Do Livre ArbĂtrio
A ideia de livre arbĂtrio, na minha opiniĂŁo, tem o seu princĂpio na aplicação ao mundo moral da ideia primitiva e natural de liberdade fĂsica. Esta aplicação, esta analogia Ă© inconsciente; e Ă© tambĂ©m falsa. Ă, repito, um daqueles erros inconscientes que nĂłs cometemos; um daqueles falsos raciocĂnios nos quais tantas vezes e tĂŁo naturalmente caĂmos. Schopenhauer mostrou que a primitiva noção de liberdade Ă© a “ausĂȘncia de obstĂĄculos”, uma noção puramente fĂsica. E na nossa concepção humana de liberdade a noção persiste. NinguĂ©m toma um idiota, ou louco por responsĂĄvel. PorquĂȘ? Porque ele concebe uma coisa no cĂ©rebro como um obstĂĄculo a um verdadeiro juĂzo.
A ideia de liberdade Ă© uma ideia puramente metafĂsica.
A ideia primĂĄria Ă© a ideia de responsabilidade que Ă© somente a aplicação da ideia de causa, pela referĂȘncia de um efeito Ă sua Causa. “Uma pessoa bate-me; eu bato Ă quela em defesa.” A primeira atingiu a segunda e matou-a. Eu vi tudo. Essa pessoa Ă© a Causa da morte da outra.” Tudo isto Ă© inteiramente verdade.
Assim se vĂȘ que a ideia de livre arbĂtrio nĂŁo Ă© de modo algum primitiva; essa responsabilidade, fundada numa legĂtima mas ignorante aplicação do princĂpio de Causalidade Ă© a ideia realmente primitiva.
Passagens sobre InĂșteis
383 resultadosOs costumes, cuja excelĂȘncia torna o governo quase inĂștil e cuja corrupção o torna quase impossĂvel.
O Maior Amor e as Coisas que Se Amam
Tomara poder desempenhar-me, sem hesitaçÔes nem ansiedades, deste mandato subjectivo cuja execução por demorada ou imperfeita me tortura e dormir descansadamente, fosse onde fosse, plĂĄtano ou cedro que me cobrisse, levando na alma como uma parcela do mundo, entre uma saudade e uma aspiração, a consciĂȘncia de um dever cumprido.
Mas dia a dia o que vejo em torno meu me aponta novos deveres, novas responsabilidades da minha inteligĂȘncia para com o meu senso moral. Hora a hora a (…) que escreve as sĂĄtiras surge colĂ©rica em mim. Hora a hora a expressĂŁo me falha. Hora a hora a vontade fraqueja. Hora a hora sinto avançar sobre mim o tempo. Hora a hora me conheço, mĂŁos inĂșteis e olhar amargurado, levando para a terra fria uma alma que nĂŁo soube contar, um coração jĂĄ apodrecido, morto jĂĄ e na estagnação da aspiração indefinida, inutilizada.
Nem choro. Como chorar? Eu desejaria poder querer (desejar) trabalhar, febrilmente trabalhar para que esta pĂĄtria que vĂłs nĂŁo conheceis fosse grande como o sentimento que eu sinto quando n’ela penso. Nada faço. Nem a mim mesmo ouso dizer: amo a pĂĄtria, amo a humanidade. Parece um cinismo supremo. Para comigo mesmo tenho um pudor em dizĂȘ-lo.
Foi Um Dia De InĂșteis Agonias
Foi um dia de inĂșteis agonias.
Dia de sol, inundado de sol!…
Fulgiam nuas as espadas frias…
Dia de sol, inundado de sol!…Foi um dia de falsas alegrias.
DĂĄlia a esfolhar-se, – o seu mole sorriso…
Voltavam ranchos das romarias.
DĂĄlia a esfolhar-se, – o seu mole sorriso…Dia impressĂvel mais que os outros dias.
TĂŁo lĂșcido… TĂŁo pĂĄlido… TĂŁo lĂșcido!…
Difuso de teoremas, de teorias…O dia fĂștil mais que os outros dias!
Minuete de discretas ironias…
TĂŁo lĂșcido… TĂŁo pĂĄlido… TĂŁo lĂșcido!…
Ă Espera do Amado
Disse-me baixinho:
â Meu amor, olha-me nos olhos.
Ralhei-lhe, duramente, e disse-lhe:
â Vai-te embora.
Mas ele nĂŁo foi.
Chegou ao pĂ© de mim e agarrou-me as mĂŁos…
Eu disse-lhe:
â Deixa-me.
Mas ele nĂŁo deixou.Encostou a cara ao meu ouvido.
Afastei-me um pouco,
fiquei a olhĂĄ-lo e disse-lhe:
â NĂŁo tens vergonha? Nem se moveu.
Os seus låbios roçaram a minha face.
Estremeci e disse-lhe:
â Como te atreves?
Mas ele nĂŁo se envergonhou.Prendeu-me uma flor no cabelo.
Eu disse-lhe:
â Ă inĂștil.
Mas ele nĂŁo fez caso.
Tirou-me a grinalda do pescoço
e abalou.
Continuo a chorar,
e pergunto ao meu coração:
Porque é que ele não volta?Tradução de Manuel SimÔes
O Desporto Ă© a InteligĂȘncia InĂștil
O sport Ă© a inteligĂȘncia inĂștil manifestada nos movimentos do corpo. O que o paradoxo alegra no contĂĄgio das almas, o sport aligeira na demonstração dos bonecos delas. A beleza existe, verdadeiramente, sĂł nos altos pensamentos, nas grandes emoçÔes, nas vontades conseguidas. No sport – ludo, jogo, brincadeira – o que existe Ă© supĂ©rfluo, como o que o gato faz antes de comer o rato que lhe hĂĄ-de escapar. NinguĂ©m pensa a sĂ©rio no resultado, e, enquanto dura o que desaparece, existe o que nĂŁo dura. HĂĄ uma certa beleza nisso, como no dominĂł, e, quando o acaso proporciona o jogo acertado, a maravilha entesoura o corpo encostado do vencedor. Fica, no fim, e sempre virado para o inĂștil, o inconseguido do jogo. Pueri ludunt, como no primĂĄrio do latim…
Ao sol brilham, no seu breve movimento de glĂłria espĂșria, os corpos juvenis que envelhecerĂŁo, os trajectos que, com o existirem, deixaram jĂĄ de existir. Entardece no que vemos, como no que vimos. A GrĂ©cia antiga nĂŁo nos afaga senĂŁo intelectualmente. Ditosos os que naufragam no sacrifĂcio da posse. SĂŁo comuns e verdadeiros. O sol das arenas faz suar os gestos dos outros. Os poetas cantam-nos antes que desça todo o sol.
A Minha Tragédia
Tenho Ăłdio Ă luz e raiva Ă claridade
Do sol, alegre, quente, na subida.
Parece que a minhâalma Ă© perseguida
Por um carrasco cheio de maldade!Ă minha vĂŁ, inĂștil mocidade,
Trazes-me embriagada, entontecida! …
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lĂĄbios roxos, a saudade! …Eu nĂŁo gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém, de ser assim!Gosto da Noite imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim! …
Tentou num Ășltimo esforço inventar alguma coisa, um pensamento, que a distraĂsse. InĂștil. Ela sĂł sabia viver.
A sabedoria da natureza Ă© tal que nĂŁo produz nada de supĂ©rfluo ou inĂștil.
O Bem Supremo
Muito discutiu a antiguidade em torno do supremo bem. O que Ă© o supremo bem? Seria o mesmo que perguntar o que Ă© o supremo azul, o supremo acepipe, o supremo andar, o ler supremo, etc. Cada um pĂ”e a felicidade onde pode, e quanto pode ao seu gosto. (…) Sumo bem Ă© o bem que vos deleita a ponto de nos polarizar toda a sensibilidade, assim como mal supremo Ă© aquele que vos torna completamente insensĂvel. Eis os dois pĂłlos da natureza humana. Esses dois momentos sĂŁo curtos. NĂŁo existem deleites extremos nem extremos tormentos capazes de durar a vida inteira. Supremo bem e supremo mal sĂŁo quimeras.Conhecemos a bela fĂĄbula de CrĂąntor, que fez comparecer aos jogos olĂmpicos a Fortuna, a VolĂșpia, a SaĂșde e a Virtude.
Fortuna: – O sumo bem sou eu, pois comigo tudo se obtĂ©m.
VolĂșpia: – Meu Ă© o pomo, porquanto nĂŁo se aspira Ă riqueza senĂŁo para ter-me a mim.
SaĂșde: – Sem mim nĂŁo hĂĄ volĂșpia e a riqueza seria inĂștil.
Virtude: – Acima da riqueza, da volĂșpia e da saĂșde estou eu, que embora com ouro, prazeres e saĂșde pode haver infelicidade, se nĂŁo hĂĄ virtude.
Sobre a Reforma
Lançar-me-ia num discurso demasiado longo se referisse aqui em particular todas as razĂ”es naturais que levam os velhos a retirarem-se dos negĂłcios do mundo: as mudanças de humor, de condiçÔes fĂsicas e o enfraquecimento orgĂąnico levam as pessoas e a maior parte dos animais, a afastarem-se pouco a pouco dos seus semelhantes. O orgulho, que Ă© inseparĂĄvel do amor-ptĂłprio, substitui-se-lhes Ă razĂŁo: jĂĄ nĂŁo pode ser lisonjeado pela maior parle das coisas que lisonjeiam os outros, porque a experiĂȘncia lhe fez conhecer o valor do que todos os homens desejam na juventude e a impossibilidade de o continuar a disfrutar; as diversas vias que parecem abertas aos jovens para alcançar grandeza, prazeres, reputação e tudo o mais que eleva os homens, estĂŁo-lhes vedadas, quer pela fortuna ou pela sua conduta, quer pela inveja ou pela injustiça dos outros; o caminho de reingresso nessas vias Ă© demasiado longo e demasiado ĂĄrduo para quem jĂĄ se perdeu nelas; as dificuldades parecem-lhes impossĂveis de ultrapassar e a idade jĂĄ lhes nĂŁo permite tais pretensĂ”es. Tornam-se insensĂveis Ă amizade, nĂŁo sĂł porque talvez nunca tenham encontrado nenhuma verdadeira, mas tambĂ©m porque viram morrer grande nĂșmero de amigos que ainda nĂŁo tinham tido tempo nem ocasiĂŁo de desiludir a sua amizade e,
O Provincianismo PortuguĂȘs (II)
Se fosse preciso usar de uma sĂł palavra para com ela definir o estado presente da mentalidade portuguesa, a palavra seria “provincianismo”. Como todas as definiçÔes simples esta, que Ă© muito simples, precisa, depois de feita, de uma explicação complexa. Darei essa explicação em dois tempos: direi, primeiro, a que se aplica, isto Ă©, o que deveras se entende por mentalidade de qualquer paĂs, e portanto de Portugal; direi, depois, em que modo se aplica a essa mentalidade.
Por mentalidade de qualquer paĂs entende-se, sem dĂșvida, a mentalidade das trĂȘs camadas, organicamente distintas, que constituem a sua vida mental â a camada baixa, a que Ă© uso chamar povo; a camada mĂ©dia, a que nĂŁo Ă© uso chamar nada, excepto, neste caso por engano, burguesia; e a camada alta, que vulgarmente se designa por escol, ou, traduzindo para estrangeiro, para melhor compreensĂŁo, por elite.
O que caracteriza a primeira camada mental Ă©, aqui e em toda a parte, a incapacidade de reflectir. O povo, saiba ou nĂŁo saiba ler, Ă© incapaz de criticar o que lĂȘ ou lhe dizem. As suas ideias nĂŁo sĂŁo actos crĂticos, mas actos de fĂ© ou de descrença, o que nĂŁo implica, aliĂĄs,
Pensar Custa
Pensar Ă© a todo momento e a todo custo. Pensar dĂłi, cansa e sĂł traz aborrecimentos. Melhor Ă© nĂŁo pensar. Mas pensar nĂŁo Ă© facultativo. Se o cĂ©rebro, a mĂnima parte dele que seja, deixa de estar alerta por um momento, penetram lĂĄ, como parasitas difĂceis de erradicar, «ideias» vindas da imprensa, do rĂĄdio, da televisĂŁo, da propaganda geral, dos produtos em sĂ©rie, do consumo degenerado, dos doutores em lei, arte, literatura, ciĂȘncia, polĂtica, sociologia. Essa massa de desinformação, nĂŁo sĂł inĂștil como nociva, nos Ă©, aliĂĄs, imposta de maneira criminosa nos primeiros anos de nossa vida. E se, algum dia, chegamos a pensar no verdadeiro sentido do termo, todo o restante esforço da existĂȘncia Ă© para nos livrarmos de uma lamentĂĄvel herança cultural. Pois, infelizmente, o cĂ©rebro humano Ă© um dos poucos ĂłrgĂŁos do corpo que nĂŁo tĂȘm uma vĂĄlvula excretora. E as fezes culturais ficam lĂĄ, nos envenenando pelo resto da vida, transformando o mais complexo e mais nobre ĂłrgĂŁo do corpo numa imensa fossa, imunda e fedorenta. Um lamentĂĄvel erro da Criação.
A Vida OblĂqua
SĂł agora pressenti o oblĂquo da vida. Antes sĂł via atravĂ©s de cortes retos e paralelos. NĂŁo percebia o sonso traço enviesado. Agora adivinho que a vida Ă© outra. Que viver nĂŁo Ă© sĂł desenrolar sentimentos grossos â Ă© algo mais sortilĂ©gico e mais grĂĄcil, sem por isso perder o seu fino vigor animal. Sobre essa vida insolitamente enviesada tenho posto minha pata que pesa, fazendo assim com que a existĂȘncia feneça no que tem de oblĂquo e fortuito e no entanto ao mesmo tempo sutilmente fatal. Compreendi a fatalidade do acaso e nĂŁo existe nisso contradição.
A vida oblĂqua Ă© muito Ăntima. NĂŁo digo mais sobre essa intimidade para nĂŁo ferir o pensar-sentir com palavras secas. Para deixar esse oblĂquo na sua independĂȘncia desenvolta.
E conheço tambĂ©m um modo de vida que Ă© suave orgulho, graça de movimentos, frustração leve e contĂnua, de uma habilidade de esquivança que vem de longo caminho antigo. Como sinal de revolta apenas uma ironia sem peso e excĂȘntrica. Tem um lado da vida que Ă© como no inverno tomar cafĂ© num terraço dentro da friagem e aconchegada na lĂŁ.
Conheço um modo de vida que é sombra leve desfraldada ao vento e balançando leve no chão: vida que é sombra flutuante,
Todo o espĂrito que existe no mundo Ă© inĂștil para quem nĂŁo o tem; ele nĂŁo tem perspectivas sobre nada e Ă© incapaz de aproveitar as dos outros.
Amor nĂŁo Tem NĂșmero
Se vocĂȘ nĂŁo tomar cuidado vira nĂșmero atĂ© para si mesmo. Porque a partir do instante em que vocĂȘ nasce classificam-no com um nĂșmero. Sua identidade no FĂ©lix Pacheco Ă© um nĂșmero. O registro civil Ă© um nĂșmero. Seu tĂtulo de eleitor Ă© um nĂșmero. Profissionalmente falando vocĂȘ tambĂ©m Ă©. Para ser motorista, tem carteira com nĂșmero, e chapa de carro. No Imposto de Renda, o contribuinte Ă© identificado com um nĂșmero. Seu prĂ©dio, seu telefone, seu nĂșmero de apartamento â tudo Ă© nĂșmero.
Se Ă© dos que abrem crediĂĄrio, para eles vocĂȘ Ă© um nĂșmero. Se tem propriedade, tambĂ©m. Se Ă© sĂłcio de um clube tem um nĂșmero. Se Ă© imortal da Academia Brasileira de Letras tem o nĂșmero da cadeira.
Ă por isso que vou tomar aulas particulares de MatemĂĄtica. Preciso saber das coisas. Ou aulas de FĂsica. NĂŁo estou brincando: vou mesmo tomar aulas de MatemĂĄtica, preciso saber alguma coisa sobre cĂĄlculo integral.
Se vocĂȘ Ă© comerciante, seu alvarĂĄ de localização o classifica tambĂ©m.
Se Ă© contribuinte de qualquer obra de beneficĂȘncia tambĂ©m Ă© solicitado por um nĂșmero. Se faz viagem de passeio ou de turismo ou de negĂłcio recebe um nĂșmero. Para tomar um aviĂŁo,
A verdade estĂĄ em alguma parte: mas inĂștil pensar. NĂŁo a descobrirei e no entanto vivo dela.
Ser PortuguĂȘs, Ainda
Para ser portuguĂȘs, ainda, vive-se entre letras de poemas e esperanças, cantigas e promessas, de passados esquecidos e futuros desejados, sem presente, sem pensamento, sem Portugal. Para ser portuguĂȘs, ainda, aprende-se a existir no gume da tristeza, como um equilibrista num andaime de navalhas levantadas, numa obra que se vai construindo sob uma arquitectura de demolição. TĂnhamos direito a um Portugal inteiro, com povo e com a terra, mas o povo enlouqueceu e a terra foi arrasada e tudo o que era pĂĄtria, doce e atrevida, se afasta Ă medida que olhamos para ela, tal Ă© a Ăąnsia de apagamento e de perdição. Restam-nos sons e riscos. Portugal encolheu-se. Escondeu-se nos poetas e cantores. Recolheu-se nas vozes fundas de onde nasceu. Portugal abrigou-se em portugueses e portuguesas nos quais uma ideia de Portugal nunca se perdeu.
Para se ser portuguĂȘs, ainda, Ă© preciso estreitar os olhos e molhar a garganta com vinho tinto para poder gritar que isto assim nĂŁo Ă© Portugal, nĂŁo Ă© paĂs, nĂŁo Ă© nada. Torna-se cada vez mais difĂcil que o povo e a terra e a ideia se possam alguma vez reunir.
à preciso defender violentamente as instituiçÔes: a Universidade, o Parlamento,
Conhecer um pouco a alma de quem se ama â melhor do que se conhece a nossa. Ă o mais que se pode fazer. Cada acto de amor deve ser um passo â nĂŁo importa se inĂștil ou contraproducente, desde que nĂŁo seja falso.
Vou Voltar para Mim Mesma
Minha vida Ă© um grande desastre. Ă um desencontro cruel, Ă© uma casa vazia. Mas tem um cachorro dentro latindo. E eu â sĂł me resta latir para Deus. Vou voltar para mim mesma. Ă lĂĄ que eu encontro uma menina morta sem pecĂșlio. Mas uma noite vou Ă Secção de Cadastro e ponho fogo em tudo e nas identidades das pessoas sem pecĂșlio. E sĂł entĂŁo fico tĂŁo autĂłnoma que sĂł pararei de escrever depois de morrer. Mas Ă© inĂștil, o lago azul da eternidade nĂŁo pega fogo. Eu Ă© que me incineraria atĂ© meus ossos. Virarei nĂșmero e pĂł. Que assim seja. AmĂ©n. Mas protesto. Protesto Ă toa como um cĂŁo na eternidade da Seção de Cadastro.