Nas faldas do Himalaia, o Himalaia é só as faldas do Himalaia. É na distância ou na memória ou na imaginação que o Himalaia é da sua altura, ou talvez um pouco mais alto.
Passagens sobre Distância
241 resultadosPartida
Ao ver escoar-se a vida humanamente
Em suas águas certas, eu hesito,
E detenho-me Ă s vezes na torrente
Das coisas geniais em que medito.Afronta-me um desejo de fugir
Ao mistério que é meu e me seduz.
Mas logo me triunfo. A sua luz
NĂŁo há muitos que a saibam reflectir.A minh’alma nostálgica de alĂ©m,
Cheia de orgulho, ensombra-se entretanto,
Aos meus olhos ungidos sobe um pranto
Que tenho a fôrça de sumir também.Porque eu reajo. A vida, a natureza,
Que sĂŁo para o artista? Coisa alguma.
O que devemos Ă© saltar na bruma,
Correr no azul á busca da beleza.É subir, é subir à lem dos céus
Que as nossas almas sĂł acumularam,
E prostrados resar, em sonho, ao Deus
Que as nossas mãos de auréola lá douraram.É partir sem temor contra a montanha
Cingidos de quimera e d’irreal;
Brandir a espada fulva e medieval,
A cada hora acastelando em Espanha.É suscitar côres endoidecidas,
Ser garra imperial enclavinhada,
E numa extrema-unção d’alma ampliada,
Experimentemos fazer esta pergunta: «Quem sou eu? Quem sou eu ante o meu Senhor? Sou capaz de exprimir a minha alegria, de O louvar? Ou tomo as minas distâncias? Quem sou eu ante Jesus que sofre?»
A Eterna Criança
Com a força do seu olhar intelectual e da sua penetração espiritual cresce a distância e, de certo modo, o espaço que circunda o homem: o seu mundo torna-se mais profundo, avistam-se continuamente estrelas novas, imagens novas e novos enigmas. Talvez tudo aquilo em que o olhar do espĂrito exercitou a sua sagacidade e profundeza tenha sido apenas um pretexto para este exercĂcio, um jogo e uma criancice e infantilidade.
As fases da felicidade, vistas de longe, parecem muito curtas; as fases da amargura são, pelo contrário, ampliadas pela distância.
Mensagem – Mar PortuguĂŞs
MAR PORTUGUĂŠS
Possessio Maris
I. O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.Quem te sagrou criou-te portuguĂŞs.
Do mar e nĂłs em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!II. Horizonte
Ă“ mar anterior a nĂłs, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
’Splendia sobre as naus da iniciação.Linha severa da longĂnqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves,
A Distância Entre Gerações
A solução de continuidade entre as gerações depende da impossibilidade de transmitir a experiĂŞncia, de fazer evitar aos outros os erros já cometidos por nĂłs. A verdadeira distância entre duas gerações Ă© dada pelos elementos que tĂŞm em comum e que obrigam Ă repetição cĂclica das mesmas experiĂŞncias, como nos comportamentos das espĂ©cies animais transmitidos pela herança biolĂłgica; ao passo que os elementos da verdadeira diversidade existente entre nĂłs e eles sĂŁo, pelo contrário, o resultado das modificações irreversĂveis que cada Ă©poca traz consigo, ou seja, dependem da herança histĂłrica que nĂłs lhes transmitimos, a verdadeira herança de que somos responsáveis, mesmo que por vezes o sejamos de forma inconsciente. Por isso nĂŁo temos nada a ensinar: sobre aquilo que mais se parece com a nossa experiĂŞncia nĂŁo podemos influir; naquilo que traz o nosso cunho, nĂŁo sabemos reconhecer-nos.
Ă€ Minha Filha
Vejo em ti repetida,
A anos de distância,
A minha prĂłpria vida,
A minha própria infância.É tal a semelhança,
É tal a identidade,
Que é só em ti, criança,
Que entendo a eternidade.Todo o meu ser se exala,
Se reproduz no teu:
É minha a tua fala,
Quem vive em ti, sou eu.Sorris como eu sorria,
Cismas do meu cismar,
O teu olhar copia,
Espelha o meu olhar.És como a emanação,
Como o prolongamento,
Quer do meu coração,
Quer do meu pensamento.Encarnas de tal modo
Minha alma fugitiva,
Que eu nĂŁo morri de todo
Enquanto sejas viva!Por que mistério imenso
Se fez a transmissĂŁo
De quanto sinto e penso
Para esse coração?Foi como se eu andasse
Noutra alma a semear
Meu peito, minha face,
Meu riso, meu olhar…Meus Ăntimos desejos,
Meus sonhos mais doirados,
Florindo com meus beijos
Os campos semeados.Bendita Ă© a colheita,
Deus confiou em nĂłs…
A distância que você percorre na vida depende do seu carinho com os jovens, da sua delicadeza com os idosos, da sua compreensão com os que se esforçam e da sua tolerância com os fracos e os fortes.
O Solitário
Como alguém que por mares desconhecidos viajou,
assim sou eu entre os que nunca deixaram a sua pátria;
os dias cheios estĂŁo sobre as suas mesas
mas para mim a distância é puro sonho.Penetra profundamente no meu rosto um mundo,
tĂŁo desabitado talvez como uma lua;
mas eles nĂŁo deixam um Ăşnico pensamento sĂł,
e todas as suas palavras sĂŁo habitadas.As coisas que de longe trouxe comigo
parecem muito raras, comparadas com as suas —:
na sua vasta pátria são feras,
aqui sustém a respiração, por vergonha.Tradução de Maria João Costa Pereira
Ode para o Futuro
Falareis de nĂłs como de um sonho.
CrepĂşsculo dourado. Frases calmas.
Gestos vagarosos. MĂşsica suave.
Pensamento arguto. Subtis sorrisos.
Paisagens deslizando na distância.
Éramos livres. Falávamos, sabĂamos,
e amávamos serena e docemente.Uma angústia delida, melancólica,
sobre ela sonhareis.E as tempestades, as desordens, gritos,
violência, escárnio, confusão odienta,
primaveras morrendo ignoradas
nas encostas vizinhas, as prisões,
as mortes, o amor vendido,
as lágrimas e as lutas,
o desespero da vida que nos roubam
– apenas uma angĂşstia melancĂłlica,
sobre a qual sonhareis a idade de oiro.E, em segredo, saudosos, enlevados,
falareis de nĂłs – de nĂłs! – como de um sonho.
O tempo nada mais é do que a distância entre as nossas lembranças.
O voo até a Lua não é tão longe. As distâncias maiores que devemos percorrer estão dentro de nós mesmos.
A Inveja sĂł Incide sobre os Vivos
Por mais que vivamos juntos, e nos vejamos sempre, Ă© por um modo como vago, e passageiro: as cousas nem por estarem muito perto se vĂŞem melhor, e os HerĂłis o que os faz mais visĂveis, Ă© a distância, e desproporção dos outros homens em que os põem as suas acções; nĂŁo sĂł os homens, mas ainda os sucessos, quanto mais longe vĂŁo ficando, mais crescem, e nos vĂŁo parecendo maiores, atĂ© que os vimos a perder de vista, e muitas vezes da memĂłria; porque no tempo tambĂ©m há um ponto de perspectiva, donde como em espelho vĂŁo crescendo todos os objectos, e em chegando a um certo termo, desaparecem. As empresas, que hoje vemos, talvez nĂŁo sejam inferiores Ă s que a tradição refere do tempo do heroĂsmo; porĂ©m tĂŞm de menos o estarem prĂłximas a nĂłs, e as outras tĂŞm de mais, o valor que recebem de uma antiguidade venerável: aquelas admiramos porque nĂŁo temos inveja, nem vaidade, que nos preocupe contra os que passaram há muitos sĂ©culos; contra os que existem sim, e destes, se sabemos as acções, tambĂ©m sabemos as circunstâncias delas; por isso as desprezamos, porque Ă© rara a empresa herĂłica, em que nĂŁo entre algum fim indigno,
Por que nos conhecemos? Por que o acaso o quis? Foi porque através da distância, sem dúvida, como dois rios que correm a unir-se, nossas inclinações particulares nos impeliram um para o outro.
É assim tĂŁo longĂnqua a felicidade? No tempo, refiro-me Ă sua distância no tempo; em termos de perspetiva, nĂŁo está longe nem perto, a felicidade Ă© algo por que se espera, que se procura, e quando começas a cansar-te de esperar, o dono do local onde marcaste encontro com ela tem pressa em fechar o estabelecimento (espere, espere, nĂŁo me empurre, por favor, deixe-me acabar esse copo). Ă€ tua frente, a porta em direção Ă qual ele te empurra, e lá fora estende-se a noite que terás de enfrentar sozinho, a escuridĂŁo que assusta a criança, e nĂŁo queres mergulhar nesse negrume.
Os Animais e o Homem
Desde Montaigne e ainda hoje, entretemo-nos de bom grado com um desĂgnio que nada tem de caridoso, a meu ver, em comparar os animais com o homem. Querem reduzir a quase nenhuma a distância que separa as suas faculdades; de facto, elas tocam-se, excepto num ponto, que está bem prĂłximo de ser tudo: Ă© que um faz por princĂpios o que os outros fazem por necessidade e natureza, ou seja, um pensa e os outros parecem pensar.
O sorriso reduz as distâncias.
Enlevo
Da doçura da Noite, da doçura
De um tenro coração que vem sorrindo,
Seus segredos recĂ´nditos abrindo
Pela primeira vez, a luz mais pura.Da doçura celeste, da ternura
De um Bem consolador que vai fugindo
Pelos extremos do horizonte infindo,
Deixando-nos somente a Desventura.Da doçura inocente, imaculada
De uma carĂcia virginal da Infância,
Nessa de rosas fresca madrugada.Era assim tua cândida fragrância,
Arcanjo ideal de auréola delicada,
VisĂŁo consoladora da Distância…
Natal
1
A voz clamava no Deserto.
E outra Voz mais suave,
LĂrio a abrir, esvoaçar incerto,
TĂmido e alvente, de ave
Que larga o ninho, melodia
Nascente, docemente,
Uma outra Voz se erguia…A voz clamava no Deserto…
Anunciando
A outra Voz que vinha:
Balbuciar de fonte pequenina,
Dando
Ă€ luz da Terra o seu primeiro beijo…
Inefável anúncio, dealbando
Entre as estrelas moribundas.2
Das entranhas profundas
Do Mundo, eco do Verbo, a profecia,
– Ă€ distância de SĂ©culos, – dizia,
Pressentia
Fragor de sismos, o dum mundo ruindo,
Redimindo
Os cárceres do mundo…A voz dura e ardente
Clamava no Deserto…Natal de Primavera,
A nova Luz nascera.
Voz do céu, Luz radiante,
Mais humana e mais doce
E irmĂŁ dos Poetas
Que a voz trovejante
Dos profetas
Solitários.3
A divina alvorada
Trazia
LĂrios no regaço
E rosas.
Natal. Primeiro passo
Da secular Jornada,
Era um canto de Amor
A anunciar Calvários,