Passagens sobre InĂșteis

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Frases sobre inĂșteis, poemas sobre inĂșteis e outras passagens sobre inĂșteis para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Deixai a Vida aos Crentes Mais Antigos

VĂłs que, crentes em Cristos e Marias,
Turvais da minha fonte as claras ĂĄguas
SĂł para me dizerdes
Que hå åguas de outra espécie

Banhando prados com melhores horas
Dessas outras regiÔes pra que falar-me
Se estas ĂĄguas e prados
SĂŁo de aqui e me agradam?

Esta realidade os deuses deram
E para bem real a deram externa.
Que serĂŁo os meus sonhos
Mais que a obra dos deuses?

Deixai-me a Realidade do momento
E os meus deuses tranqĂŒilos e imediatos
Que nĂŁo moram no Vago
Mas nos campos e rios.

Deixai-me a vida ir-se pagĂŁmente
Acompanhada pelas avenas tĂȘnues
Com que os juncos das margens
Se confessam de PĂŁ.

Vivei nos vossos sonhos e deixai-me
O altar imortal onde Ă© meu culto
E a visível presença
Os meus prĂłximos deuses.

InĂșteis procos do melhor que a vida,
Deixai a vida aos crentes mais antigos
Que a Cristo e a sua cruz
E Maria chorando.

Ceres, dona dos campos, me console
E Apolo e VĂȘnus,

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XVI

Toda a mortal fadiga adormecia
No silĂȘncio, que a noite convidava;
Nada o sono suavĂ­ssimo alterava
Na muda confusĂŁo da sombra fria:

SĂł Fido, que de amor por Lise ardia,
No sossego maior nĂŁo repousava;
Sentindo o mal, com lĂĄgrimas culpava
A sorte; porque dela se partia.

VĂȘ Fido, que o seu bem lhe nega a sorte;
Querer enternecĂȘ-na Ă© inĂștil arte;
Fazer o que ela quer, Ă© rigor forte:

Mas de modo entre as penas se reparte;
Que Ă  Lise rende a alma, a vida Ă  morte:
Por que uma parte alente a outra parte.

Uma Filosofia Toda

As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
SĂŁo translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inĂșteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
SĂŁo aquilo que sĂŁo
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas sĂŁo mais do que parecem ser.
Algumas mal se vĂȘem no ar lĂșcido.
SĂŁo como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que sĂł sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nĂłs
E aceita tudo mais nitidamente.

Triste Bahia! Oh QuĂŁo Dessemelhante

Triste Bahia! oh quĂŁo dessemelhante
EstĂĄs e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado.
Rica te vi eu jĂĄ, tu a mim abundante.

A ti tocou-te a mĂĄquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado
Tanto negĂłcio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açĂșcar excelente
Pelas drogas inĂșteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh, se quisera Deus que, de repente,
Um dia amanheceras tĂŁo sisuda
Que fora de algodĂŁo o teu capote!

Nesta idade, os rostos dizem tudo. A palavra Ă© inĂștil. HĂĄ jovens cuja fisionomia diz mais do que a boca. Olha-se para eles e fica-se a conhecĂȘ-los.

Um Amigo Ă© uma Pessoa InĂștil

Uma pessoa inĂștil. Um amigo? Se tento recordar-me dos atributos que ele possui, o que resta, mesmo depois do veredicto mais favorĂĄvel, Ă© apenas a sua voz, um pouco mais profunda do que a minha. Se eu exclamar «salvo», era como se eu fosse Robinson CrusoĂ© e exclamasse «salvo!», ele fazia eco com a sua voz mais profunda. Se eu fosse Korah e exclamasse «perdido!», ele estaria ali prontamente para com a sua voz mais profunda repetir em eco. Eventualmente acabamos por nos cansar de levar para todo o lado um violĂŁo. Ele prĂłprio nĂŁo faz isto alegremente, sorve do meu eco sĂł porque nĂŁo pode fazer outra coisa. Ocasionalmente, durante as fĂ©rias, quando acabo por ter tempo para prestar atenção a isto, eu discuto com ele, talvez no jardim, para saber como me posso libertar dele.

Tirar Proveito da Vida

Tudo o que viveis, estais roubando Ă  vida, e Ă  custa dela. O trabalho contĂ­nuo da vossa vida Ă© construir a morte. Estais na morte enquanto estais em vida, pois estais apĂłs a morte quando jĂĄ nĂŁo estais em vida. Ou, se assim preferis, estais morto apĂłs a vida; mas durante a vida estais moribundo, e a morte toca bem mais rudemente o moribundo que o morto, e mais vivamente e essencialmente.
Se tiraste proveito da vida, estais saciado; podeis sair dela satisfeito, Por que nĂŁo sair da vida como conviva saciado? (LucrĂ©cio), se nĂŁo soubeste fazer uso dela, se ela vos era inĂștil, que vos importa tĂȘ-la perdido, para que a quereis ainda? Por que desejar multiplicar dias que do mesmo jeito deixarias perder miseravelmente e que desapareceriam totalmente sem proveito? (LucrĂ©cio). A vida por si sĂł nĂŁo Ă© nem bem nem mal: Ă© o lugar do bem e do mal conforme a fazeis para eles.

Virtude e Pecado sĂŁo Inatos

Nenhum prĂ©mio certo tem a virtude, nenhum castigo certo o pecado. Nem seria justo que houvesse tal prĂ©mio ou tal castigo. Virtude ou pecado sĂŁo manifestaçÔes inevitĂĄveis de organismos condenados a um ou a outro, servindo a pena de serem bons ou a pena de serem maus. Por isso todas as religiĂ”es colocam as recompensas e os castigos, merecidos por quem, nada sendo nem podendo, nada pĂŽde merecer, em outros mundos, de que nenhuma ciĂȘncia pode dar notĂ­cia, de que nenhuma fĂ© pode transmitir a visĂŁo. Abdiquemos, pois, de toda a crença sincera, como de toda a preocupação de influir em outrem.
A vida, disse Gabriel Tarde, Ă© a busca do impossĂ­vel atravĂ©s do inĂștil. Busquemos sempre o impossĂ­vel, porque tal Ă© o nosso fado; busquemo-lo atravĂ©s do inĂștil, porque nĂŁo passa caminho por outro ponto; ascendamos, porĂ©m, Ă  consciĂȘncia de que nada buscamos que possa obter-se, de que por nada passamos que mereça um carinho ou uma saudade.
Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender, disse o escolista. Compreendamos, compreendamos sempre, e façamos por tecer astuciosamente capelas ou grinaldas que hão-de murchar também, as flores espectrais dessa compreensão.

Mas Eu

Mas eu, em cuja alma se refletem
As forças todas do universo,
Em cuja reflexĂŁo emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagînicas e absurdas se sucedem —
Eu o foco inĂștil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensaçÔes,
Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
Eu a mulher legĂ­tima e triste do Conjunto
Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de ågua.

A criação poĂ©tica Ă© um mistĂ©rio indecifrĂĄvel, como o mistĂ©rio do nascimento do homem. Ouvem-se vozes, nĂŁo se sabe de onde, e Ă© inĂștil preocuparmo-nos em saber de onde vĂȘm.

Sobre a Diferença dos Espíritos

Apesar de todas as qualidades do espĂ­rito se poderem encontrar num grande espĂ­rito, algumas hĂĄ, no entanto, que lhe sĂŁo prĂłprias e especĂ­ficas: as suas luzes nĂŁo tĂȘm limites, actua sempre de igual modo e com a mesma actividade, distingue os objectos afastados como se estivessem presentes, compreende e imagina as coisas mais grandiosas, vĂȘ e conhece as mais pequenas; os seus pensamentos sĂŁo elevados, extensos, justos e intelegĂ­veis; nada escapa Ă  sua perspicĂĄcia, que o leva sempre a descobrir a verdade, atravĂ©s das obscuridades que a escondem dos outros. Mas, todas estas grandes qualidades nĂŁo impedem por vezes que o espĂ­rito pareça pequeno e fraco, quando o humor o domina.
Um belo espĂ­rito pensa sempre nobremente; produz com facilidade coisas claras, agradĂĄveis e naturais; torna visĂ­veis os seus aspectos mais favorĂĄveis, e enfeita-os com os ornamentos que melhor lhes convĂȘm; compreende o gosto dos outros e suprime dos seus pensamentos tudo o que Ă© inĂștil ou lhe possa desagradar. Um espĂ­rito recto, fĂĄcil e insinuante sabe evitar e ultrapassar as dificuldades; adapta-se facilmente a tudo o que quer; sabe conhecer e acompanhar o espirito e o humor daqueles com quem priva e ao preocupar-se com os interesses dos amigos,

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O Amor na Lama

– Esteban, o homem nĂŁo poderia fazer grandes obras sem trabalhos pequenos; na maqueta do carpinteiro estĂĄ todo o edifĂ­cio do arquiteto, nĂŁo hĂĄ profissĂ”es grandes e pequenas: alegro-me que tenhas decidido ficar connosco na carpintaria, mas convĂ©m que te lembres disso. NĂŁo te esqueças de que Deus tambĂ©m se senta numa cadeira e come a uma mesa e dorme numa cama. Como qualquer um. Pode prescindir dos retĂĄbulos, das estĂĄtuas e dos livros que lhe dedicam, incluindo a BĂ­blia, mas nĂŁo da cadeira, da mesa e da cama. — O meu tio esforçava-se muito. Queria que eu me sentisse bem na profissĂŁo. Que começasse a gostar dela. Acreditava que eu vivia como um fracasso a decisĂŁo de ter abandonado a Escola de Belas–Artes. IntuĂ­a certamente que eu precisava de desenvolver a minha autoestima. Mas tudo isso me parecia mera retĂłrica — e era-o —, a verdade Ă© que por essa altura jĂĄ tinha começado a sair com Leonor e era ela quem eu amava, aprendia a gostar de mim atravĂ©s dela. Descobria o meu corpo em cada palmo do corpo dela, e o meu corpo ganhava valor porque lhe pertencia, era o seu complemento: acreditava que partilhĂĄvamos dois corpos que jamais poderiam separar-se e viver cada um por si.

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OpiniÔes Influenciadas pelo Interesse

A maior parte das coisas pode ser considerada sob pontos de vista muito diferentes: interesse geral ou interesse particular, principalmente. A nossa atenção, naturalmente concentrada sob o aspecto que nos Ă© proveitoso, impede que vejamos os outros. O interesse possui, como a paixĂŁo, o poder de transformar em verdade aquilo em que lhe Ă© Ăștil acreditar. Ele Ă©, pois, freqĂŒentemente, mais Ăștil do que a razĂŁo, mesmo em questĂ”es em que esta deveria ser, aparentemente, o guia Ășnico. Em economia polĂ­tica, por exemplo, as convicçÔes sĂŁo de tal modo inspiradas pelo interesse pessoal que se pode, em geral, saber prĂ©viamente, conforme a profissĂŁo de um indivĂ­duo, se ele Ă© partidĂĄrio ou nĂŁo do livre cĂąmbio.
As variaçÔes de opinião obedecem, naturalmente, às variaçÔes do interesse. Em matéria política, o interesse pessoal constitui o principal factor. Um indivíduo que, em certo momento, energicamente combateu o imposto sobre a renda, com a mesma energia o defenderå mais, se conta ser ministro. Os socialistas enriquecidos acabam, em geral, conservadores, e os descontentes de um partido qualquer se transformam facilmente em socialistas.
O interesse, sob todas as suas formas, não é somente gerador de opiniÔes. Aguçado por necessidades muito intensas, ele enfraquece logo a moralidade.

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Para um Amigo Tenho Sempre

Para um amigo tenho sempre um relĂłgio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relĂłgio nĂŁo marca o tempo inĂștil.
SĂŁo restos de tabaco e de ternura rĂĄpida.
É um arco-Ă­ris de sombra, quente e trĂ©mulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

Natal

Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a CiĂȘncia a inĂștil gleba lavra.
Louca, a FĂ© vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus Ă© sĂł uma palavra.
NĂŁo procures nem creias: tudo Ă© oculto.

Lisboa

Lisboa com suas casas
De vĂĄrias cores,
Lisboa com suas casas
De vĂĄrias cores,
Lisboa com suas casas
De vĂĄrias cores…
À força de diferente, isto Ă© monĂłtono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.

Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inĂștil de nĂŁo poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque hĂĄ sono,
E, porque hĂĄ sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantĂĄsticos,
Mas nĂŁo vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pålpebras,
Que Lisboa com suas casas
De vĂĄrias cores.

Sorrio, porque, aqui, deitado, Ă© outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.

Fica sĂł, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De vĂĄrias cores.

A inteligĂȘncia parece-me uma masturbação racional. Uma coisa inĂștil, natural, nascida por degenerescĂȘncia dos instintos.