Passagens sobre InĂșteis

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Frases sobre inĂșteis, poemas sobre inĂșteis e outras passagens sobre inĂșteis para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Talvez o Vento Saiba

Talvez o vento saiba dos meus passos,
das sendas que os meus pés jå não abordam,
das ondas cujas cristas nĂŁo transbordam
senão o sal que escorre dos meus braços.

As sereias que ouvi nĂŁo mais acordam
à cålida pressão dos meus abraços,
e o que a infùncia teceu entre sargaços
as agulhas do tempo jĂĄ nĂŁo bordam.

Só vejo sobre a areia vagos traços
de tudo o que meus olhos mal recordam
e os dentes, por inĂșteis, nĂŁo concordam

sequer em mastigar como bagaços.
Talvez se lembre o vento desses laços
que a dura mão de Deus fez em pedaços.

Tem gente que a vida inteira, fica travando inĂștil luta com os galhos, sem saber que Ă© lĂĄ no tronco que tĂĄ o coringa do baralho.

Dias InĂșteis

FicarĂŁo perdidos os dias
que nĂŁo tivemos juntos. Dias inĂșteis
encostados a paredes e muros envelhecidos.
Dias sem calendĂĄrio,
horas evasivas e fugidas, desperdiçadas,
afundadas em rios sem margens nem pontes,

noites, noites e mais noites deitadas fora
como casas desabitadas.

Boa e MĂĄ Literatura

O que acontece na literatura não é diferente do que acontece na vida: para onde quer que se volte, depara-se imediatamente com a incorrigível plebe da humanidade, que se encontra por toda a parte em legiÔes, preenchendo todos os espaços e sujando tudo, como as moscas no verão.
Eis a razĂŁo do nĂșmero incalculĂĄvel de livros maus, essa erva daninha da literatura que tudo invade, que tira o alimento do trigo e o sufoca. De facto, eles arrancam tempo, dinheiro e atenção do pĂșblico – coisas que, por direito, pertencem aos bons livros e aos seus nobres fins – e sĂŁo escritos com a Ășnica intenção de proporcionar algum lucro ou emprego. Portanto, nĂŁo sĂŁo apenas inĂșteis, mas tambĂ©m positivamente prejudiciais. Nove dĂ©cimos de toda a nossa literatura actual nĂŁo possui outro objectivo senĂŁo o de extrair alguns tĂĄleres do bolso do pĂșblico: para isso, autores, editores e recenseadores conjuraram firmemente.
Um golpe astuto e maldoso, porĂ©m notĂĄvel, Ă© o que teve ĂȘxito junto aos literatos, aos escrevinhadores que buscam o pĂŁo de cada dia e aos polĂ­grafos de pouca conta, contra o bom gosto e a verdadeira educação da Ă©poca, uma vez que eles conseguiram dominar todo o mundo elegante,

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DĂłi Viver, Nada Sou Que Valha Ser.

DĂłi viver, nada sou que valha ser.
Tardo-me porque penso e tudo rui.
Tento saber, porque tentar Ă© ser.
Longe de isto ser tudo, tudo flui.

MĂĄgoa que, indiferente, faz viver.
Névoa que, diferente, em tudo influi.
O exĂ­lio nado do que fui sequer
Ilude, fixa, dĂĄ, faz ou possui.

Assim, noturno, a ĂĄrias indecisas,
O prelĂșdio perdido traz Ă  mente
O que das ilhas mortas foi sĂł brisas,

E o que a memĂłria anĂĄloga dedica
Ao sonho, e onde, lua na corrente,
NĂŁo passa o sonho e a ĂĄgua inĂștil fica.

Para eliminar o medo, Ă© inĂștil esforçar-se para nĂŁo sentir medo. O medo desaparece por si quando se conhece a verdadeira natureza da Vida humana. Compreendendo-se que a Vida do homem vem de Deus e que o ser humano nĂŁo se cansa nem enfraquece por dormir pouco, nĂŁo hĂĄ mais motivo para se temer.

Prosema II

Para iludir a dĂșvida, privado de equipagens, nenhum dos habituais pontos de referĂȘncia vem em meu auxĂ­lio. Procuro um ancoradouro distante, fora do estreito mundo em que me movo.
InĂștil: bichos, objectos minĂșsculos, paredes brancas pontilhadas, o botĂŁo da campainha Ă  minha esquerda. A memĂłria retira-me a sua cobertura instantĂąnea. Tento galgar esta padiola dentro da minha cabeça e daĂ­ lançar-me Ă  desfilada sobre uma estepe daninha ou cair do alto da montanha onde guardo o meu ninho de ĂĄguia. Digo-vos que sĂł pretendo A Grande Casa Alugada da Minha InfĂąncia, o vapor ronceiro em que apenas um velho missionĂĄrio se lembrara de que uma criança existia. O velho desapareceu inesperadamente num pequeno porto do Zaire e deixou-me sĂł.

(

O quanto de tua existĂȘncia nĂŁo foi retirado pelos sofrimentos sem necessidade, tolos contentamentos, paixĂ”es ĂĄvidas, conversas inĂșteis, e quĂŁo pouco te restou do que era teu?

Ao voltar hoje a pĂĄgina de um livro de filosofia, tive a revelação de que a pĂĄgina seguinte seria igualmente inĂștil.

A Mocidade PropÔe, a Maturidade DispÔe

É função da mocidade ser profundamente sensĂ­vel Ă s novas ideias como instrumentos rĂĄpidos para dominar o meio; e Ă© função da idade madura opor-se tenazmente a essas ideias ; isso faz com que as inovaçÔes fiquem em experiĂȘncia por algum tempo antes que a sociedade as ponha em prĂĄtica. A maturidade atenua as ideias novas, redu-las de modo a caberem dentro da possibilidade ou a que sĂł se realizem em parte. A mocidade propĂ”e, a maturidade dispĂ”e, a velhice opĂ”e-se. A mocidade domina nos perĂ­odos revolucionĂĄrios; a maturidade, nos perĂ­odos de reconstrução; a velhice, nos perĂ­odos de estagnação. «DĂĄ-se com os homens», diz Nietzsche, «o mesmo que com as carvoarias na floresta. SĂł depois que a mocidade se carboniza Ă© que se torna utilizĂĄvel. Enquanto estĂĄ a arder serĂĄ muito interessante, mas incĂłmoda e inĂștil.»

Flor Nirvanizadas

Ó cegos coraçÔes, surdos ouvidos,
Bocas inĂșteis, sem clamor, fechadas,
Almas para os mistérios apagadas,
Sem segredos, sem eco e sem gemidos.

ConsciĂȘncias hirsutas de bandidos,
Vesgas, nefandas e desmanteladas,
Portas de ferro, com furor trancadas,
Dos ócios maus histéricos Vencidos.

Desenterrai-vos das sangrentas furnas
Sinistras, cabalĂ­sticas, noturnas
Onde ruge o Pecado caudaloso…

Fazei da Dor, do triste Gozo humano,
A Flor do Sentimento soberano,
A Flor nirvanizada de outro Gozo!

Gomes Leal

Sangra, sinistro, a alguns o astro baço.
Seus trĂȘs anĂ©is irreversĂ­veis sĂŁo
A desgraça, a tristeza, a solidão.
Oito luas fatais fitam no espaço.

Este, poeta, Apolo em seu regaço
A Saturno entregou. A plĂșmbea mĂŁo
Lhe ergueu ao alto o aflito coração.
E, erguido, o apertou, sangrando lasso.

InĂșteis oito luas da loucura
Quando a cintura trĂ­plice denota
Solidão e desgraça e amargura!

Mas da noite sem fim um rastro brota,
VestĂ­gios de maligna formosura:
É a lua alĂ©m de Deus, ĂĄlgida e ignota.

Suporte Real para a Emoção

Um fidalgo dos nossos, extremamente sujeito Ă  gota, sendo pressionado pelos mĂ©dicos a abandonar totalmente o uso das carnes salgadas, acostumara-se a responder muito espirituosamente que desejava ter o que culpar pelos ataques e tormentos do mal e que vituperando e maldizendo ora o salsichĂŁo, ora a lĂ­ngua de boi e o presunto, sentia-se proporcionalmente aliviado. Mas, seriamente, assim como o braço que Ă© erguido para bater nos dĂłi se o golpe falhar e ele for ao vento; e assim como para tornar agradĂĄvel uma vista Ă© preciso que ela nĂŁo esteja perdida e isolada no vazio do ar, mas tenha uma proeminĂȘncia para apoiĂĄ-la a razoĂĄvel distĂąncia,

Assim como o vento, se espessas florestas nĂŁo lhe opĂ”em resistĂȘncia, perde as forças e se dissipa no espaço vazio… (Lucano)

Da mesma forma parece que a alma estimulada e posta em movimento se perde em si mesma se nĂŁo lhe dermos uma presa: Ă© preciso sempre fornecer-lhe um objecto sobre o qual ela se lance e actue.
Diz Plutarco, a propĂłsito dos que se afeiçoam a macacos e cachorrinhos, que a parte amorosa que existe em nĂłs, na falta de um alvo legĂ­timo, em vez de ficar inĂștil forja assim para si um alvo falso e fĂștil.

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Mentira

Tanta cousa passou… E, no entanto, vivemos
noutros tempos, felizes, como namorados…
– Nossa vida… ora a vida, era um barco sem remos,
levando-nos ao lĂ©u… a sonhar acordados…

Ontem juntos, felizes… hoje, separados,
– (nĂŁo pensei que este amor chegasse a tais extremos…)
E sorrimos em vĂŁo… sorrimos conformados
na mentira cruel de que a tudo esquecemos. . .

Cruzamos nossos passos muita vez: – Ă© a vida!
– eu, volto o rosto (fraco Ă  paixĂŁo que ainda sinto),
tu, recalcando o amor, nem me olhas, distraĂ­da…

Mentira inĂștil, cruel… se ontem, tal como agora,
tu sabes que padeço, sabes quanto eu minto,
e eu sei quanto este amor te atormenta e devora!

Carpe diem

Confias no incerto amanhĂŁ? Entregas
Ă s sombras do acaso a resposta inadiĂĄvel?
Aceitas que a diurna inquietação da alma
substitua o riso claro de um corpo
que te exige o prazer? Fogem-te, por entre os dedos,
os instantes; e nos lĂĄbios dessa que amaste
morre um fim de frase, deixando a dĂșvida
definitiva. Um nome inĂștil persegue a tua memĂłria,
para que o roubes ao sono dos sentidos. Porém,
nenhum rosto lhe dĂĄ a forma que desejarias;
e abraças a própria figura do vazio. Então,
por que esperas para sair ao encontro da vida,
do sopro quente da primavera, das margens
visĂ­veis do humano? “NĂŁo”, dizes, “nada me obrigarĂĄ
Ă  renĂșncia de mim prĂłprio – nem esse olhar
que me oforece o leito profundo da sua imagem!”
Louco, ignora que o destino, por vezes,
se confunde com a brevidade do verso.

Nox

Noite, vĂŁo para ti meus pensamentos,
Quando olho e vejo, Ă  luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inĂșteis tantos ĂĄsperos tormentos…

Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trĂĄgica enxovia…
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece alguns momentos…

Oh! Antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, inalterĂĄvel,
Caindo sobre o Mundo, te esquecesses,

E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolĂĄvel,
Noite sem termo, noite do NĂŁo-ser!