Passagens sobre Gosto

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Frases sobre gosto, poemas sobre gosto e outras passagens sobre gosto para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Cartas

Vou correndo buscá-las – são tão leves!
mas trazem a minha alma um grande encanto,
– por que as cartas que escreves custam tanto?
– por que demora tanto o que me escreves?

Não deves torturar-me assim, não deves!
– Do teu silêncio muita vez me espanto…
Mando-te longas cartas – e entretanto
como tuas respostas são tão breves!…

Recebes cartas minhas todo dia,
e elas não dizem tudo o que eu queria
mas falam-te de amor… de coisas belas!

Tuas cartas… Mas dou-te o meu perdão,
– que me importa afinal ter razão,
se gosto tanto de esperar por elas!

A Essência das Coisas

Nunca me conformei com um conceito puramente científico da Existência, ou aritmético-geométrico, quantitativo-extensivo. A existência não cabe numa balança ou entre os ponteiros dum compasso. Pesar e medir é muito pouco; e esse pouco é ainda uma ilusão. O pesado é feito de imponderáveis, e a extensão de pontos inextensos, como a vida é feita de mortes.
A realidade não está nas aparências transitórias, reflexos palpitantes, simulacros luminosos, um aflorar de quimeras materiais. Nem é sólida, nem líquida, nem gasosa, nem electromagnética, palavras com o mesmo significado nulo. Foge a todos os cálculos e a todos os olhos de vidro, por mais longe que eles vejam, ou se trate dum núcleo atómico perdido no infinitamente pequeno, ou da nebulosa Andrómeda, a seiscentos mil anos de luz da minha aldeia!
A essência das coisas, essa verdade oculta na mentira, é de natureza poética e não científica. Aparece ao luar da inspiração e não à claridade fria da razão. Esta apenas descobre um simples jogo de forças repetido ou modificado lentamente, gestos insubstanciais, formas ocas, a casca de um fruto proibido.
Mas o miolo é do poeta. Só ele saboreia a vida até ao mais íntimo do seu gosto amargoso,

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Embirração

(A Machado de Assis)

A balda alexandrina é poço imenso e fundo,
Onde poetas mil, flagelo deste mundo,
Patinham sem parar, chamando lá por mim.
Não morrerão, se um verso, estiradinho assim,
Da beira for do poço, extenso como ele é,
Levar-lhes grosso anzol; então eu tenho fé
Que volte um afogado, à luz da mocidade,
A ver no mundo seco a seca realidade.

Por eles, e por mim, receio, caro amigo;
Permite o desabafo aqui, a sós contigo,
Que à moda fazer guerra, eu sei quanto é fatal;
Nem vence o positivo o frívolo ideal;
Despótica em seu mando, é sempre fátua e vã,
E até da vã loucura a moda é prima-irmã:
Mas quando venha o senso erguer-lhe os densos véus,
Do verso alexandrino há de livrar-nos Deus.

Deus quando abre ao poeta as portas desta vida,

Não lhe depara o gozo e a glória apetecida;
E o triste, se morreu, deixando mal escritas
Em verso alexandrino histórias infinitas,
Vai ter lá noutra vida insípido desterro,
Se Deus, por compaixão, não dá perdão ao erro;

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Gosto demasiado da política para me candidatar à Presidência da República. Sou estruturalmente antipresidencialista e sempre entendi que, em democracia, a política deve ter no Parlamento a sua razão e o seu objectivo.

Não gosto de pessoas que, para ter algum efeito, necessitam estourar como bombas, e junto às quais há sempre perigo de perdermos subitamente a audição – e mesmo alguma coisa a mais.

Ah! Fortuna Cruel! Ah! Duros Fados!

Ah! Fortuna cruel! Ah! duros Fados!
Quão asinha em meu dano vos mudastes!
Passou o tempo que me descansastes,
agora descansais com meus cuidados.

Deixastes-me sentir os bens passados,
para mor dor da dor que me ordenastes;
então nü’hora juntos mos levastes,
deixando em seu lugar males dobrados.

Ah! quanto milhor fora não vos ver,
gostos, que assi passais tão de corrida,
que fico duvidoso se vos vi:

sem vós já me não fica que perder,
se não se for esta cansada vida,
que por mor perda minha não perdi.

O Homem é um Animal Irracional

1. O homem é um animal irracional, exactamente como os outros. A única diferença é que os outros são animais irracionais simples, o homem é um animal irracional complexo. É esta a conclusão que nos leva a psicologia científica, no seu estado actual de desenvolvimento. O subconsciente, inconsciente, é que dirige e impera, no homem como no animal. A consciência, a razão, o raciocínio são meros espelhos. O homem tem apenas um espelho mais polido que os animais que lhe são inferiores.

2. Sendo assim, toda a vida social procede de irracionalismos vários, sendo absolutamente impossível (excepto no cérebro dos loucos e dos idiotas) a ideia de uma sociedade racionalmente organizada, ou justiceiramente organizada, ou, até, bem organizada.

3. A única coisa superior que o homem pode conseguir é um disfarce do instinto, ou seja o domínio do instinto por meio de instinto reputado superior. Esse instinto é o instinto estético. Toda a verdadeira política e toda a verdadeira vida social superior é uma simples questão de senso estético, ou de bom gosto.
4. A humanidade, ou qualquer nação, divide-se em três classes sociais verdadeiras: os criadores de arte; os apreciadores de arte; e a plebe.

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Eu gosto daquilo que não faz sentido, porque acorda as células cerebrais. A fantasia é um ingrediente necessário à vida.

O Gosto pela Simplicidade

Cansado às vezes do artificialismo que domina hoje em todos os géneros, enfadado com os chistes, os lances espirituosos, com as troças e com todo esse espírito que se quer colocar nas menores coisas, digo comigo mesmo: se eu pudesse encontrar um homem que não fosse espirituoso, com quem não fosse preciso sê-lo, um homem ingénuo e modesto, que falasse somente para se fazer entender e para exprimir os sentimentos do seu coração, um homem que só tivesse a razão e um pouco de naturalidade: com que ardor eu correria para descansar na sua conversa ao invés do jargão e dos epigramas do resto dos homens! Como é que acontece perder-se o gosto pela simplicidade a ponto de não mais se perceber que ele foi perdido? Não há virtudes nem prazeres que dela não retirem encantos e as suas graças mais tocantes.

Comparação de Obras de Arte

À questão de saber se se devem ou não fazer comparações quando se observam diferentes obras de arte gostaríamos de dar a resposta que se segue. O conhecedor que tem formação adequada deve comparar: a ideia paira à sua frente, apreendeu o conceito relativo ao que pode e ao que deve ser produzido. O amador, que é apanhado ainda no trajecto da sua formação, só tem a ganhar se não fizer comparações e se observar em separado cada realização: é assim que o seu gosto e o seu sentido do geral se irão formando a pouco e pouco. Quanto à comparação levada a cabo pelo não iniciado é apenas uma solução de facilidade que dispensa qualquer juízo.

Camões, Grande Camões, quão Semelhante

Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co’o sacrílego gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas… oh, tristeza!…
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.

Como somos uma espécie condenada, prisioneira num barco, como tudo é uma farsa de mau gosto, desempenhemos, afinal de contas, nosso papel; mitiguemos as penas dos nossos companheiros de prisão. Decoremos o calabouço com flores e almofadas; sejamos o mais corretos possível.

A Inutilidade da Crítica

Que a obra de boa qualidade sempre se destaca é uma afirmação sem valor, se aplicada a uma obra de qualidade realmente boa e se por “destaca” quer-se fazer referência à aceitação na sua própria época. Que a obra de boa qualidade sempre se destaca, no curso de sua futuridade, é verdadeiro; que a obra de boa qualidade, mas de segunda ordem sempre se destaca na sua própria época, é também verdadeiro.
Pois como há-de um crítico julgar? Quais as qualidades que formam, não o incidental, mas o crítico competente? Um conhecimento da arte e da literatura do passado, um gosto refinado por esse conhecimento, e um espírito judicioso e imparcial. Qualquer coisa menos do que isto é fatal ao verdadeiro jogo das faculdades críticas. Qualquer coisa mais do que isto é já espírito criativo e, portanto, individualidade; e individualidade significa egocentrismo e certa impermeabilidade ao trabalho alheio.
Quão competente é, porém, o crítico competente? Suponhamos que uma obra de arte profundamente original surja diante dos seus olhos. Como a julga ele? Comparando-a com as obras de arte do passado. Se for original, porém afastar-se-á em alguma coisa — e quanto mais original mais se afastará — das obras de arte do passado.

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Predisposição de Espírito

A nossa tristeza faz-nos parecer tudo o que vemos triste; a nossa alegria tudo nos mostra alegre; e o nosso contentamtento tudo nos mostra com agrado; os objectos influem menos em nós, do que nós influímos em nós mesmos. Vemos como de fora as aparências de que o mundo se compõe, por isso não conhecemos o seu verdadeiro ser, nem gozamos delas no estado em que as achamos, mas sim naquele em que elas nos acham. A delícia dos olhos, e do gosto, dependem mais da nossa disposição que da sua eficácia; o mesmo, que ontem nos atraiu hoje nos aborrece; ontem porque estava sem perturbação o nosso ânimo, hoje porque está com desassossego; e tudo porque não somos hoje, o que ontem fomos: o mesmo que hoje nos agrada, amanhã nos desgosta, e os objectos, por serem os mesmos, não causam sempre em nós as mesmas impressões; por motivos diferentes recebemos alterações iguais. O pouco que basta para afligir-nos, ou para contentar-nos, bem mostra o pouco constantes, que são em nós a aflição, e o contentamento; por isso uma, e outra coisa nos deixa com a mesma facilidade com que nos penetra.

Por saúde, quero dizer a possibilidade de levar uma vida completa, adulta, viva, em que eu esteja em estado de respirar em comunhão com aquilo de que gosto.

Idylio d’Aldeia

Não sei que ha que me impelle
Para o teu escuro olhar!…
É mais branca a tua pelle,
Do que o linho de fiar!

É tua boca um botão,
E o teu riso a lua nova; –
Quem me dera ter na cova
Os ais do teu coração!

Mal podes saber o gosto
Que tive da vez primeira
Que te avistei, ao sol posto,
Debaixo d’esta amoreira!

Desde esse dia, andorinha!
Desde essa tarde infeliz,
Fiquei preso da covinha
Que fazes quando te ris!

Não sei que ha que me impelle
Para o teu escuro olhar!…
É mais branca a tua pelle
Do que o linho de fiar!

A minha alma não descança; –
Morra o sol, ou surja a aurora,
Só tu me lembras creança
De cabellos côr d’amora!

A tua doce ignorancia
Tão cheia de singelesas…
Faz todas as almas presas
Como as perguntas da infancia!

Tu és como um pomo d’ouro,
E o vivo sol que me alegras;
– Amo mais teu rir sonoro
Do que a voz das toutinegras!…

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Eu amo pescar. Sou louca por pesca e costumo fazer isso com meu irmão. Pescar, jogar golfe. Gosto de esportes entediantes e lésbicos.