Passagens sobre Grito

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Frases sobre grito, poemas sobre grito e outras passagens sobre grito para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A Voz do Amor

Nessa pupila rĂştila e molhada,
RefĂşgio arcano e sacro da Ternura,
A ampla noite do gozo e da loucura
Se desenrola, quente e embalsamada.

E quando a ansiosa vista desvairada
Embebo Ă s vezes nessa noite escura,
Dela rompe uma voz, que, entrecortada
De soluços e cânticos, murmura…

É a voz do Amor, que, em teu olhar falando,
Num concerto de sĂşplicas e gritos
Conta a histĂłria de todos os amores;

E vĂŞm por ela, rindo e blasfemando,
Almas serenas, corações aflitos,
Tempestades de lágrimas e flores…

Lua Cheia

Duas gotas de sangue nas dunas,
duas rosas rubras na areia.
Se foi prazer ou suplĂ­cio,
sabe o amor e a lua cheia.

Foi de amor esse gemido?
Ou foi de gozo esse grito?
Sabem tudo e nada dizem
as estrelas no infinito.

Louvor A Unidade

“Escafandros, arpões, sondas e agulhas
“Debalde aplicas aos heterogĂŞneos
“FenĂ´menos, e, há inĂşmeros milĂŞnios,
“Num pluralismo hediondo o olhar mergulhas!

“Une, pois, a irmanar diamantes e hulhas,
“Com essa intuição monĂ­stica dos gĂŞnios,
“Ă€ hirta forma falaz do are perennius
“A transitoriedade das fagulhas!”

– Era a estrangulação, sem retumbância,
Da multimilenária dissonância
Que as harmonias siderais invade…

Era, numa alta aclamação, sem gritos,
O regresso dos átomos aflitos
Ao descanso perpétuo da Unidade!

No Seio Da Terra

Do pélago dos pélagos sombrios,
Cá do seio da Terra, olhando as vidas,
Escuto o murmurar de almas perdidas,
Como o secreto murmurar dos rios.

Trazem-me os ventos negros calafrios
E os loluços das almas doloridas
Que tĂŞm sede das terras prometidas
E morrem como abutres erradios.

As ânsias sobem, as tremendas ânsias!
Velhices, mocidades e as infâncias
Humansa entre a Dor se despedaçam…

Mas, sobre tantos convulsivos gritos,
Passam horas, espaços, infinitos,
Esferas, gerações, sonhando, passam!

DemĂ´nios

A lĂ­ngua vil, ignĂ­voma, purpĂşrea
Dos pecados mortais bava e braveja,
Com os seres impoluĂ­dos mercadeja,
Mordendo-os fundo injĂşria por injĂşria.

É um grito infernal de atroz luxúria,
Dor de danados, dor do Caos que almeja
A toda alma serena que viceja,
SĂł fĂşria, fĂşria, fĂşria, fĂşria, fĂşria!

SĂŁo pecados mortais feitos hirsutos
DemĂ´nios maus que os venenosos frutos
Morderam com volĂşpia de quem ama…

Vermes da Inveja, a lesma verde e oleosa,
Anões da Dor torcida e cancerosa,
Abortos de almas a sangrar na lama!

O Grito

Corria pela rua acima quando a súbita explosão dum grito o fez parar instantaneamente. Todo o seu corpo estremeceu. O que ele desde sempre receara acabara de ocorrer: algures, nesse momento, uma caneta começara a deslizar sobre uma folha de papel, dando assim corpo àquele grito que de há muito, como as esculturas no interior da pedra, se mantinha na expectativa desse simples gesto dum escritor para atingir a realidade. Tapou os ouvidos com as mãos. O grito mais não era que um sinal, mas o que esse sinal lhe transmitia deixava-o aterrado. Acabara de ser posta a funcionar uma engrenagem que a partir de agora nada nem ninguém, e muito menos ele, iria alguma vez poder travar, um mecanismo de que ele próprio iria inapelavelmente ser a maior vítima. Mais tarde ou mais cedo isso teria de se dar, mas agora que, sem qualquer aviso prévio, se soubera propulsado para outra dimensão da sua vida, como se os fios que a governavam tivessem repentinamente mudado de mãos, o facto de há longo tempo o pressentir não o impediu de olhar à sua volta com estranheza, uma estranheza que antes de mais nascia de tudo à primeira vista ter ficado como estava,

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Aos Olhos Dele

Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa,
Pelo azul do ar. E assim fugiram o
As minhas doces crenças de criança.

Fiquei então sem fé; e a toda gente
Eu digo sempre, embora magoada:
NĂŁo acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!

Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavĂ­ssima de dor…
E grito então ao ver esses dois céus:

Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m’encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!

Dialogar em Vez de Discutir

Está o casal aos gritos, estĂŁo os polĂ­ticos aos berros… E comenta-se a propĂłsito: “É preciso discutir para chegar a algum lado, da discussĂŁo nasce a luz”. Bem, a verdade Ă© que nĂŁo se vĂŞ nada. SĂł quando sou capaz de ouvir, quando sinceramente admito que o outro pode ter razĂŁo ou parte dela, Ă© que posso começar a ver. É isso que acontece? Deus queira… Discutir Ă© querer ganhar. Dialogar Ă© procurar a verdade com o que há de bom em cada um.

(

Desde a Aurora

Como um sol de polpa escura
para levar Ă  boca,
eis as mĂŁos:
procuram-te desde o chĂŁo,

entre os veios do sono
e da memĂłria procuram-te:
Ă  vertigem do ar
abrem as portas:

vai entrar o vento ou o violento
aroma de uma candeia,
e subitamente a ferida
recomeça a sangrar:

Ă© tempo de colher: a noite
iluminou-se bago a bago: vais surgir
para beber de um trago
como um grito contra o muro.

Sou eu, desde a aurora,
eu — a terra — que te procuro.

Sob a serenidade austera da minha terra alentejana, lateja uma força hercúlea, força que se resolve num espasmo, que quer criar e não pode. A tragédia daquele que tem gritos lá dentro e se sente asfixiado dentro duma cova lôbrega; a amarga revolta de anjo caído, de quem tem dentro do peito um mundo e se julga digno, como um deus, de o elevar nos braços, acima da vida, e não poder e não ter forças para o erguer sequer!

Noli Me Tangere

A exaltação emocional do Gozo,
O Amor, a GlĂłria, a CiĂŞncia, a Arte e a Beleza
Servem de combustĂ­veis Ă  ira acesa
Das tempestades do meu ser nervoso!

Eu sou, por conseqĂĽĂŞncia um ser monstruoso!
Em minha arca encefálica indefesa
Choram as forças más da Natureza
Sem possibilidades de repouso!

Agregados anĂ´malos malditos
Despedaçam-se, mordem-se, dão gritos
Nas minhas camas cerebrais funĂ©reas…

Ai! NĂŁo toqueis em minhas faces verdes,
Sob pena, homens felizes, de sofrerdes
A sensação de todas as misérias!

Poema do SilĂŞncio

Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angĂşstia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvĂŁo, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
– Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo…

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raĂ­zes banalĂ­ssimas de egoĂ­smo.

Que sĂł por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tĂŁo humano!

Senhor meu Deus em que nĂŁo creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

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O Ópio

…Havia ruas inteiras dedicadas ao Ăłpio… Os fumadores deitavam-se sobre baixas tarimbas… Eram os verdadeiros lugares religiosos da ĂŤndia… NĂŁo tinham nenhum luxo, nem tapeçarias, nem coxins de seda… Era tudo madeira por pintar, cachimbos de bambu e almofadas de louça chinesa… Pairava ali uma atmosfera de decĂŞncia e austeridade que nĂŁo existia nos templos… Os homens adormecidos nĂŁo faziam movimento ou ruĂ­do… Fumei um cachimbo… NĂŁo era nada… Era um fumo caliginoso, morno e leitoso… Fumei quatro cachimbos e estive cinco dias doente, com náuseas que vinham da espinha dorsal, que me desciam do cĂ©rebro… E um Ăłdio ao sol, Ă  existĂŞncia… O castigo do Ăłpio… Mas aquilo nĂŁo podia ser tudo… Tanto se dissera, tanto se escrevera, tanto se vasculhara nas maletas e nas malas, tentando apanhar nas alfândegas o veneno, o famoso veneno sagrado… Era preciso vencer a repugnância… Devia conhecer o Ăłpio, provar o Ăłpio, afim de dar o meu testemunho… Fumei muitos cachimbos, atĂ© que conheci… NĂŁo há sonhos, nĂŁo há imagens, nĂŁo há paroxismos… Há um enfraquecimento metĂłdico, como se uma nota infinitamente suave se prolongasse na atmosfera… Um desvanecimento, um vácuo dentro de nĂłs… Qualquer movimento do cotovelo, da nuca, qualquer som distante de carruagem,

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Esperança

Tantas formas revestes, e nenhuma
Me satisfaz!
Vens Ă s vezes no amor, e quase te acredito.
Mas todo o amor Ă© um grito
Desesperado
Que apenas ouve o eco…
Peco
Por absurdo humano:
Quero não sei que cálice profano
Cheio de um vinho herético e sagrado.

Véspera

Amor: em teu regaço as formas sonham
o instante de existir: ainda Ă© bem cedo
para acordar, sofrer. Nem se conhecem
os que se destruirĂŁo em teu bruxedo.

Nem tu sabes, amor, que te aproximas
a passo de veludo. És tão secreto,
reticente e ardiloso, que semelhas
uma casa fugindo ao arquitecto.

Que presságios circulam pelo éter,
que signos de paixão, que suspirália
hesita em consumar-se, como flĂşor,
se não a roça enfim tua sandália?

Não queres morder célere nem forte.
Evitas o clarĂŁo aberto em susto.
Examinas cada alma. É fogo inerte?
O sacrifício há de ser lento e augusto.

EntĂŁo, amor, escolhes o disfarce.
Como brincas (e és sério) em cabriolas,
em risadas sem modo, pés descalços,
no cĂ­rculo de luz que desenrolas!

Contempla este jardim: os namorados,
dois a dois, lábio a lábio, vão seguindo
de teu capricho o hermético astrolábio,
e perseguem o sol no dia findo.

E se deitam na relva; e se enlaçando
num desejo menor, ou na indecisa
procura de si mesmos,

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Como Ă© que a SolidĂŁo Hei-de Ir Medindo?

Como Ă© que a solidĂŁo hei-de ir medindo?
desse-me os golpes de uso inda esta dor
um a um sua nudez a sobrepor
que o ritmo sem nome a foi vestindo

mas sofro agora o tempo nu saindo
numa levada sem nenhum teor
gasto caudal do meu rio interior
nem chora o peito por mais gritos vindo

Quando Ă© que Ă© novo ano na amargura
quando volto a chegar-me Ă  desventura
que me faz falta em ocos dias vis.

ah quando Ă© que arde escura em cores febris
Ă  testa do ano como a vi na altura
do agosto em chamas funda cicatriz?

Tradução de Vasco Graça Moura