Poderia perguntar-se se é realmente a felicidade o valor máximo que a Humanidade procura e se não é a felicidade apenas um instrumento de alguma coisa mais fundamental do que ela.
Recentes
Fuja à maledicência. O lodo agitado atinge a quem o revolve.
Se uma nação espera ser ignorante e livre, espera-se que nunca foi e nunca será.
Todos nós, em algum momento, já dissemos entre lágrimas: ?estou sofrendo por um amor que não vale a pena?. Sofremos porque achamos que damos mais do que recebemos.
Aquilo que se faz por amor, parece ir sempre além dos limites do bem e do mal.
Uma raça, cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma, entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida.
O Alimento da Imaginação
Possuir muita imaginação significa que a função de percepção do cérebro é suficientemente forte para, invariavelmente, não necessitar de um estímulo dos sentidos para entrar em actividade. Consequentemente, a imaginação é tanto mais activa quanto menos percepções do exterior nos forem transmitidas pelos sentidos. Uma prolongada solidão, a prisão ou um leito de doença, o silêncio, o crepúsculo, a escuridão, são-lhe propícios: sob a sua influência, entra em actividade sem ser invocada. Por outro lado, quando é fornecida à nossa pecepção uma grande quantidade de matéria real do exterior, como sucede nas viagens, no bulício da vida, ao meio-dia, a imaginação faz férias e recusa-se a entrar em actividade, mesmo quando invocada: parece que não é a sua estação.
Não obstante, para que a imaginação seja frutuosa, é preciso que tenha recebido muito material do mundo exterior, pois só isso pode encher a sua despensa. Mas a alimentação da fantasia é como a alimentação do corpo: é precisamente na altura em que recebe uma grande dose de alimentos que precisa de digerir que o corpo se encontra menos eficiente e mais gosta de descansar – no entanto, é a esse alimento que deve toda a força que mais tarde manifesta,
Com o bilhete de entrada no cinema, compramos um harém de mulheres maravilhosas, que à saída nos abandonam.
A Minha Infelicidade
A evolução foi simples. Quando eu ainda estava contente queria estar descontente, e, com todos os meios que o tempo e a tradição me ofereciam, lancei-me no descontentamento — e então queria outra vez voltar a trás. Assim, fui sempre descontente, até com o meu contentamento. Estranho, como uma coisa a fingir, se usada sistematicamente, se pode tornar realidade. Jogos infantis (embora eu tivesse bem consciência de que eles eram infantis) marcaram o começo do meu declínio intelectual. Cultivei deliberadamente um tique facial, por exemplo, ou então andava pelo Graben com os braços cruzados atrás da cabeça. Um jogo repugnantemente infantil mas com êxito (o meu trabalho literário começou da mesma maneira; só mais tarde, durante a sua evolução, é que veio uma paragem, infelizmente). Se é possível forçar assim a infelicidade sobre nós, é possível forçar o que quer que seja sobre nós. Uma grande parte da minha evolução parece contradizer-me, na medida em que contradiz a minha natureza pensar nisso, não posso afiançar que os primeiros laivos da minha infelicidade eram já uma necessidade interior; eles devem de facto ter uma necessidade, mas não uma necessidade interior — eles lançaram-se sobre mim como um enxame de moscas e poderiam ter sido afastados de mim com a mesma facilidade.
A crítica é algo que pode ser evitado não dizendo nada, não fazendo nada e não sendo ninguém.
Tenha coragem de seguir o que seu coração e sua intuição dizem. Eles já sabem o que você realmente deseja. Todo resto é secundário.
Escolhe Inimigos Que Te Mereçam
Gosto dos valentes; mas não basta bater a torto e a direito; é preciso saber ainda no que se bate. E muitas vezes há mais coragem em se conter e passar adiante, a fim de se reservar para um adversário mais digno. Tende apenas inimigos dignos de ódio, e não inimigos desprezíveis; é necessário que possais estar orgulhosos dos vossos inimigos; já vos ensinei isso.
É necessário reservardes-vos para um adversário mais digno, meus amigos; por isso tereis de passar por cima de muitas ofensas, – passar por cima de muita canalha que vos massacrará com as palavras povo e nação.
Livrai o vosso olhar de se misturar às suas contestações. É um matagal de direitos e de abusos. Ter de considerá-los irrita. Lançar aí os olhos – atirar-se para a confusão – é a mesma coisa; ide-vos pois para os bosques e deixai dormir a vossa espada!
Segui os caminhos que vos pertencem.
Ideias são como pulgas: saltam de uns para os outros, mas não mordem a todos.
Às vezes choramos as ilusões com a mesma dor com que choramos os mortos.
Ouso dizer que Deus é amor.
Mas a vaidade está funcionando: ela tem um olhar que implora os olhos e as mãos que chamam à atividade: o dono também é favorável aos seus impérios em que o orgulho é fatal; é social; com ela é mais feliz do que com o orgulho, porque é raro não ficar feliz com algo que é vaidoso.
Todo prazer sentido com gosto parece-me casto
Alegria certa, candeia morta.
Foi um juiz que me casou. Eu deveria ter pedido um júri.
Visio
Eras pálida. E os cabelos,
Aéreos, soltos novelos,
Sobre as espáduas caíam…
Os olhos meio cerrados
De volúpia e de ternura
Entre lágrimas luziam…
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiam…Depois, naquele delírio,
Suave, doce martírio
De pouquíssimos instantes,
Os teus lábios sequiosos,
Frios, trêmulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se casavam
Nossas almas palpitantes…Depois… depois a verdade,
A fria realidade,
A solidão, a tristeza;
Daquele sonho desperto,
Olhei… silêncio de morte
Respirava a natureza —
Era a terra, era o deserto,
Fora-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
Lábios trêmulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e veemente;
Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a fantasia doente.E agora te vejo. E fria
Tão outra estás da que eu via
Naquele sonho encantado!