas sobre as quais temos algum controlo, mas não total.

Se fizermos a nossa alegria depender de algo que não está na nossa mão, então será fácil que nos sinta-mos roubados de algo que, na verdade, nunca foi nosso. Mesmo nos casos em que o conseguimos obter, a ansiedade associada à posse, até pela iminência de o perder da mesma forma que o ganhámos,

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As Obras e os Mistérios do Amor

Quem ama não sente o amor no seu coração. Vive no coração do amor. O amor que nos oferece os sonhos mais belos e nos faz voar, é o mesmo que nos crava os espinhos mais duros na carne e se faz mar nas nossas lágrimas.

O amor faz o que quer, onde e quando alguém o aceita. Não tem outras mãos ou olhos senão os nossos. A força do amor é aquela de que nós formos capazes. Por isso, amar é, antes de tudo, aceitar.

Há quem entregue a sua vida por amor. Quem se abandone a si mesmo, deixando para trás aquilo que outros julgam ser o seu maior tesouro… A vida é para amar, quem não ama, apenas sobrevive.
Há quem morra por amor. Mas esta vida é apenas um pedaço de outra, maior, que só é vivida pelos que tiverem a coragem imprudente de ser luz e calor na vida de alguém, aceitando-o como é… e como quer ser. Sem o julgar. Respeitando sempre os seus espaços e os seus tempos, o seu passado e o seu futuro. Amar é corrigir e ajudar quem se ama a ser melhor, mas não o obrigando aos nossos pensamentos e sentimentos,

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O Sentido Trágico do Amor

Todo o homem tende naturalmente para o amor. Acontece que o conceito comum de amor corresponde de forma quase universal a uma ideia genérica, ambivalente e, tantas vezes, errada, porque tão irreal.

Amar é dar-se. Entregar a própria essência a um outro, lutando em favor dele. De forma pura e gratuita, sem esperar outra recompensa senão a de saber que se conseguirá ser o que se é. Amar, ao contrário do que julgam muitos, não é uma fonte de satisfação… Amar é algo sério, arrebatador e tremendamente desagradável. Quem ama sabe que isso mais se parece com uma espécie de maldição do que com narrativas infantis de final invariavelmente feliz…

Cavaleiros valentes e princesas encantadas são, no entanto, excelentes metáforas que pretendem passar a ideia da coragem e da nobreza de carácter essenciais a quem ama. Ama-se quando se é capaz de se ser quem é, verdadeiramente.
Esta luta heróica pelo valor da essência do outro não está ao alcance de todos. A maior parte das pessoas são egocêntricas, alegram-se a entrançar os seus egoísmos em figuras improvisadas de resultado sempre disforme a que teimam chamar amor. Talvez porque assim consigam disfarçar o vazio que é a prova de quão frustrante,

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O Medo do Fim

Alguns pensam que a felicidade é a ausência de sofrimento… mas, na verdade, está errada essa ideia. A felicidade e o sofrimento são ambos pilares fundamentais da existência. Sem sofrimento a nossa humanidade não seria provada e os nossos dias não teriam valor. Assim também a felicidade, sendo a alegria mais profunda, é o que dá sentido a todas as noites… não são realidades que se possam medir, mas não deixam de ser algo tão concreto como as nossas duas mãos, que sempre trabalham em conjunto, sabendo cada uma o seu papel e o seu valor.

Evitar a dor não nos torna mais fortes.

Tememos as perdas. Tememos a morte. Talvez porque o nada é um abismo que assusta todos quantos têm uma vida com valor. Porque somos impelidos a defender o significado do que erguemos aqui. Não se quer aceitar que tudo quanto se construiu, durante uma vida, seja suprimido sem deixar rasto. Quantas vezes não é o momento do fim que se teme, mas antes o que se pode fazer até lá?
Caminhar rumo ao desconhecido é uma prova de coragem e de fé diante das evidências deste mundo. Os olhos não querem ver nem as pernas caminhar,

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O que é Dar a Vida?

Dar a vida é amar. Abdicar de si… em favor de um outro. Vencer egoísmos e medos com a convicção de que dar-se nunca é um excesso nem uma cobardia.

Dar a vida é perder-se para se encontrar. Entregar-se para se receber… É aparecer, sair de si até ao ponto de se poder ver bem diante dos próprios olhos.

Dar a vida é vivê-la tal como ela é na essência: generosa! Ser mais vida na vida de outro alguém. Cuidar da existência do outro com a sua… dar a vida é ser outro. Melhor. Muito.
Dar a vida é ser um sorriso apenas com um olhar. É oferecer lágrimas a quem já perdeu as suas. Ser um silêncio onde há paz… e uma melodia que revela que o melhor do mundo repousa em nós… à espera de nós.

Dar a vida é reconhecer a beleza que há neste mundo. No outro e no mundo do outro. É contribuir para o equilíbrio e ficar em harmonia… com tudo e com cada coisa, compreendendo que a verdadeira alegria é a coisa mais séria da vida.

Dar a vida é guardar-se para o momento oportuno,

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A Chama da Vida e o Fogo das Paixões

Nem sempre estar apaixonado é bom. A maior parte das paixões tomam conta da vontade e assumem o controlo do sentir e do pensar. Prometem a maior das libertações, mas escravizam quem desiste de si mesmo e a elas se submete.

A paixão é sofrimento, um furor que é o oposto da paz e do contentamento. Um vazio fulminante capaz das maiores acrobacias para se satisfazer. Mas que, como nunca se sacia, acaba por se consumir, por se destruir a si mesmo. Para ter paz precisamos de fazer esta guerra, na conquista do mais exigente de todos os equilíbrios: entre a monotonia de nada arriscar e a imprudência de entregar tudo sem uma vontade própria profunda. É essencial que saibamos desafiarmo-nos, por vezes, a um profundo desequilíbrio momentâneo. Afinal, quem nunca ousa está perdido, para sempre.
Há boas paixões. São as que trabalham como um fermento. De forma pacata, pacífica e paciente. Animam, mas não dominam. Orientam, mas não decidem. Iluminam, mas não cegam.

Quase ninguém faz ideia da capacidade que cada um de nós tem para suportar e vencer grandes sofrimentos…

Por paixões comuns, há quem perca a cabeça, o coração e a alma.

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