Passagens sobre Meninos

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Frases sobre meninos, poemas sobre meninos e outras passagens sobre meninos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Como te Tens Lembrado Hoje de Mim?

O que tens tu feito, amor? Andarás, como segunda-feira, cavaleiro andante a flirtar Ă s janelas das ruas do Alto do Pina, com damas de cem anos?… Cem anos, pelo menos… Eu creio mesmo que tu disseste mais alguns… Sempre estás uma prenda, um espertalhĂŁo… Tenho que te educar convenientemente e ensinar-te que damas de cem anos e mulheres que fazem queijadas, nĂŁo servem, ou pelo menos nĂŁo devem servir, a quem tem a suprema felicidade de possuir uma mulher como eu, que sou uma pĂ©rola, ou por outra: um colar de pĂ©rolas, como ontem gentilmente me chamaste… Estás de acordo, nĂŁo Ă© verdade?

A tua pequenina fera está há imenso tempo ansiosa que a chuva acabe, para deitar o focinhito fora do covil, ao menos por cinco minutos; mas não há meio, o diabo da chuva continua a cair sem piedade e daqui a pouco a ferazinha sai mesmo com chuva e tudo. Há tanto tempo que não saio! Em horas de concentração de consciência, eu ponho-me a pensar que nunca julguei capaz que um homem pudesse fazer da Miss América, como muita gente me chamava dantes, esta burguezinha pacata, que, detrás dos vidros duma janela, passa a vida a fazer rendas,

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Mentir-me nĂŁo Adianta

Vieram hoje dizer-me
mentiras a meu respeito,
mas nunca podem esconder-me
o que lhes vai lá no peito.

SĂł quero hoje a verdade,
mais nua que ave perdida…
Os sinos tangem-me a idade
na alta torre da vida.

Mentiras, fora daqui!
Ide acampar noutra parte!
Existe um espelho que ri,
ao desnudar-vos com arte.

Palavras, gestos, partissem,
morressem antes do dia!
Humildes, se diluĂ­ssem
na madrugada bem fria.

Deixai-me as cordas do sino
de me sentir como sou.
Puxando-as, oiço o menino
que nas entranhas ficou.

Idade! Já tenho tanta!
Nasci num dia riscado
do calendário do Tempo.
O meu destino Ă© dobrado,
mentir-me nĂŁo adianta!

MarĂ­lia de Dirceu

(excerto)

Eu, MarĂ­lia, nĂŁo sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sĂłis queimado.
Tenho prĂłprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite
e mais as finas lĂŁs, de que me visto.
Graças, Marília bela, graças à minha estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte:
dos anos inda não está cortado;
os pastores que habitam este monte
respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste,
nem canto letra que nĂŁo seja minha.
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura,
só apreço lhes dou, gentil pastora,
depois que o teu afeto me segura
que queres do que tenho ser senhora.
E bom, minha MarĂ­lia, Ă© bom ser dono
de um rebanho, que cubra monte e prado;
porém, gentil pastora, o teu agrado
vale mais que um rebanho e mais que um trono.

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Somos meninos brincando no teatro do tempo; todo conhecimento que temos, ainda nĂŁo nos levou ao subsolo do nosso inconsciente.

Aqui Morava Um Rei

“Aqui morava um rei quando eu menino
Vestia ouro e castanho no gibĂŁo,
Pedra da Sorte sobre meu Destino,
Pulsava junto ao meu, seu coração.

Para mim, o seu cantar era Divino,
Quando ao som da viola e do bordĂŁo,
Cantava com voz rouca, o Desatino,
O Sangue, o riso e as mortes do SertĂŁo.

Mas mataram meu pai. Desde esse dia
Eu me vi, como cego sem meu guia
Que se foi para o Sol, transfigurado.

Sua efĂ­gie me queima. Eu sou a presa.
Ele, a brasa que impele ao Fogo acesa
Espada de Ouro em pasto ensanguentado.”

Chegou Enfim, E O Desembarque Dela

Chegou enfim, e o desembarque dela
Causou-me logo uma impressĂŁo divina!
É meiga, pura como sã bonina,
Nos olhos vivos doce luz revela!

É graciosa, sacudida e bela,
NĂŁo tem os gestos de qualquer menina:
Parece um gĂŞnio que seduz, fascina,
TĂŁo atraente, singular Ă© ela!

Chegou, enfim! eu murmurei contente!
Fez-se em minh’alma purpurina aurora,
O entusiasmo me brotou fervente!

Vimos-lhe apenas a construção sonora,
Vimos a larva, nada mais, somente
Falta-nos ver a borboleta agora!

Sou talvez uma banal menina nervosa, ou uma simples “dĂ©traquĂ©e” que tem contas com a medicina (…) Talvez… NĂŁo temos entĂŁo o direito de gritar a nossa dor, o nosso desespero, o nosso tĂ©dio, porquĂŞ? Eu nĂŁo disse nada disto fosse a quem fosse; tudo isto eu gritei para mim sĂł. Publiquei o meu livro para fazer a vontade a meu pai e a outras pessoas que me pediram a publicação dos versos que eu nunca pensei em divulgar…

Os Velhos

Todos nasceram velhos — desconfio.
Em casas mais velhas que a velhice,
em ruas que existiram sempre — sempre
assim como estĂŁo hoje
e nĂŁo deixarĂŁo nunca de estar:
soturnas e paradas e indeléveis
mesmo no desmoronar do JuĂ­zo Final.
Os mais velhos tĂŞm 100, 200 anos
e lá se perde a conta.
Os mais novos dos novos,
nĂŁo menos de 50 — enorm’idade.
Nenhum olha para mim.
A velhice o proĂ­be. Quem autorizou
existirem meninos neste largo municipal?
Quem infrigiu a lei da eternidade
que não permite recomeçar a vida?
Ignoram-me. NĂŁo sou. Tenho vontade
de ser também um velho desde sempre.
Assim conversarĂŁo
comigo sobre coisas
seladas em cofre de subentendidos
a conversa infindável de monossílabos, resmungos,
tosse conclusiva.
Nem me vêem passar. Não me dão confiança.
Confiança! Confiança!
Dádiva impensável
nos semblantes fechados,
nos felpudos redingotes,
nos chapéus autoritários,
nas barbas de milénios.
Sigo, seco e sĂł, atravessando
a floresta de velhos.

É Provável que Ainda a Ame

É provável, sim, é provável que ainda a ame, que ame nela o que antes soube amar, a cabeleira escura, o ventre inquietante, o peito guardando a alegria de um coração solar. Os meus olhos profundos sempre a contemplaram visivelmente perturbados, até mesmo perdidos, quando ela caminhava abrindo rasgões no ar que se fechavam depois à sua passagem para cingir-lhe os braços, os seios e as ancas. A sua boca tremeu na minha com a sede da música e o seu contacto era o do musgo e o da cinza, e dessas cerejas maduras pelo lume de maio. Não sei se estou a endeusá-la ou se ela é uma deusa. Não sei mesmo se conseguirei dizer dela quanto gostaria. Ela está tão perto do meu corpo que a minha pele se acende, e tão longe dos meus olhos que só poderei lembrá-la. Fizémos muito amor e sempre muitas vezes, sem que entre nós esvoaçasse uma minima sombra. Quando ficávamos tristes, é que o espanto crescia até ao minuto primeiro da tristeza. É uma mulher maravilhosa, o seu nome que importa?, tão frágil como um menino inocente, assim desamparada, correndo para a loucura como antes correu para os meus braços. Nenhuma paixão poderia doer-me mais.

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Página Triste

Há muita dor por este mundo a fora
Muita lágrima à toa derramada;
Muito pranto de mĂŁe angustiada
Que vem saudar o despontar da aurora!

Alma inocente sĂł de amor cercada
A criancinha a soluçar descora,
Talvez no berço onde o menino chora
Também, oh Dor, tu queiras, desolada,

Erguer um trono, procurar guarida…
Foge do berço! Não magoes a vida
D’esta ave implume, lirial botĂŁo…

Queres um ninho, um carinhoso abrigo?
Pois bem! Procura-o neste seio amigo,
Dentro em minh’alma, aqui no coração!

Eu sempre fui fascinado pela beleza feminina, desde menino. Esse fato Ă© a prova do quanto sou superficial?

Poemas da Infância

Segundo

Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, Ă  tarde, brincar comigo?…
… Como nasci poeta
devia ter sido muito antes que as mĂŁes se apercebessem disso
e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, nĂŁo sei ao certo.

Mas a histĂłria dos peitos, debaixo das blusas,
foi um grande mistério.
TĂŁo grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossĂ­veis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.

E desafiava,
sem razĂŁo aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tĂŁo certeira
que levou o chapéu do Senhor Administrador!

Em toda a vila
se falou logo num caso de polĂ­tica;
o Senhor Administrador
mandou vir da cidade uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o cĂ©u…

Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!

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Poema da Eterna Presença

Estou, nesta noite cálida, deliciadamente estendido sobre a relva,
de olhos postos no céu, e reparo, com alegria,
que as dimensões do infinito não me perturbam.
(O infinito!
Essa incomensurável distância de meio metro
que vai desde o meu cérebro aos dedos com que escrevo!)

O que me perturba Ă© que o todo possa caber na parte,
que o tridimensional caiba no dimensional, e nĂŁo o esgote.

O que me perturba Ă© que tudo caiba dentro de mim,
de mim, pobre de mim, que sou parte do todo.
E em mim continuaria a caber se me cortassem braços e pernas
porque eu não sou braço nem sou perna.

Se eu tivesse a memĂłria das pedras
que logo entram em queda assim que se largam no espaço
sem que nunca nenhuma se tivesse esquecido de cair;
se eu tivesse a memĂłria da luz
que mal começa, na sua origem, logo se propaga,
sem que nenhuma se esquecesse de propagar;
os meus olhos reviveriam os dinossáurios que caminharam sobre a Terra,
os meus ouvidos lembrar-se-iam dos rugidos dos oceanos que engoliram
continentes,

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– Ă€s vezes sinto falta de mim. – Eu tambĂ©m, menina. – Sente falta de si? – NĂŁo, de vocĂŞ. E dĂłi. [SilĂŞncio] – Me abraça? – Sempre!

Stabat Mater

(Stabat Mater)

Estava a mãe de pé, já sem o filho
que fora a razĂŁo de ter aceite
um quotidiano rasteiro e o prodĂ­gio:
entre ambos, nĂŁo ousava distingui-los.

Traspassara-se quando o viu deixar a casa
para se completar longe das mĂŁos
que o receberam e fizeram crescer,
– nela sempre menino, e tĂŁo inerme
que de si nunca o desprenderia.

Soubera que ele fora domado, escarnecido,
mais bem pago para ser mais proveitoso,
soldado em guerras de outros
em que sempre foi um derrotado;
traĂ­do por mulheres de uma beleza
nĂŁo somente fascĂ­nio e um ardil,
mas perdĂŁo para quem por elas se jogasse.
Mais que ninguém, ela sofrera-o sem dizê-lo.

Devolveram-lho por fim, já só em parte,
para uni-lo na cama onde nascera.

Tudo nela ruiu, os seus escombros
sĂŁo o mais intenso tĂşmulo,
sem ter onde vá sorver a força
para sumir-se no apagamento
de si mesma e de tudo,
até da manhã que a saudou a anunciar-lhe
o fruto que sua flor tinha alcançado.

E pede que nenhuma luz venha acordá-la.

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